LAMPIÃO E O CRUZAMENTO DE INFORMAÇÕES
Por Raul Meneleu
O cruzamento de informações às vezes me leva a leituras que não tem nada a ver com o que pesquiso. No final desse alfarrábio sob o título O Castiçal, está a matéria de Leonardo Mota, que não tem nada a ver com o que estava vendo. Resolvi reler (é a terceira vez) o famoso livro do Padre Frederico Bezerra Maciel "LAMPIÃO, SEU TEMPO E SEU REINADO" - agora o fazendo, buscando maiores informações sobre eventos relatados.
Logo no início, na introdução, deparo com um fato registrado pelo autor, a respeito do encontro casual que teve com um ex-cangaceiro de Lampião, na cidade do Recife, capital de Pernambuco. Ele nos conta através de seu livro que em dias não precisos do ano de 1969, em determinada fila de parada de ônibus do Recife, ele encontrou "um caboclo alto, setentão, desempenado, chapéu de massa de copa achatada, abas largas e longo barbicacho, não apresilhado ao queixo, mas solto sobre o peito, terno de brim cinza mal passado, alpercatas de rabicho, sobraçando surrada pasta de couro envernizado de preto. Era ele homem despachado e muito falante. Principalmente de coisas do sertão. Chamava-se José Pereira da Cunha.
De sua boca, saíam, de espontâneo e aos borbotões, tipos e costumes sertanejos. Desfilavam coronéis e políticos, oficiais de polícia e cangaceiros famosos, capangas e rebeldes, todos explodindo em questões, decididas em emboscadas e tiroteios, vinganças e mortes: Sinhô Pereira, Lampião, Zé Pereira de Princesa, Capitão Zé Caetano, Major Teófanes, a briga entre Pereiras e Carvalhos, a Coluna Prestes... De entremeio, a vida e os cenários das localidades abertas nas vastidões das catingas varzeadas, ou demorando assentadas nas serras verdejantes: Vila Bela, Princesa, Triunfo, Água Branca... A fim de entrevistá-lo, convidei-o a passar dias inteiros comigo, em minha residência. Não foi fácil a entrevista, dado o enfraquecimento de sua memória, confundindo datas, misturando fatos.
Em resumo, a sua biografia:
1890. 10 de agosto, nascimento na vila de São Francisco, hoje Pajeú, no município Vila Bela (Serra Talhada). Primo legítimo do ten.cel. reformado Manuel Neto, seu muito amigo, cuja relação de parentesco demonstrou.
1911. 3 de fevereiro, durante um forró, matou, em própria defesa, um rival seu, numa questão de amor. Preso, cumpriu sentença.
1918. Durante dois anos esteve como empregado e cabra de Zé Saturnino, seu parente pelo lado paterno.
1920. Tomou parte, em março, na terrível batalha da Lagoa da Lage, contra Antônio Matilde. Desavindo-se com Zé Saturnino, entrou no grupo de cangaço de Sinhô Pereira, também seu parente pelo lado materno. Participou, então, de vários tiroteios, sendo seu batismo de fogo na vila de São Francisco.
1922. Quando Sinhô Pereira, tendo de abandonar o cangaço, passou o grupo a Lampião, trocou o nome para José Roberto e ficou com o novo chefe, que lhe impôs o apelido de "Ventania", aliás, bem definindo seu espírito volúvel, aventureiro, oportunista. Participou do espetacular assalto à Água Branca, da batalha de Serra Grande...
1926. Em começos de janeiro, deixou o cangaço. Entre 8 e 9 de março, desprecatado caminhava por um trecho de estrada do sertão paraibano, quando foi agarrado pelo destacamento do Capitão Negrão, da Coluna Prestes, e nela forçadamente integrado. Compartilhou das etapas sangrentas de Piancó e Umburanas... e nas catingas do Navio, compartiu dos "açoites danados", com bala, aplicados "por não sei quem", mas, ao depois veio a saber que "era Lampião".
Na travessia do rio São Francisco conseguiu fugir. Passou certo tempo na serra de Triunfo, nos laboros da agricultura. Seguiu para Pilões de Orós, no Ceará, onde trabalhou, como cassaco, na construção de uma estrada de rodagem. Daí, "me danei no oco do mundo", disse ele, sem rota nem documento algum, a pé por miseráveis caminhos e arrastadores, de canoa pelos rios e a nado pelos igarapés, dormindo trepado nas árvores por medo de onças, comendo o que conseguia.
No rio Amazonas pegou um "gaiola" e foi bater em Letícia, no Peru. Até aí já fazia três meses vinha viajando. Como não entendesse a fala (talvez o quíchua) dos viventes que encontrou no lado peruano, voltou imediatamente à Tabatinga, no lado brasileiro, onde em um navio argentino e a troco de um "trabalho de bicho" desceu o Amazonas, indo bater em Rosário, na Argentina. Ali aprendeu a arte da ortopedia. No navio brasileiro "Santarém" embarcou, chegando ao Recife no começo de outubro de 1930.
1930. Vivia, sossegado, trabalhando em uma oficina instalada na Praça Joaquim Nabuco, quando foi surpreendido por soldados que o pegaram a fim de ajudar no ataque ao sublevado Quartel do Dérbi. Através de interessantes peripécias, chegou ao cômico de se autopromover a sargento e, por fim, a ser nomeado investigador de polícia, cargo de que foi logo demitido por estripulias.
1935. Na cabeça de ponte de Afogados, em Recife, defendeu a ordem e a lei, durante o levante comunista.
1940. Até esta data, continuou empregado na mesma oficina, passando daí em diante a trabalhar por conta própria em sua residência, vindo a falecer a 10 de agosto de 1972.
Procurei investigar o que havia de verossímil em tudo isso."
Daí então o Padre Frederico, queria focar sua história somente em Lampião e como dissesse: "deixo esse cangaceiro Ventania, para os pesquisadores tomarem conta e nos diz: "Logo, porém, desisti ante o que, rapidamente, notei: esse cangaceiro representava apenas uma gota d'água no mundo de Lampião. O interessante mesmo era Lampião. Nisso quando, me lembrei de uma grossa pasta de depoimentos e anotações tomados em nove anos vividos no sertão.
Propriamente não começou assim...
Mas, sim, de quando eu tinha doze anos de idade. Daí até os quinze anos, tinha eu lido três vezes "Os Sertões", de Euclides da Cunha. Livro que lastrou, em definitivo, as tendências do meu espírito: estudos históricos, sociais, psicológicos, literários...
De passagem: entre as muitas leituras que, naquela época, fazia na apreciável biblioteca de meu pai, acrescente-se a magnífica coleção da Revista do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco. Outro fator concomitante, de influência decisiva: a figura — fantasma e lenda — de Lampião, sempre pairando ameaçador sobre a cidade de Pesqueira, naqueles tempos boca do sertão. Intrigantes dúvidas assaltavam-me o espírito de adolescente:
— quem seria aquele homem tão valente e poderoso? — herói ou bandido? — por que ficou ele assim? — por que o perseguem? Impressionava-me, vivamente, quando trens ex-pressos passavam, à ilharga da cidade, apitando doidamente, cheios de forças volantes, equipadas, lançando, de corneta, toques de guerra — a Guerra de Lampião!... "
Para encurtar a história e me levando mais a frente, o que me interessou nesse relato foi quando na biografia iniciante do velho cangaceiro Ventania, o Padre foca em 1920 e diz que ele tomou parte, em março, na terrível batalha da Lagoa da Lage, contra Antônio Matilde e PAN! Recebo aquele estalo. Está aí o meu interesse maior! Que batalha da "Lagoa da Lage" era essa?
Vou para o computador e digito "batalha da Lagoa da Lage" e surge uma informação indicando o livro "A derradeira gesta: Lampião e nazarenos guerreando no sertão" de Luitgarde Oliveira Cavalcanti Barros. Abro o livro e leio:
"Como os sertanejos tanto temiam a força do destino e as reviravoltas da vida, Antonio Matilde, que em 1910 se juntara a Casimiro Honório para, em nome da lei, destruir José de Souza, dez anos depois, viúvo, casando-se com uma prima de Virgulino Ferreira, tratara de um irmão deste quando ferido num dos primeiros confrontos com José Saturnino.
Ligado por parentesco ao povo dos Ferreira, Matilde sofreu vexames por parte de uma volante que ia na batida de Sinhô Pereira. Em 1920, agora como um fora da lei, engrossa, com Virgulino e Antonio Ferreira (já residentes em Alagoas) o grupo que volta a Pernambuco para a vingança contra José Saturnino e os Nogueira, que viviam entre o Pajeú e a ribeira do São Domingos. Incendiando as fazendas Serra Vermelha, Lemos e Pedreira, os grupos de Virgulino Ferreira e de Antonio Matilde mataram muito gado de José Saturnino, do cunhado e do sogro, os Nogueira. Saturnino apelou para seu tio - o velho Casimiro Honório, que se deslocou do Navio com a cabroeira, em socorro do sobrinho, na região do Pajeú. Dessa maneira o mais famoso valentão do Navio confrontou-se com os Ferreira impondo-lhes fragorosa derrota no Combate da Lagoa da Lage.
Na ocasião Honório falou aos parentes da tristeza de combater o "Compadre Matilde", antigo companheiro de lutas contra José de Souza, mas se submeteu ao código das obrigações de parentesco, indo em defesa do sobrinho. Nessa batalha aplicou os conhecimentos de guerrilha, atacando ferozmente os oponentes, tendo da luta saído ferido Antonio Matilde, que abandonou o cangaço e se mudou para a Paraíba não mais voltando a Pernambuco.
Esse também foi o último combate de Casimiro Honório, que morreu dois anos depois, em 1922, sem ter o sangue derramado, dormindo eternamente à sombra das catingueiras; o espírito tangendo o gado, o aboio solto no vento, os calos das mãos rugosas se desfazendo no encrespamento das águas do riacho do Navio.
O valente José de Souza teve um fim muito adverso, embora não tenha tombado no campo do combate que consumiu sua juventude, enfrentando Casimiro Honório. Essa história fica para outra hora.
Nesse ínterim enquanto lia partes do livro A DERRADEIRA GESTA para encontrar o Combate da Lagoa da Lage, encontrei um indicativo da autora, ao jornalista e escritor Leonardo Mota, que transcrevo abaixo, mostrando alguns acontecimentos que marcaram a perversidade de Lampião, e que existem contraditórios, embora saibamos que algumas sejam verdadeiras. Se não fosse trágico e cômico ao mesmo tempo, daria boas risadas. Vamos ao artigo de Leota, como o chamava carinhosamente a escritora Rachel de Queiroz
O CASTIÇAL
Leonardo Mota
Quando Lampião ocupou a povoação baiana de Abóboras, teve a fantasia de exigir que lhe trouxessem e a seus cabras onze mulheres amigadas. A localidade não contava com tal número de concubinas, pois graças à ação dos padres no confessionário e no púlpito, vão rareando os amancebados.
Ele satisfez-se com as três ou quatro que lhe foram levadas e condescendeu em deixar em paz as matronas e donzelas. Formou, em seguida, um samba orgíaco, todos os figurantes em trajes paradisíacos, como é de seu gosto.
Os bandidos, sem exceção de um só, ficaram completamente bêbados. A povoação possui algumas dezenas de homens válidos, vigorosos. Se oito ou dez desses homens se dispusessem, já não digo a matar os onze cangaceiros, mas a amarrá-los e prendê-los, isso teria sido conseguido, pois no estado de embriaguez em que os criminosos se encontravam, quase nula reação haveriam de opor. Mas, este nome LAMPIÃO é o espantalho de milhões de almas no sertão nortista!
Pouparam-no em Abóboras. Dias depois, no lugar "Carro Quebrado", ele praticava a infâmia de fuzilar nove homens indefesos que trabalhavam numa estrada de rodagem. E liquidava, a faca, os sete soldados do destacamento de Queimadas, de cujo comércio extorquiu vinte e quatro contos de réis. Nessa última façanha ignóbil, culminou a sua perversidade. Apanhados de surpresa, os soldados se lhe haviam rendido, sem resistência. Lampião meteu-os num cubículo e, ao escurecer, de um em um, os fez retirar para o oitão da cadeia.
— Sabe que vai morrer? Perguntava ao que chegava. O infeliz pedia-lhe compaixão, em súplicas da maior humildade, em rogos da maior angústia. Fingindo-se apiedado, ele ordenava:
— Pois, então, tire as suas perneiras, que eu preciso delas.
Quando o desgraçado se curvava para as desabotoar, traiçoeira punhalada pelas costas o prostrava. E Volta Sêca ia sangrando na garganta os apunhalados. (Um parêntese. Volta Sêca é o benjamim da horda, quase uma criança. Não tem dezoito anos. Verdadeiro criminoso nato, vive carrancudo, alegrando-se apenas quando dá expansão aos instintos sanguinários. Chama a Lampião de "padrinho" e este o considera o seu "menino de con-fiança").
Ainda em Queimadas, após haver dado liberdade aos presos sentenciados, Lampião insultou estupidamente o Juiz togado, a quem chamou de "negro" e obrigou a servir-lhe água e café ... Virgolino nada põe à boca, sem que obrigue a pessoa que lhe apresenta a comida ou bebida a servir-se primeiro.
— Veneno pra eu véve por aí banzando! costuma repetir, precavido contra qualquer traição. No sertão pernambucano, uma mulher pretendeu envenená-lo. Lampião convidou-a a beber da cachaça em primeiro lugar. Ela desculpou-se, alegando que estava purgada. Virgolino tirou do embornal urna colher de prata e meteu-a no copo. A colher enegrece. Lampião percebe a cilada, agarra pelos cabelos a ousada sertaneja, amarra-a ao tronco de uma árvore, embebe-lhe de querosene as vestes e queima-a viva, desfechando-lhe, por fim, um tiro de misericórdia no seio estorricado.
A fruir a sua liberdade, com a sorte inaudita de sempre despistar os que o procuram, gosta ele de fazer picardias aos agentes do Governo. Na noite em que surpreendeu com a sua presença os frequentadores do cinema de Capela, em Sergipe, dirigiu-se, a desoras, ao Posto Telefônico e obrigou o respectivo funcionário a chamar, na Capital, o Chefe de Polícia do Estado. Informaram de Aracaju que, àquela hora, quase madrugada, o mencionado auxiliar do Presidente Manuel Dantas estava a dormir em sua residência, sendo impossível a ligação solicitada. Lampião riu-se e deixou-lhe um recado atrevido e grosseirão, atenuado com o reparo trocista de que a polícia dormia, enquanto ele velava e fazia ronda...
São inumeráveis os fatos em que Virgolino tem patenteado a hediondez da sua alma de monstro. Entre essas práticas infames se inclui a de cortar os beiços dos assassinados, "pra que os defuntos fiquem se rindo"...
O antigo Deputado Federal, Dr. Vergne de Abreu, que esteve no sertão baiano, quando Lampião ali praticava atrocidades inconcebíveis, dá-nos conta, no livro "Os Dramas Dolorosos do Nordeste", de alguns fatos horripilantes, quais sejam o de Virgolino haver castrado quatro rapazes em Tucano, e o de Lampião e quinze cabras haverem, em Baixão do Carolino, cevado sua lubricidade numa virgem, a qual veio a falecer no dia seguinte. O suplício dezesseis vezes sofrido pela infeliz donzela foi testemunhado por sua mãe velhinha, a cujas exortações de piedade para a filha desditosa foram insensíveis os dezesseis demônios.
Outra infâmia de Virgolino foi surrar na fazenda "Fundão" o octogenário Joaquim José dos Santana, em cujas costas o perverso tatuou uma cruz, a punhal, depois de ter cortado os tendões dos pulsos do ancião, para que o mesmo ficasse irremediavelmente aleijado. No sertão baiano, mandou Lampião preparar um ferro, uma marca de gado, com as iniciais V L (Virgolino Lampião) entrelaçadas. Quando uma donzela lhe resistia à luxúria, ele mandava aquecer o ferro. E quando o ferro estava em brasas, ele ferrava nas coxas e nádegas, como reses suas, as virgens sacrificadas, "éguas brabas", no seu repulsivo falar. No interior do município de Curaçá, ele ferrou duas moças que logo lhe não satisfizeram o desejo. Uma delas era noiva e enlouqueceu. Um cabra de Lampião contaminou de mal venéreo a viúva, mãe de ambas.
Dias depois, as três desgraçadas tabaroas chegavam à cidade de Juazeiro. Foi uma cena pungente: a viúva dizia-se desonrada e pedia um remédio pra... morrer; a louca proferia coisas desconexas, em que se baralhavam os nomes do noivo e de Lampião; a outra mocinha, debulhada em lágrimas, chorava o seu infortúnio irreparável.
Do longo capítulo que sobre Lampião escrevi no livro "Sertão Alegre", consta a proeza de Virgolino haver assaltado uma casa em que se festejava um casamento, e obrigado os noivos a dançarem despidos, completamente despidos, na sua presença.
Houve, no Rio, quem duvidasse da autenticidade de semelhante episódio. Objetou-se que, figura legendária, a Lampião deviam ser atribuídas muitas façanhas que jamais lhe passaram pela mente. Entretanto, o fato em apreço é absolutamente verdadeiro. A ele se referiu tambem o poeta popular José Cordeiro, pondo esta confissão na boca de Virgolino:
No distrito Cajazeiras,
Perto do lugar Tatus,
Em um casamentos eu fiz
Os noivos dançarem nus,
E no meio do pagode
Mandei apagar a luz. . .
Eu me encontrava, em agosto do ano passado, nos sertões da Bahia, quando ao "Diário de Notícias", de São Salvador, o Cel. Antônio Soares Monte Santo, fazendeiro em Canudos, concedia uma entrevista sobre acontecimentos desenrolados durante a estada de Lampião em terras baianas. Transcrevo-lhe este trecho:
"— Foi em Pedra Branca. Ali assaltou ele uma casa de família. Armou o samba. Fez quatro mocinhas despirem-se. E tocaram a sanfona. Houve bebidas e o sacrifício das infelizes sertanejas. — Horrível! — Mas verdadeiro. E não foi tudo. Uma emboscada atraiu o subdelegado. Este quis manter-se como autoridade. Foi batido, violentado, vítima de um atentado infame que o levou quase morto ao hospital de Juazeiro".
O primeiro tópico por mim grifado mostra que Lampião é useiro e vezeiro na canalhice de obrigar donzelas a se desnudarem publicamente. O segundo alude a um atentado infame, que certamente o jornalista não se animou a registrar. Faço-o eu, para que se não perca esse documento do espírito demoníaco do até hoje impune flagelador dos sertões: — Lampião forçou o subdelegado de Pedra Banca a ficar nu em pelo, introduziu-lhe uma vela no ânus, acendeu-a depois e, obrigando a vítima a passear pela sala, deixou que a vela quase se consumisse, queimando o pobre homem, em meio às gargalhadas e chacotas da cabroeira encachaçada.
Como não há narrativa trágica que o tabaréu não sublinhe comicamente, o sertanejo que primeiro me garantiu a veracidade desse fato, cuja confirmação tive mais tarde, balançava a cabeça e me dizia:
— Patrão, vamincê vigie só a que é que nossos governos deixam sujeito o pobre sertanejo! vigie só de que é que Lampião anda fazendo castiçal...