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segunda-feira, 1 de junho de 2015

Feira de Água de Meninos

A Feira de Águas de Meninos hoje chamada de Feira de São Joaquim foi destruída pelo fogo no ano de 1964 e foi a primeira feira livre que visitei quando fui morar na Bahia no ano de 1974. É a maior feira livre da cidade de Salvador, sendo a mais tradicional para a população de baixa renda, não só dos soteropolitanos como do recôncavo baiano.
Localizada na Cidade Baixa entre a Baía de Todos os Santos e a Avenida Oscar Pontes, no bairro do Comércio, sua importância é vital para o comércio, cultura e favorecimento dos menos abastados, devido aos bons preços ali praticados.
Criada na década de 1960, depois da destruição da antiga feira de Água de meninos em 1966 e devorada pelo fogo, São Joaquim abriga inúmeros trabalhadores informais que descendem dos africanos escravizados, sendo o principal distribuidor dos artesanatos de barro produzidos no recôncavo baiano e venda de produtos para rituais de candomblé.
Também, pode-se encontrar não só produtos alimentícios, como produtos decorativos, para vestuário e itens religiosos. A área foi doada pela prefeitura e pelo estado aos feirantes da extinta Feira de Água de Meninos. A Feira de São Joaquim cumpre o papel de entreposto de mercadorias vindas do Recôncavo, como: frutas, verduras, carne, artesanato, vestimentas, especiarias e outros itens.
Abaixo veja o inicio da Feira de Água de Meninos que até hoje não sabemos o por quê desse nome poético que originalmente se chamava San Thiago de Água de Meninos. Dizem que ninguém se importa em descobrir porque poetas e escritores sentem-se melhor no campo da imaginação e da lenda.
É uma feira tumultuada e linda, colorida e cheia de calor humano. Água de Meninos fica em uma enseada aonde se vai de barco para Bonfim, onde mora o grande Santo governador da terra e do povo da Bahia.
Na enseada da feira há barcos de todo o recôncavo baiano que trazem suas mercadorias. Os saveiros grandes e pequenos encostam em trapiches ou no pequeno porto como se fosse uma floresta formada pelos mastros das embarcações com suas velas recolhidas.
Meninos, mulheres e homens em um corre-corre, gritando e apregoando suas mercadorias. As vielas sujas continuam pois qual feira teria graça se não tivesse sujeira? Nela se misturam diversas raças, diversas cores, encantando os visitantes, que se tiverem um pouco de coragem para sentar e experimentar um prato famoso, o Xinxim de Galinha, irá ouvir estórias contadas nas mesas vizinhas, proferidas por compradores, barqueiros e camaradas sem ocupação.
Ao fartar-se nessas tendas com a boa comida baiana, poderá ir andando devagarzinho e dar uma paradinha para comprar um delicioso doce de tamarindo com caroço, vendido nos tabuleiros das Baianas que vendem acarajé, enfeitadas com seus trajes típicos e depois ir para seu hotel para tirar um cochilo e recompor as energias pois à noitinha terá mais locais para ver na cidade de São Salvador, na Velha Bahia de Todos os Santos.
 
Antiga Água de Meninos

 
Água De Meninos
GILBERTO GIL

Na minha terra, a Bahia
Entre o mar e a poesia
Tem um porto, Salvador
As ladeiras da cidade
Descem das nuvens pro mar
E num tempo que passou - ô ô ô
Toda a cidade descia
Vinha pra feira comprar

Água de Meninos, quero morar
Quero rede e tangerina
Quero o peixe desse mar
Quero o vento dessa praia
Quero azul, quero ficar
Com a moça que chegou
Vestida de rendas, ô
Vinda de Taperoá

Por cima da feira, as nuvens
Atrás da feira, a cidade
Na frente da feira o mar
Atrás do mar, a marinha
Atrás da marinha, o moinho
Atrás do moinho o governo
Que quis a feira acabar / bis

Dentro da feira, o povo
Dentro do povo, a moça
Dentro da moça, a noiva
Vestida de rendas, ô
Abre a roda pra sambar

Moinho da Bahia queimou
Queimou, deixa queimas
Abre a roda pra sambar

A feira nem bem sabia
Se ía pro mar ou subia
E nem o povo queria
Escolher outro lugar
Enquanto a feira não via
A hora de se mudar
Tocaram fogo na feira
Ai, me dia, mi'a sinhá
Pra onde correu o povo
Pra onde correu a moça
Vinda de Taperoá?...

Água de Meninos chorou
Caranguejo correu pra lama
Saveiro ficou na costa
A moringa rebentou
Dos olhos do barraqueiro
Muita água derramou

Água de Meninos acabou
Quem ficou foi a saudade
Da noiva dentro da moça
Vinda de Itaperoá
Vestida de rendas, ô
Abre a roda pra sambar

Moinho da Bahia queimou
Queimou, deixa queimar
Abre a roda pra sambar
Pra sambar... pra sambar...