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quinta-feira, 19 de maio de 2016

A Maior Teofonia

Imagine que extraterrestres, tendo observado acontecimentos na Terra, resolveram estabelecer contato com os terrestres. Usando sua tecnologia avançada para comunicar-se, eles chamam os dirigentes das nações para que desistam e cessem as guerras e a opressão, a fim de terminar a escravidão humana e trazer a liberdade para a humanidade.
Porém as mensagens são tratadas corno brincadeiras, pois os líderes políticos e sábios acadêmicos sabem que os Ovni são uma pia­da, e se existisse vida inteligente em outros pontos do Universo, ficaria a muitos anos-luz da Terra. Assim, os extraterrestres recor­rem a "milagres", aumentando seu impacto sobre a Terra e seus habitantes em maravilhas cada vez mais fabulosas, até que recorrem à maior demonstração de força: parar a rotação da Terra – onde era dia na Terra, o Sol não se pôs; onde era noite, o Sol não nasceu.

Concentrando dessa forma a mente dos terrestres e de seus líde­res, os extraterrestres decidem que é chegada a hora de se mostrar. Uma enorme espaçonave em forma de disco aparece nos céus da Terra; envolta em brilho, flutua sobre raios de luz. Seu destino é a mais poderosa capital do planeta. Lá, aterrissa à vista de uma enor­me multidão estupefata. Urna abertura se revela silenciosamente e surge uma luz extremamente brilhante. Um enorme robô sai, avança e pára. À medida que as pessoas caem de joelhos com medo do desconhecido, uma figura humanóide aparece - o verdadeiro ex­traterrestre. "Eu trago a paz", afirma ele.
Na verdade, o cenário acima não precisa ser imaginado, pois é a parte principal de um filme de 1952, chamado O Dia em Que a Terra Parou, no qual o memorável Michael Rennie interpretava o extrater­restre que saiu da nave em Washington D.C e pronunciou sua fa­mosa frase.
Na verdade, o cenário ao lado não precisa ser o roteiro de um filme de ficção científica; já o descrevemos - em essência, se não em detalhes - e realmente aconteceu. Não em tempos modernos, mas na Antiguidade; não nos Estados Unidos, e sim no Oriente Médio; e na seqüência real, a Terra parou não antes, mas algum tempo de­pois que a espaçonave apareceu.

Foi, sem dúvida, o maior Encontro Divino na memória humana - a maior teofania jamais registrada, testemunhada por uma multidão de não menos do que 600 mil pessoas.

O local da teofania foi o monte Sinai, o "Monte dos Elohim", na península do Sinai; a ocasião foi a entrega das Leis da Aliança aos Filhos de Israel, o ponto alto do Êxodo do Egito, repleto de milagres. Uma breve revisão da cadeia de eventos que culminou no Êxodo ajudaria; foi um caminho cujos marcos foram os Encontros Divinos.

Abraão saindo de da cidade de Ur na Caldéia
Abraão - ainda chamado, na Bíblia, por seu nome sumério ­ mudou-se com seu pai, Terah (um sacerdote de um oráculo, a julgar pelo significado de seu nome), de Ur, na Suméria, para Haran, no Alto Eufrates. Pelos nossos cálculos, isso aconteceu em 2096 a.C, quando o grande rei sumério Ur-Namu morreu inesperadamente e o povo queixou-se de que a morte ocorreu porque "Enlil mudou a palavra" dada a Ur-Namu. Contra um cenário de preocupação crescente na Suméria com cidades "pecadoras" no oeste, ao longo da costa do Mediterrâneo, Abrão / Abraão recebeu a ordem de Iavé para mover-se na direção sul com sua família, servos e rebanhos para posicionar-se no Neguev, a área desértica que circunda o Sinai. A mudança ocorreu com a morte do sucessor de Ur-Namu, (Shulgi), em 2048 a.C, quando o patriarca hebreu tinha 75 anos de idade. Foi no mesmo ano que Marduk, em preparação para conseguir supre­macia entre os deuses, chegou à terra dos Hititas, norte da Mesopo­tâmia.

Ao encontrar uma fome causada pela seca, Abraão continuou até o Egito. Lá, ele foi recebido pelo faraó - o último faraó da X dinastia do norte, que poucos anos depois (em 2040 a.C) foi derru­bado pela princesa e pelos sacerdotes de Tebas, ao sul.

Dois anos antes, em 2042 a.C. segundo nossos cálculos, Abraão voltou ao seu posto avançado no Neguev; agora comandava uma coluna de cavalaria (provavelmente velozes montadores de camelos). Ele retomou a tempo de evitar um atentado por parte de uma coalizão de "Reis do Leste" para invadir as terras do Mediterrâneo e alcançar o Espaçoporto do Sinai. A missão de Abraão era guardar as aproximações ao Espaçoporto, e não tomar partido na guerra do Leste contra as nações de Canaã. Mas quando os invasores rechaçados venceram Sodoma e levaram o sobrinho de Abraão, Lot, como cativo, ele os perseguiu com a cavalaria até Damasco, salvou seu sobrinho e o saque. Em sua volta, foi saudado como vitorioso nas cercanias de Salém (a futura Jerusalém); as saudações trocadas foram repletas de significado: 

E Melquisedeque, rei de Salém,
trouxe pão e vinho,
e ele servia ao Deus Altíssimo.
E o abençoou dizendo:
"Bendito seja Abrão do Deus Altíssimo,
que entregou os inimigos nas tuas mãos".



E os reis cananeus, que estavam presentes à cerimônia, oferece­ram a Abrão todo o saque, só pedindo os cativos. Porém Abrão recusou qualquer pagamento, dizendo:

"Eu ergo minha mão ao Eterno,
Deus Altíssimo, Criador do Céu e da Terra:
nem um fio, nem uma correia de sapato
tomarei - nada que é teu".

"E depois dessas coisas" - depois que Abrão realizou sua mis­são em Canaã protegendo o Espaçoporto - "manifestou-se a pala­vra de Iavé a Abrão, na visão" (Gênesis 15:1). "Não temas, Abrão", disse o Senhor, "Eu serei teu escudo, teu prêmio é muito grande". Mas Abrão respondeu que na ausência de um herdeiro, que valor teria qualquer recompensa? Então "eis que foi a palavra de Iavé a ele", assegurando que ele teria seu filho natural, e sua descendência seria tão numerosa quanto as estrelas do céu, e que herdaria a terra onde pisava.

Para não deixar dúvida na mente de Abrão de que essa promes­sa se realizaria, a divindade fala a ele, revelando sua identidade para Abrão sem filhos. Até então, tínhamos de aceitar a palavra da Bíblia de que era Iavé quem falava ou aparecia a Abrão. Agora, pela pri­meira vez, o Senhor se identifica pelo nome:

"Eu sou Iavé
que te tirei de Ur dos caldeus
para dar-te esta terra por herança."
E disse Abrão:
"Meu Senhor Iavé,
como saberei que a hei de herdar?".

Então, para convencer um Abrão cheio de dúvidas, "contratou Iavé com Abrão uma aliança, dizendo: À tua semente dei esta terra, desde o rio do Egito até o Eufrates, o grande rio".

A "celebração da Aliança" entre Iavé - "Deus Supremo, Cria­dor do Céu e da Terra" - e o patriarca abençoado envolveu um ritual mágico do qual não se encontra nada parecido na Bíblia, nem antes nem depois. O patriarca foi instruído para tomar um novilho, uma cabra, um carneiro, uma rolinha e um pombo, cortá-los ao meio e colocar os pedaços um em frente ao outro. "E foi quando o sol estava para se pôr, um sono pesado caiu sobre Abrão, e eis que medo e grande escuridão caíram sobre ele." A profecia - um destino pelo qual Iavé declarou-se comprometido - foi então proclamada: de­pois de uma estada de quatrocentos anos no cativeiro numa terra estranha, os descendentes de Abrão herdarão a Terra Prometida. Assim que o Senhor pronunciou essa profecia, "um forno fumegan­te e uma tocha de fogo passaram por estas metades". Nesse dia, afirma a Bíblia, "contratou Iavé com Abrão uma aliança".

(Cerca de quinze séculos mais tarde, o rei assírio Asaradão, "pro­curando a decisão dos deuses Shamash e Adad, prostrou-se com reverência". Para obter uma "visão em relação à Assíria, Babilônia e Nínive", o rei escreveu, "Coloquei as partes dos animais sacrifica­dos nos dois lados; os sinais do oráculo estavam em perfeita concordância e me deram uma resposta favorável". Mas, nesse caso, não havia fogo divino entre as partes dos animais sacrificados.)

Com a idade de 86 anos, Abrão teve seu filho, com a criada Hagar, mas não com sua esposa Sarai (como ela ainda era chamada por seu nome sumério). Foi treze anos mais tarde, na véspera de eventos importantes em relação a deuses e homens, que Iavé "apareceu a Abrão" e preparou-o para a nova era: a mudança de nomes do sumério Abrão e Sarai para o semita Abraão e Sara, e a circuncisão de todos os ho­mens como sinal de uma aliança eterna.

Foi em 2024 a.C., pelos nossos cálculos (baseados em sincronis­mos com as cronologias suméria e egípcia), que Abraão testemu­nhou a revolta de Sodoma e Gomorra, seguida pela visita de Iavé e os dois anjos. A destruição, conforme descrevemos em As Guerras de Deuses e Homens, foi apenas um evento periférico em relação ao principal - a vaporização, com armas nucleares, do Espaçoporto no centro da península do Sinai, por Ninurta e Nergal a fim de pri­var Marduk de instalações espaciais. O resultado não intencional do holocausto nuclear foi o deslocamento da nuvem mortal para o leste; causou morte (mas não destruição) na Suméria, levando a um fim amargo a grande civilização.

Agora, apenas Abrão/Abraão e sua semente - seus descendentes ­permaneceram para levar adiante as tradições antigas, para" chamar o nome de Iavé" e manter a ligação sagrada com o início dos tempos.

Para permanecer intocado pela radiação nuclear, Abraão rece­beu a ordem de sair do Neguev (a área desértica ao redor do Sinai) e procurar abrigo próximo à costa do Mediterrâneo, na terra dos filisteus. Um ano depois do evento, Isaac nasceu a Abraão, por sua esposa e meia-irmã, Sara, conforme Iavé previra.

Trinta e sete anos depois Sara morreu e o velho patriarca ficou preocupado com sua sucessão. Temendo morrer antes de ver seu filho Isaac casado, fez com que o chefe de seus criados jurasse "por Iavé, o Deus do Céu e o Deus da Terra", que de jeito algum ele ar­ranjasse para Isaac um casamento com uma cananéia.

Encontro de Isaac e Rebeca
Para certificar-se, enviou-o para Haran, no Alto Eufrates, a fim de conseguir para Isaac uma noiva entre os parentes que lá ficaram. Com a idade de 40 anos Isaac casou-se com sua noiva estrangeira, Rebeca; vinte anos depois ela lhe deu dois filhos, Esaú e Jacó. O ano, por nossos cálculos, era 1963 a.C.

Algum tempo depois, quando os meninos cresceram, "houve fome na terra, além da fome primeira que ocorrera na época de Abraão". Isaac pensou em imitar o pai indo até o Egito, cuja agricul­tura não dependia das chuvas, e sim da elevação anual das águas do Nilo. Mas, para fazer isso, ele teria de atravessar o Sinai, e isso aparentemente ainda era perigoso, mesmo décadas depois da ex­plosão nuclear. Então "apareceu-lhe Iavé", que o instruiu para não ir ao Egito; em vez disso, deveria ir até Canaã, para uma região onde se podia cavar poços para obter água. Lá, Isaac e sua família perma­neceram por muitos anos, tempo suficiente para que Esaú casasse com habitantes locais e Jacó fosse até Haran, onde casou com Lia e Raquel.

Com o tempo, Jacó teve vinte filhos: seis com Lia, quatro com concubinas e dois com Raquel: José e o mais novo, Benjamim (em cujo parto Raquel morreu). Um deles, José, era o favorito; então seus irmãos mais velhos, com inveja de José, o venderam a mercadores ismaelitas que iam para o Egito. Assim a profecia divina, sobre a permanência dos descendentes de Abraão em terras estrangeiras, começava a cumprir-se.

Por meio de uma série bem-sucedida de interpretações de so­nhos, José tomou-se Ouvidor do Egito, encarregado da tarefa de preparar a terra durante sete anos de fartura para sete anos de fome em seguida. (É nossa crença que em sua ingenuidade José usou uma depressão natural para criar um lago artificial e enchê-lo de água quando o Nilo ainda se elevava, e depois utilizar essa água para irrigar a terra seca. O lago, encolhido, ainda irriga a maior parte da área fértil do Egito, chamada Elfaium; o canal que liga o lago ao Nilo ainda é chamado de O Canal de José.)

Quando a fome se tornou difícil de suportar, Jacó enviou seus outros filhos (com exceção de Benjamim) ao Egito para trazer ali­mento - onde descobriram, depois de vários encontros dramáti­cos com o Ouvidor, que ele não era outro senão seu irmão mais moço, José. Revelando a eles que a fome duraria mais cinco anos, José lhes disse para retomarem e trazerem para o Egito seu pai e o irmão que faltava, assim como o restante das posses de Jacó. Pelos nossos cálculos, o ano era 1833 a.C., e o faraó reinante era Amenemés III, da XX dinastia.

(Uma representação encontrada numa tumba daquela época re­presenta um grupo de homens, mulheres e crianças com alguns ani­mais domésticos chegando ao Egito. Os imigrantes eram representados acompanhados da inscrição "asiáticos"; suas túnicas coloridas, representadas em cores vivas, apresentam um padrão de listras que José usara quando em Canaã. Embora os Asiáticos aqui representados não sejam necessariamente a caravana de Jacó e sua família, a pintura mostra a aparência que deviam ter.)

A presença de Jacó no Egito é diretamente mencionada, segundo A. Mallon em Os Hebreus no Egito, também em várias inscrições em escaravelhos que representam o nome Ia'a-cob (o nome hebraico para Jacó). Escrito algumas vezes no interior de um cartucho real, é soletrado em hieróglifos Ii-A-Q-B com o sufixo H-R, for­necendo à inscrição o significado "Jacó está satisfeito" ou "Jacó está em paz".

Jacó tinha 130 anos de idade quando os Filhos de Israel começa­ram sua permanência no Egito, a qual, conforme a profecia, termi­naria em escravidão quatrocentos anos mais tarde. Com a morte e o enterro de Jacó e a subseqüente morte de José, o Livro do Gênesis se encerra.

O Livro do Êxodo retoma a história, séculos mais tarde, quando "levantou-se um novo rei sobre o Egito, que não conheceu a José". Nos séculos intermediários muita coisa aconteceu no Egito. Houve guerras civis, a capital mudou para o sul e para o norte, a era do Reinado do Meio passou, o assim chamado Segundo Período Inter­mediário, de caos, aconteceu. Em 1650 a.C., o Novo Reinado começou com a XVII dinastia, e, em 1570 a.C., a renomada XVIII dinastia assumiu o trono faraônico em Tebas, no Alto Egito (ao sul), deixan­do-nos seus magníficos monumentos, templos e estátuas em Kamak e Luxor, assim como as esplêndidas tumbas escavadas na montanha, no Vale dos Reis.

Muitos dos nomes escolhidos pelos faraós dessas novas dinastias eram epítetos com os quais eles afirmavam sua condição de semideuses; como o nome Ra-Ms-S (Ramsés), que significava "Do deus Rá emanado". O fundador da XVI dinastia chamava a si mes­mo Ah-Ms-S (Ah-Mósis), significando "Do deus"'Ah ema­nado" (sendo Ah o nome do deus da Lua). Essa nova dinastia começou o Novo Reinado, que, como sugerimos, esqueceu tudo sobre José depois da passagem de cerca de três séculos. Em concordância, um sucessor de Ahmósis chamado Tehuti-Ms-S  (Tutmés ou Tutmósis I) - "Do deus Tot emanado" - foi, concluímos, o governante na época em que a história de Moisés e os eventos do Êxodo começaram.

Foi esse faraó que, usando o poder de um Egito revigorado e fortalecido, enviou seus exércitos para o norte até o Alto Eufrates ­a região onde os descendentes de Abraão haviam ficado e se desenvolvido. Reinou de 1525 a 1512 a.C. e foi, conforme sugerimos em As Guerras de Deuses e Homens, quem temeu que os Filhos de Israel aderissem à luta em apoio a seus parentes do Eufrates. Impôs traba­lho pesado aos israelitas e ordenou que qualquer recém-nascido do sexo masculino fosse morto ao nascer.

Foi em 1513 a.C. que um hebreu levita e sua esposa também levita tiveram um filho. Temendo que fosse assassinado, a mãe o acomodou num cesto de papiros impermeabilizado e o colocou no rio Nilo. Acontece que a corrente carregou o cesto para onde a filha do faraó se banhava; ela acabou por adotar o menino como filho, "e o chamou Moisés" - Mosché em hebraico. A Bíblia explica que ela o chamou assim porque ele fora "das águas extraído". Não temos dúvida, porém, de que a filha do faraó deu ao menino o epíteto comum em sua dinastia, com o componente Mss (Mose, Mósis), com um prefixo que, acreditamos, a Bíblia prefere omitir.

A cronologia sugerida por nós, ao colocar o nascimento de Moisés em 1513 a.C., combina a história bíblica com a cronologia egípcia e com uma rede de intrigas e lutas pelo poder na corte do Egito.

Filha única de Tutmés I e sua esposa meia-irmã, chamada Hatshepsut, realmente ela ostentava o título exclusivo de Filha do Faraó. Quando Tutmés I morreu, em 1512 a.C., o único herdeiro era um filho nascido de uma das concubinas do harém. Ao subir ao trono como Tutmés II, ele casou com sua meia-irmã Hatshepsut para conseguir legitimidade para si mesmo e para os filhos. Porém esse casal só teve filhas, e o único filho do rei foi com uma concubina. Tutmés II reinou por pouco tempo, apenas nove anos. Assim, quando ele morreu, o filho - o futuro Tutmés III - era apenas um meni­no, jovem demais para ser faraó. Hatshepsut foi indicada como Re­gente, e depois de alguns anos coroou-se rainha - um faraó femini­no (que chegou a ordenar que suas imagens esculpidas a represen­tassem com uma barba falsa). Como se pode imaginar, foi nessas circunstâncias que a inimizade entre o filho do rei e o filho adotado da rainha se criou e intensificou-se.

  Finalmente, em 1482 a.C., Hatshepsut morreu (ou foi assassina­da), e o filho da concubina assumiu o trono como Tutmés III. Não perdeu tempo em partir para conquistas estrangeiras (alguns estu­diosos se referem a ele como o "Napoleão do Egito antigo") e opri­mir os israelitas. "E foi naqueles dias que cresceu Moisés e foi ter com seus irmãos e viu suas pesadas tarefas". Ao matar um feitor egípcio, deu ao rei uma desculpa para decretar sua morte. "E Moisés fugiu da presença do faraó e deteve-se na terra dos midianitas", na península do Sinai. Acabou por casar com a filha do sacerdote midianita.

"E foi naqueles dias que morreu o rei do Egito; e suspiraram os Filhos de Israel pelo trabalho e gemeram, e subiram os seus clamo­res a Elohim pelo trabalho. E ouviu Elohim os seus gemidos e lembrou-se Elohim de sua aliança com Abraão, com Isaac e com Jacó. E viu Elohim os Filhos de Israel e levou em conta."

Quase quatrocentos anos se passaram desde que o Senhor fala­ra pela última vez a Jacó "numa visão noturna", até que ele viesse a olhar para os filhos de Jacó/Israel gemendo em seu cativeiro. Que o Elohim mencionado era Iavé se toma claro na narrativa subseqüen­te. Onde estava ele durante esses longos quatro séculos? A Bíblia não diz; mas é uma questão a ser ponderada.                                                                                                                                ­
  Seja como for, era chegado o momento para uma ação dramáti­ca. Como a narrativa bíblica deixa claro, essa corrente de novos desenvolvimentos foi iniciada pela morte do faraó "depois de um longo tempo" de reinado. Dos registros egípcios consta que Tutmés li, que ordenara a morte de Moisés, faleceu em 1450 a.C. Seu sucessor ao trono, Amenhotep II, era um governante fraco, que teve problemas para manter o Egito unido; com sua ascensão ao trono, a sen­tença de morte contra Moisés havia expirado.

  Foi então que Iavé chamou Moisés do interior da Sarça Ardente, dizendo que Ele decidira" descer e salvar" os israelitas de seu jugo no Egito e liderá-los de volta à Terra Prometida, e dizendo a Moisés que ele fora escolhido para ser o embaixador divino para conquistar a liberdade do povo perante o faraó e liderar os israelitas em seu Êxodo para fora do Egito.

No capítulo 3 do Êxodo ficamos sabendo que isso aconteceu quando Moisés estava pastoreando os rebanhos do sogro, "condu­ziu o rebanho para trás do deserto, veio ao monte dos Elohim, em Horeb" e viu lá o espinheiro queimando sem se consumir; aproxi­mou-se então para verificar aquele fato incrível.

A narrativa bíblica se refere ao "Monte dos Elohim" como se fos­se um local conhecido; o incomum do evento não foi que Moisés tenha levado para lá o rebanho, nem que lá houvesse espinheiros como a sarça. O aspecto excepcional foi que o espinheiro estivesse queimando sem se consumir!

Foi apenas o primeiro de uma série de impressionantes atos má­gicos que o Senhor empregou para convencer Moisés, os israelitas e o faraó da autenticidade de sua missão e da determinação divina que a motivava. Para esse propósito, Iavé concedeu a Moisés três atos mágicos: seu cajado podia virar um cobra, depois voltar a ser cajado; sua mão podia ser leprosa e voltar a ser saudável; e ele po­dia derramar água do Nilo no solo e este continuava seco. "As pes­soas que desejavam sua morte estão todas mortas", disse Iavé a Moisés; não temas; enfrenta o novo faraó e realiza as mágicas que concedi, e dize a ele que os israelitas devem ir livres para adorar seu Deus no deserto. Como auxiliar, Iavé indicou Aarão, irmão de Moisés, para o acompanhar.

No primeiro encontro com o faraó, o rei não se deixou conven­cer. "Quem é Iavé para que eu atenda seu chamado e liberte os israelitas? Não conheço Iavé e também não libertarei os israelitas." E em vez de libertar os israelitas, dobrou e triplicou sua cota de tijo­los. Quando as mágicas com o cajado não impressionaram o faraó, Moisés foi instruído pelo Senhor a começar a série de pragas - "golpes", se formos traduzir literalmente a palavra hebraica -, que au­mentaram em severidade quando o rei a princípio se recusou a libertar os israelitas; depois vacilou, depois concordou e mudou de idéia. Dez ao todo, foram desde a transformação das águas do Nilo em sangue por uma semana, passando pela infestação do rio e lagos com sapos; infestação de percevejos nas pessoas e pestes no gado; devastação por granizo, enxofre e gafanhotos; e uma escuridão que durou três dias. Quando nada disso conseguiu a liberdade dos israelitas, quando todas as "maravilhas de Iavé" falharam, veio o último e decisivo golpe: todos os primogênitos do Egito, homens e gado, foram exterminados "quando Iavé passou pela terra do Egito. Mas as casas dos israelitas, marcadas com sangue nas portas, foram poupadas. Naquela mesma noite, o faraó os deixou sair da terra do Egito; desde então esse evento é comemorado até hoje pelos judeus como a Pesach, a Páscoa Hebraica. Aconteceu na noite do décimo quarto dia do mês de Nissan, quando Moisés tinha oitenta anos de idade - em 1433 a.C. segundo nossos cálculos.

O Êxodo do Egito se iniciou - porém não foi o final dos proble­mas com o faraó. Quando os israelitas alcançaram a orla do deserto, onde o conjunto de lagos formava uma barreira aquática além das fortificações egípcias, o faraó concluiu que os fugitivos estavam en­curralados e enviou carruagens rápidas para capturá-los. Foi então que Iavé chamou um anjo: "E moveu-se o anjo de Elohim diante do acampamento de Israel", colocou a si mesmo e um pilar de nuvens escuras entre os israelitas e os perseguidores egípcios, para separar os acampamentos. E durante aquela noite, "Iavé retirou o mar, com um forte vento oriental, a noite toda, e fez do mar terra seca, e foram divididas as águas. E entraram os Filhos de Israel no meio do mar, no seco".

De manhã cedo os egípcios tentaram seguir os israelitas através das águas divididas, mas assim que tentaram isso, a muralha de água os engolfou e eles pereceram.
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Só depois desse evento - artística e vividamente recriado por Cecil B. DeMille no filme épico Os Dez Mandamentos - é que os Filhos de Israel se tomaram livres para prosseguir através do deser­to e suas vicissitudes até a ponta da península do Sinai - o tempo todo guiados pelo Pilar Divino, que era uma nuvem escura durante o dia e uma chama brilhante à noite. Água e comida foram milagro­samente providenciadas, e ainda havia uma guerra com inimigos amalecitas. Finalmente, "no terceiro mês", chegaram ao deserto do Sinai e "acampou ali Israel em frente ao monte".

Haviam chegado ao destino predeterminado: o "Monte dos Elohim". A maior de todas as teofanias estava a ponto de começar.
Houve preparações e estágios nesse Encontro Divino memorá­vel e único, e um preço a pagar por suas testemunhas escolhidas, que começaram com "Moisés subiu a Elohim" e "chamou-o Iavé do monte", para ouvir as condições para a Teofania e suas conseqüên­cias. Moisés recebeu instruções para repetir aos Filhos de Israel as palavras exatas do Senhor.


Agora, se ouvirdes atentamente minha voz
e guardardes minha Aliança,
sereis para Mim o tesouro de todos os povos,
porque toda a Terra é minha.
E vós sereis para mim um reino de sacerdotes
e um povo santo.

Antes disso, quando Moisés recebera sua missão no mesmo monte, Iavé afirmara sua intenção de "adotar os Filhos de Israel como seu povo", e em troca "ser Elohim para eles". Agora o Senhor explicava esse "acordo" envolvendo a Teofania - um evento único pelo qual os israelitas se tomariam um Povo Eleito, consagrado a Deus.

"E veio Moisés, chamou os anciãos do povo e expôs diante de­les todas estas palavras que lhe ordenara Iavé. E respondeu todo o povo conjuntamente, dizendo: tudo o que falou Iavé, faremos. E Moisés levou as palavras do povo a Iavé."

Tendo recebido essa aceitação, "Iavé disse a Moisés: Eis que ve­nho a ti na espessura da nuvem, para que ouça o povo enquanto Eu falo contigo, e também em ti crerão para sempre". E o Senhor orde­nou a Moisés que santificasse o povo e o aprontasse para dali a três dias, informando-os que "no terceiro dia descerá Iavé aos olhos de todo o povo sobre o monte Sinai".

A aterrissagem, conforme Iavé indicou a Moisés, iria criar um perigo para todos que se aproximassem muito. Disse a Moisés: "Mar­carás limites ao povo em redor" do monte, para que mantivessem distância, dizendo a eles que não ousassem subir, ou mesmo tocar os limites do monte, pois "todo aquele que tocar o monte certamen­te será morto".

Quando essas instruções foram seguidas, "foi no terceiro dia, ao raiar da manhã" que a prometida Aterrissagem de Iavé sobre o monte dos Elohim começou. Foi envolta em fumaça e fogo: "E houve relâmpagos e trovões e nuvens pesadas por todo o monte, e o som de shofar muito forte; e estremeceu todo o povo que estava no acampa­mento" .

Quando começou a descida do Senhor Iavé, "Moisés levou o povo do acampamento ao encontro de Elohim, e ficaram ao pé do monte", no limite que Moisés marcara ao redor do monte.

E o monte Sinai fumegava todo
porque apareceu sobre ele Iavé em fogo.
E subiu sua fumaça como fumo de fornalha,
e estremeceu muito todo o monte.
E o som do shofar foi andando e aumentando muito.
Moisés falava, e Elohim lhe respondia em voz alta.

(O termo shofar, associado nesse texto com os sons que emanavam do monte, é em geral traduzido como "trombeta". Literalmen­te, entretanto, significa "amplificador" - um dispositivo, acredita­mos, para que a multidão israelita, ao pé da montanha, escutasse a voz de Iavé e sua conversa com Moisés.)

Assim procedeu Iavé, à vista de todas as pessoas - 600 mil delas - "E desceu Iavé sobre o monte Sinai, no cume do monte, e chamou Iavé a Moisés, ao cume do monte, e subiu Moisés."

Então, do alto do monte, do interior da densa fumaça, "falou Elohim todas essas palavras: "pronunciando em seguida os Dez Mandamentos - a essência da fé judaica, um guia de justiça social e moralidade humana: um sumário da Aliança entre o Homem e Deus, todos os ensinamentos divinos expressos de modo sucinto.

Os primeiros três Mandamentos estabelecem o monoteísmo, pro­clamam Iavé como o Elohim de Israel, Deus único, e proibia a fabricação de ídolos e sua adoração:

I -       Eu sou Iavé, teu Elohim, que te tirei da terra
do Egito, da casa dos escravos.

II -     Não terás outros deuses além de mim; não farás para
ti imagem de escultura, figura alguma do
que há em cima, nos céus e abaixo, na terra, e
nas águas debaixo da terra. Não te prostrarás
diante delas nem as servirás...

III -    Não proferirás o nome de Iavé, teu Elohim, em vão.

A seguir veio um Mandamento cuja intenção é exprimir a santidade do Povo de Israel e sua aceitação de um padrão de vida mais elevado, ao guardar um dia da semana para ser o Sabá - um dia devotado à contemplação e ao descanso, aplicado da mesma forma a todas as pessoas, tanto humanos como seus animais:

IV -    Seis dias trabalharás e farás toda tua obra; e no
sétimo dia, o sábado de Iavé, teu Elohim, não
farás nenhuma obra tu, teu filho, teu servo, tua
serva, teu animal e o peregrino que estiver em tuas cidades.

O quinto Mandamento afirmativo estabelece a unidade da fa­mília assim como a unidade humana, liderada pelo patriarca e pela matriarca:

V -    Honrarás teu pai e tua mãe, para que se prolonguem
teus dias sobre a Terra que Iavé, teu Elohim, te dá.

A seguir vêm os cinco Mandamentos negativos, que estabelecem o código moral e social entre o Homem e o Homem, em vez de, como no início, entre o Homem e Deus.

VI -   Não matarás.

VII -   Não cometerás adultério.

VIII  - Não furtarás.

IX Não darás falso testemunho contra teu próximo.

X -   Não cobiçarás a casa do teu próximo; não cobiçarás a
mulher do teu próximo nem seu servo, sua serva, seu
boi, seu asno e tudo que seja do teu próximo.

Muito foi dito, em livros incontáveis, sobre as Leis de Hamurábi, o rei babilônio do século XVIII a.C., que ele gravou numa estela (atualmente no Museu do Louvre), sobre a qual o monarca é mos­trado recebendo as leis do deus Shamash. Mas se tratava apenas de uma lista de crimes e castigos correspondentes. Mil anos antes de Hamurábi, os reis sumérios estabeleceram leis de justiça social ­não tomarás o jumento de uma viúva, decretaram eles, nem adiarás o salário de um trabalhador diarista (para citar dois exemplos). Po­rém nunca antes (e talvez nem depois) dez mandamentos afirma­ram, com tanta clareza, todos os essenciais que um povo íntegro e qualquer ser humano possam usar para se guiar!

Escutar a retumbante voz divina vinda do alto do monte deve ter sido uma experiência impressionante. De fato, lemos que "todas as pessoas viam trovões, as tochas e o monte fumegando, escutaram o som do shofar; e viu o povo e tremeu, e ficou de longe, e disseram a Moisés: Fala tu conosco e ouviremos, e não fale conosco Elohim, para que não morramos". Tendo pedido a Moisés para ser o porta­voz das palavras divinas, em vez de ouvi-Ias diretamente, "o povo afastou-se; e Moisés caminhou em direção às trevas espessas, onde estava a glória de Deus".

E disse Iavé a Moisés:
"Sobe a mim, ao monte, e fica ali;
e dar-te-ei as tábuas de pedra,
a lei e os mandamentos que escrevi
para os ensinar".

Assim (Êxodo, capítulo 24), é a primeira menção às Tábuas da Lei e a asserção de que foram escritas pelo próprio Iavé. Isso é reafir­mado no capítulo 31, em que o número de tábuas é declarado (duas), "tábuas de pedra, escritas com o dedo de Elohim"; outra vez no ca­pítulo 32: "tábuas inscritas em seus dois lados; de ambos os lados estavam inscritas. E as tábuas eram obra de Elohim e a escritura eram as letras de Elohim, gravadas sobre as tábuas". (Isso é reafirmado no Deuteronômio. )

Escritos nas Tábuas estavam os Dez Mandamentos, assim como ordens mais detalhadas para governar o comportamento diário do povo, algumas regras de adoração de Iavé e proibições estritas so­bre a adoração ou mesmo a pronúncia dos deuses dos vizinhos de Israel. Tudo o que o Senhor pretendia dar a Moisés como as Tábuas da Aliança, para ser mantido na Arca da Aliança, que seria construí­da de acordo com especificações detalhadas.

O recebimento das Tábuas foi um evento de significância dura­doura, embutido na memória dos Filhos de Israel e portanto neces­sitando de testemunhas do mais alto grau. Portanto Iavé instruiu a Moisés que viesse receber as Tábuas, acompanhado por seu irmão Aarão, dois filhos de Aarão que eram sacerdotes e setenta anciãos da aldeia. Eles não puderam subir até o alto (apenas Moisés teve permissão para isso), mas o suficiente para "ver o Elohim de Israel". Mesmo então, tudo o que podiam ver era o espaço sob os pés do Senhor, "obra de pura safira, e como a visão dos céus, em sua limpidez". Chegando assim tão perto, eles teriam normalmente per­dido suas vidas; porém daquela vez, tendo-os convidado, "Iavé con­tra os grandes do povo de Israel não estendeu sua mão". Eles não foram abatidos e viveram para comemorar o Encontro Divino e tes­temunhar Moisés subindo para receber as tábuas:

E subiu Moisés ao monte,
e a nuvem cobriu o monte.
e a glória de Iavé pousou sobre o monte Sinai,
e cobriu-o a nuvem seis dias;
e Ele chamou a Moisés no sétimo dia,
do meio da nuvem...

E entrou Moisés pelo meio da nuvem
e subiu ao monte;
e esteve Moisés no monte por quarenta dias
e quarenta noites.

Desde que as duas tábuas já haviam sido escritas, o longo tem­po que Moisés passou no monte foi usado para instruí-lo sobre a construção do Tabernáculo, o Mishkan ("Residência"), na qual Iavé tomaria sua presença conhecida aos Filhos de Israel. Foi então que, além dos detalhes arquitetônicos dados oralmente, Iavé também mostrou a Moisés o "modelo estrutural da Residência e o modelo de todos os instrumentos". Estes incluíam a Arca da Aliança, o baú de madeira marchetado com ouro, no qual as duas tábuas se­riam guardadas, e no alto da qual os dois Querubins de ouro se­riam colocados; aquilo, explicou o Senhor, seria o Dvir -literal­mente, o Falador - "Falarei de cima do tampo, de entre os dois Querubins" .

Foi também durante esse Encontro Divino no alto do monte que Moisés foi instruído sobre o sacerdócio, nomeando os únicos que podiam aproximar-se do Senhor (além de Moisés) e oficiar no Tabernáculo: Aarão, irmão de Moisés, e seus quatro filhos. Suas ves­tes foram elaboradamente prescritas, em todos os detalhes, incluindo o Peitoral do Julgamento, contendo doze pedras preciosas inscritas com os nomes das tribos de Israel. O Peitoral também era usa­do para manter no lugar - exatamente sobre o coração do sacerdo­te - o Urim e o Tumim. Embora o significado exato dos termos tenha iludido os estudiosos, fica claro de outras referências bíblicas (Números 27:21) que serviam como um painel de oráculo para ob­ter um Sim ou um Não do Senhor como resposta a uma pergunta. A pergunta que a pessoa queria fazer era colocada perante o Senhor pelo sacerdote "para pedir a decisão do Urim perante Iavé, e de­pois agir de acordo". Quando o rei Saul (I Samuel 28:6) procurou a orientação de lavé sobre entrar ou não em guerra contra os filisteus, ele perguntou a Iavé em sonhos, pelo Urim, e por intermédio dos profetas" .

Enquanto Moisés estava em presença do Senhor, lá no acampamento sua longa ausência foi interpretada como má notícia, e o fato de ele não aparecer depois de algumas semanas foi uma indicação de que talvez ele tivesse perecido ao encontrar Deus; "quem já ouviu a voz de um Elohim vivo falando do interior do fogo e ficou vivo?". Então, assim que "o povo viu que Moisés demorava em descer do monte, dirigiu-se a Aarão e disse-lhe: "Levanta-te, faze-nos deuses que andem diante de nós porque a esse Moisés, o homem que nos fez subir da terra do Egito, não sabemos o que aconteceu". Então Aarão, procurando invocar Iavé, construiu um altar para Iavé e colocou perante este a escultura de um bezerro folheada a ouro.

Alertado por Iavé, "Moisés desceu do monte, e as duas Tábuas da Aliança estavam em suas mãos". Quando se aproximou do acampamento e viu o bezerro de ouro, ficou furioso "e jogou de suas mãos as tábuas e quebrou-as aos pés "do monte; e tomou o bezerro que fizeram, queimou-o no fogo e o moeu até que se desmanchou em pó e o espalhou sobre a superfície das águas". Procurando os instigadores da abominação e tendo-os passado a fio de espada, Moisés implorou para que o Senhor não abandonasse os Filhos de Israel. Que se o pecado fosse grande demais, que riscasse a ele, Moisés, do "livro que escrevestes". Mas o Senhor não se aplacou completamente, mantendo aberta a opção de retribuição posterior. "Aquele que pecou contra Mim, riscá-lo-ei do Meu livro."

"E escutou o povo essa coisa ruim e entristeceu-se." O próprio Moisés, sem forças e desesperado, apanhou sua tenda e a montou longe do acampamento. "E quando Moisés saía da tenda, levanta­va-se todo o povo e punha-se de pé, cada um à entrada da própria tenda, e olhava Moisés por trás, até ele entrar de novo em sua ten­da." Um sentido de missão fracassada pairava nele e em todos ao redor.

Mas então um milagre aconteceu; a compaixão de Iavé se tor­nou manifesta:

E ao entrar Moisés na tenda,
a coluna da nuvem descia
parava à entrada da tenda
e uma voz falava com Moisés.
E todo o povo via a coluna de nuvens
à entrada da tenda, e todo o povo se levantava
e se prostrava à entrada de sua tenda.
E Iavé falava com Moisés face a face,
como um homem falando com seu companheiro.

Quando o Senhor falou a Moisés do interior da Sarça Ardente, "escondeu Moisés sua face porque teve medo de olhar para o Elohim". Os anciãos e os nobres que haviam acompanhado Moisés para o alto do monte foram apenas até metade e conseguiram ver somente o pedestal do Senhor - mesmo assim foi espantoso que não tenham morrido. Ao final dos quarenta anos de andanças, os israelitas estavam prontos para entrar em Canaã, e Moisés em sua revisão do Êxodo e da grande Teofania, não deixou de reforçar que "no dia em que Iavé falou a vós em Horeb, do meio do fogo, não vistes rosto de nenhum tipo":

E vós chegastes e estivestes ao pé do monte;
e o monte ardia em fogo até o meio do céu,
e havia uma nuvem negra e um denso nevoeiro.
E vos falou Iavé do meio do fogo;
som de palavras ouvistes,
porém rosto algum não vistes ­-
somente uma voz.
(Deuteronômio 4:11-15)

Isso, obviamente, era um elemento essencial no "que fazer e o que não fazer" nos encontros com Iavé. Porém naquele instante Deus falava com Moisés "face a face" - mas ainda no interior do pilar de nuvens -, Moisés aproveitou o momento para procurar uma rea­firmação em seu papel de líder escolhido pelo Senhor. Pediu para ver-Lhe o rosto.

      Respondendo enigmaticamente, Iavé disse: "Não poderás ver meu rosto, pois não poderás ver-me o homem e viver".
      Moisés pediu outra vez: "Rogo-te, mostra-me Tua glória!".
            Iavé disse: "Eis aqui um lugar junto a Mim, e te porás de pé sobre o penhasco e te protegerei à Minha maneira até que eu tenha passado; retirarei, depois, a Minha glória e verás minhas costas, e o meu rosto não será visto".

A palavra hebraica que forneceu o termo "glória" nas tradu­ções, em todos os locais acima, é Kabod; deriva da raiz KBD, cujo significado seminal é "peso, pesado". Literalmente, então, Kabod sig­nificaria "o peso, a coisa pesada". Que uma "coisa", um objeto físico, e não urna glória abstrata seja o significado quando aplicada a Iavé, fica claro desde a primeira menção na Bíblia, quando os israe­lenses "contemplam o Kabod de Iavé", envolvido pela nuvem sempre presente, depois que o Senhor concedeu o miraculoso maná para a alimentação diária. No Êxodo 24:16, lemos que o Kabod de Iavé pousou sobre o monte Sinai e cobriu-o de nuvem por seis dias", até que, no sétimo dia, Ele chamou Moisés para subir; o verso 17 acrescenta, para aqueles que não estavam presentes, que" a aparência do Kabod de Iavé era um fogo consumidor no alto do monte, aos olhos dos Filhos de Israel".

Indicando uma manifestação de Iavé, o termo Kabod também é usado nos outros cinco livros do Pentateuco - Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Em todos os casos, o chamado "Kabod de Iavé" é algo concreto que o povo pode enxergar - embora esteja continuamente envolto numa nuvem, como se estivesse num nevoeiro escuro.

O termo é repetidamente empregado pelo profeta Ezequiel em suas descrições da Carruagem Divina (o pedestal é descrito de for­ma quase idêntica aos versos que dizem respeito ao que os anciãos de Israel viram na metade da subida do monte Sinai. A Carruagem, narra Ezequiel, estava envolta num brilho radiante; aquela, disse ele, foi a aparição do "Kabod de Iavé". Nessa primeira missão profé­tica no exílio, estando à margem do rio Khabur, o Senhor dirigiu-se a Ezequiel num vale, onde "o Kabod de Iavé encontrava-se parado, um Kabod como jamais se vira antes". Quando Ezequiel foi carrega­do para o alto, a fim de ver Jerusalém, "visões divinas", novamente ele vê "o Kabod do Deus de Israel, como aquele que vi no vale". E quando a visita em visão terminou, o "Kabod de Iavé" parou sobre o Querubim, e o Querubim ergueu suas asas e "ergueu-se da terra", levando consigo o Kabod.

Ezequiel escreveu que o Kabod possuía uma luminosidade que brilhava através da nuvem que o escondia, uma espécie de radia­ção. Esse detalhe fornece uma idéia nova em face do Encontro Imediato de Moisés com o Senhor Iavé e seu Kabod. Foi depois que Iavé controlou sua raiva e disse a Moisés para fazer duas novas tábuas de pedra, idênticas às duas primeiras que Moisés quebrara, e depois subir outra vez ao monte Sinai para receber os Dez Mandamentos e outras instruções. Dessa vez, entretanto, as palavras foram ditadas a Moisés pelo Senhor. De novo ele passou quarenta dias e quarenta noites no topo do monte; e Iavé "ficou com ele lá" - não falando a distância, mediante um Amplificador, "mas ficando com ele".

E ao descer do monte Sinai,
estando as duas tábuas da Aliança
nas mãos de Moisés em sua descida do monte,
Moisés não sabia que resplandecia a pele de seu rosto
por (Deus) ter falado com ele.

E Aarão e todos os Filhos de Israel,
ao olhar para Moisés, viram que resplandecia
a pele de seu rosto;
e temeram aproximar-se dele.

Então "Moisés pôs um véu sobre o seu rosto. E ao vir Moisés diante de Iavé para falar com Ele, tirava o véu até sair; e ao sair, dizia aos Filhos de Israel o que lhe fora ordenado. E viram os Filhos de Israel o rosto de Moisés e que resplandecia a pele do rosto de Moisés, e tomava a pôr Moisés o véu sobre o rosto até entrar para falar" com o Senhor.

Fica evidente nesse trecho que Moisés, quando estava na proxi­midade do Kabod, ficava exposto a algum tipo de radiação que afetava sua pele. O que era exatamente a fonte material dessa radiação não sabemos, mas sabemos que os Anunnaki podiam e (costumavam) empregar radiação para uma variedade de propósitos. Lemos sobre isso na história da Descida de Inana ao Mundo Inferior, quando ela foi revivida com uma radiação pulsante (talvez não muito diferente daquela representada numa placa de cerâmica da Mesopotâ­mia, na qual o paciente, protegido por uma máscara, é tratado com radiação. Lemos a respeito disso, usado como raio mor­tal, na narrativa de Gilgamesh, quando ele tentou entrara na Zona Proibida na península do Sinai, e os guardiões dirigiram o raio para ele. Lemos na História de Zu o que aconteceu quando ele removeu a Tábua dos Destinos do Centro de Controle de Missão em Nippur: "A ausência de ação espalhou-se, o silêncio dominou; o brilho do santuário fora levado".

Um objeto físico, um que se podia mover, parar sobre uma mon­tanha, elevar-se e decolar, envolto numa nuvem de fumaça escura, emitindo um brilho - é assim que a Bíblia descreve o Kabod - literalmente. O "objeto pesado" - no qual Iavé se movia. Tudo isso descreve o que agora chamamos, em nossa ignorância ou descren­ça, de Ovni - Objeto Voador Não-Identificado.

A esse respeito, será útil traçar as raízes acadianas e sumérias das quais deriva a palavra hebraica. Enquanto o acadiano Kabbuttu significa "peso, pesado", o termo de sonoridade parecida, Kabdu (si­milar ao hebraico Kabod) significava "segurador de asa" - algo ao qual as asas estão presas, ou talvez para onde elas pudessem se re­trair. O termo sumério KI.BAD.DU significava "pairar para um local distante". Num caso, no qual o trono da divindade é descrito, o adjetivo HUSH - "brilho vermelho" é usado para descrever o obje­to que "paira longe".

Só podemos especular se o Kabod parecia com o "Divino Pássa­ro Preto" de Ninurta, os veículos bulbosos sem asas (ou de asas retráteis) representados nos murais de Tell Ghassul  - ou como no objeto em forma de foguete que Gilgamesh viu decolar do Local de Aterrissagem no Líbano (uma subida que, lida em sentido inverso, é quase uma descrição como as que constam do capítulo 19 do Êxodo).

Poderia ter semelhança com um ônibus espacial ame­ricano? Formulamos tal pergunta em virtude da similaridade com uma pequena figura, descoberta alguns anos atrás num local na Turquia (a antiga Tuspa). Feita de argila, mostra uma máquina voa­dora que combina aspectos de um moderno ônibus espacial (incluindo os tubos de descarga dos jatos), com a cabine de um avião para uma só pessoa. A imagem parcialmente danificada do "piloto", sentado na cabine, assim como a totalidade da pequena escultura, lembra representações mesoamericanas de deuses barbados acompanhados por objetos em forma de foguetes. O Museu Arqueológico de Istambul, que guarda essa peça, não a colocou à mostra; a desculpa oficial é que sua "autentici­dade" ainda não foi estabelecida. Se for autêntica, não servirá ape­nas para ilustrar Ovni, mas também para lançar uma luz na ligação entre o Oriente Médio e as Américas.

Depois que Moisés morreu e Josué foi escolhido pelo Senhor para liderar os israelitas, estes avançaram ao longo da margem orien­tal do rio Jordão e o atravessaram junto a Jericó; em quase todo o trajeto foram ajudados por milagres divinos. Um deles, que nossos estudiosos e cientistas acham difícil de aceitar é a história da bata­lha no vale de Gibeão quando - segundo o Livro de Josué, capítulo 10 - o Sol e a Lua pararam por um dia:

E o Sol parou e a Lua ficou
até que o povo se vingou dos inimigos.
De fato, está tudo escrito no Livro de Jashar:
O Sol parou no meio dos céus
e não se apressou para pôr-se
durante um dia inteiro.

O que poderia ter causado a parada do movimento de rotação da Terra, de forma que o Sol, erguendo-se no leste e a Lua se pondo no oeste pareceram parar pela maior parte de um dia (de 24 horas)? Para aqueles que levam ao pé da letra sua fé na Bíblia foi apenas mais uma intervenção divina a favor do Povo Escolhido de Deus. No outro extremo ficam aqueles que acreditam ser toda a história uma lenda, um mito. Entre esses ficam aqueles que, como no caso das pragas do Egito e da separação das águas no mar Vermelho (associando-os aos eventos com a explosão do vulcão na ilha de Thera/Santini no Mediterrâneo), procuram um fenômeno ou uma calamidade natural como causa. Alguns sugeriram um eclipse extraordinariamente longo, contudo a Bíblia afirma que havia luz no dia prolongado, e não que o sol tenha escurecido. Como o longo dia iniciou-se com "grandes pedras" que caíam do céu, alguns sugeriram como explicação a passagem próxima de um grande cometa (Immanuel Velikovsky, em Mundos de Colísão, pos­tulou que tal cometa fora apanhado na órbita solar e tornou-se o planeta Vênus).

Tanto textos sumérios quanto os antigos da Babilônia falam de revoluções celestes observadas nos céus e que exigiam encantamen­tos contra os "demônios" celestes. Tratados como "textos de ma­gia" (por exemplo, Charles Fossey, Textos Mágicos; Morris Jastrow, As Religiões dos Babilônios e Assírios; e Eric Ebeling, Tod und Leben) descrevem um "sete ruim, nascido nos vastos céus, desconhecido no céu, desconhecido na Terra" que "atacou Sin e Shamash" – a Lua e o Sol, preocupando ao mesmo tempo Ishtar (Vênus) e Adad (Mercúrio). Antes de 1994 a possibilidade de que sete cometas "ata­cassem" nossa região celeste de uma vez era tão remota que o texto parecia mais uma fantasia do que uma realidade testemunhada por astrônomos da Mesopotâmia. Quando, porém, em julho de 1994 o cometa Shoemaker-Levy se quebrou em 21 pedaços, que caíram em Júpiter em rápida sucessão - à vista de observadores da Terra -, os textos mesopotâmicos assumiram uma realidade impressionante.

Teria um cometa se quebrado em sete pedaços e causado celeuma em nossa vizinhança celeste, caindo aqui e influenciando a rotação do planeta? Ou, como fez Alfred Jeremias (O Velho Testamento à Luz do Antigo Oriente Médio), ao reproduzir o que ele chamou de "um importante texto astral mitológico", aventando a possibilidade de alinhamento dos sete planetas que, com o resultado da enorme força gravitacional, afetou o Sol e a Lua da perspectiva da Terra ­fazendo com que o Sol e a Lua parecessem ficar parados, todavia a realidade era que a Terra sofrera uma alteração temporária em suas rotações.

Quaisquer que sejam as explicações, existe corroboração da ocor­rência em si no outro lado do mundo. Tanto na América Central como na América do Sul, "lendas" - memórias coletivas - persis­tiram a respeito de uma longa noite com cerca de vinte horas de duração, durante as quais o Sol não se ergueu. Nossas investigações (num relato completo em Os Reinos Perdidos) concluíram que essa longa noite ocorreu nas Américas por volta de 1400 a.C. - a mes­ma época em que o Sol não se pôs em Canaã por um período de tempo similar. Desde que um fenômeno seria o oposto do outro, a mesma causa - qualquer que fosse - que teria feito o Sol parar em Canaã teria impedido que ele nascesse do outro lado da Terra, nas Américas.

Lembranças da América Central e do Sul que validam a história do Dia em que a Terra Parou - não o filme, mas a história bíblica. Não precisamos nem de ficção científica nem de fantasias para acei­tar a história da maior teofania já ocorrida como o fato que foi.

Fonte: Cap. 12 - Encontros Divinos - Zecharia Sitchin