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sábado, 26 de setembro de 2020
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quarta-feira, 23 de setembro de 2020
Lampião, o eterno fugitivo.
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O Sete de Setembro
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Padre Cícero e o homem que o olhava no caixão
sexta-feira, 14 de agosto de 2020
Pão de Açúcar - Celeiro do Cangaço
Pão de Açúcar - Celeiro do Cangaço
Por
Raul Meneleu
Estive recentemente na cidade alagoana de Pão de Açúcar nas barrancas do Velho Chico onde muitas histórias de Coronéis e Cangaceiros se misturaram com autoridades policiais.
Fui
especialmente para acompanhar o lançamento de um livro do escritor Antônio
Pinto, que fala sobre um dos antigos residentes da cidade e que este era
Lampião.
O
livro "Lampião - A sua verdadeira morte" narra a história do Senhor
João Novato, que chegou à cidade no início dos anos 60 e fixou residência.
Vinha acompanhado de sua esposa, que se chamava Maria Rita.
Mas fora desta história entrevistei algumas pessoas (link) e existem outras que precisam ser expostas (link).
Fico
imaginando por que essa região foi praticamente esquecida pela maioria dos
pesquisadores da grande saga que desenrolou-se no Nordeste brasileiro e mais
ainda nesta região. Podemos citar a Professora Luitgarde de Oliveira Cavalcanti
Barros, nascida nessa região alagoana como um destaque em falar sobre a saga e
o jornalista Melchiades da Rocha.
Vamos elencar aqui alguns vultos representativos destas três vertentes: coronelismo, autoridades policiais e cangaceiros, e no bojo destas três vertentes, pistoleiros e capangas.
Coronéis:
A
conversa do Coronel Joaquim Rezende com Lampião
Joaquim Rezende (à esquerda) conversa com Melchiades da Rocha. Foto: Maurício Moura – Jornal A Noite.
No
dia 30 de julho de 1938 em Santana do Ipanema, Alagoas, onde as cabeças iriam
ser expostas, estava o prefeito recém-eleito de Pão de Açúcar, Joaquim Rezende,
identificado por alguns como sendo coiteiro e amigo de Lampião.
O
Coronel Joaquim Rezende foi prefeito de Pão de Açúcar entre 1938 e 1941. Este Morreu
assassinado em 1954, quando ocupava o cargo de delegado de Polícia. Os
assassinos formam os irmãos Elísio e Luiz Maia. Elísio era então prefeito do
município.
Melchiades
da Rocha, em seu livro Bandoleiros das Catingas, lançado em 1942, recorda do
encontro que teve com Joaquim Rezende em Santana do Ipanema.
Ele
se refere ao prefeito de Pão de Açúcar como sendo “um abastado proprietário em
seu município” e que ele estava em Santana também “à espera da cabeça de
Lampião, pois desejava certificar-se se de fato ele havia morrido”.
A
condição de amigo de Lampião ostentada por Joaquim Rezende aguçou os instintos
do repórter, que começou a se perguntar o que teria levado um rico cidadão a
“se tornar um afeiçoado do Rei do Cangaço”, quando era prefeito de uma cidade
que poderia ser alvo das ações do bandido.
A narrativa a seguir é um valioso documento de como se davam as relações de Lampião com o poder político e econômico das regiões sertanejas vítimas do cangaço.
Com
a palavra Melchiades da Rocha:
“Sem
quaisquer etiquetas, pois nós sertanejos não somos, apenas, iguais perante a
lei, apresentei-me ao Cel. Rezende e lhe disse à moda da terra:
—
“Seu” Rezende, eu queria uma palavrinha do senhor!
—
Pois não! — respondeu-me, amavelmente, o prefeito de Pão de Açúcar.
Momentos
depois o Sr. Rezende e eu nos achávamos na sede da Prefeitura de Santana. Em
poucas palavras relatei os meus propósitos ao cavalheiro que me fora apontado
como sendo grande amigo de Lampião.
Após
ter-me oferecido uma cadeira, o Sr. Rezende sentou-se e narrou,
pormenorizadamente, como e por que se tornara amigo do Rei do Cangaço, amigo
ocasional, bem entendido, pois não poderia ter sido de outro modo.”
O
Coronel Rezende então fala ao repórter:
"Conheci Lampião em 1935, época em que me escreveu ele, pedindo mandasse-lhe a importância de quatro contos de réis, prometendo-me, ao mesmo tempo, tornar-se meu amigo se fosse atendido.
Em
resposta à carta do terrível bandoleiro, mandei dizer-lhe pelo mesmo portador
que lhe daria de muito bom grado o dinheiro, mas que só o faria pessoalmente.
Três
dias depois Lampião mandou-me outro bilhete do seu próprio punho, dizendo-me
que me esperava às 10 horas da noite na fazenda Floresta, município de Porto da
Folha, em Sergipe, recomendando-me que fosse até ali, mas não deixasse de levar
o dinheiro.
Não
obstante os naturais receios que tive, à hora aprazada cheguei ao local do
encontro, onde permaneci até uma hora da manhã, quando surgiu um cangaceiro
que, ao ver-me, perguntou-me se eu era o moço que desejava falar ao capitão.
Respondi que sim.
Dentro
de poucos minutos, então, o Rei do Cangaço ali se apresentava acompanhado de
quatro homens, “Juriti”, “Zabelê”, “Passarinho” e “Nevoeiro”. Ao ver o grupo
aproximar-se, identifiquei logo Virgulino e a ele me dirigi, cumprimentando-o.
O
famoso bandoleiro, ao contrário do que eu esperava, recebeu-me amavelmente e
foi logo perguntando sobre o que lhe havia levado. Sabendo que o Rei do Cangaço
gostava de beber, eu, que levava comigo três litros de conhaque, lhos ofereci.
A fim de que desaparecesse logo qualquer suspeita do bandoleiro, prontifiquei-me a ser o primeiro a provar a bebida. Encarando-me com olhar firme, Lampião me disse em tom natural: “Concordo em que o senhor beba primeiro, mas não é por suspeita e sim porque o senhor é um moço decente e eu sou apenas um cangaceiro”.
Tomamos,
então, o conhaque e, em seguida, abordei o Rei do Cangaço sobre o dinheiro que
ele me havia pedido. Como resposta, disse-me ele: “O senhor dá o que quiser,
pois eu dou mais por um amigo do que pelo dinheiro”.
—
Esse fato — disse o conceituado comerciante de Pão de Açúcar — teve lugar no
mês de agosto de 1935, e a minha palestra com Lampião durou três horas, tendo
ele me falado de vários assuntos, entre os quais o relativo à perseguição de
que era alvo, acrescentando que, de todas as forças que andavam em seu encalço,
a que mais o procurava era a do então Major Lucena, dada a velha inimizade que
o separava desse oficial da polícia alagoana, a quem reconhecia como homem de
fato e dos mais corajosos.
Quanto
às forças dos outros Estados, disse-me Lampião que se arranjava “a seu gosto…”,
fazendo nessa ocasião graves acusações a vários oficiais dos que andavam em sua
perseguição.
—
Aí está como foi o meu primeiro encontro com o Rei do Cangaço. — Depois —
acrescentou o prefeito de Pão de Açúcar — Lampião mandou pedir-me bebidas,
charutos e também objetos de uso doméstico. Mais tarde, porém, fui informado de
que ele estava empregando esforços no sentido de matar o Sr. José Alves
Feitosa, ex-prefeito de minha terra que, como eu, o esperara muitas vezes ali,
a fim de fazer-lhe frente, pois foi das mais terríveis a ação de Virgulino em
nosso município.
Tratando-se
de um amigo meu o homem que estava destinado a morrer às mãos de Lampião,
procurei um pretexto para me avistar com este e não me foi difícil encontrá-lo.
Todavia, após uma série de considerações, em que fui até exigente demais,
Lampião, dizendo ao mesmo tempo que só fazia tal “sacrifício” para me
satisfazer, prometeu-me sustar a realização de sua sanguinária intenção,
declarando-me naquele momento que já tinha em campo dois homens para fazer o
“serviço” lá mesmo na cidade de Pão de Açúcar, já que o visado andava
resguardado, não saindo para parte alguma.
Tal
conhecimento com Lampião, deixou-me, aliás, em situação crítica, pois inimigos
meus denunciaram ao Coronel Lucena que eu era um dos coiteiros do celerado
cangaceiro.
Ao
ter ciência de tal acusação, dirigi-me ao referido oficial e lhe expus as
razões que me levaram a ter contato com o Rei do Cangaço, após ter andado
prevenido contra ele, longo tempo. Jamais faria isso se não fosse a situação em
que, como muitos outros sertanejos, me encontrei durante longo tempo.
Intercedi, depois disso, em favor de várias firmas comerciais de Maceió e Penedo, cujos representantes teriam caído às garras do bando sinistro se não fora a minha intervenção junto a Lampião. Há dois meses passados, fui forçado, do que não guardei reserva ao Coronel Lucena, a intervir novamente em defesa de algumas vidas preciosas, no que fui feliz, conseguindo que Virgulino desistisse dos seus sinistros propósitos.”
Após
este depoimento, Joaquim Rezende continuou a conversar informalmente com o
repórter e revelou que Lampião confessara a ele que tinha uma filha fruto da
relação com Maria Bonita. A menina, então com 12 anos, estava sob a guarda de
um vaqueiro no município de Porto da Folha, que a adotara.
Lampião
também disse a ele que entrou para o cangaço aos 16 anos de idade, aderindo ao
grupo do bandoleiro Antônio Porcino. Tinha a intenção de vingar a morte do pai
e de um irmão, que tombaram num choque com a Polícia alagoana.
Joaquim
Rezende contou ainda que Lampião tinha vontade de abandonar o cangaço para se
dedicar à pecuária, pois gostava da vida no campo. O cangaceiro disse ainda que
havia adquirido duas fazendas no município de Porto da Folha pela quantia de nove
contos de réis e comprado dois belos cavalos em Xorroxó, na Bahia, arreando-os
luxuosamente.
Diante
da possibilidade apresentada pelo prefeito de Pão de Açúcar de negociar a sua
rendição às autoridades de Alagoas, poupando-lhe a vida, Lampião achou boa a
ideia, mas argumentou que seria impossível isso acontecer por considerar que os
governos da Bahia e de Pernambuco fariam tudo para eliminá-lo.
“Não tenho dúvidas de que Lampião, se tivesse podido, havia mudado de meio de vida, pois sei que nestes últimos tempos ele não atacava senão quando se via forçado a assim proceder”, concluiu Joaquim Rezende.
A
filha de Lampião citada por Joaquim Rezende era Expedita Ferreira Nunes, que
foi criada em Porto da Folha pelo casal Manoel Severo e Aurora, que também tomavam
conta de duas fazendas — provavelmente as que Lampião citou como suas, mas que
são citadas como de Juca Tavares, padrinho de Expedita.
Quando
Lampião morreu, Expedita tinha cinco anos e nove meses. Isso indica que a
informação de Joaquim Rezende sobre a idade da filha, 12 anos, estava errada. é
possível que tenha Lampião tenha falado 2 anos e não 12.
Expedita, depois dos 8 anos, foi viver com seu tio João Ferreira da Silva, o Joca Ferreira.
CANGACEIROS
Também entrevistei a Sra. Enalva Soares Pinto, filha do cangaceiro Cristino Cleto o Corisco e dona Maria Francisca e que foi entregue ao Padre Soares Pinto, que a deixou com seu tio, o fazendeiro Antônio Soares Pinto para cria-la. Veja a entrevista nesse link
A filha de Corisco que reside em Pão de açúcar/AL, que foi criada pela tradicional família SOARES PINTO chama-se ENALVA SOARES PINTO, é filha de um relacionamento amoroso que Corisco manteve com Francisca Alves, natural de Águas Belas/PE. Está lúcida com 84 anos. No mês ter a criança o próprio Corisco trouxe a jovem Francisca para Pão de açúcar, assim que a criança nasceu foi entregue ao padre José Soares Pinto que no momento encontrava-se em Maceió, foi chamado às pressas por Telegrama para vir a pão de açúcar receber um presente. O padre José Soares Pinto (1884-1939) ainda faleceu jovem no Rio de Janeiro, com a morte do padre , a criança ENALVA passa para os cuidados do irmão do padre o fazendeiro totonho Soares Pinto.
A
senhora Enalva, teve 12 filhos, inclusive um deles é Padre em São Paulo, o
Padre Enubio. Conheci desta prole apenas dois deles, o senhor Antônio Pinto,
Escritor e Artista Plástico, que nesta minha visita a Pão de Açucar fez o
lançamento do livro "Lampião - A sua verdadeira morte" e que fez uma
caminhada tipo procissão para instalar um Cruzeiro no túmulo do Senhor João
Novato, acreditado por parte da comunidade como sendo Lampião. (Link) e o
Senhor Heitor Pinto, proprietário de uma Academia de Ginástica e de um
Restaurante tipo Museu a Céu aberto que conta a história da cidade com seus
personagens mais importantes. (Link) Esse
museu a céu aberto, está instalado na periferia da cidade de Pão de Açúcar no
Estado de Alagoas, banhada pelo Rio São Francisco. Também é restaurante e tem
um bar temático. Tudo rústico como era o sertão no século 19. O proprietário é
o Professor Heitor Soares Pinto, Neto do famoso cangaceiro Corisco.
Desde menino conviveu com o Sr. João Novato, que para algumas pessoas era o famoso cangaceiro Lampião, que depois de fugir baleado do combate do Angico, depois de andar escondido por muitos anos, aportou novamente na cidade de Pão de Açúcar-AL no início dos anos 60.
Por
conta da pandemia do COVID-19 ainda não voltei a Pão de Açúcar para prosseguir
com minhas pesquisas, que inclui a vida de Expedita Ferreira, a filha de
Lampião quando menininha criada na região, as fazendas que provavelmente
Lampião era proprietário, uma pesquisa de outro filho de Corisco, criado por um
membro proeminente da cidade, o relato de um cangaceiro que fugiu baleado do
Fogo do Angico e que foi tratado no hospital da cidade sergipana de Nossa Senhora
da Glória, onde chegou a escrever na parede do ambulatório suas iniciais e
também entrevistar alguns membros do bloco carnavalesco Os Cangaceiros, fundado
por um filho de cangaceiro juntamente com João Novato. (Link)
João
Novato (seta) e Dona Maria Rita
quarta-feira, 29 de julho de 2020
Reminiscências de Maria Bonita
Reminiscências de Maria Bonita
Por Raul Meneleu
E mesmo assim ainda paira dúvidas para alguns, aquele acontecimento da fuzilaria do Angico onde ela e Lampião, com mais nove companheiros foram mortos pelas volantes comandadas pelo tenente João Bezerra.
O título desse artigo diz bem com
a imagem lembrada do passado dela, pois o que se conserva na memória são
lembranças vagas ou incompletas fornecidas por parentes e escassas fontes da Igreja
Católica, material este carcomido por traças e descasos de conservação.
Infelizmente as autoridades religiosas não conservaram a tais, não por má fé,
mas por talvez faltarem a tais uma consciência histórica por não enxergarem o
futuro, talvez por não perceberem tais documentos como história de sua própria
igreja, paróquia e rebanho.
Os escritores da Saga Cangaço foram ao campo, investindo seus recursos de tempo e dinheiro do próprio bolso pois faltavam-lhes patrocínios de entidades de cultura, tanto as particulares como as governamentais, como aliás aconteceu na história do homem sobre a face da terra, sendo que apenas poucos destes pesquisadores foram amparados oficialmente. Imaginem agora no nosso Brasil onde a cultura sempre foi posta em patamar inferior.
Centremos então nossa atenção
para o nicho esquecido por muitos mas lembrado por poucos: A História de Maria Bonita.
Iniciemos com o histórico de
pesquisadores que debruçaram sobre o assunto.
Em livro mais recente temos o do pesquisador Voldi de Moura Ribeiro, que trata do nascimento de Maria Bonita.
Na página 79 sob o título "UMA ANÁLISE ACERCA DO DIA 08 DE MARÇO DE 1911" data defendida sem comprovação documental por alguns escritores, Voldi analisa em síntese crítica, os registros de tais, que a partir do ano de 1997 passaram a defender esta data, isto sem comprovação documental e que simplesmente se basearam em relatos verbais familiares que também não foram comprovados.
Antes as datas defendidas por
autores mais antigos, variava de ano, desde 1906 a 1912.
Na análise crítica da tabela da pg 79 Voldi apenas indica os
autores e as obras referenciadas estão explícitas nas pgs 70-79 (tópico 10).
Voldi traz o resultado de sua
pesquisa com documentos comprobatórios encontrados nas Paróquias de Santo
Antônio da Glória e São João Batista de Jeremoabo, em sua busca, juntamente com
o Pesquisador, Teólogo e Comunicador Social, Padre Celso Anunciação. Em
conversa de mais de uma hora por telefone, entrevistei o autor dias 26 e 28 de
julho de 2020, que me informou está sendo elaborada uma segunda edição, ampliada.
Estive com Voldi em diversos
encontros do Cariri Cangaço, onde ele compartilhava comigo o assunto e ano
passado estivemos em Juazeiro do Norte, onde o autor entregou-me em mão sua
obra com uma dedicatória amável que agradeço imensamente. Nesta obra, ele traz
fotografias de tais documentos, onde não pode existir mais dúvidas de data de
nascimento de Maria Bonita. Abaixo exponho as fotos e procuro fazer
argumentações extra-livro.
Transcrição do trecho da página: "Aos sete dias do mês de setembro de mil
nove centos e dez, baptisei solenemente a Maria, nascida a desessete de janeiro de mil nove centos e dez filha natural de Maria
Joaquina da Conceição. Foram padrinhos Agripino Gomes Baptista e Maria Joaquina
da Conceição. E para constar fiz este assento que me assigno.
Vigário
Euthymio José de Carvalho”
Que dúvida pode persistir se a
evidência maior é o Batistério de Maria? E por que duvidar de um atestado de
Batismo (conforme foto abaixo) emitida pela Paróquia de São João Batista e
assinada pelo Pároco e Padre José Ramos Neves?
Alguém pode dizer: Por que os pesquisadores de renome não encontraram esse Batistério da mulher mais famosa do cangaço?
Respondo com um talvez: Talvez porque
faltou-lhe um amparo maior que o Pesquisador Voldi Moura obteve, ao aliar-se
com um Pesquisador entendido no assunto religioso dos batismos da Igreja
Católica e conhecedor dos meandros e aceito por seus pares de religião, onde
pode escarafunchar as documentações que estavam por assim dizer, aguardando o
momento propício para ser revelada ao público. O escolhido e abençoado foi
Voldi Moura Ribeiro.
Mas vamos além e foquemos nas
demais documentações que nunca tinham sido acessadas por pesquisadores mais
afamados. Temos o Batistério de uma das irmãs de Maria Bonita, que se chamava
Antônia.
O nome completo de Antônia era Antonia Maria da Conceição. (foto abaixo)
Essa certidão de Batismo traz também apenas o primeiro nome, como era o costume da época, pois o batizando automaticamente levaria o nome dos pais. Vejam que esta certidão traz o nome do pai. A de Maria Bonita não. Por certo o pai não estava presente ou Maria Bonita “poderia” ser filha de outro homem. Mas vou deixar essa tese para em outra ocasião dissertar sobre ela.
Em vista desse “achado” os
próximos livros que forem escritos sobre o assunto com certeza irão trazer essa
data de 17 de janeiro de 1910 mesmo que não queiram dar o crédito ao autor da
descoberta, Sr. Voldi Moura Ribeiro.
Na internet existem diversos blogs e páginas com a data não comprovada de 8 de março, seguindo escritores que não pesquisaram e basearam suas afirmativas pelos livros lidos. Coincidentemente o Dia Internacional da Mulher é 8 de março. Claro que gostaríamos de ter essa data internacional como sendo a do nascimento de Maria Bonita, mas infelizmente não é.
Frederico Pernambucano de Melo,
historiador e membro da Academia Pernambucana de Letras, veio a reconhecer a
descoberta de Voldi Moura, quando em palestra no Museu do Estado de Pernambuco,
Recife, em 14 de dezembro de 2011, transcrita no próprio livro LAMPIÃO E O
NASCIMENTO DE MARIA BONITA quando disse:
“... o Brasil, a quem a história
acendeu uma vela no dia 8 de marco útimo, julgando assinalar os cem anos de seu
nascimento. Acendeu por engano, ao que se constata no momento, a data festejada
parecendo não ser a verdadeira.
No vazio de registro escrito, que persistiu até meses atrás, esse 8 de março teria prosperado com base no testemunho de parentes, fonte reconhecidamente precária quando se trata de datas. Para não falar do caráter confuso e pouco explicado desse testemunho. Contra o qual se insurge agora o resultado de levantamento feito há pouco no arquivo da Diocese de Jeremoabo, Bahia, pelo sociólogo Voldi Ribeiro, auxiliado pelo padre Celso Anunciação, que deu como resultado a descoberta do batistério da cangaceira-mor. Documento que a torna mais velha em pouco mais de um ano, vez que nascida aos 17 de janeiro de 1910, ao que reza o papel da sacristia amarelecido pelo tempo. Teria morrido, assim, com 28 anos e seis meses de idade, naquele 28 de julho de 1938, para os que apreciam as exatidões. E conseguido negar um pouquinho de idade para o marido famoso, como toda mulher que se preza...”
Não sabemos como o grandioso
pesquisador Antônio Amaury Correia de Araújo veio a obter essa data refutada de
8 de março, mas se corrige ao referenciar a descoberta do Sociólogo Voldi Moura,
quando em seu livro “Lampião - As Mulheres e o Cangaço” segunda edição, de
2012, página 162 faz constar uma devida correção:
"Maria veio ao mundo em 8 de
março de 1911*
*Data invalidada após o amigo
pesquisador Voldi de Moura Ribeiro, haver encontrado uma carta enviada por mim em
16 de março de 1971, buscando informações sobre documentos de Maria Bonita.
Essa carta foi encontrada por Voldi em 22 de agosta de 2011. ”
Reconhece então o nobre Escritor e Pesquisador, a declaração de Certidão de Nascimento feita pelo Padre José Ramos Neves em que atesta o nascimento de Maria Bonita em 17 de janeiro de 2010. (veja foto acima)
Na enciclopédia Wikipedia no link abaixo
( https://pt.wikipedia.org/wiki/Maria_Bonita),
encontramos ainda a falsa data de 8 de março de 1911 onde foi posta uma pequena
nota que pode ser aberta ao teclar nesse um [1] que diz: “Segundo o Antônio
Amaury, a certidão de batismo em nome de Maria Bonita não pode ser localizada.
Maria deve ter nascido por volta do ano de 1908 (ARAÚJO 1984, fls. 168) e creio
que os administradores da página, já deveriam ter mudado a data para 17 de
janeiro de 1910 o ano de seu nascimento.
Aqui encerro minhas considerações a respeito da data de nascimento de Maria Bonita.
quinta-feira, 16 de abril de 2020
quarta-feira, 25 de março de 2020
Parlamentares tentaram incluir combate a Lampião na Constituição de 1934
Reportagem: Ricardo Westin, da Agência Senado
Colaboração: Celso Cavalcanti, da Rádio Senado
Pesquisa: Arquivo do Senado
Publicado em 2/7/2018
Ao longo das décadas de 1920 e 1930, Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião, espalhou o terror pelo Nordeste. Com seu bando, percorreu o sertão atacando vilas, matando inocentes, saqueando mercearias, achacando fazendeiros, roubando gado, trocando tiros com a polícia, marcando a pele de inimigos com ferro em brasa.
A carreira do criminoso brasileiro mais célebre de todos os tempos chegou ao fim há 80 anos. Descoberto numa fazenda em Sergipe, Lampião foi executado pela polícia a tiros de metralhadora, ao lado de outros dez cangaceiros, incluindo Maria Bonita, sua companheira. Até o New York Times deu a notícia, no histórico 28 de julho de 1938.
Jornal A Noite noticia morte de Lampião em julho de 1938 e publica fotos do cangaceiro, de uma vítima do bando marcada com ferro em brasa e do comandante da ação policial, tenente João Bezerra (imagem: Biblioteca Nacional)
Os senadores e os deputados da época olhavam o cangaço com preocupação. Documentos guardados nos Arquivos do Senado e da Câmara mostram que os parlamentares trataram do tema na tribuna em inúmeras ocasiões. Em 1926, o senador Pires Rebello (PI) discursou:
— Quem vive nesta capital da República [Rio de Janeiro], poderá achar que o governo tem feito a felicidade completa dos brasileiros. Ofuscados pelos brilhos da luz elétrica, é natural que os cariocas não saibam que naquele vasto interior existem populações aquadrilhadas fora da lei que zombam da Justiça e ridicularizam governos.
Muitos cangaceiros haviam assustado o Nordeste antes de Lampião, como Cabeleira, Jesuíno Brilhante, Antônio Silvino e Sinhô Pereira, mas nenhum foi tão temido quanto o rei dio cangaço. As investidas de Lampião eram tão brutais que, na Assembleia Nacional Constituinte de 1934, deputados nordestinos — a Assembleia não teve senadores — redigiram pelo menos cinco propostas para que a nova Constituição previsse o combate ao cangaço como obrigação do governo federal.
A repressão cabia às volantes, batalhões itinerantes das polícias dos estados. O que parte dos constituintes desejava era que o Exército reforçasse a ação das volantes. O deputado Negreiros Falcão (BA) afirmou:
— Os Lampiões continuam matando, roubando, depredando, desvirginando crianças e moças e ferreteando-lhes o rosto e as partes pudentas sem que a União tome a menor providência. Os estados por si sós, desajudados do valioso auxílio federal, jamais resolverão o problema.
Com seu bando de cangaceiros, Lampião aterrorizou o sertão nas décadas de 1920 e 1930 (foto: Biblioteca Nacional)
O deputado Teixeira Leite (PE) lembrou que os governos estaduais eram carentes de verbas, armas e policiais:
— A força policial persegue os bandoleiros, prende-os quando pode e mata-os quando não morre. Hostilizados de todos os lados, recolhem-se à caatinga e se tem a impressão de que o bando se extinguiu. Mera ilusão. O vírus entrou apenas num período de latência. Cessada a perseguição, os facínoras repontam mais violentos e sequiosos de sangue e dinheiro, apavorando os sertanejos e a polícia.
Leite explicou por que seria diferente com o Exército em campo:
— Que bando se atreveria a aproximar-se de uma zona onde estacionassem tropas do Exército, com armas modernas, transportes rápidos e aparelhos eficientes de comunicação? Para provar que apenas as forças e a intervenção do governo nacional poderão extirpar esse banditismo, basta citar que faz mais de dez anos que Lampião tranquilamente impera na região limítrofe de cinco estados do Brasil.
Outra vantagem das tropas federais era que podiam transitar de um estado a outro. As polícias estaduais não tinham tal liberdade — e os cangaceiros tiravam proveito disso. Uma vez encurralados em Alagoas, por exemplo, os bandidos escapavam para Sergipe, Bahia ou Pernambuco, estados nos quais as volantes alagoanas não podiam atuar.
Nenhuma das propostas que davam responsabilidade ao governo federal vingou, e a Constituição de 1934 entrou em vigor sem citar o cangaço.
— Na nova Constituição, vamos invocar o nome de Deus. Vamos também constitucionalizar Lampião? — ironizou o deputado Antônio Covello (SP).
O deputado Carlos Reis (MA) concordou:
— Se no Brasil temos por toda parte bandoleiros como Antônio Silvino e Lampião, nos Estados Unidos existem os gangsters e não me consta que na Constituição norte-americana haja qualquer medida de repressão ao banditismo ali organizado com esse caráter.
Para o deputado Francisco Rocha (BA), o cangaço exigia “remédio social”, e não “remédio policial”:
— As causas do cangaceirismo são a falta de educação, estrada e justiça e a organização latifundiária preservando quase intactas as antigas sesmarias coloniais, para não mencionar a estúpida ação policial dos governos.
Governo da Bahia espalhou cartazes oferecendo recompensa a quem capturasse Lampião (imagem: reprodução)
Segundo o jornalista Moacir Assunção, autor do livro Os Homens que Mataram o Facínora, sobre os inimigos de Lampião, o cangaço surgiu na Colônia, provocado pelo isolamento da região:
— O sertão ficava separado do litoral e mantinha uma ligação muito tênue com Lisboa e, depois, com o Rio. O que prevalecia não era a justiça pública, mas a justiça privada. Era com sangue que o sertanejo vingava as ofensas. Muitos aderiram ao cangaço em razão de brigas de família ou abusos das autoridades. Uma vez cangaceiros, executavam a vingança contando com a proteção e a ajuda do bando.
Lampião entrou no cangaço após a morte de seu pai pela polícia, em 1921.
— O cangaceiro não era herói. Era bandido mesmo — esclarece Assunção. — A aura de herói tem a ver com um atributo valorizado pelo sertanejo do passado: a valentia. O cangaceiro enfrentava a polícia sem medo, de peito aberto. Isso era heroísmo.
Em 1935, com a nova Constituição já em vigor, o senador Pacheco de Oliveira (BA) apresentou um projeto de lei que destinaria 1,2 mil contos de réis aos estados nordestinos para repressão ao cangaço. O dinheiro sairia do orçamento da Inspetoria Federal de Obras contra as Secas, responsável pela abertura de açudes, poços e estradas no sertão.
A grande preocupação de Oliveira eram os criminosos que atacavam os trabalhadores e atrasavam as obras:
— Não há muito, um engenheiro avisou sobre o risco que corria seu pessoal. Como não lhe chegassem recursos, lançou mão do único expediente que lhe era praticável: armou os trabalhadores.
Os cangaceiros matavam os operários por terem ciência de que a chegada do progresso ao sertão colocaria em risco o futuro das quadrilhas nômades.
O historiador Frederico Pernambucano de Mello, autor do livro Quem Foi Lampião, diz que havia motivos não confessos para que o governo federal e os estados pouco fizessem para acabar com o rei do cangaço de uma vez por todas:
— Lampião vivia fora da lei, mas mantinha um excelente relacionamento com os poderosos. Era protegido por coronéis e políticos. O governador de Sergipe, Eronildes Ferreira de Carvalho, tinha amizade com Lampião e lhe fornecia armamento e munição.
O poder público chegou a se aliar oficialmente aos cangaceiros. Em 1926, o bando de Lampião foi contratado para combater a Coluna Prestes no Nordeste. Comandado por Luís Carlos Prestes, o movimento foi uma marcha político-militar que percorreu o país enfrentando o governo e mobilizando a população contra a opressão política da República Velha.
A boa vida de Lampião acabou quando Getúlio Vargas deu o golpe de 1937 e instaurou o Estado Novo. Uma das bandeiras da ditadura era a modernização do país. Nesse novo Brasil, que deixaria de ser agrário para se tornar urbano e industrial, o cangaço era uma mancha anacrônica a ser apagada com urgência.
Getúlio Vargas e sua política modernizante foram decisivos para o fim do cangaço (foto: CPDOC/FGV)
A gota d’água foi um documentário mudo que revelou ao país a rotina do bando de Lampião na caatinga. O que se via eram cangaceiros despreocupados, alegres, bem vestidos e com joias. Nem pareciam fugitivos. Sentindo-se afrontado, Vargas ordenou aos governadores do Nordeste que parassem de fazer vista grossa e aniquilassem o rei do cangaço.
Assim se fez. Lampião e seus subordinados foram mortos e decapitados em 1938, e o governo expôs as cabeças em cidades do Nordeste. Bandidos de outros grupos correram para se entregar, de olho na anistia prometida a quem delatasse companheiros.
Corisco, o último pupilo de Lampião, foi morto em 1940, e o cangaço enfim se tornou passado.
Sem perspectivas no Nordeste, muitos dos ex-cangaceiros migraram para o Rio e São Paulo. Policiais que atuavam nas volantes perderam o emprego e engrossaram o êxodo nordestino.
Corisco, o último dos cangaceiros, foi morto pela polícia em 1940 (foto: reprodução)
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