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quinta-feira, 6 de agosto de 2015

PAU BRASIL - O monopólio do pau-de-tinta

A HISTORIA SECRETA DO BRASIL

Amanhecera o dia 25 de setembro do ano da graça de 1498 e o que ia acontecer teria repercussão mais tarde nos destinos do Brasil, que ainda não fora descoberto. A armada portuguesa de Vasco da Gama ancorara diante da costa baixa e emoldurada de palmeiras da ilha de Anchediva, a doze léguas de Goa. Das longas vergas e das inclinadas antenas das naus se desdobravam, secando lenta mente ao sol matutino, as lonas das velas em que a salsugem dos mares nunca dantes navegados esmaecera a cor vermelha das cruzes da Ordem de Cristo.

Sobre o castelo de popa, lavrado de douraduras e eriçado de falconetes de bronze, fundidos nos arsenais de Gênova, o almirante conversava com os capitães, olhando a faina de limpeza a que se procedia em alguns navios. No seu, a capitânea "S. Gabriel", contra-mestre e maruja preparavam as espias que deviam puxá-lo até a praia lisa onde morriam, sorrindo em espumas, as ondas do Oceano Indico, a fim de ser raspada a carena crostada de mariscos e algas na longa travessia dos mares tenebrosos.

O vigia do "S. Gabriel" assinalou um barco ao longe que se aproximou, arfando sobre a toalha azul das águas debaixo da concha muito azul do céu. Era um parau que vinha de Goa, tangido pela sua vela pardusca de esteira. Encostou a nau. Um homem galgou o portaló e saltou no convés. Vestia-se de maneira hindu: mundaçó à cabeça, terçado à cinta, brincos nas orelhas. O nariz adunco se encurvava para os beiços úmidos e sensuais. Queria falar ao almirante a quem abraçou, como se usa no Oriente, com expansões. 

Curvando-se em salamaleques, disse em péssimo italiano que era cristão levantisco, viera muito criança para as terras do mouro Sabayo, senhor da ilha e da cidade de Gôa. Enquanto falava, seus olhos, miúdos e vivos, como os de um camundongo, espreitavam todo o navio, detendo-se, sobretudo, na artilharia, como a computar-lhe o número de peças e a força de cada uma.

Vasco da Gama sorria na sua barba açoitada pelo vento. De repente:

- Mestre!

Um português moreno e seminu, de farta bigodeira, de braços peludos e atléticos, levantou a cabeça dentre os marujos que desenrolavam os cabos de cânhamo. E o almirante deu-lhe esta ordem:

- Amarre este espião ao mastro e meta-lhe o calabrote!

Num abrir e fechar de olhos, o levantino estava nu da cintura para cima, amarrado ao mastro grande, e um chicote de cabo alcatroado cantava-lhe nas carnes que se tingiam de sangue.

- Eu digo toda a verdade! uivou o supliciado na sua algaravia.

Os açoites pararam, o almirante aproximou-se e o homem disse a verdade: não era cristão nem levantisco; era judeu e natural da Polônia. Os azares de sua vida aventureira e errante haviam-no trazido à índia. O Sabayo mandara-o como espião, mas preferia servir aos portugueses. A armada do Sabayo era grande e poderosa, bem tripulada de rumens e bem provida de canhões venezianos...

No dia 26 de setembro, a frota aos Lusíadas fazia-se de vela para Portugal e levava a bordo o astuto e inescrupuloso judeu polaco, "por ser de grande experiência e muito conhecedor das coisas da índia, o qual foi, mais tarde, batizado e recebeu o nome de Gaspar da Gama, sendo vulgarmente

 Pequenas peças de artilharia.
 Soldados muçulmanos da India, mercenários leva_n tipos ou turcos, Cf. Alberto 0. de castro, "A cinza dos myrtos", pág. 193; Dalgado, "Glossário, Luso-Asiático, t. II, págs. 264 e segs.

conhecido por Gaspar das índias. Este judeu conversava muitas vezes com El Rei D. Manuel, que folgava de lhe ouvir falar sobre as coisas da índia, e lhe fez muitas dádivas e mercês. A Vasco da Gama e outros almirantes portugueses, Gaspar das índias prestou inestimáveis serviços 3”.

Dois anos depois, vestida de luto, como era de praxe na época, quando as armadas iam em busca de terras desconhecidas, a corte manuelina assistia do eirado da torre de Belém a partida dos navios de Pedro Alvares Cabral. O judeu Gaspar embarcara na nau do capitão-mor como língua e conselheiro, hoje diríamos intérprete e técnico, em coisas e negócios das índias. 

Seus olhos vivos e espertos, olhos de rato fugido dos ghetos da Polônia, viram o nosso Brasil no primeiro dia de seu amanhecer. Ao lado de Pedro Alvares Cabral, "de quem não se apartava", avistou o vulto azul do Monte Pascoal nos longes do horizonte, contemplou a terra virgem e dadivosa, a indiada nua e emplumada de cocares, assistiu a primeira missa celebrada por frei Henrique de Coimbra e ouviu a leitura da carta de Pero Vaz de Caminha.

O judeu Gaspar da Gama fez toda a viagem de Pedro Álvares Cabral: Moçambique, Melinde, Cananor, Calecut, Cochim; tornou às índias em 1502 e 1505 com seu padrinho, Vasco da Gama. Na última dessas expedições, encontramo-lo com o nome de Gaspar de Almeida, "por amor de Viso-Rei, de quem era estimadíssimo", declara um panegirista dos judeus 4

Por adulação e baixeza, afirmamos diante dos fatos. Batizado por Vasco da Gama, o israelita tomou, de acordo com o costume em má hora instituído por D. Manuel e que estragou, na judiaria, os grandes apelidos da nobreza lusa, o nome de família do seu padrinho; mas, quando a estrela do navegador se foi empanando ante a glória de Dom Francisco de Almeida, o poderoso Vice-Rei do Ultramar, o hebreu mesquinho abandonou o nome de Gama e adotou o de Almeida, sem cerimônia...

Ao tempo do governo de D. Francisco de Almeida, o judeu Gaspar da Gama, de Almeida ou, simplesmente, das índias, casou-se com uma judia, "grande letrada na lei". Veja bem como os Gama, os Cabral e os Almeida, não seriam ilaqueados na sua boa fé de navegadores rudes e heroicos batalhadores pela lábia e a solércia do judeu polonês! Batizado, sua conversão era tão sincera que se unia, não a uma cristã, mas a uma israelita ferrenha, talmudista praticante. 

Foi ela quem fez com que os judeus das sinagogas hindus comprassem as bíblias hebraicas que vendia Francisco Pinheiro, filho do Corregedor da corte de D. Manuel, o doutor Martim Pinheiro, por mando deste, decerto cristão-novo ou cristão judaizante. O episódio mostra como os judeus secretamente, influenciavam as decisões dos grandes navegadores 5, manobravam nos bastidores da governação das Indias e até faziam proselitismo e propaganda religiosa através do próprio Corregedor da Corte magistrado cuja maior atribuição era perseguir ao judaísmo. 

A história, referida pelos cronistas, da arca de biblias, EM HEBRAICO, enviadas de Lisboa para a India, é um tanto escura. Não há, infelizmente, documentação que faça suficiente luz sobre o interessante assunto.

A vinda do judeu Gaspar ao Brasil está iniludivelmente comprovada pelas instruções dadas ao capitão-mor Pedro Álvares Cabral, conservadas entre os documentos da Torre do Templo, que se referem pessoalmente a ele. Fugido às perseguições que, do meado do século XV ao começo do XVI, se desencadearam na Polonia contra os israelitas, cortara as gadelhas reveladoras de sua procedência e afundara-se no Oriente, tendo alcançado às Índias, depois de viver em, Jerusalém e Alexandria. Segundo o autor das "Lendas da índia", Gaspar Corrêa, o rei Dom Manuel recomendou que ele servisse com Pedro Alvares Cabral, porque lhe havia dado "muita informação das coisas da India".

3  Solidônio Leite Filho, "Os judeus do Brasil" ed J. Leite & Cia., 1923, pág. 24 e 25. A documentação do resto do capítulo está em Gaspar Corrêa, "Lendas da India", tomo I. Entre as mercês, segundo Damião de Góis, "Crônica d'E1 Rei D. Manoel", pág. 32. fê-lo cavalheiro de sua casa, deu-lhe tenças, ordenados e ofícios.

4  Solidônio Leite Filho, op. cit., pág. 27.

5  C. Solidônio Leite Filho, op. cit. pág. 25. "A sua voz (do judeu Gaspar) foi sempre acatada nos conselhos dos capitães". Na índia, até o grande Afonso de Albuquerque, conforme depõe Gaspar Corrêa, "Lendas da India", tomo II. pág. 177, muito se aconselhava com seu intérprete o judeu Hucefe. A tola confiança do cristão no judeu é que permite a este dar os seus botes...

Em Porto Seguro, quando as naus portuguesas lançaram ferros, no ano da Graça de 1500, o judeu procurou entender-se com os silvícolas, recorrendo às línguas e dialetos que aprendera no Oriente. Não se fez entender nem entendeu patavina. Mas compreendeu o que poderia valer a nova terra, na qual, se quisesse plantar, daria tudo, como anunciava o escrivão da feitoria de Calecut embarcado na Real Armada.

Para não sermos taxados de fantasista ou parcial, da mos a palavra ao panegirista dos judeus, Sr. Solidônio Leite Filho, grifando suas afirmações mais importantes: "Talvez por seu intermédio tivessem os israelitas percebido, desde logo, a importância do novo descobrimento, que pouco impressionara o ambicioso espírito do Afortunado monarca português, cujas atenções estavam inclinadas para as riquezas da India. Aproveitando-se desta opinião conseguiram alguns cristãos-novos, a cuja frente se achava Fernando de Noronha, arrendar a terra havia pouco descoberta. Sabiam eles PERFEITAMENTE que o comércio do pau Brasil, por si só, os indenizaria das despesas 6.

Estes grifos auxiliam a clara visão do primeiro capítulo da história do Brasil, tão diferente do que nós aprendemos nas escolas. Aos meninos e rapazes somente se mostra o palco e ninguém se lembra de levá-los aos bastidores, onde os atores mudam de vestimenta e estão à vontade.

Aprende-se unicamente a aparência da história, que é o melhor meio de ocultar a sua essência. Na verdade, um judeu aventureiro da Polônia, apanhado por Vasco da Gama em flagrante delito de espionagem, adere aos lusos que o chicoteiam, batiza-se, toma nome fidalgo, casa com uma judia talmudista e vem, com Cabral, ao Brasil que examina em primeira mão. Os portugueses estão hipnotizados pela India, sonham epopéias e conquistas. Ele não sonha nada, olha praticamente a vida, calcula todas as vantagens materiais. Que lhe importam os açoites amarrado ao mastro do "S. Gabriel" e a água lustral do batismo? 

Por esse preço pagou o direito de assoprar informações ao ouvido de D. Manuel o Venturoso e de dar hábeis pareceres, logo aceitos, nos "conselhos dos capitães". Sua raça continuará a hipnotizar os lusos na conquista, navegação e comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e India, a fim de que se possa enriquecer com os produtos que afloram por toda a vasta extensão da Terra de Santa Cruz, que um esforçozinho de cartógrafos e cosmógrafos judeus, ou inspirados por judeus mais adiante mudará a Terra do Brasil 7.

Compulsemos Capistrano de Abreu em suas notas a Varnhagen e este em suas notas ao "Diário de Navegação" de Pero Lopes de Souza. O cristão-novo Fernando de Noronha, que tomara este nome fidalgo com a mesma desfaçatez com que o judeu polônio tomara os de Gama e Almeida, em 1503 associado a outros cristãos-novos, equipara uma frota e saíra do Tejo, no mês de maio, rumo ao oeste. Navegação feliz. 

A 24 de junho, dia de São João, pôs a capa sobre uma ilha penhascosa, de praias brancas, aqui e ali vestida de vegetação luxuriante. Os marujos deram-lhe o nomé de São João devido à data do descobrimento. Os israelitas mudaram-no, mais tarde, para o do próprio armador e comandante da frota, Fernando de Noronha. 

Como e por que vinham tão cedo, mal findara a viagem redonda de Cabral e com eles conversara seu irmão Gaspar das Indias sobre as riquezas da nova terra? O judeu Fernando de Noronha e seus sócios haviam arrendado o Brasil a D. Manuel, que continuava dentro do sortilégio, "deslumbrado com as maravilhas da Ásia". 

Pelo contrato de arrendamento, os judeus deviam mandar todos os anos seis navios ao Brasil, para explorar ou descobrir trezentas léguas de costa para além dos pontos já conhecidos, fincando um forte no extremo em que tocassem. Esses navios poderiam levar qualquer produto para a metrópole sem pagar o menor imposto, tributo ou finta, no

6  Op. Cit., págs 36 e 37. Vejamos como sabiam perfeitamente. A 28 de abril de 1500, as equipagens de Pedro Álvares Cabral descem à terra para cortar lenha e pela primeira vez o machado dos civilizados retumba nos troncos das virgens florestas do Brasil. Cf. J. M. de Macedo, "Efeméride Histórica do Brasil", Tip. do Globo, Rio. 1877, pág. 261. Nesse corte de madeira, com certeza, o judeu Gaspar descobriu o pau-brasil, pois conhecia, como prático das coisas do Oriente, o verzino colombino de Ceilão. Nada disse à Cabral nem ao Rei; mas informou os cristãos-novos, seus
irmãos. Não é claro como água?...

7  Simão de Vasconcelos. Mônica da Companhia de Jesus do Estado do Brasil". ed. A. J. F. Lopes, Lisboa, 1765, pág. XXXII, 9: "...Terra de Santa Cruza título que depois converteu a cobiça dos homens em Brasil,contentes do nome de nutro pau bem diferente do da cruz e de efeitos bem diversos",

primeiro ano; pagando um sexto do valor, no segundo, e um quarto no terceiro. O prazo de arrendamento, como se vê, era de três anos 8.

No dia 24 de janeiro de 1504, D. Manuel fez doação da ilha de S. João a Fernando de Noronha, a qual foi confirmada por D. João III em 3 de março de 1522. Desta sorte, antes de dividindo.o Brasil em capitanias hereditárias muito antes das primeiras concessões de sesmarias, origem dos primitivos latifúndios, a coroa portuguesa alienava uma parte do Brasil, dando-a de mão beijada a um judeu traficante do pau-de-tinta, que era a anilina daquele tempo.

Terminou o prazo de arrendamento da costa brasileira em 1506. Fernando de Noronha agenciou, na corte, sua renovação ou prorrogação, obtendo-a por dez anos, em troca do pagamento anual de quatro mil ducados, o que deixa ver que os lucros auferidos no comércio da madeira de tinturaria, único no amanhecer da vida brasileira, não tinham sido de desprezar. 

Além da prorrogação, os judeus obtinham o monopólio do negócio, pois que o rei se obrigava a não permitir mais o "trato do pau-brasil com a India". Era, com efeito, do Oriente que vinha o pau-de-tinta, berzi, ou verzino, segundo Muratori e Marco Polo. O descobrimento do nosso País, em verdade, graças às informações levadas pelo astuto judeu que Vasco da Gama açoitara e conduzira à pia batismal, tivera como resultado a formação, para empregar a linguagem moderna. de um TRUSTE DAS ANILINAS. 

Naturalmente, que era o monopólio do comércio da madeira tintória, desde que o sapang de Java é Ceilão fora corrido dos mercados europeus, senão isso? Tanto assim que os navios do consórcio Fernando de Noronha carregavam por ano de nossas matas litorâneas a bagatela de "vinte mil quintais da preciosa madeira"! 9

O primeiro carregamento foi levado logo em 1503, dois anos após o descobrimento 10. A famosa nau "bretôa", que em 1511 veio ao Brasil carregar o pau, batendo a costa até o Cabo Frio, foi armada e despachada por Fernando de Noronha e seus amigos 11.

Neste primeiro capítulo da nossa história, encarada por um método novo e verdadeiro, se vêem o palco e os bastidores. No palco: a armada de Cabral com as velas pendentes em que o sol empurpurava as cruzes heráldicas; a cruz erguida na praia, diante da qual um frade diz a primeira missa; um padrão cravado no solo virgem da terra descoberta em forma de cruz, a cruz nos punhos das espadas linheiras que retiniam de encontro aos coxotes de aço fosco; a cruz nas bandeiras alçadas, os nomes de Vera Cruz e Santa Cruz impostos a toda a nova região americana: o idealismo cristão, o heroísmo cristão, o sentido cristão da vida, a propagação da Fé e a dilatação do
Império que a gesta dos Lusíadas cantaria com o ritmo do rolar das ondas.

Nos bastidores, manobrando os cenários e arranjando as vestiduras, o judeuzinho de Goa, o cristão-novo Fernando de Noronha, os Cristãos-novos e israelitas do seu consórcio comercial, inspirados pela sinagoga e pelo kahal, realizando o lucro à sombra do idealismo alheio; ganhando o ouro à custa do esforço e do sangue dos outros, apagando o nome da Cruz com o nome do pau-brasil, o que indignou a João de Barros 12; usando a epopéia da navegação e o poema do descobrimento para a fundação trivial de um monopólio de anilinas...

8  Piero Rondinelli, "Raccolta Colombiana", 3Q pa. te, vol. II, pág. 121.

9  Solidonio Leite Filho, op. cit. pag. 37: Leona_r do de Chade Messer in "Livro comemorativo do Descobrimento da América", ed. da Academia de ciência de Lisboa.

10 Melo morais, Mônica do Império do Brasil", 1879, pág. 19.

11 Solidonio Leite Filho, idem, idem. Capristano de Abreu, "0 descobrimento do Brasil", pág. 267, Varnhagen, "História Geral do Brasil°, 1ê ed., I, págs. 427432 "Diário do Pero Lopes", Rio de Janeiro, 1867.

12 "Décadas"... como que importava mais o nome de um pau que tinge panos que daquele pau que deu tintura a todos os sacramentos por que somos salvos...