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sábado, 26 de setembro de 2020
Jararaca ataca a Vila de Carnaiba de Flores
quinta-feira, 24 de setembro de 2020
FLOR DO PARNASO
Natureza Belicosa Que Possuimos
quarta-feira, 23 de setembro de 2020
Lampião, o eterno fugitivo.
segunda-feira, 7 de setembro de 2020
O Sete de Setembro
domingo, 6 de setembro de 2020
Padre Cícero e o homem que o olhava no caixão
sexta-feira, 14 de agosto de 2020
Pão de Açúcar - Celeiro do Cangaço
Pão de Açúcar - Celeiro do Cangaço
Por
Raul Meneleu
Estive recentemente na cidade alagoana de Pão de Açúcar nas barrancas do Velho Chico onde muitas histórias de Coronéis e Cangaceiros se misturaram com autoridades policiais.
Fui
especialmente para acompanhar o lançamento de um livro do escritor Antônio
Pinto, que fala sobre um dos antigos residentes da cidade e que este era
Lampião.
O
livro "Lampião - A sua verdadeira morte" narra a história do Senhor
João Novato, que chegou à cidade no início dos anos 60 e fixou residência.
Vinha acompanhado de sua esposa, que se chamava Maria Rita.
Mas fora desta história entrevistei algumas pessoas (link) e existem outras que precisam ser expostas (link).
Fico
imaginando por que essa região foi praticamente esquecida pela maioria dos
pesquisadores da grande saga que desenrolou-se no Nordeste brasileiro e mais
ainda nesta região. Podemos citar a Professora Luitgarde de Oliveira Cavalcanti
Barros, nascida nessa região alagoana como um destaque em falar sobre a saga e
o jornalista Melchiades da Rocha.
Vamos elencar aqui alguns vultos representativos destas três vertentes: coronelismo, autoridades policiais e cangaceiros, e no bojo destas três vertentes, pistoleiros e capangas.
Coronéis:
A
conversa do Coronel Joaquim Rezende com Lampião
Joaquim Rezende (à esquerda) conversa com Melchiades da Rocha. Foto: Maurício Moura – Jornal A Noite.
No
dia 30 de julho de 1938 em Santana do Ipanema, Alagoas, onde as cabeças iriam
ser expostas, estava o prefeito recém-eleito de Pão de Açúcar, Joaquim Rezende,
identificado por alguns como sendo coiteiro e amigo de Lampião.
O
Coronel Joaquim Rezende foi prefeito de Pão de Açúcar entre 1938 e 1941. Este Morreu
assassinado em 1954, quando ocupava o cargo de delegado de Polícia. Os
assassinos formam os irmãos Elísio e Luiz Maia. Elísio era então prefeito do
município.
Melchiades
da Rocha, em seu livro Bandoleiros das Catingas, lançado em 1942, recorda do
encontro que teve com Joaquim Rezende em Santana do Ipanema.
Ele
se refere ao prefeito de Pão de Açúcar como sendo “um abastado proprietário em
seu município” e que ele estava em Santana também “à espera da cabeça de
Lampião, pois desejava certificar-se se de fato ele havia morrido”.
A
condição de amigo de Lampião ostentada por Joaquim Rezende aguçou os instintos
do repórter, que começou a se perguntar o que teria levado um rico cidadão a
“se tornar um afeiçoado do Rei do Cangaço”, quando era prefeito de uma cidade
que poderia ser alvo das ações do bandido.
A narrativa a seguir é um valioso documento de como se davam as relações de Lampião com o poder político e econômico das regiões sertanejas vítimas do cangaço.
Com
a palavra Melchiades da Rocha:
“Sem
quaisquer etiquetas, pois nós sertanejos não somos, apenas, iguais perante a
lei, apresentei-me ao Cel. Rezende e lhe disse à moda da terra:
—
“Seu” Rezende, eu queria uma palavrinha do senhor!
—
Pois não! — respondeu-me, amavelmente, o prefeito de Pão de Açúcar.
Momentos
depois o Sr. Rezende e eu nos achávamos na sede da Prefeitura de Santana. Em
poucas palavras relatei os meus propósitos ao cavalheiro que me fora apontado
como sendo grande amigo de Lampião.
Após
ter-me oferecido uma cadeira, o Sr. Rezende sentou-se e narrou,
pormenorizadamente, como e por que se tornara amigo do Rei do Cangaço, amigo
ocasional, bem entendido, pois não poderia ter sido de outro modo.”
O
Coronel Rezende então fala ao repórter:
"Conheci Lampião em 1935, época em que me escreveu ele, pedindo mandasse-lhe a importância de quatro contos de réis, prometendo-me, ao mesmo tempo, tornar-se meu amigo se fosse atendido.
Em
resposta à carta do terrível bandoleiro, mandei dizer-lhe pelo mesmo portador
que lhe daria de muito bom grado o dinheiro, mas que só o faria pessoalmente.
Três
dias depois Lampião mandou-me outro bilhete do seu próprio punho, dizendo-me
que me esperava às 10 horas da noite na fazenda Floresta, município de Porto da
Folha, em Sergipe, recomendando-me que fosse até ali, mas não deixasse de levar
o dinheiro.
Não
obstante os naturais receios que tive, à hora aprazada cheguei ao local do
encontro, onde permaneci até uma hora da manhã, quando surgiu um cangaceiro
que, ao ver-me, perguntou-me se eu era o moço que desejava falar ao capitão.
Respondi que sim.
Dentro
de poucos minutos, então, o Rei do Cangaço ali se apresentava acompanhado de
quatro homens, “Juriti”, “Zabelê”, “Passarinho” e “Nevoeiro”. Ao ver o grupo
aproximar-se, identifiquei logo Virgulino e a ele me dirigi, cumprimentando-o.
O
famoso bandoleiro, ao contrário do que eu esperava, recebeu-me amavelmente e
foi logo perguntando sobre o que lhe havia levado. Sabendo que o Rei do Cangaço
gostava de beber, eu, que levava comigo três litros de conhaque, lhos ofereci.
A fim de que desaparecesse logo qualquer suspeita do bandoleiro, prontifiquei-me a ser o primeiro a provar a bebida. Encarando-me com olhar firme, Lampião me disse em tom natural: “Concordo em que o senhor beba primeiro, mas não é por suspeita e sim porque o senhor é um moço decente e eu sou apenas um cangaceiro”.
Tomamos,
então, o conhaque e, em seguida, abordei o Rei do Cangaço sobre o dinheiro que
ele me havia pedido. Como resposta, disse-me ele: “O senhor dá o que quiser,
pois eu dou mais por um amigo do que pelo dinheiro”.
—
Esse fato — disse o conceituado comerciante de Pão de Açúcar — teve lugar no
mês de agosto de 1935, e a minha palestra com Lampião durou três horas, tendo
ele me falado de vários assuntos, entre os quais o relativo à perseguição de
que era alvo, acrescentando que, de todas as forças que andavam em seu encalço,
a que mais o procurava era a do então Major Lucena, dada a velha inimizade que
o separava desse oficial da polícia alagoana, a quem reconhecia como homem de
fato e dos mais corajosos.
Quanto
às forças dos outros Estados, disse-me Lampião que se arranjava “a seu gosto…”,
fazendo nessa ocasião graves acusações a vários oficiais dos que andavam em sua
perseguição.
—
Aí está como foi o meu primeiro encontro com o Rei do Cangaço. — Depois —
acrescentou o prefeito de Pão de Açúcar — Lampião mandou pedir-me bebidas,
charutos e também objetos de uso doméstico. Mais tarde, porém, fui informado de
que ele estava empregando esforços no sentido de matar o Sr. José Alves
Feitosa, ex-prefeito de minha terra que, como eu, o esperara muitas vezes ali,
a fim de fazer-lhe frente, pois foi das mais terríveis a ação de Virgulino em
nosso município.
Tratando-se
de um amigo meu o homem que estava destinado a morrer às mãos de Lampião,
procurei um pretexto para me avistar com este e não me foi difícil encontrá-lo.
Todavia, após uma série de considerações, em que fui até exigente demais,
Lampião, dizendo ao mesmo tempo que só fazia tal “sacrifício” para me
satisfazer, prometeu-me sustar a realização de sua sanguinária intenção,
declarando-me naquele momento que já tinha em campo dois homens para fazer o
“serviço” lá mesmo na cidade de Pão de Açúcar, já que o visado andava
resguardado, não saindo para parte alguma.
Tal
conhecimento com Lampião, deixou-me, aliás, em situação crítica, pois inimigos
meus denunciaram ao Coronel Lucena que eu era um dos coiteiros do celerado
cangaceiro.
Ao
ter ciência de tal acusação, dirigi-me ao referido oficial e lhe expus as
razões que me levaram a ter contato com o Rei do Cangaço, após ter andado
prevenido contra ele, longo tempo. Jamais faria isso se não fosse a situação em
que, como muitos outros sertanejos, me encontrei durante longo tempo.
Intercedi, depois disso, em favor de várias firmas comerciais de Maceió e Penedo, cujos representantes teriam caído às garras do bando sinistro se não fora a minha intervenção junto a Lampião. Há dois meses passados, fui forçado, do que não guardei reserva ao Coronel Lucena, a intervir novamente em defesa de algumas vidas preciosas, no que fui feliz, conseguindo que Virgulino desistisse dos seus sinistros propósitos.”
Após
este depoimento, Joaquim Rezende continuou a conversar informalmente com o
repórter e revelou que Lampião confessara a ele que tinha uma filha fruto da
relação com Maria Bonita. A menina, então com 12 anos, estava sob a guarda de
um vaqueiro no município de Porto da Folha, que a adotara.
Lampião
também disse a ele que entrou para o cangaço aos 16 anos de idade, aderindo ao
grupo do bandoleiro Antônio Porcino. Tinha a intenção de vingar a morte do pai
e de um irmão, que tombaram num choque com a Polícia alagoana.
Joaquim
Rezende contou ainda que Lampião tinha vontade de abandonar o cangaço para se
dedicar à pecuária, pois gostava da vida no campo. O cangaceiro disse ainda que
havia adquirido duas fazendas no município de Porto da Folha pela quantia de nove
contos de réis e comprado dois belos cavalos em Xorroxó, na Bahia, arreando-os
luxuosamente.
Diante
da possibilidade apresentada pelo prefeito de Pão de Açúcar de negociar a sua
rendição às autoridades de Alagoas, poupando-lhe a vida, Lampião achou boa a
ideia, mas argumentou que seria impossível isso acontecer por considerar que os
governos da Bahia e de Pernambuco fariam tudo para eliminá-lo.
“Não tenho dúvidas de que Lampião, se tivesse podido, havia mudado de meio de vida, pois sei que nestes últimos tempos ele não atacava senão quando se via forçado a assim proceder”, concluiu Joaquim Rezende.
A
filha de Lampião citada por Joaquim Rezende era Expedita Ferreira Nunes, que
foi criada em Porto da Folha pelo casal Manoel Severo e Aurora, que também tomavam
conta de duas fazendas — provavelmente as que Lampião citou como suas, mas que
são citadas como de Juca Tavares, padrinho de Expedita.
Quando
Lampião morreu, Expedita tinha cinco anos e nove meses. Isso indica que a
informação de Joaquim Rezende sobre a idade da filha, 12 anos, estava errada. é
possível que tenha Lampião tenha falado 2 anos e não 12.
Expedita, depois dos 8 anos, foi viver com seu tio João Ferreira da Silva, o Joca Ferreira.
CANGACEIROS
Também entrevistei a Sra. Enalva Soares Pinto, filha do cangaceiro Cristino Cleto o Corisco e dona Maria Francisca e que foi entregue ao Padre Soares Pinto, que a deixou com seu tio, o fazendeiro Antônio Soares Pinto para cria-la. Veja a entrevista nesse link
A filha de Corisco que reside em Pão de açúcar/AL, que foi criada pela tradicional família SOARES PINTO chama-se ENALVA SOARES PINTO, é filha de um relacionamento amoroso que Corisco manteve com Francisca Alves, natural de Águas Belas/PE. Está lúcida com 84 anos. No mês ter a criança o próprio Corisco trouxe a jovem Francisca para Pão de açúcar, assim que a criança nasceu foi entregue ao padre José Soares Pinto que no momento encontrava-se em Maceió, foi chamado às pressas por Telegrama para vir a pão de açúcar receber um presente. O padre José Soares Pinto (1884-1939) ainda faleceu jovem no Rio de Janeiro, com a morte do padre , a criança ENALVA passa para os cuidados do irmão do padre o fazendeiro totonho Soares Pinto.
A
senhora Enalva, teve 12 filhos, inclusive um deles é Padre em São Paulo, o
Padre Enubio. Conheci desta prole apenas dois deles, o senhor Antônio Pinto,
Escritor e Artista Plástico, que nesta minha visita a Pão de Açucar fez o
lançamento do livro "Lampião - A sua verdadeira morte" e que fez uma
caminhada tipo procissão para instalar um Cruzeiro no túmulo do Senhor João
Novato, acreditado por parte da comunidade como sendo Lampião. (Link) e o
Senhor Heitor Pinto, proprietário de uma Academia de Ginástica e de um
Restaurante tipo Museu a Céu aberto que conta a história da cidade com seus
personagens mais importantes. (Link) Esse
museu a céu aberto, está instalado na periferia da cidade de Pão de Açúcar no
Estado de Alagoas, banhada pelo Rio São Francisco. Também é restaurante e tem
um bar temático. Tudo rústico como era o sertão no século 19. O proprietário é
o Professor Heitor Soares Pinto, Neto do famoso cangaceiro Corisco.
Desde menino conviveu com o Sr. João Novato, que para algumas pessoas era o famoso cangaceiro Lampião, que depois de fugir baleado do combate do Angico, depois de andar escondido por muitos anos, aportou novamente na cidade de Pão de Açúcar-AL no início dos anos 60.
Por
conta da pandemia do COVID-19 ainda não voltei a Pão de Açúcar para prosseguir
com minhas pesquisas, que inclui a vida de Expedita Ferreira, a filha de
Lampião quando menininha criada na região, as fazendas que provavelmente
Lampião era proprietário, uma pesquisa de outro filho de Corisco, criado por um
membro proeminente da cidade, o relato de um cangaceiro que fugiu baleado do
Fogo do Angico e que foi tratado no hospital da cidade sergipana de Nossa Senhora
da Glória, onde chegou a escrever na parede do ambulatório suas iniciais e
também entrevistar alguns membros do bloco carnavalesco Os Cangaceiros, fundado
por um filho de cangaceiro juntamente com João Novato. (Link)
João
Novato (seta) e Dona Maria Rita
quinta-feira, 16 de abril de 2020
quarta-feira, 25 de março de 2020
Parlamentares tentaram incluir combate a Lampião na Constituição de 1934

Reportagem: Ricardo Westin, da Agência Senado
Colaboração: Celso Cavalcanti, da Rádio Senado
Pesquisa: Arquivo do Senado
Publicado em 2/7/2018
Ao longo das décadas de 1920 e 1930, Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião, espalhou o terror pelo Nordeste. Com seu bando, percorreu o sertão atacando vilas, matando inocentes, saqueando mercearias, achacando fazendeiros, roubando gado, trocando tiros com a polícia, marcando a pele de inimigos com ferro em brasa.
A carreira do criminoso brasileiro mais célebre de todos os tempos chegou ao fim há 80 anos. Descoberto numa fazenda em Sergipe, Lampião foi executado pela polícia a tiros de metralhadora, ao lado de outros dez cangaceiros, incluindo Maria Bonita, sua companheira. Até o New York Times deu a notícia, no histórico 28 de julho de 1938.

Jornal A Noite noticia morte de Lampião em julho de 1938 e publica fotos do cangaceiro, de uma vítima do bando marcada com ferro em brasa e do comandante da ação policial, tenente João Bezerra (imagem: Biblioteca Nacional)
Os senadores e os deputados da época olhavam o cangaço com preocupação. Documentos guardados nos Arquivos do Senado e da Câmara mostram que os parlamentares trataram do tema na tribuna em inúmeras ocasiões. Em 1926, o senador Pires Rebello (PI) discursou:
— Quem vive nesta capital da República [Rio de Janeiro], poderá achar que o governo tem feito a felicidade completa dos brasileiros. Ofuscados pelos brilhos da luz elétrica, é natural que os cariocas não saibam que naquele vasto interior existem populações aquadrilhadas fora da lei que zombam da Justiça e ridicularizam governos.
Muitos cangaceiros haviam assustado o Nordeste antes de Lampião, como Cabeleira, Jesuíno Brilhante, Antônio Silvino e Sinhô Pereira, mas nenhum foi tão temido quanto o rei dio cangaço. As investidas de Lampião eram tão brutais que, na Assembleia Nacional Constituinte de 1934, deputados nordestinos — a Assembleia não teve senadores — redigiram pelo menos cinco propostas para que a nova Constituição previsse o combate ao cangaço como obrigação do governo federal.
A repressão cabia às volantes, batalhões itinerantes das polícias dos estados. O que parte dos constituintes desejava era que o Exército reforçasse a ação das volantes. O deputado Negreiros Falcão (BA) afirmou:
— Os Lampiões continuam matando, roubando, depredando, desvirginando crianças e moças e ferreteando-lhes o rosto e as partes pudentas sem que a União tome a menor providência. Os estados por si sós, desajudados do valioso auxílio federal, jamais resolverão o problema.

Com seu bando de cangaceiros, Lampião aterrorizou o sertão nas décadas de 1920 e 1930 (foto: Biblioteca Nacional)
O deputado Teixeira Leite (PE) lembrou que os governos estaduais eram carentes de verbas, armas e policiais:
— A força policial persegue os bandoleiros, prende-os quando pode e mata-os quando não morre. Hostilizados de todos os lados, recolhem-se à caatinga e se tem a impressão de que o bando se extinguiu. Mera ilusão. O vírus entrou apenas num período de latência. Cessada a perseguição, os facínoras repontam mais violentos e sequiosos de sangue e dinheiro, apavorando os sertanejos e a polícia.
Leite explicou por que seria diferente com o Exército em campo:
— Que bando se atreveria a aproximar-se de uma zona onde estacionassem tropas do Exército, com armas modernas, transportes rápidos e aparelhos eficientes de comunicação? Para provar que apenas as forças e a intervenção do governo nacional poderão extirpar esse banditismo, basta citar que faz mais de dez anos que Lampião tranquilamente impera na região limítrofe de cinco estados do Brasil.

Outra vantagem das tropas federais era que podiam transitar de um estado a outro. As polícias estaduais não tinham tal liberdade — e os cangaceiros tiravam proveito disso. Uma vez encurralados em Alagoas, por exemplo, os bandidos escapavam para Sergipe, Bahia ou Pernambuco, estados nos quais as volantes alagoanas não podiam atuar.
Nenhuma das propostas que davam responsabilidade ao governo federal vingou, e a Constituição de 1934 entrou em vigor sem citar o cangaço.
— Na nova Constituição, vamos invocar o nome de Deus. Vamos também constitucionalizar Lampião? — ironizou o deputado Antônio Covello (SP).
O deputado Carlos Reis (MA) concordou:
— Se no Brasil temos por toda parte bandoleiros como Antônio Silvino e Lampião, nos Estados Unidos existem os gangsters e não me consta que na Constituição norte-americana haja qualquer medida de repressão ao banditismo ali organizado com esse caráter.
Para o deputado Francisco Rocha (BA), o cangaço exigia “remédio social”, e não “remédio policial”:
— As causas do cangaceirismo são a falta de educação, estrada e justiça e a organização latifundiária preservando quase intactas as antigas sesmarias coloniais, para não mencionar a estúpida ação policial dos governos.

Governo da Bahia espalhou cartazes oferecendo recompensa a quem capturasse Lampião (imagem: reprodução)
Segundo o jornalista Moacir Assunção, autor do livro Os Homens que Mataram o Facínora, sobre os inimigos de Lampião, o cangaço surgiu na Colônia, provocado pelo isolamento da região:
— O sertão ficava separado do litoral e mantinha uma ligação muito tênue com Lisboa e, depois, com o Rio. O que prevalecia não era a justiça pública, mas a justiça privada. Era com sangue que o sertanejo vingava as ofensas. Muitos aderiram ao cangaço em razão de brigas de família ou abusos das autoridades. Uma vez cangaceiros, executavam a vingança contando com a proteção e a ajuda do bando.
Lampião entrou no cangaço após a morte de seu pai pela polícia, em 1921.
— O cangaceiro não era herói. Era bandido mesmo — esclarece Assunção. — A aura de herói tem a ver com um atributo valorizado pelo sertanejo do passado: a valentia. O cangaceiro enfrentava a polícia sem medo, de peito aberto. Isso era heroísmo.
Em 1935, com a nova Constituição já em vigor, o senador Pacheco de Oliveira (BA) apresentou um projeto de lei que destinaria 1,2 mil contos de réis aos estados nordestinos para repressão ao cangaço. O dinheiro sairia do orçamento da Inspetoria Federal de Obras contra as Secas, responsável pela abertura de açudes, poços e estradas no sertão.
A grande preocupação de Oliveira eram os criminosos que atacavam os trabalhadores e atrasavam as obras:
— Não há muito, um engenheiro avisou sobre o risco que corria seu pessoal. Como não lhe chegassem recursos, lançou mão do único expediente que lhe era praticável: armou os trabalhadores.
Os cangaceiros matavam os operários por terem ciência de que a chegada do progresso ao sertão colocaria em risco o futuro das quadrilhas nômades.
O historiador Frederico Pernambucano de Mello, autor do livro Quem Foi Lampião, diz que havia motivos não confessos para que o governo federal e os estados pouco fizessem para acabar com o rei do cangaço de uma vez por todas:
— Lampião vivia fora da lei, mas mantinha um excelente relacionamento com os poderosos. Era protegido por coronéis e políticos. O governador de Sergipe, Eronildes Ferreira de Carvalho, tinha amizade com Lampião e lhe fornecia armamento e munição.
O poder público chegou a se aliar oficialmente aos cangaceiros. Em 1926, o bando de Lampião foi contratado para combater a Coluna Prestes no Nordeste. Comandado por Luís Carlos Prestes, o movimento foi uma marcha político-militar que percorreu o país enfrentando o governo e mobilizando a população contra a opressão política da República Velha.
A boa vida de Lampião acabou quando Getúlio Vargas deu o golpe de 1937 e instaurou o Estado Novo. Uma das bandeiras da ditadura era a modernização do país. Nesse novo Brasil, que deixaria de ser agrário para se tornar urbano e industrial, o cangaço era uma mancha anacrônica a ser apagada com urgência.

Getúlio Vargas e sua política modernizante foram decisivos para o fim do cangaço (foto: CPDOC/FGV)
A gota d’água foi um documentário mudo que revelou ao país a rotina do bando de Lampião na caatinga. O que se via eram cangaceiros despreocupados, alegres, bem vestidos e com joias. Nem pareciam fugitivos. Sentindo-se afrontado, Vargas ordenou aos governadores do Nordeste que parassem de fazer vista grossa e aniquilassem o rei do cangaço.
Assim se fez. Lampião e seus subordinados foram mortos e decapitados em 1938, e o governo expôs as cabeças em cidades do Nordeste. Bandidos de outros grupos correram para se entregar, de olho na anistia prometida a quem delatasse companheiros.
Corisco, o último pupilo de Lampião, foi morto em 1940, e o cangaço enfim se tornou passado.
Sem perspectivas no Nordeste, muitos dos ex-cangaceiros migraram para o Rio e São Paulo. Policiais que atuavam nas volantes perderam o emprego e engrossaram o êxodo nordestino.

Corisco, o último dos cangaceiros, foi morto pela polícia em 1940 (foto: reprodução)
Senado Notícias

sábado, 22 de fevereiro de 2020
O CANGACEIRO VAMPIRO
O CANGACEIRO GALO BRANCO
João Martins de Souza nasceu em 1890 na cidade sergipana de Itabaiana. Seu pai nasceu logo após a Revolução Farroupilha', a guerra em que os gaúchos fundaram uma nova república no Rio Grande do Sul e depois a estenderam até Santa Catarina. Sua mãe era uma imigrante italiana que chegou ainda criança com os pais à região de Bento Gonçalves/RS, em meados do século passado. Lá se conheceram e terminaram por demandar o nordeste, fixando residência no Estado de Sergipe. Ali o pai de João Martins foi morto covardemente por uma volante, o que transformou o filho, ainda com 13 anos, num cangaceiro.
Vivendo entre jagunços, procurava descontar a raiva que passou a sentir dos policiais. Para ele, os macacos não prestavam, eram uns bandidos e só mereciam a morte. Por isso, seguiu Antônio Silvino, um dos mais temíveis dos cangaceiros. Foi entre eles que, devido à sua estatura e coragem, recebeu o apelido de Galo Branco. Pelos seus cálculos, matou perto de uns quarenta macacos ao longo dos dezessete anos que viveu no cangaço. O suficiente para vingar o pai. Nunca mais viu a mãe. Mas numa passagem por Sapé, no agreste paraibano, conheceu dona Flora Maria Conceição, com quem teve três filhos: Manoel, Severina do Carmo e José Martins.
Depois de conviver com o crime e a vida sem morada certa, vendo a mulher e os filhos uma vez por mês, ou até menos, durante quase vinte anos, Galo Branco cansou daquela vida e, em 1920, entregou-se à Forca Pública em Sapé. Ali, foi preso e condenado. Acabou recambiado, não muito tempo depois, para a ilha de Fernando de Noronha, aonde chegou a bordo do navio Belmonte junto com a família e com outros presos, após três dias de viagem.
Após aportar na Esmeralda, a família foi morar com familiares de outros presidiários, enquanto Galo Branco seguiu para a Aldeia. Depois, João Martins conseguiu uma casa para ele e a família. Dona Flora e a menina Severina ficaram encarregadas da lavagem de roupa de guardas, enquanto Galo Branco pescava e pegava caranguejo. Em seguida, foi trabalhar no curral. Ali, precisava pegar boi, matar e embalar a carne quando o navio chegava à ilha para levar o produto para o continente. Mais adiante, foi promovido à guarda de primeira classe.
Ele trabalhava até as últimas horas do dia e era obrigado a dormir em casa, exceto quando não tirava guarda. Às 20 horas, as luzes da ilha se apagavam e aquele pedaço de terra, no meio do oceano, era um silêncio só. Nessa época, envolveu-se em muitas brigas. Certa vez, recebeu de um subordinado um golpe de facão que feriu gravemente seu braço, levando-o para a usar tipoia.
Na adolescência, o filho José Martins trabalhou como baitereiro(3). Trabalhava no Ais France, ou seja, quando chegavam navios com mantimentos e equipamentos para os franceses, ele auxiliava no descarrego. O irmão Manoel trabalhava na mercearia do seu Teixeira. Já Severina do Carmo, além de lavar roupa com a mãe, trabalhava em casa. Em 1941, o filho mais novo, José Martins, com o fim da pena do pai e precisando servir o Exército, foi para Recife. O caçula se apresentou no 149ª. Regimento de Infantaria, no Bairro do Socorro em Jaboatão dos Guararapes-PE. Galo Branco esposa seguiram para a capital pernambucana um ano depois.
Mas o destino levaria o ex-cangaceiro para o Ceará. Lá, abriu uma bodega onde vendia
cachaça e cigarros na cidade de Missão Velha. Permaneceu um longo período em terras
cearenses. Anos depois, o velho jagunço estaria de volta a Itabaiana, onde nasceu. Só quando soube que o filho Zé Martins estava de volta à ilha é que retornou para a Esmeralda.
Nisso já corria o ano de 1956 e muitas coisas haviam acontecido com o filho caçula. Após ficar servindo no 14° RI, em Jaboatão, Zé, que era soldado armeiro, foi voluntário para ir para a Guerra, na Itália. O treinamento foi extremamente puxado. Faziam maneabilidades como ficar sem comer, andar sem orientação para chegar a um destino pré-determinado, fazer marchas, entre outras atividades. Só embarcou com a tropa para a Itália no final de 44. O Navio Bagé ainda passaria no Rio de Janeiro antes de seguir para a Europa. Em Monte Castelo, enfrentaram frio intenso, só esquentado pelo calor do fogo alemão. Sua função era preparar as armas e separar a munição de cada combatente. Mesmo sem lutar, participou da tomada do famoso morro italiano. Ali, viu vários amigos morrer.
José Martins diz que quinze dias depois de estar na Guerra, cada um só pensava em si, acabavam-se as amizades. Após oito meses na Itália e a rendição do Eixo, ele voltaria no navio Siqueira Campos. Lembra-se que o cais do porto ficou lotado de repórteres, familiares e curiosos que agitavam bandeirinhas na chegada dos pracinhas ao Recife. Após a guerra, o seu tempo no Exército terminou e Zé Martins foi licenciado sem direito a nada. O retorno para Noronha, um ano depois, o levaria a trabalhar na oficina mecânica.
No seu retorno à ilha, na década de 50, Galo Branco foi trabalhar no quarentenário com
vacas que vieram da India para o Brasil e ficaram em Noronha aguardando a manifestação de alguma doença. A função do ex-cangaceiro era dar ração para o gado. Depois que os bovinos foram embora, passou a se dedicar à agricultura. Morava com o filho na Vila dos Remédios no local onde está localizada hoje a casa de Nilton Flor, filho de dona Tassiana. Ele possuía um roçado na área da Aeronáutica, próximo aos galpões onde eram guardadas as bombas. Para ali se mudou alguns anos depois com o objetivo de ficar mais perto do roçado. Sua plantação ficava nas proximidades da atual residência de dona Sabina, na Vila da Coréia. Plantava milho, feijão, jerimum, batata e macaxeira. Galo Branco morou um tempo com o neto Antônio de Carmo, filho de dona Severina, na Vila dos Trinta.
Em 1975 o caçula José Martins conseguiu a aposentadoria do Exército, com 25 anos de serviço, como ex-combatente. Logo depois foi para o Recife morar no Jordão. Em seguida, voltou para Fernando de Noronha passando a trabalhar no local onde os americanos
faziam suas refeições quando estiveram na ilha. Já o velho cangaceiro não estava mais tão bem de saúde assim. A idade já pesava bastante. Não foram poucas as estripulias em que havia se metido ao longo dos já 85 anos.
Em 79, resolve morar com o filho no Recife, contudo, mais uma vez, não resiste e acaba voltando para a Esmeralda, onde falece em setembro de 1986, em consequência de uma trombose que atingiu primeiro os seus membros inferiores e depois os superiores.
O filho Zé voltou a Noronha em 87, a convite do Governador Mesquita, a fim de trabalhar na oficina que mudou para a Vila do Trinta.
Sua situação financeira melhoraria com a lei do ex-combatente, aprovada pela Constituição de 68. Dessa forma, Martins foi promovido a 2º. tenente da reserva, recebendo como tal. Retornou ao Recife em 95 e mora atualmente no Bairro do lpsep.
O velho cangaceiro, enquanto viveu em Noronha, nunca deixou de usar suas sandálias e o chapéu do cangaço. Também sempre usava uma bengala e uma bolsa a tiracolo. Era agricultor, mas não desgrudava do punhal chamado “Santo Jesus Vai Comigo". Caracterizava- se por andar a pé pela ilha. Dizem os nativos, os mais antigos, que ele adorava beber o sangue de pequenos animais que caçava na ilha.
1 - Alguns fugitivos dessa revolta permaneceram um período em Noronha, aonde chegaram a bordo de um navio que iria levá-los à Bahia, mas seguiu mais para o norte.
2 - Policiais.
3 - Remador de um pequeno bote.
Foto: Novidades da tia Gilva
sábado, 4 de janeiro de 2020
Lampião: Sou cangaceiro e não capanga
A década de 20 foi o auge do barbarismo na região, pouco afeitos à civilidade e à lei: uma época dos chamados "cabras valentes", onde o modo de resolver conflitos era na base do "revólver na cinta" e das gatas-bravas (mulheres guerrilheiras). Foi nesse cenário, que Lampião esteve nessa cidade, quando de passagem pela Bahia, conhecendo cada palmo de terreno para a sua guerra que sabia por certo, viria.
Segundo depoimentos, Lampião "variando as posições de perspectiva, deslumbrava-se, extático, diante do fantástico espetáculo nunca por ele contemplado" e hoje penso em minhas visitas na década de 70, apenas 42 anos nos separando desse passado, antes do auge do barbarismo nessa região.
Ver este vasto território da Chapada Diamantina, onde aliava meu trabalho, com minhas pesquisas sobre os escravos, filhos de escravos, religiosidade, etc. O via também como Lampião deve ter visto e se assombrado com os enormes aglomerados de gigantescas elevações de granito, "corcovadas e rotundas, tabuladas e bizarras, às vezes mal-assombradas como o morro do Pai Inácio, tomando a forma de castelos feudais, fortalezas medievais, majestosas proas de embarcações, mirantes e promotórios ciclópicos, uma acrópole erguida pela natureza para os deuses da mitologia!".
Vi sim! Todo esse cenário visto tanto pelo Padre Escritor quanto por Lampião. Me deleitei em desbravar essa terra linda e maravilhosa. Banhei-me em suas cascatas e cachoeiras. E como Lampião, me deleitei com as flores silvestres sendo visitadas pela lindas e majestosas borboletas.
Frederico Bezerra em seu relato poético sobre o momento em que Lampião viu essa força divina trabalhando perante seus olhos, disse: "Causariam espanto, qual mundo lunar, aquelas paisagens vagueiras, de impressionante solidão, não fosse o condão de fada ter atapetado os convales e prados de miríades de flores silvestres, variegadas e multicoloridas, sobre as quais esvoaçavam inquietas e ligeiras, enxames de borboletas de todos os matizes.
Os cangaceiros achavam muita graça quando Lampião, por várias vezes, a modo de criança, saía colhendo pelo campo umas florzinhas muito abundantes, de cor azul, campanuladas, parecendo pequenas açucenas de estames amarelos, popularmente chamadas milondas, e, as mãos cheias, jogava-as contente para o alto em agradecimento ao Criador de tanta beleza imensamente grande! De certo, naqueles momentos, se lembrava com ternura e saudade do seu "tempo de inocente", quando "brincava nos cerrados" do seu "sertão sorridente". Recordava, embevecido, a Serra Vermelha, doirada à luz do sol nascente e enfogueirada nos arrebóis... a caatinga florida e cheirosa no inverno... os areiais brancos do riacho São Domingos em cujas águas mergulhava e nadava feito peixe... as noites inconsúteis cheias das doces claridades do luar... tanta e tanta lembrança tão longínqua!"
E o Padre arremata: "Ah! deve de existir, recalcado, algo de monstruoso no espírito vesgo daqueles que consideram esse homem um monstro! Como é fácil condenar! Por que não enxergam nele, com olhos alimpados, a delicadeza de seus sentimentos artísticos e humanos?"
Voltemos aos homens valentes daquela região e vejamos o que já foi sinônimo de jagunço. Lutador por ideal ou profissão, jagunço não era o mesmo que cangaceiro. Era "soldado" porque serviam a um "coronel" sertanejo, a serviço de uma causa e de um chefe, cujo mando era a força, não a lei ou o reconhecimento da população, que, segundo o mito, desconhecia o medo no campo de batalha. No entanto, era apenas mais um pobre, excluído, da história do Brasil, servindo ao poder local, muitas vezes contra a lei e o Estado de Direito. Mas as notícias jamais chegavam ao governo central. Não era de interesse para os coronéis a não ser as que lhes interessavam! É tanto que, até hoje, há forças no Nordeste brasileiro que enaltecem os coronéis, como se isso fosse motivo de orgulho para o país. Fazem isso por interesse pessoal, já que muitas vezes são descendentes daqueles oligarcas que conseguiam e se mantinham no poder pela violência, o assassinato e o roubo.
Horácio de Matos, que dominou a região das Lavras Diamantinas, foi o último e o maior de todos os chefes dos jagunços. O próprio governo de Epitácio Pessoa foi obrigado a assinar com ele um acordo de pacificação, e a Coluna Prestes teve de sair do país depois que invadiu os seus domínios, tal como sempre ocorre com os governos brasileiros, que não podem contra as milícias particulares até a presente data.
O interesse de Lampião em ganhar a Chapada Diamantina, não eram as belezas assoberbadas e pitorescas da natureza; de seus sentimentos artísticos e humanos e nem das Lavras Diamantinas, com suas zonas de mineração e nem a procura de pedras preciosas nos "veios" ou linhas de diamantes. Nesse ponto lembrei de uma de minhas passagens pela Chapada Diamantina, quando em conversa com um dono de pequeno restaurante onde parei para almoçar. Falava ele dos tempos gloriosos dos diamantes. Disse-me que, "cansou de levar as "pedras" para os EUA e as escondia no cós de sua camisa de linho indiano. Que ainda tinha um garimpozinho e convidou-me a ir até lá. Era o ano de 1975 e eu sozinho naquelas pairagens, estudando e pesquisando os hábitos daquela região, tive receio de ir. Perdi a oportunidade, mas quem sabe o que ganhei?
Pois bem... Lampião sabia o que queria. Tem pessoas que acham que ele queria ficar rico. Nada disso! Lampião era um guerreiro valente em busca de alcançar o vento. Ali era a terra dos coronéis que mandavam na Bahia. Não eram os coroneizinhos das caatingas. Ali residiam os jagunços "mandiocas" do coronel Horácio de Matos, de Lençóis, e os "mosquitos" do coronel Fabrício de Oliveira, estava nas terras de antigas lutas de conquista onde giravam as famosas "gatas bravas", guerrilheiras masculinizadas, cabelos cortados à escovinha, chapéu de couro, armadas de punhal e pistola, sobre as quais Lampião, talvez com o tempo, quando da entrada no cangaço das mulheres, lembrasse que eram inferiores às cangaceiras, de vez que aquelas, perderam as características e os sentimentos de feminilidade, já as cangaceiras, entre elas a famosa e bonita Maria do Capitão, tão linda, feminina e faceira, eram superiores pelo carinho e amor a seus homens!
Seu interesse era duplo: tático e político. Era um General. Conhecer o território para campo de ação e refúgio; estabelecer contatos com os coronéis-chefões para lhes obter o apoio em dinheiro e material bélico.
Em seu livro "Lampião, Seu Tempo e Seu Reinado" O Padre diz: "Foi assim que, de primeiro, atacou a cidade de Morro do Chapéu, cometendo depredações. E dai, sempre bordejando a cordilheira do Sincorá, atingiu Palmeiras, às margens do riacho Grande, Mais adiante tomou refrescante banho salutar nas águas limpíssimas do "engrunhado" ou rio subterrâneo que corta a gruta de Pratinha, uma das muitas, pequenas ou imensas, todas encantadoras e misteriosas, existentes nos recôncavos das serras. Em Lençóis, esteve com seu grande amigo, o coronel Horácio, o maioral dos garimpos e o mais poderoso chefão de jagunços da Bahia, que, em desde os primeiros dias de setembro de 1928, lhe vinha dando proteção. É evidente que isto por política do famanaz coronel Horácio a modo de dividir a atenção das autoridades quanto às lutas de conquista das lavras diamantíferas. Por seu lado, beneficiava-se Lampião deste jogo, de parte a parte consciente.
Nessa oportunidade, o coronel convidou Lampião para se engajar como chefe de toda a sua jagunçada. A resposta foi dada com altivez:
- "Sou cangaceiro e não capanga!"
Admitia assim, Lampião, a diferença de conceito entre os dois termos. Descendo, entrou nas terras de Andaraí, onde imperava o coronel Aurélio Gondim, passou ao largo da grande quantidade de "montoeiras" de antigas lavragens, em Mucugê, do coronel Douca Medrado." E daí ganhou o mundo baiano, fazendo estripulias.
Bibliografia:
- A Campanha da Bahia, Frederico Bezerra Maciel
- Os Grandes Diamantes Dos Coronéis, Maria Helena Guedes