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sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Cidadão de Floresta Manoel Severo Gurgel Barbosa




O Curador do CARIRI CANGAÇO Manoel Severo recebe o Título de Cidadão Florestano em Sessão Solene na Câmera de Vereadores na data de 13 de outubro de 2017.
A mesa da solenidade foi composta pelo Presidente da Câmara Municipal, vereador Beto Souza, pelo Prefeito Municipal Ricardo Ferraz, pelo vice-Prefeito Pedrinho Vilarim, pelo Secretário da Cultura do Estado de Pernambuco, Marcelino Granja, além do homenageado, Manoel Severo Gurgel Barbosa, além de vereadores que compõe o legislatura do povo Florestano, dentre eles, a vereadora Bia Numeriano, autora do Projeto de Lei.

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

LAMPIÃO A ressurreição de Ezequiel


A SUPOSTA MORTE DE EZEQUIEL FERREIRA, O PONTO FINO 




Essa entrevista foi feita por mim no dia 14 de outubro de 2017, na cidade de Nazaré do Pico em Pernambuco, por ocasião das comemorações de 100 anos da cidade. O Senhor Pedro Ferreira, fala-me da visita que o irmão de Lampião Ezequiel Ferreira, na cidade de Serra Talhada, para tirar documentos.

O escritor do livro LAMPIÃO A RAPOSA DAS CAATINGAS, José Bezerra Lima Irmão, nos faz um relato detalhado desse episódio. Ele nos diz:

Para os leitores do Diário de Notícias, A Tarde, A Noite e Diário de Pernambuco, que não perdiam os relatos dos feitos de Lampião, 1931 estava sendo um ano "morno". A impressão que se tinha era de que não acontecia quase nada. Nas feiras, os cantadores e violeiros só falavam em Maria Bonita. Mas, na verdade, muita coisa estava acontecendo. A polícia é que tinha perdido o entusiasmo, alegando falta de verbas para continuar a campanha. Limitava-se a traçar planos para extinguir o cangaço. Em virtude disso, os informes passados à imprensa rareavam. Porém, nas caatingas, Lampião continuava em plena atividade. Três fatos marcaram aquele ano na história do cangaço: a admissão de mulheres no bando de Lampião, a morte de Ezequiel Ferreira e o esquartejamento de Herculano Borges. Dos homens, Ezequiel Ferreira da Silva era o irmão mais novo de Virgulino. Era um rapaz moreno-claro, simpático e brincalhão. Quando os manos mais velhos — Antônio, Livino e Virgulino — viraram cangaceiros, nos episódios que culminaram com a morte do pai, Ezequiel era um menino de apenas 9 anos. À. época, ficou com as irmãs solteiras, sob os cuidados de João Ferreira, o único dos adultos que não entrou no cangaço, se bem que pretendesse, pois Lampião decidiu que alguém tinha que se manter na legalidade para cuidar da família. Depois, em 1927, em face das perseguições sofridas pelos Ferreira, Ezequiel resolveu ser também cangaceiro. Tinha então 15 anos de idade. Lampião relutou, mas acabou cedendo. Quando Ezequiel entrou no bando, havia morrido um cangaceiro apelidado de Ponto Fino e, como de costume, o novato ficou com o apelido do finado. Os autores se repetem dizendo que esse apelido era devido à precisão da pontaria de Ezequiel, considerada infalível. Muito pelo contrário, Ezequiel nunca se distinguiu como atirador. Não se sabe de nenhuma morte atribuída a ele. Era um cangaceiro discreto, comedido. Atuava mais como guarda-costas de Lampião, quando este precisava fazer alguma coisa fora do olhar dos outros ou resolvia tirar um cochilo, deixando Ezequiel de prontidão. Não se prevalecia do fato de ser irmão do chefe para obter vantagem de qualquer espécie. Ocupava um lugar indeterminado na hierarquia do bando, já que o homem forte, depois de Lampião, era o cunhado, Virgínio, conhecido como Moderno, e as grandes atribuições eram confiadas a Luís Pedro e Mariano. Essa postura de Virgulino talvez fosse uma forma de preservar o caçula. 
A "morte" de Ezequiel e a sua aparição em Serra Talhada Como tempo, a versão da fuga passou a ser ridicularizada porque tudo ficava por conta de boatos e conjeturas. Mas foi então que se verificou um fato que reacendeu a hipótese da fuga: em novembro de 1984, um homem já idoso, de 70 para 80 anos de idade, residente no Piauí, chegou a Serra Talhada para tirar os documentos a fim de se aposentar. Ele procurou a casa de Genésio Ferreira, primo de Lampião, e apresentou-se: — Geneso, eu sou seu primo Ezequié. Genésio Ferreira assustou-se: — Ezequiel? O irmão caçula de Lampião? — É, sou eu — confirmou o homem. — Eu fui dado cumo morto, mais aquilo foi um jeito qui meu irmão deu pra me tirá daquela vida. E se aperpare pra iscutá mais: Lampião tamém tava vivo até treis ano atrais. Depois eu lhe conto tudo direitim. Vim aqui purgue tou quereno me apusentá e nun tenho documento nlhum. Nun sou nem registrado. Vim aqui pra me registra. Genésio Ferreira tinha visto Ezequiel quando garoto. Não havia como saber se aquele era de fato seu primo, dado como morto fazia mais de cinquenta anos. Genésio começou a fazer perguntas sobre coisas do passado, envolvendo a família, os lugares. O homem lembrava-se de episódios familiares, citava nomes, descrevia a forma das casas, as estradas... Genésio foi com o sujeito ao cartório de registro civil e expôs o fato. O tabelião recusou-se a fazer o registro. Disse que só podia registrá-lo se o juiz autorizasse. Foram ao juiz. O Dr. Clodoaldo Bezerra de Souza e Silva, juiz de direito da comarca de Serra Talhada, impressionado com a história, mandou chamar antigos moradores da cidade, dos tempos da gloriosa Vila Bela. Conversou com pessoas da família Godoy, pois o estranho personagem dizia que seu padrinho era Quinca Godói (Joaquim Godoy).  Ao final, convencido de que aquele senhor falava a verdade, o juiz autorizou o registro.2118 Ezequiel passou cerca de vinte dias na casa de Genésio Ferreira, na Rua Agostinho Nunes Magalhães. Várias personalidades importantes da cidade estiveram com ele: o monsenhor Jesus Garcia Riallo (que foi vigário de Serra Talhada por mais de meio século), o padre Afonso de Carvalho (da paróquia de Nossa Senhora do Rosário), o médico Dr. Elias Nunes, o tabelião e vereador Luiz Andrelino Nogueira, o ex-prefeito Luiz Conrado de Lorena e Sá (Luiz Lorena), o agricultor Luiz Alves de Barros (sobrinho de Zé Saturnino) e o tenente João Gomes de Lira, de Nazaré, ex-soldado de volante. De todas as pessoas com quem ele conversou, três merecem destaque neste caso. Uma é Luiz Alves de Barros, o famoso Luiz de Cazuza, companheiro de infância de Ezequiel na Serra Vermelha. Antes das desavenças dos Ferreira com os Saturnino, as duas famílias eram amigas, moravam vizinhas. Luiz de Cazuza e Ezequiel eram quase da mesma idade. Acompanhado de Genésio Ferreira, no dia 26 de dezembro de 1984 Luiz de Cazuza conversou durante mais de quatro horas com o estranho personagem. José Alves Sobrinho, filho de Luiz de Cazuza, escreveu um livro em que aborda a questão havida entre Lampião e Zé Saturnino, no qual há um capítulo com a descrição do encontro de seu pai com o tal indivíduo. Luiz de Cazuza conversou com o forasteiro sobre vários fatos da infância: quem estava presente em determinados eventos, quem morreu, como foi programado o cerco da fazenda Pedreira, como foi que Lampião atacou e queimou a casa-grande da fazenda Serra Vermelha. O homem se recordava de muitos detalhes, e em relação a outros alegou que não se lembrava mais. José Alves considera razoável o esquecimento, haja vista tratar-se de um homem com idade bastante avançada." Luiz de Cazuza deu um depoimento, gravado em videocassete, aos pesquisadores Paulo Medeiros Gastão, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço (SBEC), e Aderbal Nogueira. Alcino Costa assinala que naquele depoimento existem "pelo menos dois preciosos detalhes que comprovaram ser aquele senhor do Piauí, sem sombra de dúvidas, o próprio Ezequiel, em carne e osso. [...] Em dado momento o forasteiro perguntou a Cazuza se ele tem lembrança do encontro que o mesmo tivera com Lampião na Cacimba do Gado, no ano de 1927, e, como querendo refrescar a memória do velho caboclo, diz que naquele dia estavam presentes dezessete cangaceiros, dentre os quais Mourão, Sabino, além dele e Antônio, o outro irmão. Perguntou a Luiz Cazuza se ele tem lembrança do episódio dos dois pares de alpercatas encomendadas por Lampião e Sabino e que ficaram guardados por mais de cinco meses na casa de uma senhora dali do São Domingos e que naquele dia as mesmas foram entregues aos bandoleiros". Alcino Costa conclui: "Estas minuciosas particularidades desvaneceram as dúvidas de seu Luiz que ficou convicto de que aquele homem era realmente o mano mais novo de Lampião".
A segunda pessoa cujo testemunho merece destaque é Luiz Lorena, que foi quatro vezes prefeito de Serra Talhada, considerado a "história viva" da cidade. Conhecedor da história do cangaço, Luiz Lorena fez várias perguntas ao referido senhor sobre combates travados por Lampião nos quais Ezequiel, o Ponto Fino, estava presente. O sujeito narrava os fatos, dando detalhes: a hora do combate, quem morreu, para onde o bando foi depois... Ele conhecia todos os caminhos que ligavam as fazendas da beira do Riacho São Domingos. Falava de antigos moradores. Perguntava: "Sabe de fulano de tal? Ele ainda mora em tal lugar?". Luiz Lorena dizia: "Não posso afirmar que aquele sujeito era Ezequiel, mas, se era um impostor, tinha decorado tudo e sabia representar bem o seu papel terceira é o tenente João Gomes de Lira, um dos famosos "Cabras de Nazaré", que pelejou nas volantes de Manoel Neto e de Davi Jurubeba. João Gomes é autor de um livro que constitui referência indispensável para todos os pesquisadores do cangaço. Quando a obra estava pronta para publicação, ocorreu o encontro do autor com o homem que se dizia irmão de Virgulino. João Gomes acrescentou então um capítulo final, relatando a história contada pelo suposto Ezequiel. João Gomes expõe a celeuma que houve em Serra Talhada quando o povo soube da presença de Ezequiel na cidade, todo mundo querendo ver o ex-cangaceiro. Uns afirmavam que aquele era mesmo Ezequiel, outros ponderavam não ser possível, pois Ezequiel morrera na Bahia, outros diziam que o homem não parecia com os membros da família Ferreira. Os parentes ficaram em dúvida, pois as informações que tinham era de que Ezequiel havia morrido na Bahia em 1931. João Gomes conclui que, embora muita gente ficasse em dúvida, "Chegaram à conclusão de que, na realidade, era mesmo Ezequiel, quando aos poucos foi ele se identificando, como seja procurando por pessoas da região se ainda eram vivas ou mortas. Como também procurava saber se em determinados lugares ainda existiam velhas árvores, como procurou saber se, no terreiro da casa em que residiu seu velho José Ferreira, no lugar Poço do Negro, ainda existia um pé de umbuzeiro-cajá; na realidade lá está o frondoso pé de umbuzeiro. Foi assim chegando na mente daquela gente que na realidade era mesmo o Ponto-Fino". Segundo João Lira, desapareceram todas as dúvidas quando o homem passou a relatar os fatos e a expor o motivo de ter abandonado o cangaço. Aquele era Ezequiel. Não fosse ele, como seria possível uma pessoa residente no Piauí saber daquelas coisas?  
Esse indivíduo foi entrevistado por Hilário Lucetti e Magérbio de Lucena, autores de Lampião e o Estado-Maior do Cangaço. Ele assegurou ser o irmão mais novo de Lampião. Os autores perguntaram por que era que todo mundo dizia que ele tinha morrido na Bahia em 1931, e "Ele respondeu que tudo era mentira, que o irmão tinha inventado a estória prá ele poder sair do cangaço". Porém os citados pesquisadores se desinteressaram pelo caso porque o velho, ao ser "Inquirido sobre o nomes dos seus pais, respondeu errado", e "Disse ainda ter tido 3 irmãos e 3 irmãs, o que não é verdade". Além disso, ele errava os nomes dos irmãos, fantasiava a descrição dos combates e citava cangaceiros que não foram seus contemporâneos. Hilário e Magérbio, apesar de admitirem que o homem "tinha mais ou menos a mesma idade e aparência fisica" que teria Ezequiel se fosse vivo, consideram que "na verdade era uma farsa, não se sabe com que finalidade, pois não havia dinheiro na estória, nem estava muito interessado em promover-se". Os citados pesquisadores consideram que os familiares de Lampião "acreditaram realmente tratar-se do primo" por nada saberem sobre a vida do parente depois que ele foi embora, ainda menino. Hilário e Magérbio concluem dizendo que aquele homem "Morreu certo que era Ezequiel Ferreira, o irmão mais novo de Lampião". 
Não obstante seus inegáveis conhecimentos sobre o cangaço, Hilário e Magérbio interpretaram mal as respostas daquele cidadão. Eles fizeram perguntas a um velho sobre coisas de sua infância e juventude. Após a morte de seus pais, a família andara de déu em déu. Ele não tinha nada anotado, pois era analfabeto. A rigor, suas respostas eram mais que razoáveis, pelo seguinte: Hilário e Magérbio consideraram que ele "respondeu errado" os nomes dos pais. Ora, como é que ele respondeu errado, se ninguém, nem mesmo o mais perspicaz estudioso do cangaço, sabe ao certo como eram os nomes dos pais de Lampião? Basta notar a divergência entre os dados da certidão de casamento em cotejo com as certidões de nascimento dos filhos. José Ferreira ora aparece como "dos Santos", ora como "da Silva", ora como "de Barros", e sua esposa, que devia chamar-se Maria Vieira Lopes, ora aparece corno Maria Sulena da Purificação (registro civil de nascimento de Virgulino), ora como Maria Vieira da Solidade (batistério de Virgulino), ora como Maria Santina da Purificação (batistério de Livino), ora como Maria Vieira do Nascimento (certidão de casamento religioso). Quanto aos nomes dos irmãos, é provável que em casa todos fossem tratados apenas pelos prenomes e apelidos. Ezequiel não tinha como saber ao certo os nomes completos dos irmãos, pois nem mesmo estes sabiam. Virgulino, por exemplo, que foi registrado simplesmente como "Virgolino" (sem sobrenome), tirou o título de eleitor com o nome de Virgulino Lopes de Oliveira. Durante algum tempo, se assinou Virgulino Ferreira dos Santos, até se decidir por Virgulino Ferreira da Silva. Ezequiel certamente não sabia o nome verdadeiro de Mocinha. 
Como Ezequiel não sabia assinar o nome, quem assinou por ele foi João Soares de Souza, tendo como testemunhas Genésio Ferreira Lima e Luiz Andrelino Nogueira (que era o tabelião público). 


Fonte da matéria: LAMPIÃO a raposa das caatingas de José Bezerra Lima Irmão.


quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Lampião e o Fogo da Fazenda Favela PARTE III



Na visita que fizemos em comitiva Cariri Cangaço, encontramos o local totalmente abandonado e com a cruz original deteriorada como pode ser vista nesse documentário. Segundo os autores do livro As Cruzes do Cangaço, Senhores Cristiano Ferraz e Marcos de Carmelita, os restos mortais nunca foram exumados.

No livro, encontramos registrados os que foram mortos no fogo da Favela. Os seguintes soldados que perderam suas vidas nesse combate foram: "Antônio Freire Panta e Gaudêncio Pereira da Silva, ambos do 2° Batalhão, Francisco Pereira, João Gregório Neto, Agripe Lopes dos Santos e Cícero Petronilo da Silva, do 3° Batalhão, sendo ainda feridos, desse mesmo grupamento, Francisco Barbosa do Nascimento, José Machado de Barros, Cypriano Leite da Silva, José Berrardes e Waldemar Barbosa da Silva, todos pertencentes às volantes sediadas em Villa Bela. Manoel Neto retornou rapidamente para a cidade de Floresta e foi à procura do Comandante da Volante sediada naquele município, o Capitão Antônio Muniz de Farias, comunicando todo o acontecido e trazendo ao conhecimento do superior a estadia de Lampião naquela propriedade. Os militares conduziram os feridos para serem tratados em Floresta e deixaram os corpos dos mortos nas mãos dos terríveis facínoras. Os criminosos fizeram toda espécie de crueldade com os defuntos. Sangraram, degolaram, esfacelaram crânios, furaram os olhos com cápsulas das balas e depois colocaram espalhados para todos os lados. Após o combate, Manoel Novaes foi buscar um burro e entregou a um agregado da fazenda, que viajou a cidade de Floresta para comunicar o acontecido ao Tenente Antônio Novaes, e a exigência de um conto e quinhentos mil réis de Lampião, sendo entregue o referido valor ao portador. Antes de sair da Favela, satisfeito com a soma recebida, Lampião falou aos moradores que se acaso a Volante perguntasse sobre a direção que ele tinha seguido, era para mostrar o caminho da fazenda Água Branca do Major Tiburtino. Manoel Novaes e alguns agregados abriram uma cova e enterraram num só lugar cinco soldados e em outros três locais distintos, mais um militar, o guia e um cangaceiro. Muniz de Farias reuniu um grupo de soldados e, junto a Manoel Neto, vieram ao local do combate, no outro dia, quando os bandoleiros já haviam se retirado. O Capitão Muniz indagou em tom áspero os familiares do Tenente Antônio Novaes e os moradores: - Cadê os bandidos? Pra onde é que os cangaceiros foram? 
Antônio Muniz estava muito nervoso e falava quase gritando, no entanto "não incendiou nenhuma cerca e muito menos as casas da Favela", como alguns escritores registraram em seus livros. As pessoas presentes indicaram ao comandante Farias o rumo de Lampião, seguindo para a fazenda Água Branca. Corisco, após presenciar as barbáries cometidas pelos companheiros contra os militares mortos, ficou impressionado ante tamanha carnificina e saiu do bando no mês de dezembro desse mesmo ano de 1926. Corisco comunicou a Lampião que iria tentar a sorte, buscando trabalho em terras baianas, tendo integrado o bando sinistro por cerca de quatro meses. Retornou, contudo, no ano de 1928, quando Lampião atravessou para a Bahia, tendo sido e fogo da Favela em Floresta, a escola macabra que lhe ensinou como tratar os inimigos. Do outro lado do Rio São Francisco ele transformou-se num verdadeiro demônio, e ficou conhecido também por: "Diabo Loiro". Matava, sangrava, decapitava, além de ter raptado com apenas 13 anos e estuprado, a menina Sérgia Ribeiro da Silva. a Sussuarana, e transformá-la na cangaceira "Dadá", sua eterna companheira e fiel escudeira. "

Base do texto: AS CRUZES DO CANGAÇO

Foto dos dois atores em trajes de cangaceiro: Cristiano Ferraz

O VOO DO CARCARÁ



O VOO DO CARCARÁ NA ABERTURA DO CARIRI CANGAÇO FLORESTA 2017



*Rangel Alves da Costa



Quando, na noite de abertura do Cariri Cangaço Floresta 2017, a mestre de cerimônia Ana Gleide Souza Leal anunciou uma evolução com bailarinos, creio que denominada “O Voo do Carcará”, logo meu pensamento arribou céus acima para, pelas caatingas e carrascais ensolarados, avistar aquela ave tão emblemática e tão sertaneja.
Carcará, bicho carnicento, ave agourenta, bico de punhal afiado, rasgante em rasante, seu fio da mardade sem fim. Tu, devorador de agonias, devastador de sopros de vida, furador dos olhos de borregos, bezerrinhos e crias sem mais força de nada. Em rasante chega, matreiro, oculto, traiçoeiro feito a moléstia, dos escondidos além dispara com sua lâmina no bico. Fio da gota serena és tu marvado carcará!
Vai-te pra lá bicho dos quintos, assombramento que se regozija dos sofrimentos e das desvalias. Das secas fazendo o prato, das fraquezas estiradas fazendo sua gula. Sozinho faz sua guerra, tudo destrói, fura, pinica, faz a sangria, deixa a vida esvaída pelos campos esturricados. Que se imagine trazendo nas sombras o urubu, o gavião, a mãe-da-lua?
Mas ali na calçada do Batalhão, no espaço largo da cerimônia, apenas a poesia. E não haveria alegoria mais acertada que aquele voo do carcará. Ora o carcará é bicho com a mais acabada feição do sertão sofrido, do sertão padecente, do sertão chorando sua dor pelos esquecimentos das nuvens prenhes de chuvas. Ali era festa, ali era alegria, ali era comemoração, mas não se poderia esquecer aquele outro sertão. E o outro sertão estava ali no voo do carcará.
Dois bailarinos. Um rapaz e uma moça, dois belos sertanejos. Quando anunciados e chamados por Ana Gleide, os passos pela calçada até que ele se deitou. Ele deitou em posição dorsal, ela sentou-se sobre o seu peito e assim permaneceram alguns instantes. Quando a voz de Zé Ramalho começou a ecoar, então a música Carcará (de João do Vale e José Cândido) abriu as porteiras daquela misteriosa arapuca. O carcará estava solto. Ou os carcarás estavam soltos. E voaram. E voaram. E fizeram da noite florestana, ante uma plateia tomada de encantamento, um ensolarado céu nordestino, ainda que em noite de lua e flor.
Na evolução dos bailarinos, seguindo de canto a outro, ora se esgueirando ora se fartando de avidez, o carcará procurando o melhor momento para alçar seu voo. E que coisa mais linda: o voo do carcará. Dois carcarás em pleno voo na noite florestana. Ele, o bailarino, rente ao chão sertanejo, e ela, a bailarina, planando pelo céu sertanejo. Braços abertos, asas abertas, um horizonte à frente, e o voo. Eles magistralmente voaram em simbolismo, maravilhosamente voaram na fantasia por todos conhecida. E temida.
Os sertões aplaudiram aqueles carcarás da noite florestana. Mas o sertanejo puxou na memória outros significados menos festivos. O bicho carcará em voo rasante, voraz, veloz, medonho, cego, porém certeiro, em direção à cria já em seu último suspiro. Fura os olhos do bicho, do resto de luz faz jorrar o sangue, do sopro de vida faz surgir o último suspiro. E depois futuca mais, bica, apunhala, retorce até desnudar as vísceras. Mas o sertanejo não estava ali para entristecer, somente para aplaudir aquela magnífica apresentação.
Ainda os vejo em voo, voando, voando. Ainda ouço o som vindo naquela direção: “Carcará lá no sertão é um bicho que avoa que nem avião. É um pássaro malvado, tem o bico volteado que nem gavião. Carcará quando vê roça queimada sai voando, cantando, Carcará vai fazer sua caçada. Carcará come inté cobra queimada. Quando chega o tempo da invernada o sertão não tem mais roça queimada Carcará mesmo assim num passa fome. Os burrego que nasce na baixada Carcará pega, mata e come. Carcará num vai morrer de fome. Carcará, mais coragem do que home. Carcará...”.
Ainda voa. Pelos sertões ainda voa. E na noite florestana deu um voo tão magnífico que ainda relembro o bater de suas asas. Carcará.


* Escritor

blograngel-sertao.blogspot.com

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Lampião e o Fogo da Fazenda Favela PARTE II


Estivemos no encontro de estudiosos do cangaço, na localidade da Fazenda Favela onde Lampião preparou-se para receber uma força volante de Zé Saturnino e Manoel Neto. Segundo o livro AS CRUZES DO CANGAÇO nesse episódio da manhã de 11 de novembro de 1926 a Volante chegou na Fazenda Favela e nesse ataque morreram 6 soldados, 1 civil e 2 cangaceiros.  A Fazenda Favela compreendia uma vasta extensão de terras, localizada ao norte de Floresta. Conhecida por sua prosperidade, a propriedade mantinha um grande rebanho de animais e muitas plantações. O dono da fazenda, o Sr. Antônio Novaes, Tenente da Guarda Nacional, além de agropecuarista, possuia um armazém na cidade onde comercializava. Era considerado um homem rico e com grande influência política. 
Ao adentrar em terras pertencentes ao município de Floresta, o Governador do Sertão, com sua cabroeira infernal, cruzou as propriedades Campos Bons, Cachoeira, Exu, Arapuá e marchou na direção da fazenda Favela, do Tenente Antônio Novaes, distante oito quilômetros da cidade. Durante toda a manhã e tarde do dia 10 de novembro de 1926, Antônio Novaes permaneceu trabalhando no armazém, negociando as mercadorias, na cidade de Floresta. A horda de criminosos era composta de cerca de noventa e cinco cabras, estando entre eles a elite do cangaço: Antônio Ferreira, irmão de Lampião, Luiz Pedro do Retiro, Sabino Gomes, Corisco, Jararaca, Moita Braba (Ubaldo Pereira Nunes), Sabiá, Zé Marinheiro, Antônio Marinheiro, entre outros. Ao escurecer, Lampião chegou à Favela e se dirigiu para a velha casa da sede, no intuito de encontrar o Tenente e pedir guarida. Na residência se encontrava somente Dona Aninha, e seus filhos Totonho Novaes, Manoel Antônio Novaes e vários moradores. Lampião adentrou à residência, sentou-se na mesa da sala e começou a dialogar com Dona Aninha, levando ao conhecimento da matriarca a exigência do valor de um conto e quinhentos mil réis, além de comida para o bando. O chefe cangaceiro normalmente escolhia a melhor rês que tinha na propriedade e ordenava que matasse para alimentar o bando. Os bandidos ficaram arranchados nas duas casas. Lampião, Antônio Ferreira e alguns cabras, na sede, e os demais na nova construção. Dona Aninha serviu o jantar e em seguida os sicários foram se deitar, ficando sentinelas próximos das duas casas. Uma Força Policial comandada pelo Sargento José Saturnino e o Anspeçada Manoel Neto, com oitenta praças, vinham seguindo as pisadas do bando desde o riacho São Domingos. Passando na fazenda Icó, arrearam e passaram à noite, seguindo no encalço dos cangaceiros ao nascer do dia. Logo após, continuaram a caminhada e chegarem à fazenda Exu. Entre a fazenda Exu e a Favela, já à noite, a volante encontrou-se frente a Emiliano Novaes. Manoel Neto e Saturnino tentaram persuadi-lo na tentativa de descobrir o real paradeiro de Lampião, pois sabia das suas ligações e da amizade entre eles. Emiliano estava indo ao encontro de Virgulino e, sagazmente, conseguiu livrar-se da inquirição dos militares, negando veemente o conhecimento da localização do bando. Por intervenção de Zé Saturnino, Manoel Neto o liberou e o deixou seguir, já desconfiando que essa atitude causaria um enfrentamento com Lampião a qualquer momento, numa situação de supremacia do cangaceiro. Ao tomar conhecimento da vinda dos soldados, era pecuiiar o bandido preparar o seu grupo, já em situação estratégica, deixando homens na retaguarda, sendo dificilmente derrotado. Um emissário de Emiliano Novaes chegou à Favela e trouxe uma informação, dando ciência a Lampião da aproximação da Força Volante, vindo ao seu encalço. Determinado a enfrentar os militares, alertou os cabras, preparando a estratégia do combate que a qualquer momento poderia acontecer. Lampião preparou então a defesa, que foi bem sucedida. 


FONTE: Livro "As Cruzes do Cangaço"

LAMPIÃO - Bastidores da Fazenda Favela


Nos bastidores da visita técnica feita por ocasião do CARIRI CANGAÇO FLORESTA 2017 vemos os admiradores da saga cangaceira preparando-se para ouvirem uma exposição da historia da emboscada preparada por Lampião, para as forças volantes de Zé Saturnino e Manoel Neto.

Zé Saturnino recebeu o comando de uma volante de 100 soldados pelo major Teófanes e auxiliado pelo anspeçada Manoel Neto, meteu-se nas caatingas à procura de Lampião.
Os dois eram rapazes valentes, mas sem nenhuma noção de estratégia militar. À noite, viajavam com fachos acesos para iluminar o caminho. Vendo que caminhavam para a morte, logo no segundo dia 17 soldados desertaram.
Zé Saturnino no dia 10 de novembro de 1926, teve uma boa notícia: Lampião acabava de sair dali, tinha dançado a noite toda. Seguindo a pista deixada pelos cangaceiros, a tropa passou por Campos Bons, Cachoeira, Exu e Arapuá, indo pernoitar na fazenda Icó.
No dia 11, antes do alumiar do sol, a volante reiniciou a marcha. Como havia uns rastros em direção à fazenda Favela, de Antônio Novaes, os comandantes resolveram ir até lá a fim de se informar se havia notícia dos cangaceiros. A Favela fica a três léguas de Floresta. Já chegando à sede da fazenda, Zé Saturnino postou-se com uma parte da volante dentro de uma capineira, por trás da
parede do açude em frente à casa-grande, e Manoel Neto seguiu com os outros homens para a casa. Bateu na porta. De súbito, portas e janelas se escancararam, e dos vãos abertos choveram balas em cima da tropa.
Os soldados, por não esperarem uma reação daquela ordem, ficaram atarantados, alvo fácil para os cangaceiros. Manoel Neto colou-se à parede, sem saber o que fazer, vendo seus comandados serem abatidos impiedosamente.
Lampião estava dormindo em outra casa com uma parte do grupo.
Melhor sorte não teve Zé Saturnino, que ficara entocado no capinzal, não sabendo que justamente ali estava acampado o grupo de Sabino Gomes — quando os homens de Zé Saturnino correram para socorrer os companheiros, toparam de frente com os cabras de Sabino, e em face disso fugiram.
O grupo de Sabino investiu então contra os soldados que ainda lutavam no terreiro da casa, e estes, atacados de todos os lados, debandaram em absoluta desordem.
Muitos feridos, sabendo que se ficassem ali seriam sangrados pelos cangaceiros, juntaram as últimas forças e também correram, encorajados pelo valente Manoel Neto, que saiu carregando um ferido nos ombros e arrastando outro pelo braço, repetindo isso três ou quatro vezes.
Quando os dois comandantes se encontraram, abraçaram-se, sem ter o que dizer, escutando os gritos dos companheiros sendo sangrados. À sua volta só se viam uns 20 soldados. Pensaram que o resto tinha morrido. Ficaram felizes quando souberam que a maior parte havia fugido.
Morreram na fazenda Favela seis soldados: Antônio Freire Palita, Gaudêncio Pereira da Silva, Francisco Pereira, João Gregório Neto, Agripe Lopes dos Santos e Cícero Petronilo da Silva. Feridos, quase todos.
Entre os cangaceiros, apenas um morreu e cinco receberam ferimentos.
FONTE: RAPOSA DAS CATINGAS de José Bezerra Lima Irmão (pg 217 )

LINK PARA A HISTÓRIA CONTADA NESSE EVENTO (Clique Aqui)

terça-feira, 17 de outubro de 2017

Lampião e o Fogo da Fazenda Favela PARTE I



Não podemos nunca negar que Lampião foi um dos maiores estrategistas que se tem conhecimento na história do Cangaço. Seu modo operacional era admirado e temido pelos oficiais que lhe davam perseguição.  Tinha tática militar e aplicava também a de guerrilha. Não recebeu de ninguém orientação, ensino ou treinamento na arte militar ou de guerrilha. Esse homem foi de uma genialidade incomum.

CARIRI CANGAÇO - Floresta 2017



Manoel Severo, Curador do Cariri Cangaço, entrega Títulos de Amigo do Cariri Cangaço, através dos Conselheiros, às autoridades de Floresta e aos que apoiam esse grande grupo de estudos do nordeste. 

In memorian, entregou o Título de Amigo do Cariri Cangaço a Washington Gomes Lima, através de sua digníssima esposa Sra. Michelle.

Washington era bisneto do Coronel Anjo da Gia da fazenda Poço do Ferro, no município de Floresta-PE. e no ano passado (2016) recebeu em sua fazenda os estudiosos do Cariri Cangaço com grande hospitalidade, juntamente com seus familiares. 

Essa visita ficou registrada em dois documentários que poderão ser acessados nos links abaixo: 


https://www.youtube.com/watch?v=jyybp1lL3Cs&t=214s 


https://www.youtube.com/watch?v=1gOr_ZjLBps&t=328s