
O rio Ipanema nos tempos de Lampião
Suficientemente, ou até palmo a palmo, conhecia Lampião as bacias dos principais rios do sertão pernambucano, e isto desde as nascentes até suas descargas no São Francisco: Brígida, Pajeú, Moxotó... e, também, em parte, a de dois outros que, nascendo em Pesqueira, descem para o litoral despejando-se no mar: o Capibaribe no seu curso superior, e dois terços do Ipojuca, isto é, das suas origens até a cidade de Gravatá. Esse trecho conheceu quando, nos tempos da almocrevia, comboiava intercambiando cargas de rapadura para Vitória de Santo Antão, donde voltava carregado de ancoretas de cachaças.
Finalmente, conhecia o vale de outro rio, o Ipanema, ainda nascido em Pesqueira, cujo território se tornou privilegiadamente, no generoso plexo distribuidor da maior rede de águas correntes de Pernambuco.


Confrontando com as ribeiras sertanejas, a do Ipanema se apresenta mais rica de solo e recursos econômicos. Agricultura diversificada, aproveitando, através de processos comuns e empíricos de cultivo, as terras férteis dos baixios, os pés de serra e os terraços pouco elevados. Feijão, milho, algodão herbáceo... de produção apreciável para manter, um ecúmeno mais denso e abastecer grandes feiras, como a de Pesqueira nas quartas-feiras. Isto afora as frutas — manga, caju, banana... — os tubérculos — inhame, batata-doce... — e as verduras... A goiaba nativa e o plantio tecnológico do tomate possibilitaram a implantação de uma potente e famosa agro-indústria de transformação alimentícia.

Infinidade de trechos pitorescos no vale. Pesqueira contemplada desse mirante natural e turístico, que é o topo da serra do Cruzeiro, deslumbra e assoberba. O povoado de Ipanema com seu singelo arruado aninhando, com ciúme, a meiga igrejinha branca da Virgem da Conceição — cujo pátio tranquilo se enfeita de copados e virentes flambuaiantes, de flores escarlates, sombreantes e aprazíveis ao sopro da viração do rio, que o abraça amoroso e benfazejo —rememora a poesia da infância de tantas cidades hoje em franco desenvolvimento...
Poder-se-iam multiplicar os exemplos por toda a extensão do vale. Incontestavelmente, porém, a paisagem mais encantadora da ribeira do Ipanema é a do microvale do seu afluente, o riacho Mimoso, que corre no sentido oeste-leste. Contemplando a paisagem de cima da serra de Mimoso, divisor de duas zonas fitogeográficas, agreste e sertão, e por onde serpeia vadeando abismos, a antiga rodagem da Obra Contra as Secas, vê-se um corredor estreito, formado pelo alinhamento de elevações paralelas, de encostas íngremes, emoldurando um estreito e alongado brejo de vale ou várzea aluvial, de solo profundo e fértil. Logo ali, à esquerda, numa suave lombada do fundo do vale, debruça-se, mimosamente e no sentido linear, o aglomerado da vila dominada por sua igrejinha com torre, também sob a invocação da Virgem da Conceição. Enchendo o vale, por meia légua de extensão, inúmeros pequenos sítios de banana, manga, laranja, pinha, mamão, cana-de-açúcar... Nos pés de serra, numerosos roçados, em pequenos quadros de culturas de subsistência, circundando as casas de seus proprietários. Mais adiante, o extenso tomatal de várias léguas, da Fazenda de Tomate Senhora do Rosário (antiga fazenda Propriedade), cultivada pela Fábrica Peixe, das Indústrias Alimentícias Carlos de Brito, de Pesqueira. Nas encostas baixas e nas colinas suaves dessa cultura solanácea é feita em faixas terraceadas, para maior rendimento do produto dentro dum plano conservacionista do solo.

Enfim, ao longe, guindada nas alturas, esplendente de branco durante o dia e de luzes à noite, avulta a cidade de Pesqueira com seus altos bueiros fumegantes e testemunhando a pujança de seu progresso. O nome de "Mimoso" aplicado a essa região define perfeitamente a paisagem — precioso mimo dos caprichos da natureza!
Vale de Mimoso! — colcha de retalhos policrônica, doirada de sol e amenizada, em seu clima, pelos ventos canalizantes, que sopram constantes... — cartão-postal de lembrança imorredoura que Pesqueira oferece a seus visitantes...
Desde a fazenda Catolé, situada nas cabeceiras, até sua foz um pouco abaixo de Belo Monte, o rio Ipanema, de depende a 'depende, pontilha-se de acidentes geográficos, aglomerados de população, traços e linhas de comunicação que gravaram as marcas da pisada de Lampião: — as serras de Ororubá, Buíque, Tará, Cumanati, Cavalos, Garanhuns... — fileiras de riachos e corregos... — cidades, vilas, povoados, inúmeras fazendas e sítios... — estradas reais e veredas de bode... — matas e caatingas... Naqueles tempos, seria o vale objeto de incursões atrevidas e desaforadas de Lampião contra Manuel Neto. Durante os últimos anos de vida iria ele, de fogo aceso, assoletrar esse capítulo da volumosa enciclopédia geográfica de seu Reino!
Desde a fazenda Catolé, situada nas cabeceiras, até sua foz um pouco abaixo de Belo Monte, o rio Ipanema, de depende a 'depende, pontilha-se de acidentes geográficos, aglomerados de população, traços e linhas de comunicação que gravaram as marcas da pisada de Lampião: — as serras de Ororubá, Buíque, Tará, Cumanati, Cavalos, Garanhuns... — fileiras de riachos e corregos... — cidades, vilas, povoados, inúmeras fazendas e sítios... — estradas reais e veredas de bode... — matas e caatingas... Naqueles tempos, seria o vale objeto de incursões atrevidas e desaforadas de Lampião contra Manuel Neto. Durante os últimos anos de vida iria ele, de fogo aceso, assoletrar esse capítulo da volumosa enciclopédia geográfica de seu Reino!
"O rio Ipanema é um patrimônio da humanidade, mas que ainda precisa ser mais conhecido por aqueles que o vê chorando lágrimas de lama. Pois está com uma de suas partes ferida, sangrando e, portanto precisa ser tratada. Nos seus 220 km, de Pesqueira/PE a Belo Monte/AL, a parte mais degrada está localizada na zona urbana de Santana do Ipanema, do Poço Grande às Cachoeiras, cabendo a nós, legítimos guardiões do meio ambiente, assim outorgado pela Mãe Natureza, a responsabilidade moral e humana de tratá-la para que as futuras gerações não se envergonhem das nossas atitudes, ou da falta delas."

Localização
A bacia hidrográfica do rio Ipanema está localizada em sua maior parte no Estado de Pernambuco, com sua porção sul no Estado de Alagoas, onde se estende até o rio São Francisco. Situa-se entre 08º 18’ 04” e 09º 23’ 24” de latitude sul, e 36º 36’ 28” e 37º 27’ 54” de longitude oeste.
A porção pernambucana constitui a Unidade de Planejamento Hídrico UP7, que limita-se ao norte com a bacia do rio Ipojuca (UP3) e com a bacia do rio Moxotó (UP8), ao sul com o Estado de Alagoas e os grupos de bacias de pequenos rios interiores 1 e 2 - GI1 (UP20) e GI2 (UP21), a leste com a bacia do rio Ipojuca, bacia do rio Una (UP5) e o GI1, e, a oeste, com a bacia do rio Moxotó e o GI2.
Rede Hidrográfica
A nascente do rio Ipanema se situa no município de Pesqueira. Seu curso percorre parte dos estados de Pernambuco (aproximadamente 139 km) e Alagoas, na direção nortesul, até desaguar no rio São Francisco.
Seus principais afluentes são: pela margem direita, riacho do Mororó, riacho Mulungú, riacho do Pinto, riacho Mandacaru e rio Topera; e, pela margem esquerda, rio dos Bois, riacho da Luíza, rio Cordeiro e rio Dois Riachos.
O rio Cordeiro é o principal tributário do rio Ipanema, cuja nascente se localiza no município de Venturosa.
Alguns dos municípios da bacia têm seus limites definidos por cursos d’água: Tupanatinga, pelos riachos do Pinto e Mandacaru; Itaíba, pelo riacho Mandacaru e o rio Ipanema; Águas Belas, pelo rio Ipanema, rio Cordeiro, riacho do Defunto e rio Dois Riachos; e Iati, pelo rio Dois Riachos.
Divisão Político-Administrativa
A bacia do rio Ipanema apresenta uma área de 6.209,67 km², que corresponde a 6,32% da área do estado.
Os municípios pernambucanos totalmente inseridos na bacia são Águas Belas e Pedra.
Aqueles que apresentam sua sede na bacia são Alagoinha, Buíque, Iatí, Itaíba, Pesqueira, Saloá, Tupanatinga e Venturosa, enquanto os parcialmente inseridos na mesma são Arcoverde, Bom Conselho, Caetés, Ibimirim, Manari e Paranatama.
Reservatórios
No quadro abaixo, são apresentadas as principais características dos reservatórios da bacia do rio Ipanema, com capacidade máxima acima de 1 milhão de m³.
O GRITO DE ALERTA
"Para alguns pode soar estranho comemorar o dia de “algo” que se apresenta de forma tão sujo e degradante. Até poderíamos considerar normal esse pensamento, levando em consideração o que nós santanenses permitimos que o nosso maior e mais belo acidente geográfico chegasse a situação na qual se encontra; pelo menos num pequeno trecho de cerca de três quilômetros, exatamente na área urbana da única cidade em que leva garbosamente o seu nome, Santana do Ipanema."
A estiagem (seca) no sertão
As enchentes do Rio Ipanema
Fontes da matéria:
Cap. 52 Na Ribeira do Ipanema (Lampião, seu tempo e seu Reinado)
Indicativos nos links citados.