São João, Taumaturgo de Kronstadt |
Assistindo um documentário (ao final do artigo) sobre a vida de São João de Kronstadt (1829-1908) uma das grandes figuras da Igreja russa, no século dezenove, ouvi sua oração que inicia assim:
"Por setenta anos eu tenho pecado diariamente, e me arrependo diariamente... e todos os dias o Senhor me tem perdoado, esperando minha evolução... eu me arrependo, choro na medida que sou vencido, e ainda assim recebo o perdão... quantas lágrimas de tenra aflição o Senhor tem me concedido... quantas torrentes de misericórdia ele derramou sobre mim... o que darei ao Senhor por tanta misericórdia?... oh Deus, tende piedade de mim, um pecador... de novo e de novo... sede paciente comigo... e limpai-me de toda poluição da carne e do espírito. Amém."
Era conhecido com Padre João de Kronstadt, porque durante seu ministério ele trabalhou nesse lugar, Kronstadt, uma base naval e subúrbio de Petersburgo. O padre João é mais lembrado por seu trabalho como padre paroquial, visitando os pobres e os doentes, organizando trabalhos caritativos, ensinando religião para as crianças de sua paróquia, pregando continuadamente, e acima de tudo rezando com e para seu rebanho. Ele tinha uma intensa consciência do poder da oração, e quando ele celebrava a Liturgia era inteiramente arrebatado:
"Ele não conseguia manter a medida prescrita da entonação litúrgica: ele clamava por Deus; ele gritava; ele chorava em face do Gólgota e da Ressurreição que se apresentavam para ele com um atordoante imediatismo" (Fedotov, A treasury of Russian Spirituality, pág 348).
O mesmo sentido de imediatismo pode ser sentido em todas as páginas da autobiografia que o padre João escreveu, My Life in Christ. Como São Serafim, ele possuía o dom da cura, de percepções e entendimento e de orientação espiritual.
Padre João insistia em comunhão freqüente, apesar de na Rússia de seu tempo era completamente não usual, os leigos comungar mais do que quatro ou cinco vezes por ano. Porque ele não tinha tempo para ouvir individualmente confissões de todos que vinham para comungar, ele estabeleceu uma forma de confissão pública, como todos gritando seus pecados simultaneamente.
Ele tornou a iconostase (biombo divisório decorado com ícones que separa a nave da igreja do santuário) num anteparo baixo, de modo a que o altar e os celebrantes ficassem visíveis durante o Oficio.
Iconastase de Igreja |
Na sua ênfase na comunhão freqüente e na sua reversão para formas mais antigas de iconostase, padre João antecipou os desenvolvimentos litúrgicos da Ortodoxia contemporânea. Em 1964 ele foi proclamado Santo pela Igreja Russa, no exílio.
Para maiores detalhes de sua vida, acesse aqui A vida do padre João de Kronstadt.
Mas esse longo preâmbulo - geralmente me perco nele quando o assunto é maravilhoso, e a vida desse homem, santificado por seus pares simplesmente é incrível! - é para levantar algumas considerações a respeito do pecado humano.
O que é pecado?
De que forma ele altera nossa consciência?
De que forma nos atinge, e a outros?
Pecado é qualquer ato, sentimento ou pensamento que vai contra os padrões de Deus. Quem peca desrespeita as leis divinas, fazendo o que é errado ou injusto do ponto de vista de Deus. Nos idiomas originais da Bíblia, as palavras traduzidas “pecado” significam “errar um alvo”. Bem... taí a resposta para a primeira pergunta. Vamos agora tentar responder a segunda, que a terceira está embutida.
Quem cometeu um pecado talvez sinta o peso de uma consciência culpada, fazendo que fiquemos pesarosos e muitas vezes se a pessoa é extremamente religiosa, poderá até mesmo ficar depressiva e levar ao ato extremado do suicídio. Veja o caso de Judas, que traiu Jesus. Outro exemplo, o rei Davi que escreveu: “Porque minhas culpas se elevaram acima de minha cabeça, como pesado fardo me oprimem em demasia. São fétidas e purulentas as chagas que a minha loucura me causou. Estou abatido, extremamente recurvado, todo o dia ando cheio de tristeza. Inteiramente inflamados os meus rins; não há parte sã em minha carne. Ao extremo enfraquecido e alquebrado, agitado o coração, lanço gritos lancinantes..” (Salmo 37:5-9 Trad. Católica Ave Maria)
Vemos que a incapacidade de evitar o erro prova que o pecado é um problema mais profundo do que só agir de modo errado. E isso, o resultado dele, atinge até mesmo pessoas não religiosas, que ficam afetadas por seus erros. Será que só pessoas religiosas têm esse dom da consciência? Considere as palavras de São Paulo, o apóstolo das nações, que disse: “Quando pessoas das nações, que não têm lei, fazem por natureza as coisas exigidas por lei, essas pessoas, embora não tenham lei, são uma lei para si mesmas. Elas mesmas demonstram que têm a essência da lei escrita no coração, ao passo que a consciência delas também dá testemunho, e, pelos seus pensamentos, elas são acusadas ou até mesmo desculpadas.” (Romanos 2:14, 15 Trad. Novo Mundo) Mesmo os que não têm nenhum conhecimento das leis de Deus podem às vezes ser motivados pela consciência a agir de acordo com os princípios divinos.
Todos nós estamos sujeitos a pecados. Não podemos nos livrar dessa tendência por esforços próprios. “Quem pode, de alguém impuro, produzir alguém puro? Nem sequer um.” nos diz Jó 14:4. Mas então somos todos impuros? Em qual sentido somos impuros? Segundo a Bíblia, impureza é tudo que contamina a pessoa. Impureza é sujeira espiritual. Cada pessoa precisa ser limpada da impureza porque ela causa grandes problemas na vida espiritual. A impureza na Bíblia inclui a imoralidade sexual mas não só isso. Jesus explicou que a verdadeira impureza não é a sujeira física (terra, micróbios... etc) mas a impureza que é realmente perigosa é a impureza do coração. Jesus listou algumas das coisas que nos tornam impuros:
"Porque é do interior do coração dos homens que procedem os maus pensamentos: devassidões, roubos, assassinatos, adultérios, cobiças, perversidades, fraudes, desonestidade, inveja, difamação, orgulho e insensatez. Todos estes vícios procedem de dentro e tornam impuro o homem." - São Marcos 7:21-23 Bíblia Católica Ave Maria
Quero dizer que a humanidade está em ritmo de aperfeiçoamento, ficando cada vez mais consciente de suas imperfeições. Não acredito que chegaremos tão cedo a uma sociedade perfeita. E isso, de sociedade perfeita é defendido e usado pelas religiões que prometem para os humanos um paraíso de moldes bíblicos, restabelecido por Deus, quer seja nos céus, de forma espiritual, ou na terra, com o ser humano se tornando perfeito.
De qualquer maneira, acreditando ou não nessas teses religiosas, o importante para aqueles que querem ter uma vida sem o peso de uma consciência que lhe cobre por suas imperfeições, é tentar viver da melhor forma possível, seguindo uma regra de ouro, inclusive citada por Jesus Cristo, que é a que diz:
“Todas as coisas . . . que quereis que os homens vos façam, vós também tendes de fazer do mesmo modo a eles.” — MAT. 7:12 Trad. Novo Mundo
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