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domingo, 6 de setembro de 2015

Padre Cícero - Curiosidades e Traços Biográficos


Período de 1844 a 1870

Brochura de J. Machado
Em 24 de Março de 1844 nasceu o PADRE CÍCERO ROMÃO BATISTA, filho legitimo. de Joaquim Romão Batista e de Dona Joaquina Vicencia Romana, alvo de olhos azuis, bem parecido e de família católica. 

Em 1863, estando a cursar no colégio do Padre Rollin, em Cajazeiras, Estado da Paraíba, esteve para abandonar sua carreira em que pretendia ser sacerdote, em virtude do cólera-mórbus, de que foi vitima o seu pai. Ficou viúva sua mãe com duas filhas de nomes Maria e Angélica. Ele, como único homem de casa, assumiu a direção da mesma, liquidou alguns débitos deixados por seu pai que era peque-no comerciante e agricultor. 

De 1865 a 1870 passou a estudar no Seminário de Fortaleza, onde sempre revelou clima vocação, a ponto que seu bispo Dom Luiz dos Santos o chamava "anjo do Cearà". Um seu colega e até pouco tempo vigário de Taperoá na Paraíba, relata que, em certo passeio com o corpo docente e discente daquele seminário, não tendo onde colocar seu chapéu, porque os outros tinham ocupado todos os locais próprios, na casa de hospedagem, num sitio, colocou-o numa parede onde nada o segurava, a não ser algum poder oculto, o que deu lugar a comentários entre seus colegas que o inquirindo com perguntas, tinham como resposta apenas sorrisos discretos. Apesar de algumas dificuldades, ordenou-se em 1870. 

De 1870 a 1879. 

Em 1872 o Padre Cicero foi nomeado capelão da então Capelania do Juazeiro, constante de pequena população, algumas casas de tijolos e telhas, com poucas de taipa e palhas. Sua capelinha era de taipa e telhas sob o oratório de Nossa Senhora das Dores e edificada pelo Padre Pedro Ribeiro de Carvalho.

O Padre Cicero que durante alguns anos também foi vigário de S. Pedro do Cariri, onde exercia seu sacerdócio sem cobrar pagamento pelos feitos religiosos que praticava, recebendo apenas o que cada paroquiano achava conveniente para sua manutenção de sacerdote pobre.

As vezes, castigava, certos paroquianos, com palmatória, porque e tinha sobre os mesmos absoluta acedência moral, devido à sua vida exemplar de homem honesto, sincero e humilde, fazendo missões religiosas e ensinando o catecismo.

Dizem que ele tinha. o dom de bilocação (A Bilocação pode ser definida com o ato de estar em dois lugares ao mesmo tempo. Segundo a Igreja Católica, a bilocação é um Carisma que poucos poderão receber.), como Santo Antônio, São Francisco Xavier, Santo Afonso e outros santos, a ponto de se transportar em espirito, a lugares distantes quanto adormecia, como, lhe acontecia, em certos momentos mesmo quando viajava a cavalo: tal dom lhe serviu durante toda sua vida.

Dominado da grande espírito acético, à maneira do Padre Ibiapina, organizou um núcleo de moças a que deu instrução  religiosa particular e o manto de beatas. Uma delas, mestiça quase preta e filha desta cidade, em março de 1889 revelou fenômenos extraordinários, pois que era obrigada a expôr num recipiente, por ocasião da Comunhão, as hóstias por ela recebidas, uma vez que não podia degluti-las, porque as mesmas passavam a formar postas de carne e sangue. 

De 1889 a 1908

Tais acontecimentos que ocorreram no ano em que se ia proclamar o regime republicano no Brasil, tiveram imenso efeito, dando lugar a afluírem para este local indivíduos de todas as classes sociais, particularmente dos sertões nordestinos. Foi o começo da formação desta cidade, onde ao lado dos grupos de penitentes da Irmandade da Cruz, surgiam os comerciantes, artistas e operários, todos trabalhando, pois a ordem do Padre Cicero como verdadeiro apóstolo do bem consistia em mandar que trabalhassem e rezassem, todos os dias, o Rosário. 

Não afastava de sua presença nem os maiores criminosos, pois diziam que sua obra era de salvarão e Jesus Cristo não veio ao mundo para salvar os santos e sim os pecadores. 

Beata Maria de Araujo
Surgiu, porém, a questão religiosa devida aos prodígios de sangue ocorridos com Maria de Araujo, os quais, afinal, foram condenados, pela autoridade eclesiastica de Roma onde esteve o Padre Cicero, para se justificar perante o Papa Leão XIII, o qual mandou que o mesmo regressasse e se conservasse calado sobre tais casos, mas não o excomungou, como houve quem maldosamente propalasse, e mesmo bispos que o privaram de celebrar missas nesta cidade de onde jamais quis se afastar, por mais que lhe oferecessem, como ofereceram, vantajosas colocações fora de Juazeiro.

Padre Cícero amava seu povo, como prova a carta escrita de Roma a sua querida mãe (Leia abaixo juntamente com o testamento de Padre Cícero). Os romeiros, desde então, até hoje, jamais deixarem de afluir a esta cidade em visitas a Nossa Senhora das Dores e traziam quase sempre dinheiro para ele e para Ela. 

O Padre Cicero, no começo se recusava a receber importâncias, pois queria continuar em sua vida de pobreza, como dantes, mas certas beatas que o cercavam. particularmente uma de nome Joana Tertulina de Jesus (Dona Mocinha) que passou a ser a governante de sua casa, conseguiram convence-lo de que devia receber os dinheiros que lhe traziam e emprega-los em uma obra pia, como prova, temos nesta cidade, principalmente a Ordem Salesiana sem falar em outras organizações semelhantes ou de menores vultos. 

Afinal de pequena aldeia o Juazeiro passou a grande centro humano contando cerca de 20 mil habitantes, em 1908, quando, conseguiu separar-se do Município de Crato, constituindo o Município de Juazeiro do Padre Cicero. 


De 1908 a 1934

Pouco depois da criação deste Município chegou aqui o médico Baiano Doutor Floro Bartolomeu da Costa, o qual conseguiu do Padre em cuja casa se hospedou, ao chegar nesta cidade, em companhia do engenheiro Conde Adolfo van den Brule. Com grande simpatia, Floro logo passou a ser o dirigente da politica local, embora o padre, nominalmente, continuasse a ser o prefeito do município e tivesse todo prestígio e responsabilidade perante a politica do Governo Acióli. 
No Governo Marechal Hermes Pinheiro Machado, foi deposto o Governo Acióli e passou a governar o Ceará o Coronel Marcos Franco Rabelo. o qual, terminou, sendo deposto por elementos do partido aciolista, entregando o Governo deste Estado ao então Coronel Setembrino de Carvalho, que o assumiu em Março de 1914, no função de Interventor Federal. Os referidos elementos aciolistas tiveram como sede da revolução anti-rabelista, Juazeiro, tendo como principais chefes sob a influência e prestigio do patriarca, o Dr. Floro, o Coronel Pedro Silvino, o Dr. José de Borba, e em Fortaleza o Coronel João Brígido, redator do Unitário, além de outros no Rio de Janeiro e no Ceará. 

Depois da revolução, passou o Padre Cicero a gozar de maior prestigio político, sendo visitado por muitos políticos e alguns governadores do Estado. Servindo-se de sua posição de representante do povo, o Deputado Federal Floro atendendo ao perigo a que estava exposto o vale do Cariri, ante as colunas de revoltosos de Carlos Prestes a se moverem em direção ao Nordeste, conseguiu que o Governo Artur Bernardes, sem demora, organizasse nesta cidade um Batalhão Patriótico, formado de 1200 homens, que se deslocavam auxiliando as forças federais, isto em 1926, quando faleceu Floro, no Rio de Janeiro. 

Em 1930, por ocasião da revolução que terminou empossando Getúlio Vargas na Presidência da Republica, quando o Padre Cícero, quase cego de cataratas em ambas as vistas, recebeu de manhã um telegrama do Governador do Estado Matos Peixoto, perguntando qual era sua atitude em face das vitórias dos revoltosos, ao que ele, mal assinando telegrama feito por alguns de seus secretários, respondeu dizendo que o governo contasse até mesmo com o concurso de homens armados, nesta cidade, em defesa da legalidade. Na tarde do mesmo dia, recebeu ele um telegrama de chefes revoltosos, perguntando qual sua atitude em relação aos ditos revoltosos, ao que ele respondeu, guiado pelos mencionados secretários, assinando sem ler, um telegrama no qual dizia que nenhum de seus amigos pegaria em armas contra revoltosos. 

Em 1931, a 9 de março, chega a esta cidade a chamado do Reverendíssimo Padre Cicero Romão Batista o Doutor Juvêncio Joaquim de Santana, que se achava residindo em Fortaleza, para dirigir não somente a sua politica como também os seus negócios particulares. 












Fonte do artigo: Brochura "Duas palavras" de J. Machado - Editado no ano de 1948