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quinta-feira, 6 de março de 2025

BackLands Novela - Maria Bonita


Set in the sparse frontier settlements of northeastern Brazil--a dry, forbidding, and wild region the size of Texas, known locally as the Sertao--Backlands tells the true story of a group of nomadic outlaws who reigned over the area from about 1922 until 1938. Taking from the rich, admired--and feared--by the poor, they were led by the famously charismatic bandit Lampiao. The gang maintained their influence by fighting off all the police and soldiers the region could muster.

A one-eyed goat rancher who first set out to avenge his father's murder in a lawless land, Lampiao proved to be too good a leader, fighter, and strategist to ever return home again. By 1925 he commanded the biggest gang of outlaws in Brazil. Known to this day as a "prince," Lampiao had everything: brains, money, power, charisma, and luck. Everything but love, until he met Maria Bonita.

"You teach me to make lace, and I'll teach you to make love"--this was the song the bandits marched to, across the vast open reaches of their starkly beautiful backlands, and it was Maria Bonita who made it come true. She was stuck in a loveless marriage when she met Lampiao, but she rode off with him, becoming "Queen of the Bandits." Together the couple--still celebrated folk heroes--would become the country's most wanted figures, protecting their extraordinary freedom through cunning.

Victoria Shorr's stunning literary debut tells Maria's story, her narrative of the intense freedoms, terrors, and sorrows of this chosen life, the end of which is clear to her all along. With the federal government in Rio mobilizing against the bandits, Backlands describes the epic final days of Lampiao's "fatal month," July on the River of Disorder, as the gang struggles to summon their good star to save them one more time.

Tradução 

Ambientado nos escassos assentamentos fronteiriços do nordeste do Brasil — uma região seca, proibida e selvagem do tamanho do Texas, conhecida localmente como Sertão — Backlands conta a história real de um grupo de bandidos nômades que reinaram sobre a área de 1922 a 1938. Tirando dos ricos, admirados — e temidos — pelos pobres, eles eram liderados pelo famoso bandido carismático Lampião. A gangue manteve sua influência lutando contra todos os policiais e soldados que a região conseguia reunir.

Um criador de cabras caolho que primeiro partiu para vingar o assassinato de seu pai em uma terra sem lei, Lampião provou ser um líder, lutador e estrategista bom demais para voltar para casa novamente. Em 1925, ele comandava a maior gangue de bandidos do Brasil. Conhecido até hoje como um "príncipe", Lampião tinha tudo: cérebro, dinheiro, poder, carisma e sorte. Tudo menos amor, até que ele conheceu Maria Bonita.

"Você me ensina a fazer renda, e eu te ensino a fazer amor" — essa era a canção que os bandidos marchavam, através dos vastos confins abertos de suas terras belíssimas, e foi Maria Bonita quem a tornou realidade. Ela estava presa em um casamento sem amor quando conheceu Lampião, mas ela partiu com ele, tornando-se "Rainha dos Bandidos". Juntos, o casal — ainda celebrados heróis populares — se tornariam as figuras mais procuradas do país, protegendo sua extraordinária liberdade por meio da astúcia.

A impressionante estreia literária de Victoria Shorr conta a história de Maria, sua narrativa das intensas liberdades, terrores e tristezas desta vida escolhida, cujo fim está claro para ela o tempo todo. Com o governo federal no Rio se mobilizando contra os bandidos, Backlands descreve os épicos dias finais do "mês fatal" de Lampião, julho no Rio da Desordem, enquanto a gangue luta para invocar sua boa estrela para salvá-los mais uma vez.

sábado, 1 de março de 2025

Comentários sobre o Artigo "Reminiscências de Maria Bonita" de Raul Meneleu

Comentários sobre o Artigo "Reminiscências de Maria Bonita" de Raul Meneleu
O artigo de Raul Meneleu, publicado em 2020, traz uma contribuição fundamental para a historiografia do cangaço ao abordar a questão da data de nascimento de Maria Bonita, figura emblemática da cultura nordestina. O texto combina rigor metodológico, crítica histórica e uma narrativa envolvente sobre os desafios da pesquisa em fontes primárias no Brasil. Abaixo, destaco os principais pontos de análise:

1. Correção Histórica e Método Científico  
O artigo centra-se na descoberta do pesquisador Voldi de Moura Ribeiro, que, com apoio do padre Celso Anunciação, localizou o registro de batismo de Maria Bonita na Paróquia de São João Batista de Jeremoabo (BA). O documento atesta seu nascimento em 17 de janeiro de 1910, invalidando a data tradicionalmente difundida de 8 de março de 1911. Meneleu ressalta a importância de "fontes primárias" (como o batistério) sobre relatos orais, muitas vezes imprecisos. A crítica a autores que perpetuaram erros sem comprovação documental reforça a necessidade de rigor na pesquisa histórica.

2. Colaboração Interdisciplinar  
A parceria entre Voldi e o padre Celso ilustra como a colaboração entre pesquisadores seculares e instituições religiosas pode revelar dados essenciais. A Igreja Católica, detentora de arquivos históricos, muitas vezes subutilizados, emerge como guardiã de memórias cruciais, ainda que sua conservação seja negligenciada. O artigo aponta para a urgência de políticas de preservação documental, especialmente em regiões onde a história é perpetuada por registros frágeis e esquecidos.

3. Reconhecimento Acadêmico 
Meneleu destaca o aval de nomes consagrados, como Frederico Pernambucano de Melo e Antônio Amaury Correia de Araújo, que revisaram suas posições após a descoberta de Voldi. Esse movimento demonstra a dinâmica saudável da academia, onde revisões são possíveis diante de novas evidências. A menção à correção na segunda edição do livro de Amaury (2012) enfatiza a ética intelectual de reconhecer equívocos.

4. Cultura e Identidade 
A data incorreta de 8 de março, associada ao Dia Internacional da Mulher, revela como mitos podem se sobrepor à realidade por conveniência simbólica. Meneleu critica essa romanticização, defendendo que a história deve priorizar fatos, mesmo que menos "poéticos". A correção não diminui Maria Bonita, mas a reinsere em seu contexto real: uma mulher que morreu aos 28 anos, após uma vida marcada pela violência do cangaço.

5. Desafios da Pesquisa no Brasil
O artigo denuncia a falta de apoio institucional a pesquisadores independentes, que investem recursos próprios para preencher lacunas históricas. A menção à Wikipedia, que ainda reproduz a data equivocada, expõe a lentidão na atualização do conhecimento público. Meneleu faz um apelo implícito para que entidades culturais e digitais (como enciclopédias online) revisem seus conteúdos com base em fontes atualizadas.

6. Perspectivas Futuras  
Meneleu sugere que a descoberta do batistério abre caminho para novas investigações, como a possível indefinição sobre a paternidade de Maria Bonita (já que seu registro menciona apenas a mãe, Maria Joaquina). Além disso, a certidão da irmã Antônia reforça a necessidade de explorar arquivos paroquiais para reconstituir trajetórias familiares e sociais do sertão.

Conclusão
"Reminiscências de Maria Bonita" não é apenas um artigo sobre datas, mas uma reflexão sobre memória, poder e esquecimento. Raul Meneleu celebra a persistência de pesquisadores como Voldi, que desafiam narrativas consolidadas, e alerta para o risco de perdermos fragmentos da história pela negligência com acervos. Ao corrigir o nascimento de Maria Bonita, o texto restaura não apenas uma data, mas a integridade de uma figura que resiste ao apagamento — seja pelo descaso, seja pela mitificação.  

Recomendações:  
- Atualização imediata de verbetes em plataformas como Wikipedia.  
- Digitalização e preservação de arquivos paroquiais.  
- Incentivo a pesquisas interdisciplinares que unam história, sociologia e instituições religiosas.  
- Incorporação das descobertas de Voldi em currículos educacionais e produções culturais.  

Este artigo, assim, serve como um modelo de como a micro-história pode iluminar questões macro: a luta pela preservação da memória em um país onde a cultura muitas vezes é relegada a segundo plano.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

Lampião, o rei dos cangaceiros

Lampião: O Rei dos Cangaceiros
Por Raul Meneleu 
Virgolino Ferreira da Silva (1897–1938), conhecido pelo apelido Lampião, foi o líder mais emblemático do cangaço, um movimento de banditismo social no sertão nordestino do Brasil. Ativo entre as décadas de 1920 e 1938, ele se tornou uma figura mítica, misto de herói popular e vilão, cuja história reflete as complexidades de uma região marcada pela seca, desigualdade e ausência do Estado.

Contexto Histórico e o Cangaço  
O "cangaço" surgiu no árido "Sertão nordestino, onde a pobreza, as secas cíclicas e a concentração de terras geravam conflitos. Os cangaceiros eram grupos armados que vagavam pela região, alternando entre ações de resistência, saques e violência. Embora alguns fossem vistos como "justiceiros", sua relação com as comunidades era ambígua: protegiam ou extorquiam, dependendo da circunstância.

A Ascensão de Lampião  
Nascido em Pernambuco, Lampião entrou para o cangaço após conflitos familiares com fazendeiros e a polícia. Seu apelido, que significa "lampião", teria origem na rapidez de seus disparos, que "iluminavam a noite como um candeeiro". Sua liderança destacou-se pela astúcia, organização e habilidade em escapar de perseguições.

Características e Iconografia  
Lampião cultivava uma imagem distinta:  
- Trajes elaborados: Chapéus de couro com estrelas, gibões bordados, cartucheiras cruzadas no peito.  
- Armamento: Carabina Winchester, facão e revólver.  
- Simbolismo: Sua estética misturava elementos do sertão e do misticismo, reforçando sua aura lendária.  

Em 1930, uniu-se a Maria Bonita, considerada a primeira mulher a integrar o cangaço ativamente. Ela simbolizou a quebra de padrões em um mundo predominantemente masculino.

Queda e Morte  
Em 28 de julho de 1938, Lampião, Maria Bonita e parte de seu bando foram surpreendidos por uma força policial em Angicos (Sergipe), após uma denúncia. Onde 11 cangaceiros foram mortos a tiros,  inclusive Virgolino Ferreira e Maria Bonita. Seus corpos foram decapitados, e as cabeças expostas publicamente como troféus (posteriormente enterradas em 1969).

Legado e Controvérsias  
- Mito vs. Realidade: Enquanto a cultura popular o romantiza como "Robin Hood do Sertão", historiadores ressaltam sua brutalidade, incluindo saques e execuções.  
- Cultura Brasileira: Lampião inspira cordéis, filmes (como "O Baile Perfumado"), música (Luiz Gonzaga) e festivais, simbolizando resistência e identidade nordestina.  
- Debate Social: Representa a luta contra a opressão, mas também a falência de políticas públicas no sertão.  

Lampião permanece um ícone complexo, encapsulando o espírito rebelde do Nordeste e as contradições de uma época em que a lei era ditada pela força e sobrevivência.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Maria Bonita - Bela, recatada e 'não do lar'

A polêmica frase "Bela, recatada e 'do lar' nos diz que "...são palavras muito específicas e que objetificam as mulheres." 

A autora (1) dessa frase faz comentários e diz que BELA, simbolicamente, toda mulher tem de ser bonita. Esse valor é algo muito forte tanto na sociedade ocidental quanto na oriental. Não importa o que aconteça, mesmo que a mulher tenha acabado de ter um filho, tem de estar com a barriga sarada duas semanas depois. 

O recatada e o 'do lar' vêm de encontro ao 'bela' para formar a imagem de mulher perfeita, que sabe se colocar no lugar dela e é submissa ao marido. É aquela velha história de que atrás de um grande homem sempre há uma mulher. Essa escolha de palavras segundo ela, foi muito infeliz. "Não me espanta a repercussão negativa que o perfil teve, embora no Brasil, ainda exista aquela imagem de que uma mulher foi estuprada porque estava de roupa curta", arremata.

No feminismo, o que se prega é que cada mulher pode fazer o que quiser. Se quer parar de trabalhar para cuidar dos filhos? Ok. Se quer casar com um homem mais velho? Ok. 

"Ela tem direito de ser quem quiser, mas não se pode criar uma simbologia de que a mulher perfeita deve seguir esses parâmetros."

Em uma sociedade escravagista como a nossa sempre foi perfil da mulher ser uma senhora de engenho, bonita, escolhida para casar, recatada, pois era preciso ser do lar, pois era onde as mulheres ficavam limitadas nessa época.

O livro Bonita Maria do Capitão (2) conta a história de mais uma mulher que se viu coagida por uma sociedade impositiva que fazia as mulheres serem "Belas, recatadas e preparadas para lar." - Maria Bonita preferiu sair do lar imposto pela sociedade, para fazer de seu lar, o mundo encantado do sertão.

Maria Bonita, mesmo sendo uma mulher pobre, não muito culta, e como quase todas as mulheres sertanejas daquela época, estava sendo preparada por seus pais para serem recatadas donas de casa, cuidar do marido e dos filhos. Mas algo aconteceu em sua vida que a retirou desse marasmo imposto por uma sociedade que olhava para as mulheres serem exclusivamente 'do lar'.


Mas essa Maria não se deixou dominar por isso e sem saber que passaria a ser famosa, "...abandona o anonimato para pertencer à história do mundo."


"No caso de Maria Bonita é diferente. Essa "Maria fez de si a própria entrega para a história. Ela deixa de ser uma promessa e concretiza-se em senhora de seu destino ao tomar a decisão de abandonar sua família para viver ao lado do mítico cangaceiro Lampião. Essa Maria é a do Capitão."

Não sei por que Joaquim Góis, ex-volante em seu livro intitulado Lampião: O último cangaceiro, que teve a oportunidade de conhecer Maria Bonita em sua casa, onde morava com seu primeiro marido, resolveu descrever a aparência física dela antes dela ser a companheira de Lampião! 

Lógico que devemos entender que aqui se aplica o velho ditado que diz que “não existe gente feia” pois a beleza ou feiura estão nos “olhos” daquele que ver.

Mas segundo ele, ao entrar na tenda do sapateiro Zé de Nenê, com o propósito de fazer algumas encomendas, notou uma mulher acabrunhada e sem beleza e escreveu que "... ao seu lado uma cabocla apagada, rosto de linhas inseguras, olhar vago e fugidio, corpo solto no desalinho e no mau gosto de 
um vestido barato, de chita ordinária, marcado de cores berrantes, costurado à moda de como costuram as mulheres de fim de rua das cidades pequenas. Pés grandes, esparramados dentro de duas sandálias grosseiras, e rosto comprido, moles, desbotadas; mãos de unhas sujas, mãos pequenas, descuidadas; duas argolas vermelhas de ouro duvidoso caíam-lhe das orelhas; cabelo de um castanho fosco, penteados em um volumoso cocó, bem aprumado, um pouco acima da 
nuca; pescoço curto, queixo atrevido, boca carnuda escondendo desejos; lábios corados como uma fruta entreaberta, pedindo caricias; seios bambos, caídos; quadris batidos; pernas fortes, semblante sem a beleza de um sorriso meigo, quase duro na sua expressão [...]. De mulheres vulgares como Maria de Déa, está cheio este sertãozão de meu Deus" 
(GÓES, 1966, p. 212). 

O que fez Góes mostrar uma pessoa que todos tinham como sendo uma bela mulher, dessa forma?
Lembremos-nos que “não existe gente feia” e que talvez naquele momento em que Góis entrou no recinto, Maria estivesse abatida talvez por uma situação de constrangimento e cansada pela vivência com o sapateiro, em constantes discussões, tivesse relaxado na indumentária e no semblante.

Vemos e podemos assimilar, que essa palavras, talvez até um pouco desconfortáveis, foi a visão momentânea do autor. Tudo bem que as sertanejas se arrumavam bem melhor aos domingos de Missa ou festinhas de largo ou algum outro evento. Mas se me permitem eu digo que foi uma maldade muito grande de Góes, retratar Maria Déa dessa forma.

Em reportagem do Correio da Manhã, do Rio de Janeiro, edição de 8 de abril de 1967 o jornalista Luis Carlos Rollemberg Dantas em reportagem sobre o livro de Góis, diz que além de "liquidar com as intenções de determinadas publicações que procuram mostrar Lampião como herói" também mostra "... Maria Bonita, figura transfigurada pela lenda, e restabelecida convincentemente na realidade" como se Góis retratasse Maria Bonita convincentemente como feia e desengonçada, e isso fosse a realidade.

Para contrapor essa ideia vejam essa foto tirada enquanto Maria estava "no lar" - antes de entrar no cangaço.

Uma bonita sertaneja com penteado simples e vestido comum, mas que realçava a beleza dessa mulher. Uma beleza que talvez não aparecesse em instantes de desconforto com a vida sem atrativos que levava.

Segundo as autoras do livro Bonita Maria do Capitão, o "... que se pode crer é que ela apresentava uma aparência comum, sem atrativos físicos que a colocassem em algum patamar de beleza."

Agora vejam essa foto feita no cangaço, mostrando o seu eu interior, livre e liberta dos dogmas criados pela falsa e puritana sociedade. Maria do Capitão em seu sorriso de alegria, cativou não só a Lampião, como a outros cangaceiros, que testemunharam sua índole. Essa morena realmente era uma Rainha de seu Rei. Ela era "Bela e Recatada" e seu Lar, a Caatinga do Sertão Nordestino! Seu "crime" foi querer viver livremente e podemos afirmar que ela encontrou a liberdade que almejava, nos braços de "uma fera perigosa" - mulher nova bonita e carinhosa... faz o homem gemer sem sentir dor!



NOTAS:

1 - Helena Jacob, coordenadora do curso de jornalismo da Faculdade Cásper Líbero e doutora em comunicação e semiótica pela PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo

2 - Autoras: Vera Ferreira e Germana Gonçalves - Parte 1 Vida e Modos de Maria

Todas as frases em aspas estão nos livros e citações jornalísticas.

sexta-feira, 22 de julho de 2016

A PRESENÇA FEMININA NO CANGAÇO

Amigos, tomando emprestado uma parte do trabalho de ANA PAULA SARAIVA DE FREITAS - A PRESENÇA FEMININA NO CANGAÇO: PRÁTICAS E REPRESENTAÇÕES (1930-1940), vemos que os matadores de mulheres de cangaceiros foram impiedosos, para se dizer no mínimo, nos combates entre eles pois essas não eram belicosas, como a frase do matador de Maria Bonita, diz, se gabando como deu os tiros que a mataram: "...num dexa a bandida escapar... ela tá fugindo...!" exclamava o soldado para o soldado Panta de Godoy e esse em sua insanidade diz: "... atirei pelas costas e ela caiu..."


A morte de Maria Bonita foi de uma crueldade sem tamanho. O blog MULHERES NO CANGAÇO nos fala que "Nas Cruzadas da Idade Média a violência era menor."

Como sabemos hoje, por acompanhamento e estudos feitos por profissionais da comunicação e os da psicologia, a imprensa televisada, irradiada e escrita tem um poder muito grande de incutir nas massas o que eles querem. E não foi diferente o tratamento dado pela imprensa, às mulheres no cangaço. Vejamos a Dissertação apresentada a Faculdade de Ciências e Letras de Assis – UNESP, para a obtenção do título de Mestre em História (Área de conhecimento: História e Sociedade) da referida autora que falo no início desse artiguete:

"Praticamente na metade do ano de 1935, o jornal Estado de S. Paulo referindo-se à composição do bando do cangaceiro Zé-Baiano enfatiza que ele e seus homens “estavam acompanhados de quatro mulheres”. - O Estado de S. Paulo 22/05/1935, p. 7

Cerca de 3 anos depois. esse mesmo tratamento numérico, também permanece no contexto do Estado Novo. Em abril de 1938, três meses antes da morte de Lampião, o periódico noticiava: “o grupo era composto de 10 homens e 4 mulheres” - O Estado de S. Paulo 17/04/1938, p. 7.

E depois da morte de Lampião, já sob a garantia de anistia por parte do governo estado-novo, veiculava: “duas mulheres entregaram-se a polícia bahiana em Geremoabo” - O Estado de S. Paulo 09/12/1938, p. 5.

É significativo recuperar que apesar da inferioridade numérica, elas são sempre tratadas em pé de igualdade quando se refere à criminalidade.
Além da expressão “bandida”, também foram usadas pela imprensa paulista “amante” e “companheira” para se referir à mulher cangaceira, como exemplificam as frases: “a bandida amante do chefe Jurema” (O Estado de S. Paulo 12/03/1935, p. 7) e “companheira de Lampeão” - O Estado de S. Paulo 28/07/1935, p. 2.

Esta última, permanece mesmo após a morte do casal em julho de 1938 no cerco a Angico /Sergipe. Referindo-se à chegada das cabeças de Lampião e Maria Bonita ao Museu do Serviço Médico
do Estado da Bahia, o periódico enfatizou que “haviam desaparecido as obturações em ouro dos dentes de “Lampeão” e sua companheira” - (O Estado de S. Paulo 14/08/1938, p. 9. ).

Poucas são as matérias que expressam alguma positividade. Na notícia veiculada em 20 de maio de 1934, somos informados de que Lampião seria um homem viril e sedutor, pois “tinha duas amantes, ambas caboclas e bonitas” - O Estado de S. Paulo 20/05/1934, p. 8.

Contudo, ao longo da pesquisa pudemos perceber, a partir da análise dos documentos e dos depoimentos orais de ex-participantes, que a informação veiculada acima não traduz as relações existentes nos bandos, pois era permitido que os homens tivessem uma única companheira e vice-versa.

No que se refere ao desempenho com armas de fogo, as cangaceiras foram descritas da seguinte forma: “As três mulheres que integram o bando sinistro (...) são hábeis amazonas e manejam o rifle com incrível destreza. Algumas são tão cruéis quanto os homens. Tomam parte nos assaltos e combates ao lado dos bandoleiros, mostrando-se tão destemerosas como eles”. - O Estado de S. Paulo 13/01/1937, p. 7.

Nessa construção fica evidente que se constituíam em mulheres belicosas e perigosas. Em seus relatos orais, Sila e Dadá enfatizam que as mulheres quando incorporavam-se aos grupos, aprendiam a lidar com armas de fogo e punhais.

A historiadora Maria Cristina M. Machado, (As táticas de guerra dos cangaceiros. São Paulo: Brasiliense, 1978, p. 92. ) nos esclarece que na maioria das vezes as mulheres ficavam protegidas nos coitos e que não participavam ativamente dos confrontos, salvo no momento em que a perseguição policial tornava-se mais acirrada. Tal perspectiva transmite a idéia de legítima defesa, e justifica a prática feminina. Em sua concepção, com exceção de Dadá, a maioria das mulheres não possuía um perfil belicoso e violento.

A leitura de O Estado de S. Paulo nos mostrou que as cangaceiras foram qualificadas de forma homogênea como criminosas e bandoleiras construindo, assim, um estereótipo masculino, belicoso e violento de mulher, ou então, tratando-as como meros objetos de satisfação sexual, descrevendo-as como amantes ou companheiras dos homens.

E por fim, como números, sempre de modo depreciativo. Essa postura do periódico acabou por encobrir a própria condição feminina e o ser mulher criado no universo do cangaço. Os cuidados femininos com o embelezamento do corpo, com a aparência, foram anulados pela construção de uma identidade belicosa e marginal."

Como vemos, essa apresentação mostra claramente o poder da imprensa, em mostrar que as "cangaceiras" eram de uma periculosidade sem tamanho e assim convencer a maioria da população, que tais eram bandidas da pior espécie.

Interessante é, quando os bandos do cangaço foram desfeitos, e após as entregas, elas voltaram para casa e tornaram-se ótimas donas de casa, cuidadora de seus filhos. Não é Lili?

domingo, 24 de abril de 2016

As cangaceiras - A ILUSÃO DO CANGAÇO

As cangaceiras

No rastro de Maria Bonita, dezenas de mulheres mudaram de vida ao integrar os famosos bandos do sertão - Ana Paula Saraiva de Freitas, historiadora e autora da dissertação “A presença feminina no cangaço: práticas e representações (1930-1940)”, (Unesp, 2005), nos traz essas considerações sobre o assunto na Revista de História de 1/6/2015. Embora os motivos fossem variados, a maioria daquelas que aderiram ao cangaço carregava a ilusão de que viveria em festa e teria liberdade, sensação alimentada pela vida nômade e errante daqueles homens.  Maria Bonita (Maria Gomes de Oliveira), famosa companheira de Lampião, foi a primeira figura feminina a ingressar no cangaço, em meados de 1930. A partir daí, mais de 30 mulheres participaram da vida nos bandos. A Bahia foi o estado que forneceu maior número de moças ao banditismo do sertão nordestino, seguida por Sergipe, Alagoas e Pernambuco. 


 Vale a pena ler.

  • ILUSTRAÇÃO JOÃO TEÓFILO
    ILUSTRAÇÃO JOÃO TEÓFILO
    Criminosas. Quando se fala da participação das mulheres no cangaço, geralmente elas são reduzidas a esta palavra. Uma imagem que perde de vista os medos, os desejos e as frustrações que rondaram as cangaceiras nas décadas de 1930 e 1940, e que ignora as razões que as levaram para essa vida. Enquanto algumas ingressaram nos bandos voluntariamente, outras foram coagidas e privadas do convívio com seus familiares.
    Embora os motivos fossem variados, a maioria daquelas que aderiram ao cangaço carregava a ilusão de que viveria em festa e teria liberdade, sensação alimentada pela vida nômade e errante daqueles homens. A realidade revelou um cotidiano bem mais complicado: além dos embates violentos contra forças policiais, muitas vezes os cangaceiros ficavam mal alimentados, sem água nem lugar para repousar, caminhando quilômetros sob sol e chuva. 
    A faixa etária das cangaceiras variava de 14 a 26 anos, e suas origens socioeconômicas eram diversas, incluindo mulheres de famílias abastadas. Elas viam no cangaço uma oportunidade para romper com os padrões sociais: naquele grupo poderiam conquistar outros espaços além da esfera privada do lar e tinham a oportunidade de escolher seus parceiros sem a interferência dos acordos familiares. 
    Uma vez integradas aos bandos, as jovens tinham que se adaptar à nova vida, sem chance para arrependimento: tentar fugir implicava retaliações tanto por parte de cangaceiros quanto por parte das volantes, como eram chamados os grupos de policiais que perseguiam os “bandidos do sertão”. Nesse espaço permeado pela violência, eram submetidas aos desejos sexuais de seu raptor, sem contato com a família, sentenciadas à morte em caso de adultério e envolvidas nos confrontos com forças policiais. Capturadas pelas volantes, apanhavam, eram estupradas e sofriam diversas humilhações. 
    No cangaço os papéis sociais eram bem definidos: ao homem cabia zelar pela segurança e o sustento dos bandos. À mulher, ser esposa e companheira. Durante a gestação, muitas ficavam escondidas. Depois do nascimento do bebê, eram obrigadas a retornar ao cangaço e entregar a criança a amigos. 
    A convivência entre elas não era totalmente pacífica. Testemunhos dão conta de que uma queria ser melhor do que a outra. O status da cangaceira era medido pelos bens que possuía: joias, vestidos, animais. As qualidades bélicas também estabeleciam diferenças entre elas. Sérgia Ribeiro da Silva, conhecida como Dadá, tornou-se emblemática por sua coragem e desempenho com armas nos embates com as volantes. Chegou a assumir o comando do grupo no momento em que o líder Corisco se encontrava ferido. Mas o prestígio feminino acabava sempre associado ao lugar ocupado pelo companheiro na hierarquia dos grupos.
    Maria Bonita (Maria Gomes de Oliveira), famosa companheira de Lampião, foi a primeira figura feminina a ingressar no cangaço, em meados de 1930. A partir daí, mais de 30 mulheres participaram da vida nos bandos. A Bahia foi o estado que forneceu maior número de moças ao banditismo do sertão nordestino, seguida por Sergipe, Alagoas e Pernambuco. 
    As andanças dos cangaceiros repercutiam na imprensa, e a presença feminina era mencionada de forma genérica e depreciativa. Nos jornais O Estado de São Paulo e Correio de Manhã, aquelas mulheres eram chamadas de bandoleiras, megeras e amantes. Eram estereotipadas como masculinizadas, belicosas e criminosas, além de serem tratadas como objetos de satisfação sexual. 
    A imagem apresentada pelos jornais, porém, difere daquelas que o fotógrafo sírio-libanês Benjamin Abrahão Boto produziu na década de 1930. Suas fotografias mostram como as cangaceiras pretendiam ser lembradas: realçam sua feminilidade, evidenciam cuidados com o corpo, a aparência e a postura, destacam a beleza dos trajes e o apreço por joias. Algumas se faziam retratar com jornais e revistas da época, sinalizando o desejo de serem identificadas como mulheres letradas. Essas preocupações ficam explícitas nas fotos em que algumas – como Maria Bonita – reproduziram a postura e o gestual das mulheres da elite rural e urbana, como se estivessem posando em estúdios consagrados. 
    A maioria dos folhetos de cordel reforça esse aspecto da participação feminina no cangaço. Os versos destacam a preocupação das cangaceiras com a beleza, o amor e a cumplicidade dedicados às relações afetivas, além da coragem nos embates. Nesse tipo de literatura o perfil feminino é recriado a partir de uma perspectiva mítica, envolvendo um misto de heroína e de bandida.
    As práticas e as representações das mulheres naquele universo da caatinga foram variadas, e elas não tinham um perfil único. Quando o cangaço chegou ao fim, cada uma teve de reconstruir sua vida conforme os parâmetros sociais vigentes. Do cotidiano duro e arriscado das andanças pelo sertão, as ex-cangaceiras largaram as armas e a fama de criminosas para encarar outros papéis: mães, donas de casa e, em alguns casos, trabalhadoras fora do âmbito doméstico. 
    Ana Paula Saraiva de Freitas 1/6/2015  - Ana Paula Saraiva de Freitas é historiadora e autora da dissertação “A presença feminina no cangaço: práticas e representações (1930-1940)”, (Unesp, 2005).
    Saiba Mais
    ARAÚJO, Antonio A. C. de. Lampião, as Mulheres e o Cangaço. São Paulo: Traço, 1985. 
    BARROS, Luitgarde O. C. A derradeira gesta: Lampião e Nazarenos guerreando no Sertão. Rio de Janeiro: Faperj/Mauad, 2000.
    QUEIROZ, Maria Isaura P. de. História do Cangaço. 2. ed. São Paulo: Global, 1986.
    MELLO, Frederico P. de. Guerreiros do Sol. Violência e banditismo no Nordeste do Brasil. São Paulo: A Girafa Editora, 2004.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Iconografia do Cangaço - Fotos Originais

Livro "Iconografia do Cangaço"

A saga de Virgolino Ferreira da Silva, o conhecido Lampião (1898-1938), é talvez uma das mais importantes e conhecidas da história brasileira. Envolto em lendas e verdades, o Rei do Cangaceiros povoa até hoje o imaginário nacional. Mas a trajetória desse fenômeno social remonta ao século 18, quando bandos de cangaceiros passaram a se formar no Nordeste.

A história do cangaço ganhou o imaginário popular como poucos outros casos de revoltas populares na História do Brasil. Lampião, o grande responsável por tirar o movimento do sertão profundo e levá-lo para os jornais das grandes cidades, soube valer-se dessa grande invenção que se popularizou no início do século XX: a fotografia.


Através dos registros fotográficos, feitos, num primeiro momento, por fotógrafos ocasionais espalhados pelo sertão e, depois, pelo libanês Benjamin Abrahão – autor da série mais significativa dessas imagens –, o cangaço ganhou as páginas dos jornais e a imaginação popular. Com as notícias, que se produziam ora enaltecendo os feitos de bravura, ora narrando enfaticamente a crueldade dos cangaceiros, as personagens dessa história foram se encorpando no imaginário do povo. Daí para as canções populares, os cordéis e as lendas sertanejas foi um pulo.

Este livro reúne mais de 150 dessas fotografias, revelando detalhes das vestimentas, do cotidiano, dos costumes e hábitos disso que se convencionou chamar de estética do cangaço. Além disso, traz um brinde ao leitor: o DVD "Lampião, o rei do cangaço", com as únicas imagens em movimento dos cangaceiros, produzidas por Benjamin Abrahão e agora numa nova montagem feita por Ricardo Albuquerque, que inclui 4 minutos inéditos, recuperados, em 2002, pela Cinemateca Brasileira.


Além das fotos e legendas explicativas, o livro traz textos assinados por Rubens Fernandes Junior, Moacir Assunção e Angelo Osmiro e telegramas inéditos do ataque a Mossoró, gentilmente cedidos pelo livreiro Maurício, do Sebo Baratos da Ribeira. O projeto gráfico é do premiado Delfin / Studio DelRey.

Abaixo algumas outras fotos fac-símiles dos originais.













O vídeo abaixo é uma gravação feita por Benjamin Abrahão com o Lampião em carne e osso. Vídeo histórico (sem áudio) com mais 4 minutos de cenas inéditas desse que, sem dúvidas, foi um dos mais polêmicos personagens que o Brasil já teve. Este vídeo faz parte da obra "Iconografia do Cangaço", da editora Terceiro Nome, com organização do Ricardo Albuquerque.


Organizador Ricardo Albuquerque
Páginas 216
ISBN 9788578160869
Projeto gráfico  Delfin – Studio DelRey
Formato 23 x 25 cm
Acabamento Capa dura
Patrocínio Banco Volkswagen
Apoio Ministério da Cultura

Fontes da matéria: Terceiro Nome - Estadão - You Tube