Nesse artigo, enfoco as
circunstâncias que levaram homens antes pacatos e religiosos, a tornarem-se
cruéis assassinos e tornarem-se cangaceiros. Inicio com comentários sobre a
entrevista concedida pelo Professor e Catedrático de Medicina Legal das
Faculdades de Direito e de Medicina da Universidade da Bahia, Estácio de Lima,
Diretor do Instituto Nina Rodrigues ao Jornal do Estado, de São Paulo, em 10 de
junho de 1956. Foi nesse Instituto que cometeu-se um dos grandes crimes com os
auspícios do Estado. Ali foram retidas as cabeças de Virgulino Ferreira o
Lampião, sua mulher, Maria Bonita, Cristino Gomes o Corisco, entre outros.
Também trago apreciações a respeito do folclore, especificamente os que os escravos
africanos trouxeram para o Brasil.
Em agosto de 1938, o Instituto
Guilherme II, de Berlim, chegou a enviar telegrama solicitando a cabeça de
Lampião para a sua coleção de “criminosos célebres”, mas o destino de todos os
cangaceiros trucidados em Angico seria o Museu de Antropologia Criminal do
Instituto Nina Rodrigues, em Salvador, mesmo local que abrigou, até um incêndio
em 1905, as cabeças de Antônio Conselheiro e Lucas da Feira.
As cabeças foram analisadas para
comprovar que eram provenientes de pessoas consideradas degeneradas. Essa
análise tinha origem nas teses positivistas defendidas pelo criminologista
italiano Cesare Lombroso, segundo as quais as pessoas ligadas à criminalidade
tinham uma predisposição biológica à prática de crimes e a comportamentos
antissociais, perceptíveis através da análise das feições das pessoas e do
formato de seus crânios.
Não acreditavam que eram
condições sociais que levavam à prática de crimes, mas sim a formação
biológica. As teses inseriam-se em uma ideologia racista desenvolvida
principalmente na Europa, em fins do século XIX e início do século XX.
As cabeças ficaram expostas no
museu do Instituto entre 1938 e 1969, quando foram entregues aos familiares.
Entre esses estudiosos, estava o
Professor Estácio Luiz Valente de Lima, que nesse artigo encontro suas palavras
ao repórter do jornal que o entrevistou, dizer:
"estar absolutamente provado
que o cangaceirismo é um problema de ordem social e não policial, donde é
forçoso concluir-se que não se deve tentar resolvê-lo pela repressão
policio-judicial. Removidas as causas de ordem mesológico-social resolve-se o
problema" disse ele. E continuando falou que “A experiência demonstrou que
todos os cangaceiros são indivíduos readaptáveis e de fato, readaptam-se facilmente
a vida social.”
Com tais palavras o Emérito
Professor, mostrava que a teoria de Cesário Lombroso estava errada, sendo Ele
próprio a contradizer a teoria abraçada por Nina Rodrigues, Ele próprio e mais
alguns acadêmicos ilustres de sua época.
CAUSAS D0 CANGACO
Entrando no tema da conferencia do
Professor EL Ele novamente adentra na teoria Lombrosiana para nossa decepção. Sabemos
que são várias as causas do cangaço, mas não podemos de forma nenhuma concordar
com essa teoria que pessoas ligadas à criminalidade tinham uma predisposição
biológica à prática de crimes e a comportamentos antissociais,
Nas regiões do nordeste do Brasil
a primeira cаusa é a de natureza social e está provado pela ciência, que a
genética
é a ciência que estuda a
transmissão das características hereditárias ao longo das gerações. Por volta
de 1986, Gregor Mendel postulou duas Leis que serviriam como ponto de partida e
até hoje são a base do estudo da hereditariedade. A molécula de ácido desoxirribonucleico
(DNA) carrega todas as informações e características genéticas dos seres vivos.
Os cromossomos são constituídos por uma longa fita de DNA que se enovelam com
uma proteína, denominada histona. Os cromossomos estão organizados aos pares no
interior do núcleo das células diploides e cada par é denominado cromossomo
homólogo. O conjunto de cromossomos de uma célula forma o cariótipo, onde em
seres humanos, 22 pares correspondem aos cromossomos autossomos e 1 par aos
cromossomos sexuais.
Os fragmentos de DNA em um
cromossomo são denominados genes, responsáveis pela síntese de uma proteína
específica que condiciona por exemplo, a cor dos olhos, dos cabelos, podem
também trazer doenças hereditárias. Mas nunca trará o pensamento, a mente, o
que se pensa, pois estas características são adquiridas no meio em que o indivíduo
é formado.
Interessante é que no trabalho da
Professora de Biologia Roberta das Neves, ela traz para a sala de aula, uma
experiência feita pelos cientistas: “Durante muito tempo, os cientistas
acreditaram que variações anatômicas entre os animais fossem consequência de
diferenças significativas entre seus genomas. Porém, os projetos de
sequenciamento de genoma revelaram o contrário. Hoje, sabe-se que 99% do genoma
de um camundongo é igual ao do homem, apesar das notáveis diferenças entre
eles. Sabe-se também que os genes ocupam apenas cerca de 1,5% do DNA e que
menos de 10% dos genes codificam proteínas que atuam na construção e na
definição das formas do corpo.
Algumas moléculas de DNA não
codificantes regulam atividade de regiões codificantes. Assim, podem interferir
no fenótipo dos seres vivos e cita um exemplo formidável para nosso
entendimento.
Mas o que é fenótipo?
A compreensão do que é fenótipo
possibilita entender melhor as diferenças apresentadas entre os organismos e
suas mudanças ao longo do tempo.
Fenótipo é um importante conceito
adotado em Genética e costuma ser definido como o conjunto de características
observáveis de um organismo. Nesse sentido, incluem-se nesse conjunto as
características morfológicas e fisiológicas de um indivíduo.
O que determina o fenótipo?
Como dito anteriormente, o
fenótipo nada mais é que a totalidade das características observáveis de um
indivíduo, as quais são determinadas pelo conjunto de nossos genes. Diante
disso, podemos dizer que o fenótipo é a expressão do genótipo. Entretanto, é
importante salientar que o fenótipo não é determinado apenas pelos genes,
sofrendo influência também do meio no qual esteja inserido um indivíduo.
Costuma-se resumir a relação
entre genótipo e fenótipo da seguinte forma:
Genótipo + Ambiente → Fenótipo
Um exemplo fácil de ser
compreendido em relação ao fenótipo é a cor da nossa pele. Imagine que uma
pessoa apresente pele clara, mas, após alguns dias na praia, verifica-se o seu
escurecimento por causa da produção de melanina. A cor de pele clara foi
determinada geneticamente, entretanto, seu tom é influenciado pelo meio, nesse
caso, pela exposição ao sol na praia.
O CANGACEIRO
Com o que vimos acima, onde foi
descoberto pelos cientistas, que 99% do genoma de um camundongo é igual ao do
homem e nem o camundongo é humano e nem o humano é camundongo, podemos concluir
que seres vivos têm características quase iguais, diferenciando o corpo físico
mas indicando a genética parecida.
O CANGACEIRO tornou-se
cangaceiro, sofrendo a influência do meio, assim como um pessoa de cor branca
pode escurecer sua pele por se expor ao sol.
Quando os seguidores de Cesare
Lombroso dizerem que é o fator genotípico, lembremos desse exemplo da pele
exposta ao sol.
Infelizmente o Professor AL e
Nina Rodrigues, mesmo sendo pessoas com inteligência elevada, estavam
acreditando em uma teoria que à época foi abraçada por parte da comunidade
científica mundial, se vivos fossem, por certo estariam agora convencidos do
erro desta teoria.
Mas ai vemos nessa entrevista,
uma frase do nobre Professor, onde nos indica que ele estaria no caminho certo
para reformular a compreensão Lombrosiana quando disse: "Algo de anormal
осогre com os filhos de cangaceiros. Há uma espécie de marca de hereditariedade
sobre os descendentes dos "lampiões” Essa "marca" decorre do fator
genético mais o meio". Hoje Ele veria que não há até hoje correlação clara
entre morfologia e alterações genéticas. Assim que o espermatozoide penetra no
óvulo, as chances de fertilização já são grandes. No entanto, já sabemos que
algumas alterações de morfologia são resultado de alterações genéticas e que os
descendentes meninos poderão herdar as mesmas alterações de morfologia por
serem propensos à por exemplo, doenças hereditárias.
Eureka Professor! Acabei de
descobrir que o Senhor se vivo estivesse, iria abandonar essa teoria de Cesário
Lombroso! E se Nina Rodrigues também estivesse vivo, iria se curvar à ciência
atual!
Apenas seria corrigido a
formulação; “Essa "marca" decorre do fator genético mais (+) o
meio" pois a genética como vimos, é
a ciência que estuda a transmissão das características hereditárias ao longo
das gerações e o comportamento é estudado como sendo o procedimento de alguém
face a estímulos sociais ou a sentimentos e necessidades íntimos ou uma
combinação de ambos, nada tendo efeitos sobre a matéria.
As causas principais, todavia, do
cangaço são de cunho social, afirmou o conferencista, mostrando-nos seu
entendimento, faltando apenas se livrar de Lombroso. O homem que se tornou cangaceiro,
desde muito cedo, foi obrigado a lutar, em seus locais de nascimento, contra
uma Justiça e uma Polícia mal orientadas, defeituosas.
Sua família, vítima de violências,
de desrespeito, de atos de verdadeiro barbarismo e tanto a Justiça quanto a Policia
nada fez para punir os malfeitores, principalmente quando havia interesses em
acoberta-los.
Isso gerou no homem trabalhador,
ordeiro e religioso, o espírito de revolta, de ódio que se notava em todos os cangaceiros.
Eram seres humanos descontentes com a Justiça e com a Polícia. Lampião foi um
desses casos. Vítima de injustiças da Justiça. O recurso foi bandear-se para o
cangaço.
TERRA E AGUA
Afirmou o professor El em sua
entrevista, desta vez ao Diário de São Paulo de 10 de junho de 1956, que outro
fator determinante do cangaço tem caráter econômico. “Sempre foi comuns os
despejos pela força. Dos simples lavradores que por longos anos se dedicavam a
cuidar de suas terras.
Quando as colheitas se anunciavam
fartas, vinham pessoas mais poderosas e os desalojavam violentamente,
atirando-as à mais absoluta miséria.” Estas perseguições, estas Injustiças
contra eles praticadas foram também uma das causas decisivas do cangaço, que é,
no fundo, um sentimento de vingança.
“O arame farpado é outro problema
muito sério a considerar” disse o conferencista. As melhores terras e águas, estiveram
protegidas por trás das cercas de arame farpado, que assinalavam os limites das
propriedades de senhores semifeudais”.
O arame farpado também motivou
conflitos nos EUA nos anos pós 1876 quando este foi inventado. Os novos colonos
não hesitaram em demarcar terras que pertenciam a tribos indígenas. E não é
surpreendente que os índios tenham apelidado o arame farpado de "corda do
diabo". Os cowboys também o odiavam. Antes acostumados a ver os animais
pastando livremente, agora tinham que lidar com feridas e infecções. E milhares
de animais morriam enganchados nas cercas durante tempestades de neve. "Me
irrita", escreveu um vaqueiro em 1883, "quando penso nas cebolas e
batatas crescendo onde cavalos deveriam estar se exercitando". Se os
cowboys estavam furiosos, imaginem os indígenas.
A grande maioria das economias
modernas se baseiam na propriedade privada - o conceito legal de que quase tudo
tem dono. Sendo assim, a forma como o arame farpado transformou o Velho Oeste é
também a história de como os direitos de propriedade mudaram no mundo. Aqui no
Brasil não foi diferente.
O professor Estácio de Lima,
diretor do Instituto Nina Rodrigues e catedrático de Medicina Legal das
Faculdades de Direito e de Medicina da Universidade da Bahia, quando foi
convidado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Capital,
para integrar a banca examinadora do concurso para provimento da cadeira de
Medicina Legal daquele estabelecimento, concedeu entrevista ao Jornal do
Estado, de 10 de junho de 1956 onde abordou sucintamente, os estudos e
pesquisas que foram desenvolvidos no Instituto Nina Rodrigues da Bahia
sobre o problema do cangaceirismo.
Lembrou, inicialmente, que o
Instituto Oscar Freire, SP tem como núcleo a cadeira de Medicina Legal da
Faculdade de Medicina, criado a semelhança do Instituto Nina
Rodrigues, pois Oscar Freire, encarregado da sua organização, fora assistente
no instituto baiano, mas que no entanto, as atividades do instituto
de Salvador seriam mais amplas. Assim, disse ele "no terreno da
Medicina Legal e pericial que estão intimamente associados, os assistentes do
catedráticos de Medicina Legal das Faculdades de Medicina e de Direito da
Bahia, também são os médicos-legistas do Estado, o que não ocorre em São
Paulo, onde coexistem o Instituto Oscar Freire e o Serviço Médico-legal do
Estado, este encaminhando àquele, para perícia, somente os casos mais
raros, que demandem estudo. Em consequência, as atividades médico-legais, do
ponto de vista do ensino prático, são mais amplas no
Instituto Nina Rodrigues do
que no Oscar Freire."
Segundo o professor Estácio de
Lima, o sistema de poder realizar no Nina Rodrigues
todas as pericias teria bem melhores resultados, não se verificando, caso
de quebra do sigilo profissional, por parte dos estudantes, que estão a par de
todos os casos de natureza médico-legal ocorridos na capital baiana.
Por outro lado, disse ele, que
mantendo a tradição do cientista cujo nome ostenta, o Instituto Nina Rodrigues
continua sendo importante centro de estudos de criminologia, de etnologia
e de folclore.
No campo da criminologia,
preocupam-se especialmente o professor Estácio de Lima e seus assistentes, com
o problema do cangaceirismo; no campo da etnologia, com o estudo do tipo
nordestino, e no do folclore, com sobrevivência
brasileiras, sobretudo, com os candomblés de origem sudanesa.
Interessantes observações fez o
professor baiano acerca do cangaceirismo, durante a entrevista, discorrendo,
com erudição em fatos e dados colhidos pessoalmente, sobre
esse problema, onde ressaltou inicialmente, "estar absolutamente
provado que o cangaceirismo é um problema de ordem social e não policial, donde
é forçoso concluir-se que não se deve
tentar resolvê-lo pela repressão policio-judicial.
Removidas as causas de ordem mesológico-social resolve-se o problema"
disse ele. E continuando falo que “A experiência demonstrou que todos os
cangaceiros são indivíduos readaptáveis e de fato, readaptam-se facilmente a
vida social.”
Segundo o professor Estácio de
Lima, “foram recuperados e reintegrados na comunhão social todos e os antigos
companheiros de Lampião, verificando-se entre eles somente um caso de reincidência:
um antigo cangaceiro, que cumpria pena em uma prisão de Pernambuco que ao ser
esbofeteado, revidou matando seu agressor. Neste caso, ainda, se não se
tratasse de legitima defesa, circunstancia que exclui a criminalidade,
poder-se-ia falar na atenuante da violenta emoção provocada por ato injusto da vítima”.
Como membro do Conselho Penitenciário
da Bahia, o professor Estácio de Lima tinha como seu auxiliar, entre outros, Ângelo
Roque, que sob o nome de guerra "Labareda", era um dos mais famosos
cangaceiros do bando de Lampião, que gozava de liberdade condicional e que
tinha se reintegrado perfeitamente na sociedade, da mesma forma que seus antigos
companheiros. Segundo o professor Estácio de Lima, muitos destes cangaceiros do
bando de Lampião eram pacatos motoristas profissionais, que conduziam,
principalmente, os caminhões conhecidos por "paus-de-arara" e que
trafegavam entre São Paulo e os Estados do Nordeste.
Outro fato interessante segundo a
reportagem, conforme dito pelo professor EL (doravante me referirei ao
Professor Estácio de Lima usando as iniciais de seu nome) é que entre eles
subsistia a solidariedade do grupo e os membros do bando ainda continuavam a
respeitar seus antigos chefes. Como se sabe, o bando de Lampião dividia-se em pequenos
subgrupos de 10 a 12 homens, cada um com seu chefe. Jamais operavam juntos e
somente no celebre ataque a Mossoró se empenhou o bando todo; juntos.
Divididos em pequenos grupos os cangaceiros
não só se locomoviam mais rapidamente como também podiam defender-se melhor,
obrigando as forças policiais a se subdividirem também. Pois bem, o professor
EL disse para demostrar esse respeito: “ainda hoje, os antigos subordinados de
"Labareda" não deixam de prestar-lhe conta de seus atos, apresentando-lhe
conta de seus atos, apresentando-se a ele regularmente e dando as notícias dos
outros companheiros, porventura ausentes. Só que não o chamam mais pelo apelido
de "Labareda" pois passou a ser "seu" Roque, o que é um
indicio de sua reintegração na vida social.”
Em sua origem, o cangaceirismo é
resultante de fatores de ordem mesológico-social disse o professor EL. Esta
ciência dedicada ao estudo das relações recíprocas entre o ambiente e os seres
que nele vivem, também pode ser entendida como sendo a "influência do
meio" sobre o indivíduo. Portanto é fácil de entender o porquê da irritação
de homens que se tornaram cangaceiros pela injustiça social, que se pode apresentar
sob vários aspectos agindo de acordo com o punitivo código de honra do sertão,
onde o sertanejo cometia seu primeiro crime. Daí o professor EL dizer que tratava-se
de “um criminoso ocasional, perseguido, muitos abrigando-se à sombra dos
"coronéis", deixando de ser um criminoso ocasional, para entrar no
grupo dos habituais.”
Esta portanto é a fase do bando
armado e organizado, é a fase do cangaço.
Fator de importância fundamental
na gênese do cangaceiro nordestino, é também, o fator econômico, pois impotente
para se fixar no meio hostil que era o sertão, uma vez que as melhores terras e
as aguadas estavam nas mãos dos grandes proprietários, o sertanejo é obrigado a
emigrar, o que contribui ou determina, inicialmente, seu desajustamento.
O arame farpado é, segundo as
palavras do professor EL, um dos grandes inimigos do sertanejo, impedindo a sua
fixação no meio em que nasceu.
Prosseguindo, o professor EL, a sede
do cangaço se deslocou das regiões do Nordeste para a zona do cacau, espraiando-se
na fronteira entre os Estados de Minas Gerais e Bahia. Aliás, é sabido que os
cangaceiros, como medida de defesa, jamais se internam profundamente em território
de um Estado, agindo sempre na periferia, ao longo das fronteiras, para escapar
à ação das polícias
Militares estaduais, que não
podem ir além dos limites de sua circunscrição.
Batidos pela seca, impotentes
para se fixar na terra natal, esse nordestinos procuram o sul. São Paulo
sobretudo. Porém, muitos e muitos deixam a viagem em meio, localizando-se na
zona cacaueira. Pelas suas condições, esta é uma zona favorável ao
desenvolvimento do cangaceirismo, assemelhando-se, na opinião do professor EL, às
zonas pioneiras do oeste Norte-americano, ao tempo de seu devassamento.
“Os nordestinos, de passagem,
recebem propostas interessantes dos donos das terras do cacau. Com seu trabalho,
valorizam o solo, plantam cacau, para afinal, serem despejados, sumariamente.
Nesse conflito de interesses nasce o cangaceiro, Posteriormente, então, intervém
o "coronel" e o processo caminha até o estágio final, do bando armado
do cangaço. Evidentemente, é esse um esquema simplista, a grosso modo serve
para compreensão do fenômeno.” Acentuou o professor EL.
“A necessidade de os poderes públicos
volverem sua atenção para os bandos de cangaceiros que se estão definindo na
zona cacaueira, para resolver desde logo o problema, não em termos de repressão
policial, mas sim levando em conta os fatores de ordem social, econômica e mesológica
que estão na sua origem. Os estudos etnológicos constituem uma das preocupações
dos alunos, de professores, assistentes e do Instituto Nina Rodrigues.”
Mais abaixo comento a respeito
dos cinco grupos apontados pelo diretor do Instituto Nina Rodrigues em que
textualmente “julga ser o nordestino o mais definido, do ponto de vista étnico.”
Para o professor EL outrossim,
continua verdadeira a afirmação de Euclides da Cunha: "O sertanejo é,
antes de tudo, um forte".
De fato só dois animais suportam
e conseguem sobreviver às longas caminhadas na zona semiárida do polígono das
secas: o sertanejo é a cobra cascavel. E a prova de que o sertanejo é um forte
é dada, segundo o professor EL pelo biótipo do cangaceiro. Não se conhecem
cangaceiros do tipo chamado pícnico, tipo gordo, na classificação de Kretschmer.
Todos são longilíneos, tipos secos apenas, perfeitamente adaptados ao meio.
A biotipologia faz uma relação
entre corpo e caráter+temperamento. Kretschmer fez um trabalho com tratamento
estatístico e dividiu os seres humanos em três tipos, quanto ao caráter
(acrescento que aí também está o temperamento):
1. o magro e alto: esquizotímico
(tipo Don Quixote);
2. o baixo e gordo: ciclotímico
(tipo Sancho Pança);
3. o que tem suas medidas em
equilíbrio: ixotímico (tipo "sarado");
4. o que tem suas medidas em
grande desarmonia: não há tipo específico.
O tipo 1 ele chamou de
leptossomático.
O tipo 2 ele chamou de pícnico.
O tipo 3 ele chamou de atlético.
O tipo 4 ele chamou de
displásico.
Para o professor de Medicina
Legal da Bahia, exageraram e não levaram em conta os fatos, aqueles que consideram
o sertanejo um fraco. Se ele sobrevive em um meio hostil como o do Nordeste, na
região batida pela seca, alimentando-se mesmo não eficientemente, é porque se
trata mesmo, antes de tudo, de um forte. Mas sabemos que na zona de caatingas,
a sobrevivência é difícil, e discordando um pouco do nobre Professor EL, muitos
sofrem fome e grandes necessidades, faltando uma política governamental de
convivência com a seca. Realmente o professor de Medicina Legal da Bahia não
exagerou e não levou em conta alguns acharem que o sertanejo fosse fraco, mas
perdura até nossos dias o sofrimento do sertanejo que reside nessas áreas e em
minhas incursões pelo nordeste, vejo poucas famílias residindo na zona seca das
caatingas, preferindo as cercanias das cidades, em casebres, pois poderão
sobreviver, mesmo sem nenhuma dignidade.
TIPOS ETNICOS BRASILEIROS
“Os estudos etnológicos
constituem uma das preocupações dos alunos e de professores, assistentes e do
Instituto Nina Rodrigues.” - Disse o Professor EL. De acordo com ele, estariam
se definindo no Brasil, cinco grupos étnicos, perfeitamente distintos:
a) o amazônico;
b) o gaúcho;
c) o caipira mineiro;
d) o paulista;
e) o nordestino.
Quanto ao paulista, o Professor EL, expôs que “resulta de uma
fusão de numerosos grupos estrangeiros e nacionais”, pelo que concordamos
plenamente. A propósito, ele disse que São Paulo é a maior forja etnológica da América
do Sul. E realmente diversas culturas e biótipos se misturam em uma nova raça
que ainda não está, mesmo em nossos dias, plenamente estabelecida.
Desses cinco grupos apontados,
pelo diretor do Instituto Nina Rodrigues, julgamos ser o nordestino o mais definido,
do ponto de vista étnico. Para o professor EL na ocasião da entrevista, continuava
verdadeira a afirmação de Euclides da Cunha: "O sertanejo é, antes de tudo,
um forte".
E disse: “De fato só dois animais
suportam e conseguem sobreviver às longas caminhadas na zona semiárida do
polígono das secas: o sertanejo e a cobra cascavel.” E a prova de que o
sertanejo é um forte é dada, segundo o professor EL, pelo biótipo do
cangaceiro. Não se tem e nem se conheceu cangaceiros gordos. Todos são longilíneos,
tipos secos, perfeitamente adaptados ao meio.
Portanto em qual grupo podemos
indicar os cangaceiros? Creio que podemos escolher o tipo 3 sem sombra de
dúvidas.
CANDOMBLÉS é FOLCLORE
Por folclore entendemos as
manifestações da cultura popular que caracterizam a identidade social de um
povo. O folclore pode ser manifestado tanto de forma coletiva quanto individual
e reproduz os costumes e tradições de um povo transmitidos de geração para
geração. Sendo assim, todos os elementos que são parte da cultura popular e que
estão enraizados na tradição desse povo são parte do folclore.
As manifestações do folclore
dão-se por meio de mitos, lendas, canções, danças, artesanatos, festas
populares, brincadeiras, jogos etc. O folclore é parte integrante da cultura de
um povo e, por isso, é considerado pela Unesco como Patrimônio Cultural
Imaterial, sendo imprescindível a realização de esforços para a sua
preservação.
Passando a falar dos candomblés baianos,
o Professor EL lembrou, de início, que no Brasil as religiões afro-brasileiras
podem ser abrangidas em 3 grupos:
1) norte africano, grupo dos
negros muçulmanos, entre os quais, por exemplo, se podem citar os fulas; nada
ou quase nada nos resta da cultura desses negros, a não ser na filologia e na
arte culinária;
Os fulas singularizavam-se pela
cor opaca, tendendo para o pálido, e o gentílico em pouco tempo se tornou um
qualificativo comum para todo negro com a mesma compleição (fulo, negro fulo,
negrinha fula) e, mais tarde, por extensão, passou a aplicar-se à ausência
momentânea de cor nas faces da pessoas, negros ou brancos (fulo de raiva).
2) grupo centro-africano,
sudanês, cuja religião se conservava, em relativo grau de pureza, não obstante
os sincretismos;
Nina Rodrigues percebeu pela
primeira vez a predominância sudanesa na Bahia, no que foi confirmado por Artur
Ramos. Este destacou no grande grupo a
predominância dos iorubas, também chamados nagôs (embora esse nome seja
normalmente estendido a outras etnias) da Nigéria, dos gegés (ewes) do Daomé,
dos minas da costa norte-guineana, além dos tapas, bornus e galinhas;
identificou a presença importante dos hauçás do noroeste da Nigéria, de
influência muçulmana, a qual marcou também os fulas (mais claros, de origem
berbere-etiópica) e os malês (ou mandingas, de tradição guerreira, considerados
altivos e perigosos pelos lusos, que lhes atribuíam feitiçarias).
Entre os sudaneses originários da
costa da Guiné, amplamente predominantes como vimos, a presença comum da língua
pertencente ao grupo linguístico ioruba talvez explique a predominância dos
elementos dessa cultura em nosso candomblé e nas influências negras de nossa
linguagem.
3) grupo sul-africano ou banto
(angola, congo), cujas sobrevivências estão profundamente mescladas, pelo fenômeno
de sincretismo.
A designação Bantu nunca se
refere a uma unidade racial. A sua formação e expansão migratória originaram
uma enorme variedade de cruzamentos. Há aproximadamente 500 povos Bantu. Assim
não se pode falar de raça Bantu mas de povos Bantu, isto é, comunidades
culturais com civilização comum e línguas aparentadas.
De acordo com a tradição de Nina
Rodrigues, e do Professor EL e seus assistentes, estudaram principalmente o
grupo sudanês.
Na entrevista ao jornal,
perguntado se não achava procedente a crítica que Gilberto Freire fizera a Nina
Rodrigues, o professor EL evitou totalmente a pergunta direta pois, se era a
favor ou contra a tese de Nina Rodrigues
no seu livro “Os Africanos no
Brasil”, onde Nina Rodrigues destaca logo no primeiro capítulo a diferença
entre a condição da população negra na América latina e as condições dessas
populações nos Estados Unidos. “Se nos Estados Unidos o cruzamento entre negros
e brancos é evitado, no Brasil ele “[...] incorporou-se à população local no
mais amplo e franca mestiçagem.”
Para Nina Rodrigues “o problema
brasileiro” seria a mestiçagem. A mistura entre negros e brancos constituiria
um povo degenerado, isso porque Rodrigues acreditava que o negro estava em um
estágio evolutivo inferior ao do homem branco, sendo impossível que o encontro
dessas duas “raças” pudesse formar uma sociedade mais homogênea.
Assim, como Rodrigues, médicos da
época e intelectuais de outros segmentos que atuavam nas academias e por vezes
na vida social e política do país, recebiam fortemente na segunda metade do
século XIX as teorias importadas da Europa como o darwinismo social, bem como a
influência da antropologia criminal, está última desenvolvida pelo médico italiano
Cesare Lombroso, figura muito influente na constituição e no desenvolvimento
das pesquisas de Nina Rodrigues no Brasil.
Sua admiração pelos principais
teóricos do grupo da antropologia criminal italiana e pelos da escola
médico-legal francesa permaneceu inalterada, ainda que se considere discutível
a aplicação de alguns de seus postulados no cenário brasileiro, e não há
dúvidas de que o trabalho deles serviu de exemplo a atividade que desenvolveu
na Bahia. Com todas essas referências, Nina Rodrigues desenvolveu sua pesquisa
sobre um minucioso trabalho de campo, construindo um método etnográfico e dando
sentido a uma nova ciência no Brasil, a antropologia urbana.
Se para Nina Rodrigues a
mestiçagem era um problema para Gilberto Freyre era a “solução”.
A obra de Nina Rodrigues e a de
Gilberto Freyre estavam separadas por um curto espaço de tempo. Apesar disso,
suas análises tinham bases em escolas distintas que lhes permitiram trabalhar
com determinado viés sobre as questões que envolviam a mestiçagem.
Em 1930 o debate sobre a
miscigenação continuava presente, no entanto nesse período muitas das questões
levantadas por teóricos do final do século XIX começavam a “cair por terra”,
com as descobertas científicas mais recentes abria-se um leque maior para se
pensar a miscigenação na sociedade brasileira.
Gilberto Freyre não deixa de
reconhecer as contribuições que Nina Rodrigues trouxe para o campo da ciência,
principalmente sobre os povos Africanos que foram traficados para o Brasil. No
entanto, suas experiências com a antropologia americana de Franz Boas, antropólogo
teuto-americano um dos pioneiros da antropologia moderna que foi chamado de
"Pai da Antropologia Americana", possibilitaram ao sociólogo a pensar
as questões que envolvem o negro através do culturalismo. Em outras palavras,
as noções de raça ligadas à biologia não eram o enfoque de Gilberto Freyre
sobre negros e mestiços.
O autor observa a miscigenação
por uma ótica que difere da maioria dos intelectuais de sua época, sendo a
miscigenação a característica que nos dá unidade.
Longe do segregacionismo em que
se encontravam as populações negras nos Estados Unidos, Nina Rodrigues já havia
observado no Brasil, pois a mistura entre brancos, negros e indígenas havia ido
além da herança genética. Todo brasileiro, mesmo o alvo, de cabelo loiro, traz
na alma, quando não na alma e no corpo – a muita gente de jenipapo ou mancha
mongólica pelo Brasil – a sombra, ou pelo menos a pinta, do indígena ou do
negro. No litoral do Maranhão ao Rio Grande do Sul, e em Minas Gerais,
principalmente do negro. A influência direta, ou vaga e remota, do Africano.
Para a historiadora Lilia
Schwarcz e André Botelho, Gilberto Freyre ao declarar no clássico Casa Grande
& Senzala a forte influência africana no Brasil, não teria negado os
antagonismos que se constituíram no interior da sociedade brasileira. Todavia, acreditava
que a relação entre negros e brancos convergia para uma convivência menos conflituosa,
se comparadas às dos Estados Unidos, por exemplo.
Longe de ter se tornado uma
sociedade mais igualitária, muitas das bases racistas continuam presentes na
sociedade brasileira, claro que com um novo verniz no contexto em que Gilberto
Freyre escreve. Sob uma nova ótica, o autor pernambucano acreditava que seríamos
um país mestiço desde o início da colonização, pois a gênesis da nossa
sociedade já seria um encontro.
A singular pré-disposição do
português para colonização híbrida e escravocrata dos trópicos explica-a em
grande parte seu passado étnico, ou antes cultural, de povo indefinido entre a
Europa e a África. Nem
Intransigentemente de uma nem da
outra, mas das duas.
Diversamente das proposições
sobre a mestiçagem propagadas no final do século XIX - de que a mistura de
raças teria sido um verdadeiro atraso para a construção da sociedade brasileira
– Gilberto Freyre acreditava que a mestiçagem foi o que fez os portugueses triunfar
sobre a colonização em detrimento de outros colonizadores europeus.
A mistura das raças não seria
como Nina Rodrigues dizia, degenerativa, mas ao contrário a miscigenação “[...]
foi para os portugueses vantagem na sua obra de conquista de colonização dos
trópicos. Vantagem para sua melhor adaptação, se não biológica, social.” - Casa
Grande & Senzala (FREYRE).
Voltando à reportagem do Jornal
do Estado, São Paulo, em 10 de junho de 1956, o Professor após ser perguntado
sobre a “miscigenação” ou mistura das raças, passou a discorrer:
Fato que declarou que, por
motivos ainda não bem esclarecidos, na Bahia, mesmo o sudanês, enquanto em
outros Estados do Brasil domina o elemento sul-africano. Destarte, em esse
respeito a Nina Rodrigues e seu grupo predomina mesmo o sudanês para estudo,
enquanto em outros Estados do Brasil domina o elemento sul-africano. Destarte,
em se tratando da Bahia, justifica-se a preocupação, por assim dizer exclusiva,
dos etnólogos, com relação ao grupo centro-africano.
Além do que, enquanto os bantos
não conseguiram fugir ao sincretismo, nem preservar seu patrimônio cultural, os
sudaneses o conseguiram. Isto, evidentemente, não significa que estes tenham
escapado ao processo de sincretismo, mas sim que conseguiram preservar muito
melhor seus traços culturais próprios, entre os quais sua religião. Para o
professor EL a explicação disso reside, provavelmente, na diferença biotipológica
entre "nagôs", "geges", "ketos". De um lado, e
angolas e congos, de outro, ou seja, entre sudaneses bantos, autistas, com
possibilidades maiores, pois, de conservar sua cultura.
Os candomblés, pelo seu valor folclórico,
devem, na opinião do professor EL, ser preservados. Não obstante, terem sofrido
perseguições policiais, sobretudo por parte de autoridades ignorantes, e creio
eu, que estavam por certo sendo incentivados por religiosos. Assim é que nos
primeiros dias da ditadura do "Estado Novo", a polícia baiana
iniciando severa campanha contra os candomblés, varejou e depredou vários
centros, destruindo peças de inestimável valor, dignas de museu.
Na ilha de ltaparica, por
exemplo, em um candomblé de velha tradição, foram despedaçadas a facão 12
preciosas e antigas cadeiras de jacarandá trabalhadas a mão, em que se sentavam
os "ogãs". Em outro candomblé, também a facão os policiais quebraram
um "Exú", imagem de mais de 250 anos de idade, pelo qual, na época,
haviam recebido ofertas de dezenas de contos de réis.
Nessas ocasiões e em outras,
disse o Professor EL que o Instituto Nina Rodrigues, pela voz de seus
diretores, professores e assistentes, sempre tem protestado, contra os atentados
ao nosso patrimônio folclórico, objetivando impedir tais atentados.
Ainda nessa ordem prosseguiu o
professor EL falando da defesa do patrimônio musical dos candomblés. Disse o Professor,
que os norte-americanos já “descobriram a Bahia" e, os motivos musicais
dos candomblés, os quais, convenientemente tratados e estilizados, geraram mais
de 250 rumbas, que se ouve por ai. Segundo o professor EL há cerca de mais de
dois mil temas ou motivos musicais usados nos candomblés, que deveriam estar
registrados em, disco, pelos órgãos governamentais de caráter cultural, para que
se pudessem adotar, na esfera legal, as necessárias medidas de proteção. E esse
é um filão rico, mas que escapará de nossas mãos se não forem adotadas as
providencias que se impõem, disse o eminente Professor.
Aqui eu gostaria de tecer
comentário em que nos EUA na época da escravidão, não foi o governo americano
quem apoiou a coleta das músicas populares que surgiam entre os negros e
brancos empobrecidos que moravam fora das cidades. Essa coleta foi feita por abnegados
cidadãos. Assim como nós, os estudiosos da história do Nordeste, com o
cangaceirismo, os movimentos religiosos, as músicas populares e instrumentais e
etc. Gastamos do nosso bolso para deixar registrado para a posteridade os
eventos marcantes dessa grande matriz cultural com seu caudal gigantesco de
acontecimentos.
Aliás, a mesma coisa diz, em
livro recentemente publicado sobre religiões, Sincretismo Religioso
Afro-brasileiro do Professor Waldemar Valente, da Faculdade de Filosofia, Ciências
e Letras de Recife, o qual, à custa, registrou em disco e em fotografia muita
coisa dos "xangôs" de Pernambuco. Pelos recursos financeiros que
exige, essa é obra que deveria sim, o Ministério da Educação incentivar.
Infelizmente a Cultura só é levada a sério por abnegados.
Aqui em Sergipe, desenvolvi
alguns trabalhos em Candomblés para registrar detalhes da língua, da música e
dança. Trabalho praticamente interrompido devido a raridade desses cultos na
atualidade.
Realmente urge seja iniciada
pesquisas apuradas na Bahia. Pois apenas para sentirmos a problemática, em
1956, ano da entrevista do Professor EL, a língua falada nos candomblés sudaneses
da Bahia falava-se 8 idiomas, dos quais 5 não têm verbos, sendo o sentido das
orações completado pela mimica. Não é preocupante não ter-se estudos
aprofundados?
No Instituto Nina Rodrigues, o professor
EL conta nessa entrevista há mais de sessenta anos atrás que no que concerne à língua
dos candomblés, com o auxílio de um negro, Hilário, que domina perfeitamente os
idiomas "gege", "keto" e "nagô", e com a baiana
Raimunda, que conhece, profundamente, os aspectos musicais do culto dos orixás,
Aliás, por coincidência, disse ele, “tivemos oportunidade de conhecer Raimunda,
durante a festa da Lavagem do Bonfim, em janeiro último, em Salvador,
fotografando-a juntamente com outras baianas.” Eu quando lembro que esse povo
dessa época quase todos já faleceram me pergunto; o que se fez? Alguém, fora o
professor EL e seus alunos, registraram para a posteridade? A resposta eu obtenho
positivamente e isso me acalma.
O CURRICULUM VITAE
Estácio Luiz Valente de Lima
(Marechal Deodoro – AL 11 de junho de 1897 — Salvador, 29 de maio de 1984) foi
um médico e professor brasileiro.
Filho de Luiz Monteiro de Amorim
Lima e Maria de Jesus Valente Lima, graduou-se em Direito, pela Faculdade de
Direito do Recife em 1915. Doutorou-se pela Faculdade de Medicina da Bahia
(1921), com a tese Agonia. Fixou-se em Salvador e conquistou, em 1926, por
concurso, a cátedra de Medicina Legal da Faculdade de Medicina da Bahia, com as
teses Capacidade Civil e Seus Problemas Médicos Legais e Indagação Sanguínea da
Ascendência. Dirigiu por longo período o Instituto Médico Legal Nina Rodrigues.
Em 1953, por concurso, tornou-se catedrático da Faculdade de Direito da UFBA,
com a tese Infanticídio na Legislação Brasileira. Foi, ainda, catedrático da
Escola Baiana de Medicina e Saúde Pública (então ligada à Universidade Católica
de Salvador). Presidiu, durante 40 anos, o Conselho Penitenciário do Estado da
Bahia.
Em 1968, foi-lhe conferido o
título de professor emérito da UFBA (das Faculdades de Medicina, Direito e
Odontologia) e da Universidade Católica do Salvador.
Foi também presidente da Academia
de Letras da Bahia, da Academia de Medicina da Bahia e do Conselho
Penitenciário do Estado da Bahia. Também dirigiu o Instituto Médico Legal Nina
Rodrigues.
Escreveu várias obras teóricas e
científicas. Também foi autor de ensaios, publicados em revistas
especializadas, na área de folclore. Dentre seus livros mais conhecidos,
destacam-se O mundo estranho dos cangaceiros (1965) e O mundo místico dos
negros (1975).*
* Dados fornecidos pela
Wikipédia – Enciclopédia Livre
BIBLIOGRAFIA e Créditos
·
Desenho da capa Lampião e Maria Bonita: Vavá
Salviano
·
Wikipédia – Enciclopédia Livre
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Jornal do Estado, SP de 10 de junho de 1956
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Perfil do Negro Brasileiro - Édison Carneiro
·
História do Negro Brasileiro - Clóvis Moura
·
Blogue Raízes Bantu
·
Casa Grande & Senzala (Gilberto Freire).
·
Vanessa Florêncio de OLIVEIRA – TRÊS PERSPECTIVAS
DISTINTAS SOBRE A MISCIGENAÇÃO
·
Conceitos básicos da genética - Roberta das
Neves
·
Brasil Escola - Vanessa Sardinha
·
Diário de São Paulo de 10 de junho de 1956
·
Como o arame farpado mudou a propriedade
privada - Tim Harford