FLOR DO PARNASO
- Por Raul Meneleu
Quando no Parnaso estou, Com altos pensamentos antológicos, buscando entrar no coração desta mulher - pois flor é - encontro-me em uma sala de visitas. Quisera ir até à cozinha, pois sei que é lá que a encontrarei como realmente é.
Quando insisti, ela abriu o sorriso largo de boas vindas, como se quisesse me fazer um afago. Lá chegando mostrou-me seu eu recitando
OS LÍRIOS.
"Certa madrugada fria
irei de cabelos soltos
ver como crescem os lírios.
Quero saber como crescem
simples e belos — perfeitos! —
ao abandono dos campos.
Antes que o sol apareça
neblina rompe neblina
com vestes brancas, irei.
Irei no maior sigilo
para que ninguém perceba
contendo a respiração.
Sobre a terra muito fria
dobrando meus frios joelhos
farei perguntas à terra.
Depois de ouvir-lhe o segredo
deitada por entre os lírios
adormecerei tranqüila."
Emocionei-me por esta pequena flor ter me dado um pouco de seu perfume, e pedi mais... ela então recitou-me SERENA,
"Essa ternura grave
que me ensina a sofrer
em silêncio, na suavidade
do entardecer,
menos que pluma de ave
pesa sobre meu ser.
E só assim, na levitação
da hora alta e fria,
porque a noite me leve,
sorvo, pura, a alegria,
que outrora, por mais breve,
de emoção me feria."
Bibliografia
Henriqueta Lisboa (1901-1985)
OS LÍRIOS, de A Face Lívida (1945)
SERENA, de Azul Profundo (1950-1955)