Porém as mensagens são tratadas corno brincadeiras, pois os líderes
políticos e sábios acadêmicos sabem que os Ovni são uma piada, e se existisse
vida inteligente em outros pontos do Universo, ficaria a muitos anos-luz da
Terra. Assim, os extraterrestres recorrem a "milagres", aumentando
seu impacto sobre a Terra e seus habitantes em maravilhas cada vez mais
fabulosas, até que recorrem à maior demonstração de força: parar a rotação da
Terra – onde era dia na Terra, o Sol não se pôs; onde era noite, o Sol não
nasceu.
Concentrando dessa forma a mente dos terrestres e de seus líderes, os
extraterrestres decidem que é chegada a hora de se mostrar. Uma enorme
espaçonave em forma de disco aparece nos céus da Terra; envolta em brilho,
flutua sobre raios de luz. Seu destino é a mais poderosa capital do planeta.
Lá, aterrissa à vista de uma enorme multidão estupefata. Urna abertura se
revela silenciosamente e surge uma luz extremamente brilhante. Um enorme robô
sai, avança e pára. À medida que as pessoas caem de joelhos com medo do
desconhecido, uma figura humanóide aparece - o verdadeiro extraterrestre.
"Eu trago a paz", afirma ele.
Na verdade, o cenário acima não precisa ser imaginado, pois é a parte
principal de um filme de 1952, chamado O Dia em Que a Terra Parou, no
qual o memorável Michael Rennie interpretava o extraterrestre que saiu da nave
em Washington D.C e pronunciou sua famosa frase.
Na verdade, o cenário ao lado não precisa ser o roteiro de um filme de
ficção científica; já o descrevemos - em essência, se não em detalhes - e
realmente aconteceu. Não em tempos modernos, mas na Antiguidade; não nos
Estados Unidos, e sim no Oriente Médio; e na seqüência real, a Terra parou não
antes, mas algum tempo depois que a espaçonave apareceu.
Foi, sem dúvida, o maior Encontro Divino na memória humana - a maior
teofania jamais registrada, testemunhada por uma multidão de não menos do que
600 mil pessoas.
Abraão saindo de da cidade de Ur na Caldéia |
Ao encontrar uma fome causada pela seca, Abraão continuou até o Egito.
Lá, ele foi recebido pelo faraó - o último faraó da X dinastia do norte, que
poucos anos depois (em 2040 a.C) foi derrubado pela princesa e pelos sacerdotes
de Tebas, ao sul.
Dois anos antes, em 2042 a.C. segundo nossos cálculos, Abraão voltou ao
seu posto avançado no Neguev; agora comandava uma coluna de cavalaria
(provavelmente velozes montadores de camelos). Ele retomou a tempo de evitar um
atentado por parte de uma coalizão de "Reis do Leste" para invadir as
terras do Mediterrâneo e alcançar o Espaçoporto do Sinai. A missão de Abraão
era guardar as aproximações ao Espaçoporto, e não tomar partido na guerra do
Leste contra as nações de Canaã. Mas quando os invasores rechaçados venceram
Sodoma e levaram o sobrinho de Abraão, Lot, como cativo, ele os perseguiu com a
cavalaria até Damasco, salvou seu sobrinho e o saque. Em sua volta, foi saudado
como vitorioso nas cercanias de Salém (a futura Jerusalém); as saudações
trocadas foram repletas de significado:
trouxe pão e vinho,
e ele servia ao Deus
Altíssimo.
E o abençoou dizendo:
"Bendito seja Abrão do
Deus Altíssimo,
que entregou os inimigos
nas tuas mãos".
E os reis cananeus, que estavam presentes à cerimônia, ofereceram a
Abrão todo o saque, só pedindo os cativos. Porém Abrão recusou qualquer
pagamento, dizendo:
"Eu ergo minha mão ao
Eterno,
Deus Altíssimo, Criador do
Céu e da Terra:
nem um fio, nem uma correia
de sapato
tomarei - nada que é
teu".
"E depois dessas coisas" - depois que Abrão realizou sua missão
em Canaã protegendo o Espaçoporto - "manifestou-se a palavra de Iavé a
Abrão, na visão" (Gênesis 15:1). "Não temas, Abrão", disse o
Senhor, "Eu serei teu escudo, teu prêmio é muito grande". Mas Abrão
respondeu que na ausência de um herdeiro, que valor teria qualquer recompensa?
Então "eis que foi a palavra de Iavé a ele", assegurando que ele
teria seu filho natural, e sua descendência seria tão numerosa quanto as
estrelas do céu, e que herdaria a terra onde pisava.
Para não deixar dúvida na mente de Abrão de que essa promessa se
realizaria, a divindade fala a ele, revelando sua identidade para Abrão sem
filhos. Até então, tínhamos de aceitar a palavra da Bíblia de que era Iavé quem
falava ou aparecia a Abrão. Agora, pela primeira vez, o Senhor se identifica
pelo nome:
"Eu sou Iavé
que te tirei de Ur dos
caldeus
para dar-te esta terra por
herança."
E disse Abrão:
"Meu Senhor Iavé,
como saberei que a hei de
herdar?".
Então, para convencer um Abrão cheio de dúvidas, "contratou Iavé com
Abrão uma aliança, dizendo: À tua semente dei esta terra, desde o rio do Egito
até o Eufrates, o grande rio".
A "celebração da Aliança" entre Iavé - "Deus Supremo, Criador
do Céu e da Terra" - e o patriarca abençoado envolveu um ritual mágico do
qual não se encontra nada parecido na Bíblia, nem antes nem depois. O patriarca
foi instruído para tomar um novilho, uma cabra, um carneiro, uma rolinha e um
pombo, cortá-los ao meio e colocar os pedaços um em frente ao outro. "E
foi quando o sol estava para se pôr, um sono pesado caiu sobre Abrão, e eis que
medo e grande escuridão caíram sobre ele." A profecia - um destino pelo
qual Iavé declarou-se comprometido - foi então proclamada: depois de uma
estada de quatrocentos anos no cativeiro numa terra estranha, os descendentes
de Abrão herdarão a Terra Prometida. Assim que o Senhor pronunciou essa
profecia, "um forno fumegante e uma tocha de fogo passaram por estas
metades". Nesse dia, afirma a Bíblia, "contratou Iavé com Abrão uma
aliança".
(Cerca de quinze séculos mais tarde, o rei assírio Asaradão, "procurando
a decisão dos deuses Shamash e Adad, prostrou-se com reverência". Para
obter uma "visão em relação à Assíria, Babilônia e Nínive", o rei
escreveu, "Coloquei as partes dos animais sacrificados nos dois lados; os
sinais do oráculo estavam em perfeita concordância e me deram uma resposta
favorável". Mas, nesse caso, não havia fogo divino entre as partes dos
animais sacrificados.)
Com a idade de 86 anos, Abrão teve seu filho, com a criada Hagar, mas não
com sua esposa Sarai (como ela ainda era chamada por seu nome sumério). Foi
treze anos mais tarde, na véspera de eventos importantes em relação a deuses e
homens, que Iavé "apareceu a Abrão" e preparou-o para a nova era: a
mudança de nomes do sumério Abrão e Sarai para o semita Abraão e Sara, e a
circuncisão de todos os homens como sinal de uma aliança eterna.
Foi em 2024 a.C., pelos nossos cálculos (baseados em sincronismos com as
cronologias suméria e egípcia), que Abraão testemunhou a revolta de Sodoma e
Gomorra, seguida pela visita de Iavé e os dois anjos. A destruição, conforme
descrevemos em As Guerras de Deuses e Homens, foi apenas um evento
periférico em relação ao principal - a vaporização, com armas nucleares, do
Espaçoporto no centro da península do Sinai, por Ninurta e Nergal a fim de privar
Marduk de instalações espaciais. O resultado não intencional do holocausto
nuclear foi o deslocamento da nuvem mortal para o leste; causou morte (mas não
destruição) na Suméria, levando a um fim amargo a grande civilização.
Agora, apenas Abrão/Abraão e sua semente - seus descendentes permaneceram
para levar adiante as tradições antigas, para" chamar o nome de Iavé"
e manter a ligação sagrada com o início dos tempos.
Para permanecer intocado pela radiação nuclear, Abraão recebeu a ordem
de sair do Neguev (a área desértica ao redor do Sinai) e procurar abrigo
próximo à costa do Mediterrâneo, na terra dos filisteus. Um ano depois do
evento, Isaac nasceu a Abraão, por sua esposa e meia-irmã, Sara, conforme Iavé
previra.
Trinta e sete anos depois Sara morreu e o velho patriarca ficou
preocupado com sua sucessão. Temendo morrer antes de ver seu filho Isaac
casado, fez com que o chefe de seus criados jurasse "por Iavé, o Deus do
Céu e o Deus da Terra", que de jeito algum ele arranjasse para Isaac um
casamento com uma cananéia.
Encontro de Isaac e Rebeca |
Algum tempo depois, quando os meninos cresceram, "houve fome na
terra, além da fome primeira que ocorrera na época de Abraão". Isaac
pensou em imitar o pai indo até o Egito, cuja agricultura não dependia das
chuvas, e sim da elevação anual das águas do Nilo. Mas, para fazer isso, ele
teria de atravessar o Sinai, e isso aparentemente ainda era perigoso, mesmo
décadas depois da explosão nuclear. Então "apareceu-lhe Iavé", que o
instruiu para não ir ao Egito; em vez disso, deveria ir até Canaã, para uma
região onde se podia cavar poços para obter água. Lá, Isaac e sua família permaneceram
por muitos anos, tempo suficiente para que Esaú casasse com habitantes locais e
Jacó fosse até Haran, onde casou com Lia e Raquel.
Com o tempo, Jacó teve vinte filhos: seis com Lia, quatro com concubinas
e dois com Raquel: José e o mais novo, Benjamim (em cujo parto Raquel morreu).
Um deles, José, era o favorito; então seus irmãos mais velhos, com inveja de
José, o venderam a mercadores ismaelitas que iam para o Egito. Assim a profecia
divina, sobre a permanência dos descendentes de Abraão em terras estrangeiras,
começava a cumprir-se.
Por meio de uma série bem-sucedida de interpretações de sonhos, José
tomou-se Ouvidor do Egito, encarregado da tarefa de preparar a terra durante
sete anos de fartura para sete anos de fome em seguida. (É nossa crença que em
sua ingenuidade José usou uma depressão natural para criar um lago artificial e
enchê-lo de água quando o Nilo ainda se elevava, e depois utilizar essa água
para irrigar a terra seca. O lago, encolhido, ainda irriga a maior parte da
área fértil do Egito, chamada Elfaium; o canal que liga o lago ao Nilo ainda é
chamado de O Canal de José.)
Quando a fome se tornou difícil de suportar, Jacó enviou seus outros
filhos (com exceção de Benjamim) ao Egito para trazer alimento - onde
descobriram, depois de vários encontros dramáticos com o Ouvidor, que ele não
era outro senão seu irmão mais moço, José. Revelando a eles que a fome duraria
mais cinco anos, José lhes disse para retomarem e trazerem para o Egito seu pai
e o irmão que faltava, assim como o restante das posses de Jacó. Pelos nossos
cálculos, o ano era 1833 a.C., e o faraó reinante era Amenemés III, da XX
dinastia.
(Uma representação encontrada numa tumba daquela época representa
um grupo de homens, mulheres e crianças com alguns animais domésticos chegando
ao Egito. Os imigrantes eram representados acompanhados da inscrição
"asiáticos"; suas túnicas coloridas, representadas em cores vivas,
apresentam um padrão de listras que José usara quando em Canaã. Embora os
Asiáticos aqui representados não sejam necessariamente a caravana de Jacó e sua
família, a pintura mostra a aparência que deviam ter.)
A presença de Jacó no Egito é diretamente mencionada, segundo A. Mallon
em Os Hebreus no Egito, também em várias inscrições em escaravelhos que
representam o nome Ia'a-cob (o nome hebraico para Jacó). Escrito algumas
vezes no interior de um cartucho real, é soletrado em hieróglifos Ii-A-Q-B com
o sufixo H-R, fornecendo à inscrição o significado "Jacó está
satisfeito" ou "Jacó está em paz".
Jacó tinha 130 anos de idade quando os Filhos de Israel começaram sua
permanência no Egito, a qual, conforme a profecia, terminaria em escravidão
quatrocentos anos mais tarde. Com a morte e o enterro de Jacó e a subseqüente
morte de José, o Livro do Gênesis se encerra.
O Livro do Êxodo retoma a história, séculos mais tarde, quando
"levantou-se um novo rei sobre o Egito, que não conheceu a José". Nos
séculos intermediários muita coisa aconteceu no Egito. Houve guerras civis, a
capital mudou para o sul e para o norte, a era do Reinado do Meio passou, o
assim chamado Segundo Período Intermediário, de caos, aconteceu. Em 1650 a.C.,
o Novo Reinado começou com a XVII dinastia, e, em 1570 a.C., a renomada XVIII
dinastia assumiu o trono faraônico em Tebas, no Alto Egito (ao sul), deixando-nos
seus magníficos monumentos, templos e estátuas em Kamak e Luxor, assim como as
esplêndidas tumbas escavadas na montanha, no Vale dos Reis.
Muitos dos nomes escolhidos pelos faraós dessas novas dinastias eram
epítetos com os quais eles afirmavam sua condição de semideuses; como o nome Ra-Ms-S
(Ramsés), que significava "Do deus Rá emanado". O fundador da XVI
dinastia chamava a si mesmo Ah-Ms-S (Ah-Mósis), significando "Do
deus"'Ah emanado" (sendo Ah o nome do deus da Lua). Essa nova
dinastia começou o Novo Reinado, que, como sugerimos, esqueceu tudo sobre José
depois da passagem de cerca de três séculos. Em concordância, um sucessor de
Ahmósis chamado Tehuti-Ms-S (Tutmés ou Tutmósis I) - "Do deus Tot
emanado" - foi, concluímos, o governante na época em que a história de
Moisés e os eventos do Êxodo começaram.
Foi esse faraó que, usando o poder de um Egito revigorado e fortalecido,
enviou seus exércitos para o norte até o Alto Eufrates a região onde os
descendentes de Abraão haviam ficado e se desenvolvido. Reinou de 1525 a 1512
a.C. e foi, conforme sugerimos em As Guerras de Deuses e Homens, quem
temeu que os Filhos de Israel aderissem à luta em apoio a seus parentes do
Eufrates. Impôs trabalho pesado aos israelitas e ordenou que qualquer
recém-nascido do sexo masculino fosse morto ao nascer.
Foi em 1513 a.C. que um hebreu levita e sua esposa
também levita tiveram um filho. Temendo que fosse assassinado, a mãe o acomodou
num cesto de papiros impermeabilizado e o colocou no rio Nilo. Acontece que a
corrente carregou o cesto para onde a filha do faraó se banhava; ela acabou por
adotar o menino como filho, "e o chamou Moisés" - Mosché em hebraico.
A Bíblia explica que ela o chamou assim porque ele fora "das águas
extraído". Não temos dúvida, porém, de que a filha do faraó deu ao menino
o epíteto comum em sua dinastia, com o componente Mss (Mose, Mósis), com
um prefixo que, acreditamos, a Bíblia prefere omitir.
A cronologia sugerida por nós, ao colocar o nascimento
de Moisés em 1513 a.C., combina a história bíblica com a cronologia egípcia e
com uma rede de intrigas e lutas pelo poder na corte do Egito.
Filha única de Tutmés I e
sua esposa meia-irmã, chamada Hatshepsut, realmente ela ostentava o título
exclusivo de Filha do Faraó. Quando Tutmés I morreu, em 1512 a.C., o único
herdeiro era um filho nascido de uma das concubinas do harém. Ao subir ao trono
como Tutmés II, ele casou com sua meia-irmã Hatshepsut para conseguir
legitimidade para si mesmo e para os filhos. Porém esse casal só teve filhas, e
o único filho do rei foi com uma concubina. Tutmés II reinou por pouco tempo,
apenas nove anos. Assim, quando ele morreu, o filho - o futuro Tutmés III - era
apenas um menino, jovem demais para ser faraó. Hatshepsut foi indicada como Regente,
e depois de alguns anos coroou-se rainha - um faraó feminino (que chegou a
ordenar que suas imagens esculpidas a representassem com uma barba falsa).
Como se pode imaginar, foi nessas circunstâncias que a inimizade entre o filho
do rei e o filho adotado da rainha se criou e intensificou-se.
Finalmente, em 1482 a.C., Hatshepsut morreu (ou foi
assassinada), e o filho da concubina assumiu o trono como Tutmés III. Não
perdeu tempo em partir para conquistas estrangeiras (alguns estudiosos se
referem a ele como o "Napoleão do Egito antigo") e oprimir os
israelitas. "E foi naqueles dias que cresceu Moisés e foi ter com seus
irmãos e viu suas pesadas tarefas". Ao matar um feitor egípcio, deu ao rei
uma desculpa para decretar sua morte. "E Moisés fugiu da presença do faraó
e deteve-se na terra dos midianitas", na península do Sinai. Acabou por
casar com a filha do sacerdote midianita.
"E foi naqueles dias que morreu o rei do Egito;
e suspiraram os Filhos de Israel pelo trabalho e gemeram, e subiram os seus
clamores a Elohim pelo trabalho. E ouviu Elohim os seus gemidos
e lembrou-se Elohim de sua aliança com Abraão, com Isaac e com Jacó. E
viu Elohim os Filhos de Israel e levou em conta."
Quase quatrocentos anos se passaram desde que o
Senhor falara pela última vez a Jacó "numa visão noturna", até que
ele viesse a olhar para os filhos de Jacó/Israel gemendo em seu cativeiro. Que
o Elohim mencionado era Iavé se toma claro na narrativa subseqüente.
Onde estava ele durante esses longos quatro séculos? A Bíblia não diz; mas é
uma questão a ser ponderada.
Seja como for, era chegado o momento para uma ação
dramática. Como a narrativa bíblica deixa claro, essa corrente de novos
desenvolvimentos foi iniciada pela morte do faraó "depois de um longo
tempo" de reinado. Dos registros egípcios consta que Tutmés li, que
ordenara a morte de Moisés, faleceu em 1450 a.C. Seu sucessor ao trono,
Amenhotep II, era um governante fraco, que teve problemas para manter o
Egito unido; com sua ascensão ao trono, a sentença de morte contra Moisés
havia expirado.
Foi então que Iavé chamou
Moisés do interior da Sarça Ardente, dizendo que Ele decidira" descer e
salvar" os israelitas de seu jugo no Egito e liderá-los de volta à Terra
Prometida, e dizendo a Moisés que ele fora escolhido para ser o embaixador
divino para conquistar a liberdade do povo perante o faraó e liderar os
israelitas em seu Êxodo para fora do Egito.
No capítulo 3 do Êxodo ficamos sabendo que isso aconteceu quando Moisés
estava pastoreando os rebanhos do sogro, "conduziu o rebanho para trás do
deserto, veio ao monte dos Elohim, em Horeb" e viu lá o espinheiro
queimando sem se consumir; aproximou-se então para verificar aquele fato
incrível.
A narrativa bíblica se refere ao "Monte dos Elohim" como
se fosse um local conhecido; o incomum do evento não foi que Moisés tenha
levado para lá o rebanho, nem que lá houvesse espinheiros como a sarça. O
aspecto excepcional foi que o espinheiro estivesse queimando sem se consumir!
Foi apenas o primeiro de uma série de impressionantes atos mágicos que o
Senhor empregou para convencer Moisés, os israelitas e o faraó da autenticidade
de sua missão e da determinação divina que a motivava. Para esse propósito,
Iavé concedeu a Moisés três atos mágicos: seu cajado podia virar um cobra,
depois voltar a ser cajado; sua mão podia ser leprosa e voltar a ser saudável;
e ele podia derramar água do Nilo no solo e este continuava seco. "As pessoas
que desejavam sua morte estão todas mortas", disse Iavé a Moisés; não
temas; enfrenta o novo faraó e realiza as mágicas que concedi, e dize a ele que
os israelitas devem ir livres para adorar seu Deus no deserto. Como auxiliar,
Iavé indicou Aarão, irmão de Moisés, para o acompanhar.
No primeiro encontro com o faraó, o rei não se deixou convencer.
"Quem é Iavé para que eu atenda seu chamado e liberte os israelitas? Não
conheço Iavé e também não libertarei os israelitas." E em vez de libertar
os israelitas, dobrou e triplicou sua cota de tijolos. Quando as mágicas com o
cajado não impressionaram o faraó, Moisés foi instruído pelo Senhor a começar a
série de pragas - "golpes", se formos traduzir literalmente a palavra
hebraica -, que aumentaram em severidade quando o rei a princípio se recusou a
libertar os israelitas; depois vacilou, depois concordou e mudou de idéia. Dez
ao todo, foram desde a transformação das águas do Nilo em sangue por uma
semana, passando pela infestação do rio e lagos com sapos; infestação de
percevejos nas pessoas e pestes no gado; devastação por granizo, enxofre e
gafanhotos; e uma escuridão que durou três dias. Quando nada disso conseguiu a
liberdade dos israelitas, quando todas as "maravilhas de Iavé"
falharam, veio o último e decisivo golpe: todos os primogênitos do Egito,
homens e gado, foram exterminados "quando Iavé passou pela terra do Egito.
Mas as casas dos israelitas, marcadas com sangue nas portas, foram poupadas.
Naquela mesma noite, o faraó os deixou sair da terra do Egito; desde então esse
evento é comemorado até hoje pelos judeus como a Pesach, a Páscoa
Hebraica. Aconteceu na noite do décimo quarto dia do mês de Nissan, quando
Moisés tinha oitenta anos de idade - em 1433 a.C. segundo nossos cálculos.
O Êxodo do Egito se iniciou - porém não foi o final dos problemas com o
faraó. Quando os israelitas alcançaram a orla do deserto, onde o conjunto de
lagos formava uma barreira aquática além das fortificações egípcias, o faraó
concluiu que os fugitivos estavam encurralados e enviou carruagens rápidas
para capturá-los. Foi então que Iavé chamou um anjo: "E moveu-se o anjo de
Elohim diante do acampamento de Israel", colocou a si mesmo e um
pilar de nuvens escuras entre os israelitas e os perseguidores egípcios, para
separar os acampamentos. E durante aquela noite, "Iavé retirou o mar, com
um forte vento oriental, a noite toda, e fez do mar terra seca, e foram
divididas as águas. E entraram os Filhos de Israel no meio do mar, no
seco".
De manhã cedo os egípcios tentaram seguir os israelitas através das águas
divididas, mas assim que tentaram isso, a muralha de água os engolfou e eles
pereceram.
Só depois desse evento - artística e vividamente
recriado por Cecil B. DeMille no filme épico Os Dez Mandamentos - é que
os Filhos de Israel se tomaram livres para prosseguir através do deserto e
suas vicissitudes até a ponta da península do Sinai - o tempo todo guiados pelo
Pilar Divino, que era uma nuvem escura durante o dia e uma chama brilhante à
noite. Água e comida foram milagrosamente providenciadas, e ainda havia uma
guerra com inimigos amalecitas. Finalmente, "no terceiro mês",
chegaram ao deserto do Sinai e "acampou ali Israel em frente ao
monte".
Haviam chegado ao destino predeterminado: o
"Monte dos Elohim". A maior de todas as teofanias estava a
ponto de começar.
Houve preparações e estágios nesse Encontro Divino memorável e único, e
um preço a pagar por suas testemunhas escolhidas, que começaram com
"Moisés subiu a Elohim" e "chamou-o Iavé do monte",
para ouvir as condições para a Teofania e suas conseqüências. Moisés recebeu
instruções para repetir aos Filhos de Israel as palavras exatas do Senhor.
Agora, se ouvirdes
atentamente minha voz
e guardardes minha Aliança,
sereis para Mim o tesouro de
todos os povos,
porque toda a Terra é minha.
E vós sereis para mim um
reino de sacerdotes
e um povo santo.
Antes disso, quando Moisés recebera sua missão no mesmo monte, Iavé
afirmara sua intenção de "adotar os Filhos de Israel como seu povo",
e em troca "ser Elohim para eles". Agora o Senhor explicava
esse "acordo" envolvendo a Teofania - um evento único pelo qual os
israelitas se tomariam um Povo Eleito, consagrado a Deus.
"E veio Moisés, chamou os anciãos do povo e expôs diante deles
todas estas palavras que lhe ordenara Iavé. E respondeu todo o povo
conjuntamente, dizendo: tudo o que falou Iavé, faremos. E Moisés levou as
palavras do povo a Iavé."
Tendo recebido essa aceitação, "Iavé disse a Moisés: Eis que venho
a ti na espessura da nuvem, para que ouça o povo enquanto Eu falo contigo, e
também em ti crerão para sempre". E o Senhor ordenou a Moisés que
santificasse o povo e o aprontasse para dali a três dias, informando-os que
"no terceiro dia descerá Iavé aos olhos de todo o povo sobre o monte
Sinai".
A aterrissagem, conforme Iavé indicou a Moisés, iria criar um perigo para
todos que se aproximassem muito. Disse a Moisés: "Marcarás limites ao
povo em redor" do monte, para que mantivessem distância, dizendo a eles
que não ousassem subir, ou mesmo tocar os limites do monte, pois "todo
aquele que tocar o monte certamente será morto".
Quando essas instruções foram seguidas, "foi no terceiro dia, ao
raiar da manhã" que a prometida Aterrissagem de Iavé sobre o monte
dos Elohim começou. Foi envolta em fumaça e fogo: "E houve
relâmpagos e trovões e nuvens pesadas por todo o monte, e o som de shofar muito
forte; e estremeceu todo o povo que estava no acampamento" .
Quando começou a descida do Senhor Iavé, "Moisés levou o povo do
acampamento ao encontro de Elohim, e ficaram ao pé do monte", no
limite que Moisés marcara ao redor do monte.
E o monte Sinai fumegava
todo
porque apareceu sobre ele
Iavé em fogo.
E subiu sua fumaça como fumo
de fornalha,
e estremeceu muito todo o
monte.
E o som do shofar foi
andando e aumentando muito.
Moisés falava, e Elohim lhe
respondia em voz alta.
(O termo shofar, associado nesse texto com os sons que emanavam do
monte, é em geral traduzido como "trombeta". Literalmente,
entretanto, significa "amplificador" - um dispositivo, acreditamos,
para que a multidão israelita, ao pé da montanha, escutasse a voz de Iavé e sua
conversa com Moisés.)
Assim procedeu Iavé, à vista de todas as pessoas - 600 mil delas -
"E desceu Iavé sobre o monte Sinai, no cume do monte, e chamou Iavé a
Moisés, ao cume do monte, e subiu Moisés."
Então, do alto do monte, do interior da densa fumaça, "falou Elohim
todas essas palavras: "pronunciando em seguida os Dez Mandamentos - a
essência da fé judaica, um guia de justiça social e moralidade humana: um
sumário da Aliança entre o Homem e Deus, todos os ensinamentos divinos
expressos de modo sucinto.
Os primeiros três Mandamentos estabelecem o monoteísmo, proclamam Iavé
como o Elohim de Israel, Deus único, e proibia a fabricação de ídolos e
sua adoração:
I - Eu sou Iavé, teu Elohim, que
te tirei da terra
do Egito, da casa dos
escravos.
II - Não terás outros deuses além de mim;
não farás para
ti imagem
de escultura, figura alguma do
que há em
cima, nos céus e abaixo, na terra, e
nas águas
debaixo da terra. Não te prostrarás
diante
delas nem as servirás...
III - Não proferirás o nome de Iavé,
teu Elohim, em vão.
A seguir veio um Mandamento cuja intenção é exprimir a santidade do Povo
de Israel e sua aceitação de um padrão de vida mais elevado, ao guardar um dia
da semana para ser o Sabá - um dia devotado à contemplação e ao descanso,
aplicado da mesma forma a todas as pessoas, tanto humanos como seus animais:
IV - Seis dias
trabalharás e farás toda tua obra; e no
sétimo
dia, o sábado de Iavé, teu Elohim, não
farás
nenhuma obra tu, teu filho, teu servo, tua
serva,
teu animal e o peregrino que estiver em tuas cidades.
O quinto Mandamento afirmativo estabelece a unidade da família assim
como a unidade humana, liderada pelo patriarca e pela matriarca:
V - Honrarás teu pai e tua mãe, para que se
prolonguem
teus dias
sobre a Terra que Iavé, teu Elohim, te dá.
A seguir vêm os cinco Mandamentos negativos, que estabelecem o código
moral e social entre o Homem e o Homem, em vez de, como no início, entre o
Homem e Deus.
VI - Não matarás.
VII - Não cometerás adultério.
VIII - Não furtarás.
IX - Não darás falso testemunho contra teu
próximo.
X
- Não cobiçarás a casa do teu
próximo; não cobiçarás a
mulher do teu próximo nem seu servo, sua serva, seu
boi, seu asno e tudo que seja do teu próximo.
Muito foi dito, em livros incontáveis, sobre as Leis de Hamurábi, o
rei babilônio do século XVIII a.C., que ele gravou numa estela (atualmente no
Museu do Louvre), sobre a qual o monarca é mostrado recebendo as leis do deus
Shamash. Mas se tratava apenas de uma lista de crimes e castigos
correspondentes. Mil anos antes de Hamurábi, os reis sumérios estabeleceram
leis de justiça social não tomarás o jumento de uma viúva, decretaram eles,
nem adiarás o salário de um trabalhador diarista (para citar dois exemplos). Porém
nunca antes (e talvez nem depois) dez mandamentos afirmaram, com tanta
clareza, todos os essenciais que um povo íntegro e qualquer ser humano
possam usar para se guiar!
Escutar a retumbante voz divina vinda do alto do monte deve ter sido uma
experiência impressionante. De fato, lemos que "todas as pessoas viam
trovões, as tochas e o monte fumegando, escutaram o som do shofar; e viu
o povo e tremeu, e ficou de longe, e disseram a Moisés: Fala tu conosco e
ouviremos, e não fale conosco Elohim, para que não morramos". Tendo
pedido a Moisés para ser o portavoz das palavras divinas, em vez de ouvi-Ias
diretamente, "o povo afastou-se; e Moisés caminhou em direção às trevas
espessas, onde estava a glória de Deus".
E disse Iavé a Moisés:
"Sobe a mim, ao monte,
e fica ali;
e dar-te-ei as tábuas de
pedra,
a lei e os mandamentos
que escrevi
para os ensinar".
Assim (Êxodo, capítulo 24), é a primeira menção às Tábuas da Lei e a
asserção de que foram escritas pelo próprio Iavé. Isso é reafirmado no
capítulo 31, em que o número de tábuas é declarado (duas), "tábuas de
pedra, escritas com o dedo de Elohim"; outra vez no capítulo 32:
"tábuas inscritas em seus dois lados; de ambos os lados estavam inscritas.
E as tábuas eram obra de Elohim e a escritura eram as letras de Elohim,
gravadas sobre as tábuas". (Isso é reafirmado no Deuteronômio. )
Escritos nas Tábuas estavam os Dez Mandamentos, assim
como ordens mais detalhadas para governar o comportamento diário do povo,
algumas regras de adoração de Iavé e proibições estritas sobre a adoração ou
mesmo a pronúncia dos deuses dos vizinhos de Israel. Tudo o que o Senhor
pretendia dar a Moisés como as Tábuas da Aliança, para ser mantido na
Arca da Aliança, que seria construída de acordo com especificações detalhadas.
O recebimento das Tábuas foi um evento de significância duradoura,
embutido na memória dos Filhos de Israel e portanto necessitando de
testemunhas do mais alto grau. Portanto Iavé instruiu a Moisés que viesse
receber as Tábuas, acompanhado por seu irmão Aarão, dois filhos de Aarão que
eram sacerdotes e setenta anciãos da aldeia. Eles não puderam subir até o alto
(apenas Moisés teve permissão para isso), mas o suficiente para "ver o Elohim
de Israel". Mesmo então, tudo o que podiam ver era o espaço sob os pés
do Senhor, "obra de pura safira, e como a visão dos céus, em sua
limpidez". Chegando assim tão perto, eles teriam normalmente perdido suas
vidas; porém daquela vez, tendo-os convidado, "Iavé contra os grandes do
povo de Israel não estendeu sua mão". Eles não foram abatidos e viveram
para comemorar o Encontro Divino e testemunhar Moisés subindo para receber as
tábuas:
E subiu Moisés ao monte,
e a nuvem cobriu o monte.
e a glória de Iavé pousou
sobre o monte Sinai,
e cobriu-o a nuvem seis
dias;
e Ele chamou a Moisés no
sétimo dia,
do meio da nuvem...
E entrou Moisés pelo meio da
nuvem
e subiu ao monte;
e esteve Moisés no monte por
quarenta dias
e quarenta noites.
Desde que as duas tábuas já haviam sido escritas, o longo tempo que
Moisés passou no monte foi usado para instruí-lo sobre a construção do
Tabernáculo, o Mishkan ("Residência"), na qual Iavé tomaria
sua presença conhecida aos Filhos de Israel. Foi então que, além dos detalhes
arquitetônicos dados oralmente, Iavé também mostrou a Moisés o "modelo
estrutural da Residência e o modelo de todos os instrumentos". Estes
incluíam a Arca da Aliança, o baú de madeira marchetado com ouro, no qual as
duas tábuas seriam guardadas, e no alto da qual os dois Querubins de ouro seriam
colocados; aquilo, explicou o Senhor, seria o Dvir -literalmente, o
Falador - "Falarei de cima do tampo, de entre os dois Querubins" .
Foi também durante esse Encontro Divino no alto do monte
que Moisés foi instruído sobre o sacerdócio, nomeando os únicos que podiam
aproximar-se do Senhor (além de Moisés) e oficiar no Tabernáculo: Aarão, irmão
de Moisés, e seus quatro filhos. Suas vestes foram elaboradamente prescritas,
em todos os detalhes, incluindo o Peitoral do Julgamento, contendo doze pedras
preciosas inscritas com os nomes das tribos de Israel. O Peitoral também era
usado para manter no lugar - exatamente sobre o coração do sacerdote - o Urim
e o Tumim. Embora o significado exato dos termos tenha iludido os
estudiosos, fica claro de outras referências bíblicas (Números 27:21) que
serviam como um painel de oráculo para obter um Sim ou um Não do Senhor como
resposta a uma pergunta. A pergunta que a pessoa queria fazer era colocada perante
o Senhor pelo sacerdote "para pedir a decisão do Urim perante Iavé, e depois
agir de acordo". Quando o rei Saul (I Samuel 28:6) procurou a orientação
de lavé sobre entrar ou não em guerra contra os filisteus, ele perguntou a Iavé
em sonhos, pelo Urim, e por intermédio dos profetas" .
Enquanto Moisés estava em presença do Senhor, lá no
acampamento sua longa ausência foi interpretada como má notícia, e o fato de
ele não aparecer depois de algumas semanas foi uma indicação de que talvez ele
tivesse perecido ao encontrar Deus; "quem já ouviu a voz de um Elohim vivo
falando do interior do fogo e ficou vivo?". Então, assim que "o povo
viu que Moisés demorava em descer do monte, dirigiu-se a Aarão e disse-lhe:
"Levanta-te, faze-nos deuses que andem diante de nós porque a esse Moisés,
o homem que nos fez subir da terra do Egito, não sabemos o que aconteceu".
Então Aarão, procurando invocar Iavé, construiu um altar para Iavé e colocou
perante este a escultura de um bezerro folheada a ouro.
Alertado por Iavé, "Moisés
desceu do monte, e as duas Tábuas da Aliança estavam em suas mãos". Quando
se aproximou do acampamento e viu o bezerro de ouro, ficou furioso "e
jogou de suas mãos as tábuas e quebrou-as aos pés "do monte; e tomou o
bezerro que fizeram, queimou-o no fogo e o moeu até que se desmanchou em pó e o
espalhou sobre a superfície das águas". Procurando os instigadores da
abominação e tendo-os passado a fio de espada, Moisés implorou para que o
Senhor não abandonasse os Filhos de Israel. Que se o pecado fosse grande
demais, que riscasse a ele, Moisés, do "livro que escrevestes". Mas o
Senhor não se aplacou completamente, mantendo aberta a opção de retribuição
posterior. "Aquele que pecou contra Mim, riscá-lo-ei do Meu livro."
"E escutou o povo essa coisa ruim e entristeceu-se." O próprio
Moisés, sem forças e desesperado, apanhou sua tenda e a montou longe do
acampamento. "E quando Moisés saía da tenda, levantava-se todo o povo e
punha-se de pé, cada um à entrada da própria tenda, e olhava Moisés por trás,
até ele entrar de novo em sua tenda." Um sentido de missão fracassada
pairava nele e em todos ao redor.
Mas então um milagre aconteceu; a compaixão de Iavé se tornou manifesta:
E ao entrar Moisés na tenda,
a coluna da nuvem descia
parava à entrada da tenda
e uma voz falava com Moisés.
E todo o povo via a
coluna de nuvens
à entrada da tenda, e todo o
povo se levantava
e se prostrava à entrada de
sua tenda.
E Iavé falava com Moisés
face a face,
como um homem falando com
seu companheiro.
Quando o Senhor falou a Moisés do interior da Sarça Ardente,
"escondeu Moisés sua face porque teve medo de olhar para o Elohim".
Os anciãos e os nobres que haviam acompanhado Moisés para o alto do monte
foram apenas até metade e conseguiram ver somente o pedestal do Senhor - mesmo
assim foi espantoso que não tenham morrido. Ao final dos quarenta anos de
andanças, os israelitas estavam prontos para entrar em Canaã, e Moisés em sua
revisão do Êxodo e da grande Teofania, não deixou de reforçar que "no dia em
que Iavé falou a vós em Horeb, do meio do fogo, não vistes rosto de nenhum
tipo":
E vós chegastes e estivestes
ao pé do monte;
e o monte ardia em fogo até
o meio do céu,
e havia uma nuvem negra e um
denso nevoeiro.
E vos falou Iavé do meio do
fogo;
som de palavras ouvistes,
porém rosto algum não vistes
-
somente uma voz.
(Deuteronômio 4:11-15)
Isso, obviamente, era um elemento essencial no "que fazer e o que
não fazer" nos encontros com Iavé. Porém naquele instante Deus falava com
Moisés "face a face" - mas ainda no interior do pilar de nuvens -,
Moisés aproveitou o momento para procurar uma reafirmação em seu papel de
líder escolhido pelo Senhor. Pediu para ver-Lhe o rosto.
Respondendo enigmaticamente,
Iavé disse: "Não poderás ver meu rosto, pois não poderás ver-me o homem e
viver".
Moisés pediu outra vez: "Rogo-te,
mostra-me Tua glória!".
Iavé disse: "Eis aqui um lugar junto
a Mim, e te porás de pé sobre o penhasco e te protegerei à Minha maneira até
que eu tenha passado; retirarei, depois, a Minha glória e verás minhas costas,
e o meu rosto não será visto".
A palavra hebraica que forneceu o termo
"glória" nas traduções, em todos os locais acima, é Kabod; deriva
da raiz KBD, cujo significado seminal é "peso, pesado". Literalmente,
então, Kabod significaria "o peso, a coisa pesada". Que uma
"coisa", um objeto físico, e não urna glória abstrata seja o
significado quando aplicada a Iavé, fica claro desde a primeira menção na
Bíblia, quando os israelenses "contemplam o Kabod de Iavé",
envolvido pela nuvem sempre presente, depois que o Senhor concedeu o miraculoso
maná para a alimentação diária. No Êxodo 24:16, lemos que o Kabod de
Iavé pousou sobre o monte Sinai e cobriu-o de nuvem por seis dias", até
que, no sétimo dia, Ele chamou Moisés para subir; o verso 17 acrescenta, para
aqueles que não estavam presentes, que" a aparência do Kabod de
Iavé era um fogo consumidor no alto do monte, aos olhos dos Filhos de
Israel".
Indicando uma manifestação de Iavé, o termo Kabod também é usado
nos outros cinco livros do Pentateuco - Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e
Deuteronômio. Em todos os casos, o chamado "Kabod de Iavé" é
algo concreto que o povo pode enxergar - embora esteja continuamente envolto
numa nuvem, como se estivesse num nevoeiro escuro.
O termo é repetidamente empregado pelo profeta Ezequiel em suas
descrições da Carruagem Divina (o pedestal é descrito de forma quase idêntica
aos versos que dizem respeito ao que os anciãos de Israel viram na metade da
subida do monte Sinai. A Carruagem, narra Ezequiel, estava envolta num brilho
radiante; aquela, disse ele, foi a aparição do "Kabod de
Iavé". Nessa primeira missão profética no exílio, estando à margem do rio
Khabur, o Senhor dirigiu-se a Ezequiel num vale, onde "o Kabod de
Iavé encontrava-se parado, um Kabod como jamais se vira antes".
Quando Ezequiel foi carregado para o alto, a fim de ver Jerusalém,
"visões divinas", novamente ele vê "o Kabod do Deus de
Israel, como aquele que vi no vale". E quando a visita em visão terminou,
o "Kabod de Iavé" parou sobre o Querubim, e o Querubim ergueu
suas asas e "ergueu-se da terra", levando consigo o Kabod.
Ezequiel escreveu que o Kabod possuía uma luminosidade que
brilhava através da nuvem que o escondia, uma espécie de radiação. Esse detalhe
fornece uma idéia nova em face do Encontro Imediato de Moisés com o Senhor Iavé
e seu Kabod. Foi depois que Iavé controlou sua raiva e disse a Moisés
para fazer duas novas tábuas de pedra, idênticas às duas primeiras que Moisés
quebrara, e depois subir outra vez ao monte Sinai para receber os Dez
Mandamentos e outras instruções. Dessa vez, entretanto, as palavras foram
ditadas a Moisés pelo Senhor. De novo ele passou quarenta dias e quarenta
noites no topo do monte; e Iavé "ficou com ele lá" - não falando a
distância, mediante um Amplificador, "mas ficando com ele".
E ao descer do monte Sinai,
estando as duas tábuas da
Aliança
nas mãos de Moisés em sua
descida do monte,
Moisés não sabia que
resplandecia a pele de seu rosto
por (Deus) ter falado com
ele.
E Aarão e todos os Filhos
de Israel,
ao olhar para Moisés, viram
que resplandecia
a pele de seu rosto;
e temeram aproximar-se dele.
Então "Moisés pôs um véu sobre o seu rosto. E ao vir Moisés diante
de Iavé para falar com Ele, tirava o véu até sair; e ao sair, dizia aos Filhos
de Israel o que lhe fora ordenado. E viram os Filhos de Israel o rosto de
Moisés e que resplandecia a pele do rosto de Moisés, e tomava a pôr Moisés o
véu sobre o rosto até entrar para falar" com o Senhor.
Fica evidente nesse trecho que Moisés, quando estava na proximidade do Kabod,
ficava exposto a algum tipo de radiação que afetava sua pele. O que era
exatamente a fonte material dessa radiação não sabemos, mas sabemos que os
Anunnaki podiam e (costumavam) empregar radiação para uma variedade de
propósitos. Lemos sobre isso na história da Descida de Inana ao Mundo
Inferior, quando ela foi revivida com uma radiação pulsante (talvez não
muito diferente daquela representada numa placa de cerâmica da Mesopotâmia, na
qual o paciente, protegido por uma máscara, é tratado com radiação. Lemos a
respeito disso, usado como raio mortal, na narrativa de Gilgamesh, quando ele
tentou entrara na Zona Proibida na península do Sinai, e os guardiões dirigiram
o raio para ele. Lemos na História de Zu o que aconteceu quando ele
removeu a Tábua dos Destinos do Centro de Controle de Missão em Nippur: "A
ausência de ação espalhou-se, o silêncio dominou; o brilho do santuário fora
levado".
Um objeto físico, um que se podia mover, parar sobre uma montanha,
elevar-se e decolar, envolto numa nuvem de fumaça escura, emitindo um brilho -
é assim que a Bíblia descreve o Kabod - literalmente. O "objeto
pesado" - no qual Iavé se movia. Tudo isso descreve o que agora chamamos,
em nossa ignorância ou descrença, de Ovni - Objeto Voador Não-Identificado.
A esse respeito, será útil traçar as raízes acadianas e sumérias das
quais deriva a palavra hebraica. Enquanto o acadiano Kabbuttu significa
"peso, pesado", o termo de sonoridade parecida, Kabdu (similar
ao hebraico Kabod) significava "segurador de asa" - algo ao
qual as asas estão presas, ou talvez para onde elas pudessem se retrair. O
termo sumério KI.BAD.DU significava "pairar para um local distante".
Num caso, no qual o trono da divindade é descrito, o adjetivo HUSH -
"brilho vermelho" é usado para descrever o objeto que "paira
longe".
Só podemos especular se o Kabod parecia com o "Divino Pássaro
Preto" de Ninurta, os veículos bulbosos sem asas (ou de asas retráteis)
representados nos murais de Tell Ghassul
- ou como no objeto em forma de foguete que Gilgamesh viu decolar do
Local de Aterrissagem no Líbano (uma subida que, lida em sentido inverso, é
quase uma descrição como as que constam do capítulo 19 do Êxodo).
Poderia ter semelhança com um ônibus espacial americano? Formulamos tal
pergunta em virtude da similaridade com uma pequena figura, descoberta alguns
anos atrás num local na Turquia (a antiga Tuspa). Feita de argila, mostra uma
máquina voadora que combina aspectos de um moderno ônibus espacial (incluindo
os tubos de descarga dos jatos), com a cabine de um avião para uma só pessoa. A
imagem parcialmente danificada do "piloto", sentado na cabine, assim
como a totalidade da pequena escultura, lembra representações mesoamericanas de
deuses barbados acompanhados por objetos em forma de foguetes. O Museu
Arqueológico de Istambul, que guarda essa peça, não a colocou à mostra; a
desculpa oficial é que sua "autenticidade" ainda não foi
estabelecida. Se for autêntica, não servirá apenas para ilustrar Ovni, mas
também para lançar uma luz na ligação entre o Oriente Médio e as Américas.
Depois que Moisés morreu e Josué foi escolhido pelo Senhor para liderar
os israelitas, estes avançaram ao longo da margem oriental do rio Jordão e o atravessaram
junto a Jericó; em quase todo o trajeto foram ajudados por milagres divinos. Um
deles, que nossos estudiosos e cientistas acham difícil de aceitar é a história
da batalha no vale de Gibeão quando - segundo o Livro de Josué, capítulo
10 - o Sol e a Lua pararam por um dia:
E o Sol parou e a Lua ficou
até que o povo se vingou dos
inimigos.
De fato, está tudo escrito
no Livro de Jashar:
O Sol parou no meio dos céus
e não se apressou para
pôr-se
durante um dia inteiro.
O que poderia ter causado a parada do movimento de rotação da Terra, de
forma que o Sol, erguendo-se no leste e a Lua se pondo no oeste pareceram parar
pela maior parte de um dia (de 24 horas)? Para aqueles que levam ao pé da letra
sua fé na Bíblia foi apenas mais uma intervenção divina a favor do Povo
Escolhido de Deus. No outro extremo ficam aqueles que acreditam ser toda a
história uma lenda, um mito. Entre esses ficam aqueles que, como no caso das
pragas do Egito e da separação das águas no mar Vermelho (associando-os aos
eventos com a explosão do vulcão na ilha de Thera/Santini no Mediterrâneo),
procuram um fenômeno ou uma calamidade natural como causa. Alguns sugeriram um
eclipse extraordinariamente longo, contudo a Bíblia afirma que havia luz no dia
prolongado, e não que o sol tenha escurecido. Como o longo dia iniciou-se com
"grandes pedras" que caíam do céu, alguns sugeriram como explicação a
passagem próxima de um grande cometa (Immanuel Velikovsky, em Mundos de
Colísão, postulou que tal cometa fora apanhado na órbita solar e tornou-se
o planeta Vênus).
Tanto textos sumérios quanto os antigos da Babilônia falam de revoluções
celestes observadas nos céus e que exigiam encantamentos contra os
"demônios" celestes. Tratados como "textos de magia" (por
exemplo, Charles Fossey, Textos Mágicos; Morris Jastrow, As Religiões
dos Babilônios e Assírios; e Eric Ebeling, Tod und Leben) descrevem
um "sete ruim, nascido nos vastos céus, desconhecido no céu, desconhecido
na Terra" que "atacou Sin e Shamash" – a Lua e o Sol,
preocupando ao mesmo tempo Ishtar (Vênus) e Adad (Mercúrio). Antes de 1994 a
possibilidade de que sete cometas "atacassem" nossa região celeste
de uma vez era tão remota que o texto parecia mais uma fantasia do que uma
realidade testemunhada por astrônomos da Mesopotâmia. Quando, porém, em julho
de 1994 o cometa Shoemaker-Levy se quebrou em 21 pedaços, que caíram em Júpiter
em rápida sucessão - à vista de observadores da Terra -, os textos
mesopotâmicos assumiram uma realidade impressionante.
Teria um cometa se quebrado em sete pedaços e causado celeuma em nossa
vizinhança celeste, caindo aqui e influenciando a rotação do planeta? Ou, como
fez Alfred Jeremias (O Velho Testamento à Luz do Antigo Oriente Médio), ao
reproduzir o que ele chamou de "um importante texto astral
mitológico", aventando a possibilidade de alinhamento dos sete planetas
que, com o resultado da enorme força gravitacional, afetou o Sol e a Lua da
perspectiva da Terra fazendo com que o Sol e a Lua parecessem ficar parados,
todavia a realidade era que a Terra sofrera uma alteração temporária em suas
rotações.
Quaisquer que sejam as explicações, existe corroboração da ocorrência em
si no outro lado do mundo. Tanto na América Central como na América do Sul,
"lendas" - memórias coletivas - persistiram a respeito de uma longa
noite com cerca de vinte horas de duração, durante as quais o Sol não se
ergueu. Nossas investigações (num relato completo em Os Reinos Perdidos) concluíram
que essa longa noite ocorreu nas Américas por volta de 1400 a.C. - a mesma
época em que o Sol não se pôs em Canaã por um período de tempo similar. Desde
que um fenômeno seria o oposto do outro, a mesma causa - qualquer que fosse -
que teria feito o Sol parar em Canaã teria impedido que ele nascesse do outro
lado da Terra, nas Américas.
Lembranças da América Central e do Sul que validam a história do Dia em
que a Terra Parou - não o filme, mas a história bíblica. Não precisamos nem de
ficção científica nem de fantasias para aceitar a história da maior teofania
já ocorrida como o fato que foi.
Fonte: Cap. 12 - Encontros Divinos - Zecharia Sitchin
Fonte: Cap. 12 - Encontros Divinos - Zecharia Sitchin