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sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

LAMPIÃO: A profecia de Antônio Conselheiro

 Raul Meneleu
Virgulino Ferreira, o maior bandoleiro nordestino, e porque não dizer, guerrilheiro e estrategista, onde até mesmo guerrilheiros da história brasileira moderna, digamos assim, incentivaram seus comandados a lerem sobre Lampião, como foi o caso do líder guerrilheiro Carlos Marighella, que lutou contra a ditadura implantada em 1964 no Brasil. (Marighella - O Guerrilheiro que Incendiou o Mundo - Mário Magalhães - pág. 396)

Um dos livros indicados por Joaquim Câmara Ferreira, líder dirigente do Partido Comunista Brasileiro, ao famoso guerrilheiro Marighella, era o livro "As táticas de guerra dos cangaceiros" de Christina Matta Machado. 

Marighella admirava o homem que tinha lutado em seis estados nordestinos e que as táticas de colunas móveis, elaboradas por Lampião, tinha resistido por quase 20 anos."

"Temos que ser como Lampião", repetia o guerrilheiro.

Até mesmo a organização de esquerda Internacional Socialista, tentou por sobre Lampião a ótica da guerrilha. (A Era dos Extremos pág. 85 - Eric Hobsbawn)

Virgulino Ferreira, o Lampião, foi visto muito antes de nascer, pelos profetas que pregavam no sertão. Seu destino na história já estava traçado. Lampião foi visto em sonhos por Antônio Conselheiro, onde evocou uma profecia anunciando para depois de sua morte a vinda de um guerreiro que se caracterizaria pela sua extrema piedade, mas também pelo furor e sucesso, e que zombaria das forças governamentais.

Em seu livro "Lampião, senhor do sertão : vidas e mortes de um cangaceiro", Elise Grunspan-Jasmin registra na pág. 76 que o major Optato Gueiros, tinha contratado, na Bahia, um velho de mais de 60 anos, muito alto e forte ainda, que andou algum tempo com as Forças Volantes, na região de Canudos, o qual tinha sido um dos generais de Antônio Conselheiro, conhecido por Pedrão. Este usou a "mesma tática de Lampião contra as tropas atacantes, dai a demora da conquista do bastião do Conselheiro. [...]" 

O mesmo fanático de Canudos citou uma "profecia" de António Conselheiro, que julgava ele, referir-se a Lampião, a qual declarava que dentro de 50 anos, haveria de surgir nos sertões dos Estados do Nordeste, um homem que, apesar de ser religioso, seria cangaceiro e daria o que fazer a muitos governos.

Para o ex-jagunço de Antônio Conselheiro,Pedrão, não tinha dúvida de que essa profecia se referia a Lampião, porque "justamente ele encarnava a figura do cangaceiro piedoso, cristão, respeitando a tradição católica". 

E realmente Lampião em qualquer lugar que estivesse, no mato, tirava do bornal a imagem. improvisava um altar e passava a rezar e em algumas vezes, até o dia inteiro, no exercício piedoso de suas orações. Por isso concluiu o jagunço Pedrão: "... é que, o cangaceiro religioso de que falava o Conselheiro. só poderia ser Lampião"

E foi assim que nasceu Lampião, debaixo de numerosas profecias ligadas ao seu nascimento que anunciaram sua vida de maldades, bondades, de religiosidades e de seu estranho destino. Em versos de cordel citados nas feiras, o destino de Lampião era o de ser bandido e que até mesmo a parteira que "o pegou" tinha profetizado que êle seria lembrado por seus feitos, por gerações e gerações.