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quinta-feira, 16 de junho de 2016

GARANTA SUA QUALIDADE DE VIDA!

Aprenda a equilibrar trabalho, tempo, dinheiro e vida pessoal.

A qualidade de vida de formada por uma série de fatores que, combinados, proporcionam bem-estar físico e emocional. Por isso, nesta matéria você encontrará orientações práticas sobre como equilibrar importantes fatores que influenciam diretamente o seu dia-a-dia.

Rumo profissional

A administração de uma carreira traz muitos benefícios, porque proporciona um direcionamento mais seguro para quem não quer perder tempo na corrida pelo sucesso profissional. Charles Henri-Dumoin e Patrick Hollard, diretores da Michael Page, uma das líderes mundiais em recrutamento profissional, dão valiosos conselhos sobre o assunto:

"Só aceite cargos compatíveis com suas aptidões”

Não assuma um emprego só porque se trata de uma boa oportunidade para ganhar mais dinheiro e ter mais responsabilidades. Só tome a decisão de mudar de emprego depois de analisar suas chances de sucesso e de se perguntar se você está à altura do novo posto. Só aceite cargos de maior responsabilidade quando tiver certeza de que gosta daquilo que faz e tem chances concretas de sucesso.



"Esforce-se para corrigir os pontos fracos"

Este conselho é bom principalmente para quem ocupa ou pretende ocupar cargos de chefia. É muito importante se esforçar para corrigir os próprios pontos fracos, pois, a longo prazo, eles podem atravancar o seu progresso profissional. De que adianta, por exemplo, ter talento para vendas se você não sabe trabalhar em equipe? Superar as fraquezas é algo que não deve ser ignorado, é um erro fugir desses obstáculos. Cada dificuldade que você vier a enfrentar permitirá que você se desenvolva.

"Mantenha-se atualizado, recicle seus conhecimentos”.

A maioria dos profissionais que passa por crises não soube avaliar o ritmo de evolução da empresa em que trabalhava. Se os negócios internacionais estiverem ganhando importância dentro da empresa, por exemplo, inscreva-se o quanto antes em conferências sobre comércio exterior, tente tomar parte do projeto internacional. Se for possível, tire férias em outro país e, em seguida, comunique seus chefes que você está pronto para o próximo cargo.

O tempo é apenas uma medida

O tempo se estende na primeira semana de férias e se contrai na segunda. Passa mais devagar para o paciente do que para o dentista. Mais devagar para o aluno do que para o professor. A questão é que quando estudamos o tempo e seu manejo, e o controle da vida, todos os caminhos levam, no final, ao controle de nossa própria pessoa.



Segundo Edward R. Dayton e Ted W. Engstrom, autores do livro Como aproveitar ao máximo o seu tempo e potencial (Editora Betânia), nosso sucesso pessoal, ou a falta dele se apóia grande parte sobre o uso eficaz do tempo que nos de dado.

De acordo com os escritores, os profissionais que conseguem realmente fazer algo, não começam com seu trabalho, mas com seu tempo. O que significa que a pessoa eficaz no controle de sua vida escava tempo em seu calendário e usa-o criativamente para tomar iniciativas. Ela não reage simples e continuamente às pressões da hora ou do dia. Mas usa seu tempo para fazer as coisas que quer realmente fazer.

Dayton e Engstron ainda sugerem algumas perguntas que deveríamos fazer a nós mesmos nesta questão do controle do tempo, por exemplo:

O que estou fazendo agora que não precisa ser feito por mim, nem por qualquer outra pessoa?

Talvez essa tarefa ou responsabilidade devesse ser eliminada.

O que estou fazendo agora que deveria ser feito por outra pessoa?

Talvez muito do que fazemos possa e deva ser delegado a outros.

O que estou fazendo agora que me faz perder tempo ou o tempo de outras pessoas?

Existem duas maneiras de poupar tempo. A primeira é fazer as coisas com mais eficácia. A segunda é eliminar aquilo que não deveríamos estar fazendo.

O estilo de vida sem dívidas

Dívidas podem fazer os piores estragos em sua autoconfiança. Quem tem dívidas se sente culpado, envergonhado, fraco. Por isso, é importante ter consciência de que você não é uma pessoa má por ter dívidas e qualquer quantidade de dívidas pode ser paga, por mais que pareça impossível no começo. David Bach, autor do best-seller O milionário automático (Editora Cultrix), apresenta alguns passos que permitem retomar o controle sobre os seus cartões de créditos e ficar livre de dívidas no futuro. E mesmo que você não possua dívidas deste tipo, leia este texto porque irá motivá-lo a continuar sem elas:

Primeiro passo: pare de cavar

Comecemos pelo básico. Se você caiu no buraco do cartão de crédito - isto é, se têm dívidas e quer sair delas - pare de cavar. O que significa isso? Bem, a fim de parar de cavar ainda mais fundo, o bom seria jogar a pá fora. Em outras palavras, livre-se de seus cartões de crédito. Pare de ir às compras com o cartão no bolso.

Segundo passo: renegocie a taxa de juros de seu débito

Descubra quanto de juros está pagando - Que taxa você está pagando atualmente sobre o montante da dívida? Talvez ache difícil descobrir isso só com os demonstrativos do seu cartão. Neste caso, ligue para a companhia e pergunte quanto, exatamente, a sua dívida está lhe custando. Diga-lhes que quer saber a taxa exata, não a média. Eles entenderão a pergunta e por lei terão de dizer.


Solicite uma taxa menor - Após descobrir a taxa de juros que está pagando atualmente, diga à companhia que ela de alta demais e que gostaria de pagar menos. Não perca tempo discutindo taxas com o primeiro funcionário que atender à chamada. Peça para falar com o supervisor. Os supervisores têm autoridade para conceder-lhe uma taxa menor na hora. Em muitos casos, você pode conseguir abater a taxa pela metade, simplesmente pedindo, e até cancelar a tarifa anual de manutenção de cartão.
Terceiro passo: Pague pelo passado; pague pelo futuro.

Divida o dinheiro. Eis o que sugiro às pessoas endividadas no cartão. Qualquer que seja a quantia decida guardar um pouco para você mesmo. Divida esse valor ao meio, reserve 50% para você e 50% para o pagamento do débito. O motivo de eu recomendar a divisão desse dinheiro de que, assim, você pode fazer progressos para o futuro enquanto vai se livrando da dívida. O fundamento lógico aqui é tanto emocional quanto financeiro. Fazendo as duas coisas ao mesmo tempo você sentirá o progresso.

Se você destinasse todo o seu fluxo de caixa disponível para a redução do débito, com o compromisso de não começar a economizar até desonerar-se por completo, tardaria anos e anos a iniciar a sua poupança para o futuro. Isso é muito negativo - tão negativo, em verdade, que quem segue esse caminho quase sempre desanima, desiste e não economiza nada. Enterre o passado e dê um salto para o futuro.

Você já ouviu falar nisso

Tenha a iniciativa de retribuir. Seja um dizimista. Essa de a outra grande sugestão de David Bach. “Você sem dúvida sabe qual de o conceito de dízimo. E com toda a probabilidade ouviu falar pela primeira vez no assunto num contexto religioso, em sua igreja, templo ou mesquita. A palavra é derivada de dez e a idéia original era doar 10% da colheita anual. Mas o dízimo está envolvido com algo mais do que porcentagens e produtividade. Ser dizimista não é uma questão de seguir tradições, tentar livrar-se da culpa ou contar com uma recompensa futura. É uma questão de dar pela pura alegria que isto proporciona".

"Mas, eis uma coisa impressionante: embora você deva dar apenas por dar, a verdade é que a abundância começa a fluir de volta para quem dá. O fluxo de abundância é que nos traz mais alegria, amor, riqueza, significado em nossa vida. Falando de um modo geral: quanto mais você der, mais rico se sentirá”.

Vida pessoal

Organizar a vida pessoal também exige bastante dedicação. Mas existem algumas idéias simples que podem nos ajudar a pôr em ordem vários relacionamentos que desejamos manter, porque estão ligados com pessoas que estimamos muito.

Werner Tiki e Lothas J. Seiwert, consultores em gerenciamento de vida pessoal e autores de Simplifique sua vida (Editora Fundamento), dão orientações práticas para várias áreas da vida pessoal. Veja:

Encontros

Combinar encontros com colegas, amigos e conhecidos, que nunca têm tempo, é uma tarefa cada vez mais cansativa. Fixe um dia do mês em que sua casa esteja aberta (por exemplo, a primeira sexta-feira de cada mês); em termos de comida, nada de exageros. Como nunca terá certeza sobre o número de pessoas, você terá que improvisar, mas é isso que dará o charme ao evento. Ou então, se você acha esse método muito trabalhoso, simplesmente convide pessoas escolhidas num dia fixo do mês. Uma técnica semelhante ao do dia fixo pode ser usada em relação aos pais, avós, sogros, irmãos, tios e tias a cada dois meses, por exemplo.

Escute bem seus pais

Você não precisa mais obedecer a seus pais, como quando você era criança; mas você deveria estar aberto para escutá-los. Eles deveriam saber que você compreende seu ponto de vista, embora nem sempre concorde com eles. Filhos adultos tendem, às vezes, a não levar a sério os pais e a interrompê-los bruscamente: "Está bem, você já disse isso mil vezes!". Frases como essa machucam pessoas idosas mais do que elas demonstram.

Faça perguntas sobre o passado de seus pais, partindo de sua próxima adolescência: como foi quando vocês se apaixonaram pela primeira vez? Como vocês foram tratados por seus pais? Naquela época, como vocês passavam o tempo livre? Não fique satisfeito com sentenças prontas ("Eu tive uma infância dura"), mas pergunte sobre histórias concretas e fatos nunca revelados. Em muitos casos, uma conversa dessa natureza é possível quando a relação com os pais está tensa no plano emocional.

Procure a conversa a dois

Invista na conversa a dois. O erro mais freqüente na comunicação entre parceiros é desistir cedo demais. Lembre-se da tenacidade que você precisa para seguir objetivos profissionais ou quantas vezes você precisa insistir com seus filhos até finalmente darem certo. Invista essa paciência também com a pessoa mais importante de sua vida. Confie: conversas a dois vão se otimizando sozinhas; caso uma conversa tenha um péssimo resultado, a próxima será automaticamente melhor.

Além disso, um bom relacionamento é marcante para os filhos, mais tarde, cada criança imitará inconscientemente a qualidade do relacionamento dos pais. A melhoria na comunicação por meio de conversas a dois enriquece também, com o tempo, a vida sexual do casal. É um erro achar que para uma boa "noitada" é preciso ter pouca intimidade: compreensão mútua e confiança na intimidade são os melhores ingredientes para uma vida sexual realizada.


Elisângela Machado
Mestre em Ciências. 
Docente da Universidade Camilo Castelo Branco, 
Campus VIII, Descalvado–SP

terça-feira, 29 de março de 2016

Abuso brutal de menino na prisão, em 1926, estabeleceu a maioridade penal em 18 anos

Publicado em: 09/07/2015 08:59 
Atualizado em: 09/07/2015 09:28
Com o Código de Menores de 1927, a prisão de crianças e adolescentes ficou proibida. 
Em seu lugar, teriam de ser aplicadas medidas socioeducativas. Na foto crianças trabalham em fábrica de sapatos no início do século 20. Em 1927, a atividade dos menores de 12 anos ficou proibida. (Foto: Museu da Justiça do Estado do Rio de Janeiro) 

Em 12 de outubro de 1927, no Palácio do Catete, o presidente Washington Luiz assinava uma lei que ficaria conhecida como Código de Menores. Hoje, passados quase 90 anos, a canetada do último presidente da República do Café com Leite é alvo das mais exaltadas discussões no governo, no Congresso e na sociedade.

Foi o Código de Menores que estabeleceu que o jovem é penalmente inimputável até os 17 anos e que somente a partir dos 18 responde por seus crimes e pode ser condenado à prisão. O que agora está em debate no país é a redução da maioridade penal para 16 anos.


O código de 1927 foi a primeira lei do Brasil dedicada à proteção da infância e da adolescência. Ele foi anulado na década de 70, mas seu artigo que prevê que os menores de 18 anos não podem ser processados criminalmente resistiu à mudança dos tempos.

É justamente a mesma idade de corte que hoje consta da Constituição e do Código Penal, além do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) — uma espécie de filhote do Código de Menores que nasceu em 1990 e completou 25 anos na segunda-feira (13/07/2015).


A pioneira lei, que foi construída com a colaboração do Senado, marcou uma inflexão no país. Até então, a Justiça era inclemente com os pequenos infratores. Pelo Código Penal de 1890, criado após a queda do Império, crianças podiam ser levadas aos tribunais a partir dos 9 anos da mesma forma que os criminosos adultos.

Notícias criminais protagonizadas por crianças e adolescentes eram corriqueiras na imprensa. Em julho de 1915, o jornal carioca A Noite noticiou: “O juiz da 4ª Vara Criminal condenou a um ano e sete meses de prisão um pivete de 12 anos de idade que penetrou na casa número 103 da Rua Barão de Ubá, às 13h, e da lá furtou dinheiro e objeto no valor de 400”.

A mão policial também era pesada. Até o surgimento do Código de Menores, os pequenos delinquentes recebiam o mesmo tratamento dispensado a bandidos, capoeiras, vadios e mendigos. Uma vez capturados, todos eram atirados indiscriminadamente na cadeia.


Em março de 1926, o Jornal do Brasil revelou a estarrecedora história do menino Bernardino, de 12 anos, que ganhava a vida nas ruas do Rio como engraxate. Ele foi preso por ter atirado tinta num cliente que se recusara a pagar pelo polimento das botinas. Nas quatro semanas que passou trancafiado numa cela com 20 adultos, Bernardino sofreu todo tipo de violência. Os repórteres do jornal encontraram o garoto na Santa Casa “em lastimável estado” e “no meio da mais viva indignação dos seus médicos”.

Em 1922, uma reforma do Código Penal elevou a maioridade de 9 para 14 anos. Com o Código de Menores de 1927, chegou-se aos 18 e a prisão de crianças e adolescentes ficou proibida. Em seu lugar, teriam de ser aplicadas medidas socioeducativas, como se chamam hoje.

No caso dos delinquentes com idade entre 14 e 17 anos, o destino seria uma escola de reforma (ou reformatório), onde receberiam educação e aprenderiam um trabalho. Os menores de 14 anos que não tivessem família seriam mandados para a escola de preservação, uma versão abrandada do reformatório. Os mais novos com família poderiam voltar para casa, desde que os pais prometessem às autoridades não permitir que os filhos reincidissem.


Extenso e minucioso, o código se dividia em mais de 200 artigos, que iam além da punição dos pequenos infratores. Normatizavam desde a repressão do trabalho infantil e dos castigos físicos exagerados até a perda do pátrio poder e a criação de tribunais dedicados exclusivamente aos menores de 18 anos.

No Brasil da virada do século 19 para o 20, uma parcela considerável da população vivia na miséria. Com o fim da escravidão, em 1888, os negros e suas famílias se viram abandonados de uma hora para a outra, elevando as estatísticas da pobreza. A ainda tímida industrialização atraía gente do campo, mas não conseguia absorver toda a mão de obra disponível. As cidades inchavam, e o desemprego e a criminalidade disparavam.

Às crianças e aos adolescentes restavam dois caminhos. Ou trabalhavam, submetidos a serviços pesados ou perigosos, jornadas exaustivas e pagamentos irrisórios. Trabalhadores imberbes eram vistos operando máquinas nas indústrias, vendendo bilhetes de loteria nas ruas e participando das colheitas nas fazendas.

Ou então perambulavam pelas ruas das cidades grandes, como Rio e São Paulo, agrupados em “maltas”, como se dizia, cometendo roubos, aplicando golpes, pedindo esmolas ou simplesmente vadiando. Naquela altura, as escolas públicas eram raras e estavam reservadas para os filhos das classes abastadas.

A Gazeta de Notícias, numa reportagem de fevereiro de 1929, explicou o problema das ruas para as crianças: “Aí aprendem coisas que não deveriam ou não precisariam saber: encontram más companhias que os desencaminham, adquirem vícios e maus costumes, deslizam para a vadiagem, a mendicidade, a libidinagem, a gatunagem e outras formas de delinquência”.

Documentos preservados no Arquivo do Senado, em Brasília, revelam que os senadores foram protagonistas no longo processo que culminou na criação do Código de Menores de 1927.

Um dos pioneiros da causa infantil foi o senador Lopes Trovão (DF). Ainda no final do século 19, ele subiu à tribuna do Palácio Conde dos Arcos, a sede do Senado, no Rio (que tinha o status de Distrito Federal), para dizer que era inaceitável a apatia do poder público diante das crianças abandonadas e delinquentes.

"Ao Estado se impõe lançar olhos protetores, empregar cuidados corretivos para a salvação dos pobres menores que vagueiam a granel, provando nas palavras que proferem e nos atos que praticam não ter família. Se a têm, esta não lhes edifica o coração com os princípios e os exemplos da moral", discursou ele em setembro de 1896.

Patriarcalismo
Para o senador, o Estado precisava ter poder para retirar de casa e internar em escolas especiais as crianças que não recebessem dos pais a devida educação moral. Segundo ele, vários países avançados já subtraíam o pátrio poder das famílias negligentes, como os Estados Unidos, a França e a Inglaterra.

Lopes Trovão acreditava que os cidadãos de sua geração já estavam corrompidos e não seriam capazes de tirar o Brasil do atraso social e conduzi-lo à civilidade. Para ele, a solução seria apostar todas as fichas nas crianças.

"Temos uma pátria a reconstituir, uma nação a formar, um povo a fazer. Para empreender essa tarefa, que elemento mais dúctil e moldável a trabalhar do que a infância? São chegados os tempos de trabalharmos na infância a célula de uma mocidade melhor, a gênese de uma humanidade menos imperfeita. Preparemos na criança o futuro cidadão capaz de efetuar a grandeza da pátria dentro da verdade do regime republicano".

Muito embora o senador Lopes Trovão já fosse uma figura respeitada por ter militado na linha de frente dos movimentos abolicionista e republicano, o projeto de Código de Menores que ele apresentou em 1902 terminou engavetado.

O senador Alcindo Guanabara (DF) foi outro expoente na defesa da “infância desvalida”. Em agosto de 1917, ele fez um enfático pronunciamento em que buscou convencer os colegas da necessidade urgente de um Código de Menores:

"São milhares de indivíduos que não recebem senão o mal e que não podem produzir senão o mal. Basta de hesitações! Precisamos salvar a infância abandonada e preservar ou regenerar a adolescência, que é delinquente por culpa da sociedade, para transformar essas vítimas do vício e do crime em elementos úteis à sociedade, em cidadãos prestantes, capazes de servi-la com o seu trabalho e de defendê-la com a sua vida".

O projeto que o senador redigiu em 1917 também acabou sendo arquivado. Em 1906, como deputado federal, Alcindo Guanabara já havia apresentado uma proposta semelhante, que tampouco avançou. Outra tentativa de criação do Código de Menores foi feita em 1912, pelo deputado João Chaves (PA).

Desde o discurso de Lopes Trovão, passaram-se mais de 30 anos até que o Código de Menores fosse aprovado. Foram vários os motivos da demora. Um deles, segundo estudiosos do tema, foi a 1ª Guerra Mundial (1914–1918), que reduziu a mera frivolidade qualquer discussão em torno da infância. Outro entrave foi o patriarcalismo.

"Os senadores e deputados faziam parte daquela sociedade patriarcal e não queriam perder o poder absoluto que tinham sobre suas famílias até então. O Código de Menores mudava essa realidade, permitindo que o Estado interviesse nas relações familiares e até tomasse o pátrio poder — explica a historiadora Sônia Camara, autora do livro Sob a Guarda da República (Quartet Editora), que trata das crianças da década de 1920".

O historiador Eduardo Silveira Netto Nunes, estudioso da evolução das leis da infância, vê um terceiro motivo. De acordo com ele, uma parcela dos parlamentares tinha aversão às propostas de Código de Menores porque a construção dos reformatórios, escolas e tribunais previstos na nova lei exigiriam o aumento dos impostos.

"Até então, o governo estava ausente das políticas sociais. Sua atuação se resumia à repressão policial. O Código de Menores apareceu como o prenúncio do que viria a partir dos anos 30, com Getúlio Vargas, que transformaria o governo no grande administrador da sociedade e colocaria as políticas sociais como prioridade. Vargas, por exemplo, trouxe uma série de direitos trabalhistas".


Na entrada da década de 20, os obstáculos começaram a cair. No governo Epitácio Pessoa, o advogado e ex-deputado José Cândido Mello Mattos foi encarregado de reformular o projeto do senador Alcindo Guanabara e passou a conduzir o movimento. Por influência dele, o Congresso aprovou uma série de leis relativas à infância que abririam caminho para a criação do Código de Menores. Na época, a lei ficou conhecida como Código Mello Mattos.

Dia da Criança
A data da assinatura do Código de Menores, em 12 de outubro de 1927, havia sido escolhida pelo presidente Washington Luiz a dedo, para coincidir com os festejos do Dia da Criança, criado por decreto pouco antes por seu antecessor, Artur Bernardes.

A nova lei, em resumo, determinava ao governo, à sociedade e à família que cuidassem bem dos menores de 18 anos.


Um dos artigos proibiu a chamada roda dos expostos, a medieval roleta embutida na parede externa de instituições de caridade que permitiam à mulher — solteira, quase sempre — abandonar anonimamente o filho recém-nascido. Com o código, a mãe teria que primeiro providenciar a certidão de nascimento do bebê para depois poder entregá-lo aos funcionários do orfanato, onde se lavraria um registro, que poderia ser secreto se fosse esse o desejo da mulher.

O trabalho infantil era fartamente explorado. Ainda que pouco produtiva, era uma mão de obra abundante e barata. A partir de 1927, as crianças de até 11 anos não puderam mais trabalhar. A atividade dos adolescentes entre 12 e 17 anos ficou autorizada, porém com uma série de restrições. Eles, por exemplo, não poderiam trabalhar durante a noite nem ser admitidos em locais perigosos, como minas e pedreiras.

De acordo com a historiadora Maria Luiza Marcilio, autora do livro História Social da Criança Abandonada (Editora Hucitec), o Código de Menores foi revolucionário por pela primeira vez obrigar o Estado a cuidar dos abandonados e reabilitar os delinquentes. Ela, porém, faz uma ressalva:

"Como sempre acontece no Brasil, há uma distância muito grande entre a lei e a prática. O Código de Menores trouxe avanços, mas não conseguiu garantir que as crianças sob a tutela do Estado fossem efetivamente tratadas com dignidade, protegidas, recuperadas".

O sucessor da lei de 1927 foi o Código de Menores de 1979, criado pela ditadura militar. Depois, em 1990, veio o Estatuto da Criança e do Adolescente.

Os dois primeiros códigos, grosso modo, dirigiam-se apenas aos marginais. O ECA, por sua vez, vale para todas as crianças e adolescentes, independentemente da classe social. Antes, o foco das leis estava nas punições. Agora, nos direitos. Nos velhos códigos, o infrator capturado era punido automaticamente. Hoje, ele tem direito a ampla defesa e, para isso, conta com o trabalho dos defensores públicos.

O termo 'menor', que se popularizou na época do código de 1927, agora é abominado pelo meio jurídico. O ECA, em seus mais de 250 artigos, não o utiliza nenhuma vez. No lugar de 'menor', adota a expressão 'criança ou adolescente'.


Explica o historiador Vinicius Bandera, autor de um estudo sobre a construção do primeiro código: "'Menor' é um termo pejorativo, estigmatizante, que indica anormalidade e marginalidade. 'Criança ou adolescente' é condizente com os novos tempos. Remete à ideia de um cidadão que está em desenvolvimento e merece cuidados especiais".

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