Lampião: O Rei dos Cangaceiros
Por Raul Meneleu
Virgolino Ferreira da Silva (1897–1938), conhecido pelo apelido Lampião, foi o líder mais emblemático do cangaço, um movimento de banditismo social no sertão nordestino do Brasil. Ativo entre as décadas de 1920 e 1938, ele se tornou uma figura mítica, misto de herói popular e vilão, cuja história reflete as complexidades de uma região marcada pela seca, desigualdade e ausência do Estado.
Contexto Histórico e o Cangaço
O "cangaço" surgiu no árido "Sertão nordestino, onde a pobreza, as secas cíclicas e a concentração de terras geravam conflitos. Os cangaceiros eram grupos armados que vagavam pela região, alternando entre ações de resistência, saques e violência. Embora alguns fossem vistos como "justiceiros", sua relação com as comunidades era ambígua: protegiam ou extorquiam, dependendo da circunstância.
A Ascensão de Lampião
Nascido em Pernambuco, Lampião entrou para o cangaço após conflitos familiares com fazendeiros e a polícia. Seu apelido, que significa "lampião", teria origem na rapidez de seus disparos, que "iluminavam a noite como um candeeiro". Sua liderança destacou-se pela astúcia, organização e habilidade em escapar de perseguições.
Características e Iconografia
Lampião cultivava uma imagem distinta:
- Trajes elaborados: Chapéus de couro com estrelas, gibões bordados, cartucheiras cruzadas no peito.
- Armamento: Carabina Winchester, facão e revólver.
- Simbolismo: Sua estética misturava elementos do sertão e do misticismo, reforçando sua aura lendária.
Em 1930, uniu-se a Maria Bonita, considerada a primeira mulher a integrar o cangaço ativamente. Ela simbolizou a quebra de padrões em um mundo predominantemente masculino.
Queda e Morte
Em 28 de julho de 1938, Lampião, Maria Bonita e parte de seu bando foram surpreendidos por uma força policial em Angicos (Sergipe), após uma denúncia. Onde 11 cangaceiros foram mortos a tiros, inclusive Virgolino Ferreira e Maria Bonita. Seus corpos foram decapitados, e as cabeças expostas publicamente como troféus (posteriormente enterradas em 1969).
Legado e Controvérsias
- Mito vs. Realidade: Enquanto a cultura popular o romantiza como "Robin Hood do Sertão", historiadores ressaltam sua brutalidade, incluindo saques e execuções.
- Cultura Brasileira: Lampião inspira cordéis, filmes (como "O Baile Perfumado"), música (Luiz Gonzaga) e festivais, simbolizando resistência e identidade nordestina.
- Debate Social: Representa a luta contra a opressão, mas também a falência de políticas públicas no sertão.
Lampião permanece um ícone complexo, encapsulando o espírito rebelde do Nordeste e as contradições de uma época em que a lei era ditada pela força e sobrevivência.