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sábado, 14 de maio de 2016

O Cuspe e a Cobra.

"Seu" Deosdete era pai de um amigo chamado Antonino que morava na rua Dom Joaquim em Fortaleza. Ele tinha o dom de curar veneno de cobra por picada em animais e humanos apenas com seu cuspe. Sei que parece nojento, mas já tinha dado seu cuspe para aqueles que precisaram para não morrer. Naquele tempo, o soro anti-ofídico era raro e ainda bem que existiam esse curandeiros.

Abaixo temos um documentário feito com Seu Deca Marinheiro é um desses benzedeiros que tem salvado a vida de muitos animais, cachorros, cabras, burros e vacas picados por cobras peçonhentas como a cascavel. Ele cura com a saliva.



Em artigo de um blog na internet, encontrei também um testemunho sobre esses costumes antigos, chama-se "És Curado de Cobra?" e relata como o autor recorreu a um curador de cobra, para pedir-lhe o remédio definitivo: uma cuspida em sua boca para matar o veneno da cobra que, por acaso, houvesse invadido seu sangue.

Vamos dar uma olhadinha no relato do Senhor Pedro Furtado leite:

Espada velha (uma cobra no caminho), pé-de-dorna, cachaça e veneno.

Na minha terra (Pedreiras-Ma.), em meados do século passado, no caminho Pedreiras-Trindade, alternativa Rua-dos-Doidos-Altamira, certa vez, passei por um teste impressionante. 
Espada-velha, uma cobra  do Brasil
Era final da temporada das chuvas, provavelmente, Abril ou Maio, ocasião dos preparativos para início da moagem da cana-de-açúcar e a produção de melado, aguardente, rapadura e açúcar, atividades principais do tempo de estiagem, na região.

A história começa assim: 

Meu Pai (José Bello), meu irmão António e eu, regressávamos de Pedreiras para a Trindade, por aquele caminho tortuoso, inter-montano, conduzindo um animal com preciosa carga: o "Pé-de-Dorna", um tipo de garapa azeda obtida por meu pai no engenho do Sr. João Rosa, velho conhecido da família, situado nos arredores de Pedreiras.
Este material destinava-se à fermentação do caldo-de-cana para produção de aguardente no engenho de meu pai, na Trindade. 
Caminhávamos em fila, atrás da mula de carga: António, eu e, por fim, meu Pai. Ali, naquele trecho de caminho do Altamira, havia um tronco de pinhão-roxo cortado, deitado ao chão, medindo de 20 a 30 cm de diâmetro. Escondida por baixo do troco estava uma cobra cinzenta, venenosa, identificada como sendo uma “Espada-velha”. 
Creio que despertou com os primeiro caminhantes e quando chegou minha vez de cruzar o tronco ela deu o bote, picando meu dedo indicador do pé esquerdo. Tomei um susto danado quando senti arder o dedo e vi a cobra. 
Comecei a pular desesperadamente, tentando sair daquela situação. Quando, finalmente, consegui libertar-me, meu pai quis matar a cobra porem, ela já estava morrendo. Creio que, movido pelo pavor, a matei pisoteada. 
Resultado: meu pai espremeu o local da picada, mandou-me caminhar na lama para lavar o veneno. 
Depois, ele queria passar pela casa do nosso aparentado, o Sr. Alves, um curador de cobra, para pedir-lhe o remédio definitivo: uma cuspida em minha boca para matar o veneno da cobra que, por acaso, houvesse invadido meu sangue. 
Eu me dispus a atolar o pé em todo lamaçal do caminho, para não me submeter à tortura da cuspida. 
Que remédio louco !... 
Felizmente, não tive problema. 
Daí por diante, passaram a crer que eu seria mais um privilegiado, curado de cobra, podendo, também, cuspir e curar.
O mais provável é que, naquela ocasião, a Espada velha estivesse tirando uma sesta, após uma refeição, ocasião em que fica desprovida de veneno, segundo dizem alguns.
Devo acrescentar que, quando ainda criança, aprendi uma oração para proteção contra picada de cobra, nos seguintes termos:: "São Bento, água benta, Jesus Cristo no altar, abaixa tua cabeça cobra, deixa, em paz, nosso povinho passar".
Graças a Deus, chegamos à Trindade sem problema, com a preciosa carga de pé-de-dorna. 

Saudade de minha terra!... 

Muitos relatos encontramos sobre esses curadeiros que estão cada vez mais raros. No sertão de qualquer país existiram esses homens e mulheres que curavam os picados por uma cobra venenosa, apenas com uma cuspida na boca.