Do amigo José Bezerra
Amanhã, 7 de setembro, será feriado. De quê? Não venham me dizer que é da independência do Brasil.
Engana-se quem pensar que o Brasil se tornou independente “num estalar de dedos”, com uma simples proclamação de D. Pedro de Alcântara.
O “grito” de Dom Pedro na beira do Riacho do Ipiranga, proclamando a independência do Brasil, assistido apenas pela comitiva que o acompanhava, não passou de um *ato simbólico* num episódio galante em que um príncipe português, confiando em que não sofreria represálias de seu pai, declarou o rompimento com Portugal. Porém, na prática, quase nada mudou com o 7 de Setembro. A independência do Brasil era uma coisa fictícia, pois Portugal continuou considerando o Brasil parte integrante do *Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves* e pretendia reconduzi-lo à condição de simples *colônia*.
A proclamação de D. Pedro no Ipiranga poderia vir a ter o mesmo desfecho de episódios anteriores, tais como, a *Inconfidência Mineira* (1789), a *Conjuração Carioca* (1794), a *Conjuração Baiana* (1796), a *Conspiração dos Suassunas* (1801), a *Revolução Pernambucana* (1817) e a *Confederação do Equador* (1824). O episódio do Ipiranga em 7 de setembro de 1822 encontrou eco efetivo apenas no Rio de Janeiro, Minas e São Paulo. Portugal reagiu. Cinco províncias brasileiras – Bahia, Piauí, Maranhão, Grão-Pará e Cisplatina – continuaram leais ao rei e às Cortes de Lisboa.
Quanto aos fatos precedentes da independência, a historiografia oficial pôs seus holofotes sobre a Inconfidência Mineira, enfatizando exageradamente a sua importância. *A Inconfidência Mineira não foi nada em comparação com a Revolução Pernambucana de 1817*. O que houve em Minas Gerais não passou de uma conspiração inocente de *intelectuais platônicos* que se reuniam em saraus literários.
O Brasil tornou-se de fato politicamente independente foi nas lutas travadas nos mares e campos baianos, que culminaram no *2 de julho de 1823*, quando as tropas portuguesas foram expulsas.
Infelizmente os historiadores não dão a devida importância ao episódio do 2 de Julho. Os próprios baianos se encarregaram de transformar a comemoração do 2 de Julho num folguedo folclórico e os políticos aproveitam a ocasião para subir nos palanques. O Aeroporto de Salvador denominava-se *Aeroporto Internacional 2 de Julho*, mas um deputado baiano desmiolado propôs e seus pares aprovaram a mudança do nome, pondo eu seu lugar o de um político inexpressivo.
Nós, nordestinos, precisamos conhecer a história da nossa terra. Costumo dizer que a melhor forma demonstrarmos amor à nossa terra é estudando a sua geografia e a sua história.
Você quer conhecer em profundidade a Revolução Pernambucana de 1817, a Confederação do Equador e os fatos que precederam o 2 de Julho? No meu *Capítulos da História do Nordeste* eu conto em detalhes, praticamente dia a dia, mês a mês, os entreveros ocorridos entre 1921 e 1923, destacando a figura heroica de Cipriano Barata, a morte de sóror Joana Angélica, as lutas travadas em Itaparica, Cachoeira e outras vilas do Recôncavo, a atuação do bravo general Labatut e de Lorde Cochrane, a Batalha de Pirajá, o cerco à cidade de Salvador e a capitulação do comandante português, general Madeira de Melo.
Confiei a venda do meu livro ao *Professor Pereira – contato pelo WhatsApp (83) 9 9911-8286*. (Gosto de escrever, mas não sei vender meus livros: se pudesse dava todos de graça aos amigos.)
Dr. Leandro Cardoso responde ao amigo José Bezerra:
Duas palavras sobre a inpendência do Brasil:
Uma das mais sangrentas batalhas pela nossa Independência foi a Batalha do Jenipapo, ocorrida em 13 de março de 1823, nas margens do Riacho Jenipapo em Campo Maior, Piauí.
O Piauí era uma província estratégica para Portugal, tanto é que D. João VI designa para comandá-la o Major João José da Cunha Fidié, experimentado militar nas lutas contra Napoleão Bonaparte. Portugal, ao que parece, já sabia que não conseguiria manter todo o território brasileiro sob suas asas, então concentrou sua atenção e suas forças na província do Piauí, pois do Piauí para o oeste (Maranhão e Grão Pará) não havia simpatia ou focos de “independência”. Ou seja: o Brasil de quebraria no Piauí.
E Portugal garantiria para si todo o Norte.
Entretanto, o Juiz João de Deus e Silva e o grande comerciante de Parnaiba Simplicio Dias da Silva, proclamam a independência em Parnaíba (norte do Piauí), influenciados pelos cearenses. Vale lembrar que a capital do Piauí na época era Oeiras, muito distante de Parnaíba. Então quando Fidié soube do ocorrido, arregimentou seus soldados e a artilharia e marchou sobre Parnaíba com força total, deixando desguarnecida a capital Oeiras. Esse foi seu erro.
Quando ele chega em Parnaíba e se apossa da cidade (os que proclamaram a independência fugiram para o Ceará, pois não tinham homens suficientes para confrontar Fidié), e manda rezar um TeDeum na igreja de Nossa Senhora das Graças em homenagem a Dom João VI.
Nesse ínterim, Oeiras é tomada por Manuel de Sousa Martins (futuro Visconde da Parnaíba), que tomar o quartel e a casa da pólvora.
Quando Fidié fica sabendo que Oeiras caiu, fica possesso. Deixa alguns soldados em Parnaiba, guardando a cidade e volta no rumo de Oeiras para retomar a cidade, pois ele achava que não teria qualquer resistência dos piauienses. Ledo engano.
No meio do caminho, na altura de Piracuruca ele tem o primeiro confronto com os brasileiros: o combate do Jacaré, que foi uma pequena escaramuça.
Ele segue adiante e na altura de Campo Maior nas margens do Riacho Jenipapo ele se depara com os brasileiros (piauienses, maranhenses e cearenses), armados com foices, fações, espadas e poucas armas de fogo, na sangrenta Batalha do Jenipapo, onde mais 200 brasileiros perderam a vida. Fidié os massacra, mas comete outro erro: julga que Oeiras estaria fortemente guardada. Ledo engano. Os poucos brasileiros que guardavam Oeiras não seriam sequer ameaça a Fidié.
Mas o que ele faz: atravessa o Rio Parnaíba na altura do Porto de Estenhado (hoje cidade de União) e vai para o Maranhão para tomar Caxias importante ponto comercial da região.
Os brasileiros se reorganizam e cercam Fidié em Caxias, pois este havia sofrido muitas deserções e acaba sendo preso em Caxias e conduzido para São Luis.
Essa foi, portanto, batalha que garantiu a unidade da região meio norte e Norte do Brasil.
Nós perdemos a batalha, é verdade; mas ganhamos a guerra.
LEANDRO CARDOSO: Outra história interessante sobre as lutas da Independência no Piauí:
Um dos revolucionários e propagadores do movimento era Leonardo Castelo Branco. Ele foi traído e entregue aos portugueses no Porto de Melancias, no Rio Parnaíba. Foi conduzido para São Luis e de lá para a Famosa Prisão do Limoeiro em Portugal. Escreveu cartas para a família usando o próprio sangue como tinta, e fez uma promessa a Nossa Senhora das Dores que se saísse com vida de lá, acrescentaria o nome da Mãe de Deus ao seu próprio nome. E assim foi feito.
Foi libertado, mudou o nome para Leonardo de Nossa Senhora das Dores Castelo Branco e faleceu em 1873 em Campo Maior.