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quinta-feira, 2 de junho de 2016

As listras nas pedras e o manto de Nossa Senhora



Pela primeira vez prestei atenção àquelas listras brancas nas pedras com os olhos da religiosidade. 



Foi em visita à Fazenda Poço do Ferro, Localizada a cerca de 10 km de Ibimirim-PE na rodovia PE-360 que dá acesso à cidade de Floresta, local onde o cangaceiro Antonio Ferreira, O Esperança, irmão mais velho de Virgulino Ferreira o Lampião, foi morto por um "sucesso", que é a forma do linguajar sertanejo referir-se a um acidente. 


E esse relato que faço, aconteceu por estar caminhando pelas pedras da trilha que leva ao local onde apenas sua cabeça está enterrada. 

Vou contar-lhes como foi:



Vinha junto com minha esposa, fazendo a subida da encosta, onde abaixo, lá no final estava o pequeno cemitério onde estava enterrada apenas a cabeça de Antonio Ferreira irmão de Lampião, e ouvimos uma amiga nossa dizer: "Quando criança, costumávamos caminhar nas manchas brancas das pedras. Nos diziam que o traçado linear na cor branca, era por onde Nossa Senhora havia arrastado o seu manto, quando andou na Terra." - disse-nos ela.
Lajedo listrado - Fazenda Poço do Ferro 

Nos tempos de menina, aquela senhora, brincava com as amigas e familiares, correndo pelos caminhos e veredas da fazenda de seu pai, e passava por essas pedras, enormes lages riscadas, e riam com a alegria do "imaginário infantil, em que as informações eram colhidas na inocência que existia..." disse-me ela.



Em minha imaginação, os vi seguindo as trilhas brancas e quando findavam tinham que passar para outras que corriam quase paralelas. E perdia a brincadeira, quem não conseguisse pular para outra listra para seguir caminho. Ganhava quem ia mais longe. Os espinhos dos mandacarus, imaginei, eram as armadilhas postas pelo inimigo, a Cobra Grande, e eles saltavam graciosamente, rindo na inocência, sabendo que estavam também trilhando o caminho feito pela Santa.
Rosário de N. Senhora 

Interessante, que ao vencermos aquela subida, uma trilha cheia de pedras pequenas entre as lages riscadas de branco, encontramos o grupo de pesquisadores quase todo reunido, para nos dirigir ao local em que o corpo sem cabeça estava enterrado, (essa estória você ver assistindo os documentários), onde no tempo 1,10 minutos do documentário A Morte de Antonio Ferreira - O Corpo registrei sem querer, um membro da família dessa senhora, que estava ajudando uma idosa, sem saber que sua parente nos tinha relatado, das brincadeiras deles correndo nas pedras, disse: "cuidado... são essas pedrinhas, o Rosário de Nossa Senhora..." e a senhora idosa lhe respondeu: "... É ..." - concordando com o amigo. E foi assim que pela primeira vez ouvi esse imaginário infantil, na inocência que existia. Tempos que não voltam mais!

Veja aqui os documentários que mostram essa vista: A Morte de Antonio Ferreira - A Cabeça  e o complemento A Morte de Antonio Ferreira - O Corpo.