Translate

domingo, 5 de outubro de 2014

Lampião e seus Cangaceiros, os guerreiros do tempo.


Eram guerreiros do tempo, açoitados pela injustiça e injustos se tornaram. Visavam apenas a subsistência e apenas alguns, as principais lideranças, possuíam posses distribuídas a seus familiares. A vingança inicialmente era o intento. Aliado ao espírito de aventuras e liberdade preferiam morrer combatendo que ser presos. Reparem que ao tornar-se alguns deles líderes, mais um fator surgiu: o orgulho. Por isso a meninada sem eira e nem beira daquela época, tinham o sonho de tornar-se cangaceiros e a "seleção brasileira" daquela época era o bando de Lampião.


Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião, foi o mais famoso cangaceiro da história dessa modalidade de banditismo. Também foi o que durou mais antes que fosse morto por tropas especialmente formadas para isso, inclusive muito imitando o modus operandi dos cangaceiros. 


Lampião morreu em uma região isolada onde costumeiramente se escondia, no município de Poço Redondo, em um local chamado de Grota do Angico, Sergipe, em 28 de julho de 1938, numa emboscada armada pela volante do tenente João Bezerra.
 
Maria Bonita, sua companheira e mais nove jagunços também ali morreram, varridos por balas bem dirigidas e após a carnificina suas cabeças foram decepadas, salgadas, expostas por diversas cidades do interior e depois levadas para um museu de Salvador.
 
Reportagens como a dos jornais da época, diziam que com Lampião foram encontrados cerca de cinco quilos de ouro e mais de mil contos de réis, quantia suficiente que só para se ter uma ideia da fortuna que era, daria para comprar 120 carros de último tipo da época.

Virgulino manteve seu império entre 1920 e 1938, ajudado por uma rede de coiteiros, figuras responsáveis pelo fornecimento de armas, munição e mantimentos aos jagunços, e cobrando “contribuições” de fazendeiros, comerciantes e políticos em troca de proteção. Para se ter uma visão desse seu reinado, em postagem do historiador José Mendes Pereira, conta-nos que esse foi o mapa que Lampião traçou as fronteiras de seu reinado.


"Diz que no ano de 1929, numa das andanças pastorais, o vigário de Glória, padre Emílio Ferreira, encontrou-se num arraial com o legendário Rei do Cangaço, que fora assistir à missa e por notável coincidência, o padre, momentos antes de celebrar o ofício, havia recebido de presente, das mãos de um caixeiro viajante amigo, um grande mapa-plano do Brasil que media aproximadamente 1m2, forrado de algodãozinho e pregado em dois cilindros finos de madeira para enrolar, uma edição do Ministério da Viação do Rio.

Após a missa, vai Lampião cumprimentar o sacerdote. Durante animada palestra desenvolvida entre goles de café, teve uma idéia o padre. Estendeu o mapa aberto sobre a mesa e, entregando a Lampião um grosso lápis encarnado, pediu-lhe:

- “De vez que o senhor é Rei, marque e risque sobre esse mapa o tamanho de seu grande Reino”.


 Lampião, devagar, observando as localidades, rios e montanhas, perguntando muito e auxiliado pelo padre, foi traçando. Tomando por ponto de partida, ao norte, Mossoró, no Rio Grande do Norte, desceu, em zigue-zague, até Porto da Folha, em Sergipe. Desceu mais até Capela e daí tangenciou numa linha até a fronteira da Bahia, onde penetrou por Itapicuru, talando o Estado por Riachão do Jacuípe até Morro do Chapéu. Desceu profundamente, em ponta de lança, até Barra do Estiva e Rio de Contas, donde iniciou a subida para Remanso. Continuando para cima, atingiu Juazeiro do Norte e Caririaçu, no Ceará, depois Jaguaretama, Morada Nova e Limoeiro do Norte, donde fechou o circuito para Mossoró. Em síntese, uma imensa área de cerca de 300.000 km2!

Entusiasmado, exclamou o padre dirigindo-se ao Rei do Cangaço:
- “Territorialmente falando, seu REINO faria inveja a muita cabeça coroada da Europa!...”"

A história de Lampião e Maria Bonita rendeu centenas de livros, teses, filmes de ficção e documentàrios. Há quem veja Lampião como um bandido profissional. Há quem o considere um herói a enfrentar a tirania do coronelismo.
 
Na época, ele era chamado de “governador dos sertões”. E teria se engajado numa vida violenta depois que o pai, José Ferreira, foi assassinado. Acompanhado de seus irmãos, Virgulino uniu-se em 1916 ao jagunço Sinhô Pereira, que logo lhe passou o comando. O padre Cícero era seu padrinho, amigo e protetor.
 
Vaidoso, costumava usar lenços de seda, o perfume francês Fleur D’Amour e óculos alemães, o que disfarçava o defeito no olho esquerdo, causado por espinhos da caatinga. Dizem os jornais que também gostava de beber uísque White Horse.
 
Virgulino nasceu em Vila Bela, atual Serra Talhada, em Pernambuco. Há controvérsias quanto à data de seu nascimento: 12 de julho de 1897, 4 de junho de 1898 ou ainda 3 de setembro de 1898.
 
Quando de sua morte, foi manchete nos jornais do Brasil inteiro. Abaixo exemplares de 1938.

 
 
 

 
 
Depois de muito tempo, quase vinte anos depois, o comandante da volante que na época tinha a patente de Tenente, deu uma entrevista de como tinha cercado Lampião e seus cabras e conta fatos que antes eram desconhecidos. Abaixo a entrevista em 26 de junho de 1957 do Coronel João Bezerra