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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

LAMPIÃO: As Lendas e os Versos


Depois de morto, Lampião foi decantado em versos e prosas e foram inventadas estórias sobrenaturais misturando-o com demônios, bodes e fogo do inferno. Era um prato cheio para os versejadores nas feiras do nordeste. 


A veia sobrenatural escorria célere das gargantas dos cantadores e emboladores. Lampião tinha o corpo fechado e era cheio de maldade e ódio. Por está perto de águas, seu corpo abriu para as balas dos “macacos”.

Lampião chegou ao inferno e destruiu um exército de negros, segundo José Pacheco, que em seu cordel “A Chegada de Lampião ao Inferno” que nos diz:

Morreram cem negros velhos,
Que não trabalhavam mais,
Um cão chamado Traz-Cá,
Vira-Volta e Capataz,
Tromba-suja e Bigodeira,
Um cão chamado Goteira,
Cunhado de Satanás.

O Cordelista Guaipuan Vieira, também nos fala da tentativa de Lampião entrar no céu:

Foi numa Semana Santa 
Tava o céu em oração 
São Pedro estava na porta 
Refazendo anotação 
Daqueles santos faltosos 
Quando chegou Lampião.



Mas Rodolfo Coelho Cavalcante diz que Lampião tentou ir para o céu   mas ganhou o purgatório e está lá até hoje para ser julgado.

Sobre sua maldade e valentia, muitas lendas correram de boca em boca nas esquinas das feiras e nas bodegas nordestinas. Pereira Sobrinho descreve o cangaceiro com toques de misticismo: 

Tinha todas as qualidades,
Que pode ter um vivente,
Era enfermeiro e Parteiro,
Falso, covarde e valente,
Fraco Igualmente ao sendeiro,
Astuto como serpente,
Matava por brincadeira!
Com pura perversidade,
Dava comida aos famintos,
Com amor e caridade,
Foi sanfoneiro e poeta,
De primeira qualidade.

Também sua maldade era lenda, contada por muitos poetas. Cordelistas e cantadores chegaram a contar que um dia o cangaceiro tentou matar seu filho por a criança chorar. Sabemos que Lampião não teve filhos, apenas uma filha que mora em Aracaju.


Além dos cantadores nas feiras das cidadezinhas do sertão nordestino, tinha o bando de Lampião alguns “cabras” versejadores, cantores e músicos.  No livro “Lampião: o homem que amava as mulheres : o imaginário do cangaço” de Daniel Soares Lins, nos conta que: 

Às vezes, Lampião pedia a um companheiro para ler em voz alta os jornais ou os folhetos de cordel. O cangaceiro Gitirana, além de saber ler, era poeta e compositor, cantor — barítono — e dançarino renomado do bando. No sertão, nas noites de lua cheia, o céu eclode numa festa de estrelas. Excitados, os cangaceiros festejavam, através do canto e da poesia, o acordar dos sentidos energizado pela força da caatinga. Quando no silêncio da noite uma nostalgia de eternidade e uma vontade de amar atravessavam os corpos meio adormecidos dos cangaceiros, o Capitão, emocionado, ordenava ao poeta Gitirana que declamasse e cantasse, enchendo de uma alegria infantil o coração rude de homens e mulheres habituados a conviver com a morte que rondava apressada os recônditos da caatinga: 

Amor remexe com a gente
Chegando de supetão
Pior do que dor de dente
É sentir palpitação
Cabrocha pra ser bonita
Bonita como o amor
Basta um vestido de chita
E na cabeça uma flor!"

Tinha outro cangaceiro versejador, Labareda e também um tocador de gaita, Jandaia. Fora os sanfoneiros, inclusive Lampião, que também compôs seus versos. Dizem que em uma de suas fugas, deixou cair seu caderninho, encontrado pelos seus perseguidores.


As estórias são muitas, e muitas delas verdadeiras, mas a maioria delas são inventivas, criadas por mentes brilhantes em seus versos repentistas e cordelistas.