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sexta-feira, 13 de novembro de 2015

FOME E INJUSTIÇAS, TEMAS PROIBIDOS.


Nas terra pobres e famintas do nordeste brasileiro, tinha-se como hábito servir-se de um pequeno naco de carne seca e farinha com sal como refeição, que eram sorvidos com pequenos goles d'água, tão preciosa na região pois a seca era impiedosa. Era considerado como um banquete por aqueles que não tinham a não ser a farinha e um pedaço de rapadura para comer.

Fico pensando como a vida era ingrata para esses sertanejos que nunca viram fartura em suas vidas e sempre foram comedidos no que concerne a alimentação, pois tinham que ser sovinas para esticar o máximo possível os alimentos que conseguiam.

Seus filhos raquíticos e buchudos de lombrigas, nus corriam pelos terreiros das casas de taipas, onde o cheiro de lenha queimada impregnava o ambiente interno e as redes de tucum que nunca eram desarmadas exalavam um cheiro de suor ardido pois não tinham água para um banho diário.

Olhando-se para as pernas daqueles sertanejos, via-se não protuberâncias de veias, mas garranchos secos que formavam um emaranhado de pequenos galhos entrelaçados e que subiam para suas cabeças com o intuito de sufoca-los. Pobre gente!


Estavam abandonados pelo poder governamental e deixados ali como um estoque de reserva, para as fazendas dos coronéis, onde eram usados vez em quando, como diaristas para épocas especiais onde se colhia algo ou para servirem de bucha de canhão nas refregas dos poderosos.

Foi nesse cenário que nasceram os cangaceiros. Os primeiros, os líderes, por vingança por terem sidos escoriados por uma justiça inexistente onde a força estava ao lado dos ricos coronéis, que tinham em suas mãos o poder de delegados, juízes e escrivães, os demais acompanhavam-nos por diversos motivos, e a fome e a injustiça eram as campeãs das decisões tomadas por esses que se insurgiam com o sistema dominante.

Juntando isso com o caldo religioso dos fanáticos penitentes que perambulavam pelos sertões, temos os ingredientes para o grito dos excluídos serem ouvidos, não por suas vozes gastas e sussurrantes, mas pelo estampido dos bacamartes.

Os governos saídos da monarquia, tentavam combater esses revoltosos mas não tinham incentivos dos coronéis pois essa situação lhes favorecia, pois aliavam-se com cangaceiros e muitos deles tinham em suas fazendas, grande contingentes de jagunços pois para mostrarem sua força, usavam desse expediente.

A presença da fome e da injustiça sempre foram as grandes forças modeladoras do comportamento do sertanejo esfaimado nos sertões nordestinos. Moldavam seu comportamento moral e social. Seus sentimentos, suas lutas, suas ações, modelando-os com suas mãos de ferro esgarçadas e despóticas, fazendo os heróis populares naquele grande drama encenado por criaturas zumbis, amansadas pela fome e pela injustiça.

Os que não concordaram com essa sistemática de dominação tornaram-se cangaceiros. Os cangaceiros eram diferentes dos jagunços, pois não se submetiam aos mandos dos coronéis, embora em algumas ocasiões fossem aliados. Já os jagunços, eram subservientes pois alugavam suas armas a quem pagasse melhor.

Dessa forma, pelas histórias que tenho lido vejo que a fome e as injustiças não eram e não são apenas em determinadas regiões do nordeste, estão em toda a parte, estão em todo o mundo, pois tais incentivam homens a rebelarem-se e pegarem em armas para combate-las. É uma situação que existe até hoje, por culpa de homens poderosos que usam outros métodos de dominação e através da dominação financeira e bélica, provocam a iminente catástrofe que se avizinha no mundo inteiro, com o desrespeito aos seres viventes e à natureza, que cada vez mais clama por socorro.