Rainha
do Maracatu Az de Espadas

Segundo José Orestes Cavalcante, primeiro presidente do Maracatu Az de Espada, treze vezes campeão geral do carnaval de rua, falando sobre Benedito Wanderlan Custódio da Silva, o Benoit, professor de matemática, "alto e bonito, como a mais famosa rainha dos maracatus de Fortaleza. Era disputado por todos."
Mas seu passe era exclusivo. Sempre foi Maracatu Az de Espadas, seu reino de glória tão passageira, apenas nos dias de carnaval, não importava, era rainha bonita e faceira, disputada pelos maracatus. Nesses dias, era aplaudido em sua passagem, com seu leque de rendas brancas contrastando com sua pele enegrecida pela tintura de falso negrume e o batom vermelho, acentuando a linha de seus lábios, gingando na cadência do ritmo lento e triste, abanava-se e sorria para todos, mostrando seus dente alvos num sorriso mais cativante e inocente de uma rainha escrava dos contos de fadas do panteão de deuses africanos. Era linda!
´Rainha preta do maracatu, nesse teu rosto de falso negrume/ morre de gozo na renda do sol/ no pano feito pelo fio d´água / desse véu de noiva: bica do Ipu...´

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Calé Alencar |
No Ceará, podemos citar, dentre outros, Calé Alencar, que canta sobre o Maracatu com suas melodias, apresentando loas e estimulando os brincantes a cantar.
Vixe Maria... quando de longe eu via as Balizas abrindo o desfile, marcando o passo ao lado do porta-estandarte e carregando as balizas entre os dedos, girando-as graciosamente, vestidos com coletes, turbantes, saiotes e com suas fantasias com as cores preta e branca de meu maracatu, ia ao delírio. Vendo o Porta-Estandarte marcando o passo e anunciando a presença do maracatu, meus olhos brilhavam, vendo aquele pano de veludo, com franjas cor de ouro e rendas brancas nas bordas, trazendo no centro, o símbolo bordado de um Az de Espadas, que identificava o meu maracatu, sim... exultava e aplaudia.
Como admirador dos índios, os via desfilando em filas indianas e ladeando o estandarte, com seus saiotes de penas de avestruz, brandindo seus tacapes, lanças e flechas. Me sentia um guerreiro. E aquelas negras baianas que desfilavam marcando o cortejo real, protegendo a corte e respondendo em coro as loas cantadas pelo macumbeiro, que tirava loas e incitava a massa de gente que aplaudia e gritava de alegria, sim, eu ia ao delírio, com meus olhos e mente fértil de menino.

Era emocionante!

'Eu vou eu vou e você não vai... apanhar macaúba no meu balai... Eu vou eu vou e você não vai... apanhar macaúba no meu balai... apanhar macaúba no meu balai, eu vou eu vou e você não vai, apanhar macaúba no meu balai, eu vou eu vou e você não vai...' E eu escutava, maravilhado, aquelas baianas dizendo 'balai' e eu já tinha em mente o modo de falar dos negros escravos e sua simplicidade em falar o português.



E lá atrás, o som emanava dos tocadores de surdos, bumbos, caixas e ferros tipo chocalhos, triângulos e ganzás, executando a marcação para o canto e a evolução do maracatu. E nossa querida Rainha do Maracatu Az de Espadas, passava sorrindo para nós meninos e adultos, com aquele sorriso cativante, entreabrindo levemente seus lábios vermelhos, pintados juntamente com seu rosto em um ritual africano, de deuses negros de sua cultura.
Esse cenário não me sai da mente, ainda menino sou...
Nota: As imagens não são do Maracatu Az de Espadas (são raras) - estão na internet e através delas saúdo todos os maracatus de Fortaleza.
Esse cenário não me sai da mente, ainda menino sou...
Nota: As imagens não são do Maracatu Az de Espadas (são raras) - estão na internet e através delas saúdo todos os maracatus de Fortaleza.