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segunda-feira, 19 de agosto de 2024

Padre Cícero

 Documentário produzido por Thomaz Farkas 


"Uma visão, da década de 1970, do Padre Cícero - antigo líder religioso, ligado à formação social, política e econômica do Vale do Cariri - pela população local e pela multidão de romeiros que ali acorrem para render-lhe homenagem. Com aproveitamento de material cinematográfico da época em que o padre recebe visitas das mais antigas altas autoridades do Estado, em 1925, na companhia de seu protegido, o deputado federal Floro Bartolomeu, para inaugurar sua própria estátua em praça pública O filme mostra o uso que se fez. da imagem do velho patriarca bondoso, pai dos pobres e protetor dos desvalidos E como os anseios de sua população de romeiros estão cristalizados em ritos de veneração a essa imagem." (Extraído da Programadora Brasil/5)

https://archive.org/details/padrecicerogeraldosarno1972



quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

A AUTÓPSIA DA CABEÇA DE LAMPIÃO

AUTÓPSIA DA CABEÇA DE LAMPIÃO

Relatório de autópsia do Dr. José Lages Filho. A autópsia da cabeça ocorreu apenas em 31 de julho de 1938, quatro dias após a morte do bandido. A cabeça de Lampião já estava em más condições, pois havia sido transportada em um barril de querosene cheio de água, cachaça e sal, e exibida ao público em muitas aldeias durante esse período. 

O foco na classificação antropológica e nas características sugestivas de tendências degeneradas de acordo com a doutrina antropométrica criminal de Lombroso é aparente.

“No Serviço Médico-Legal do Estado de Alagoas, a cabeça do célebre bandido Lampião, que durante 20 anos foi o terror do sertão nordestino, foi admitido às 22:00 de 31 de julho de 1938. Infelizmente, o estado em que chegou ao necrotério não permite um estudo detalhado e meticuloso à luz da antropometria e anatomia criminais, pois Virgulino Ferreira foi atingido por um projétil de arma de fogo que atravessava seu crânio, saindo da região occipital, atingindo vários ossos, como o osso mandibular no nível de sua porção média, ossos frontal, parietal direito, temporal e base direito, que foram reduzidos a múltiplos fragmentos. No entanto, após cuidadosa reconstituição da cabeça, podemos traçar o perfil antropológico da seguinte forma: pele marrom-amarela, que a classifica como pertencente ao grupo dos “Xantodermas brasileiros”, de acordo com o sistema de classificação de Roquette-Pinto; - testa fugaz; - cabelos tipo lissotric, pretos, lisos e longos, dispostos em uma trança pendente; - barba e bigode, com cabelos lisos, pretos e escamosos; dolicocefálico, contrastando com os outros indivíduos de sua etnia, o braquicefálico em geral. O perímetro cefálico é igual a 57 centímetros. O diâmetro ântero-posterior máximo atinge 150 milímetros. Índice cefálico 75. Face de tamanho relativamente pequeno, sendo impressionante à primeira observação, as dimensões do pequeno osso mandibular, com os ramos horizontais formando um ângulo reto no encontro dos ramos ascendentes correspondentes. Assim, a face total ( - barba e bigode, com cabelos lisos, pretos e escamosos; dolicocefálico, contrastando com os outros indivíduos de sua etnia, o braquicefálico em geral. O perímetro cefálico é igual a 57 centímetros. O diâmetro ântero-posterior máximo atinge 150 milímetros. Índice cefálico 75. Face de tamanho relativamente pequeno, sendo impressionante à primeira observação, as dimensões do pequeno osso mandibular, com os ramos horizontais formando um ângulo reto no encontro dos ramos ascendentes correspondentes. Assim, a face total ( - barba e bigode, com cabelos lisos, pretos e escamosos; dolicocefálico, contrastando com os outros indivíduos de sua etnia, o braquicefálico em geral. O perímetro cefálico é igual a 57 centímetros. O diâmetro ântero-posterior máximo atinge 150 milímetros. Índice cefálico 75. Face de tamanho relativamente pequeno, sendo impressionante à primeira observação, as dimensões do pequeno osso mandibular, com os ramos horizontais formando um ângulo reto no encontro dos ramos ascendentes correspondentes. Assim, a face total ( sendo impressionante à primeira observação, as dimensões do pequeno osso mandibular, com os ramos horizontais formando um ângulo reto no encontro dos ramos ascendentes correspondentes. Assim, a face total ( sendo impressionante à primeira observação, as dimensões do pequeno osso mandibular, com os ramos horizontais formando um ângulo reto no encontro dos ramos ascendentes correspondentes. Assim, a face total (O comprimento do rosto ) é de 170 mm, o comprimento total da face ( face ) 130 mm, o rosto simples ( face) comprimento 85 mm, diâmetro bizigomático da face transversal máxima de 160 mm e índice facial de Broca 53.12. Quanto ao nariz, reto, romboide e com ápice espesso, com a impressão de óculos mantidos no dorso, possui altura máxima de 37 milímetros. O índice nasal transversal é 74. Uma mesorrina franca. Lábios finos, a largura da boca medindo 37 mm. Abóbada palatina ogival. Dentes pequenos, inclusive no grupo microdontia. Orelhas assimétricas com uma desigualdade manifesta no desenvolvimento de partes semelhantes - a orelha de Blainville. O comprimento da orelha direita atinge 65 milímetros. A largura da orelha direita é de 40 milímetros. O comprimento da orelha esquerda é de 53 milímetros. Índice de orelha de Topinard, levando em consideração as dimensões da orelha direita, 165. Existe uma pigmentação arredondada escura na região masseterica direita da face, medindo três milímetros de diâmetro, um nevo congênito. O olho direito tem um leucoma, tingindo toda a córnea. Em resumo, embora alguns estigmas físicos estejam presentes na cabeça de Lampião, não encontramos um paralelo rigoroso entre os caracteres somáticos da degeneração revelados por este exemplo de criminoso célebre. Assim, observamos como índices físicos de degeneração apenas as anomalias das orelhas, denunciadas por uma assimetria chocante, abóbada palatina oval e microdontia. Faltavam as deformidades cranianas, o prognatismo da mandíbula e outros sinais aos quais Lombroso emprestava tanto na caracterização do criminoso nato. Não obstante,
-  Dr. José Lages Filho, Médico Forense Policial ”.


Temos também esse artigo Folha de S.Paulo - 13/11/1996

Historiadores contestam a versão oficial

WILLIAM FRANÇA
DO ENVIADO ESPECIAL

A história da sobrevivência de Lampião e Maria Bonita é ouvida no Nordeste desde 1938, logo depois da emboscada na Grota do Angico. Vários historiadores apontam indícios de que o Rei do Cangaço estava negociando sua desistência do banditismo.
Segundo Aglae Lima de Oliveira, que estudou o cangaço por 20 anos e escreveu um livro de 400 páginas sobre o caso, Lampião negociava com interlocutores do governo Getúlio Vargas sua saída do cangaço. A historiadora diz que, no lugar dele, morreu o cangaceiro Zé do Sapo.

Outro historiador, Frederico Pernambucano de Mello, diretor da Fundação Joaquim Nabuco, disse à Folha, em Recife, que Lampião estava muito rico (tinha cerca de mil contos de réis, o suficiente, na época, para adquirir 40 grandes fazendas), mas tinha esgotado suas fontes de arrecadação.
Uma boa fazenda, segundo Mello, custava, naquele tempo, cerca de 25 contos de réis. A Fundação Joaquim Nabuco é um dos centros mais importantes de pesquisa e estudo da história do Nordeste.
Mello afirma que estavam em andamento dois processos de perdão para Lampião quando ele foi morto, negociados por políticos que lhe deviam favores em Alagoas e Sergipe. Mas o historiador acredita que ele tenha morrido - "não existe prova em contrário, da sua sobrevivência".


Lampião tinha essa relação com os políticos e fazendeiros porque também funcionava como um controlador dos camponeses que tentavam, eventualmente, contestar o direito à propriedade. O cangaceiro fazia as vezes de polícia.

"Não dá mais"

A Folha ouviu relato semelhante do ex-cangaceiro Manoel Dantas Loiola, 82, o Candeeiro, que hoje mora em Guanumbi, no sertão de Pernambuco. Ele era um dos principais "assessores" de Lampião nos últimos dois anos de cangaço.
Duas semanas antes do massacre em Angico, Lampião reuniu alguns de seus homens. Candeeiro contou que ele estava preocupado porque sua atuação ficava, a cada dia, mais limitada e tinha contra si a grande invenção da época: o rádio, que permitia que a polícia soubesse muito mais rapidamente onde ele estava com seu bando.
"Ele disse que queria ir para Minas, mas que ninguém era obrigado a ir junto", disse Candeeiro.
Segundo ele, Lampião afirmou o seguinte: "Aqui não dá mais pra viver. Mas o negócio vai ser meio pesado, porque a gente tem que atravessar a Bahia". Lampião era jurado de morte e proibido de entrar no território baiano.



"Cabra mentiroso"

Pelo menos um dos soldados que participaram do ataque a Angico, Sebastião Vieira Sandes, 81, o Santo, duvida da morte de Lampião.
Santo era o único que conhecia Lampião pessoalmente, porque, antes de ser da volante (polícia), tinha servido ao bando do cangaceiro -foi obrigado a trocar de lado pela polícia, mas ainda respeitava o ex-patrão.
Santo, que mora em Maceió, recusa-se a dar entrevistas. Segundo sua família, sempre chama de "cabra da peste mentiroso" quem afirma que esteve envolvido na morte de Lampião.
Outro soldado da volante, José Panta Godoy, 83, o cabo Panta, a quem se atribui o tiro fatal em Maria Bonita, disse à Folha, em Maceió, que nenhum integrante da volante - exceto Santo - conhecia Lampião ou Maria Bonita.
"Pela história, sabia que eram eles. Mas foi o soldado Santo quem confirmou", afirmou Panta. "Ele disse para eu não esbagaçar a cabeça daquele homem, porque ele era Lampião".



Temos também essa reportagem da Folha de S.Paulo - Autópsia não foi definitiva - de 13/11/1996.


WILLIAM FRANÇA
DO ENVIADO ESPECIAL
Há vários fatos curiosos envolvendo a história da suposta morte de Lampião. Um deles é que sua cabeça ficou 30 anos, seis meses e nove dias insepulta, aguardando pronunciamento da Justiça.
Só foi enterrada em fevereiro de 1969, no cemitério Quinta dos Lázaros, em Salvador, depois que a Presidência da República (governo Costa e Silva) o indultou.
Durante todo esse tempo, foi exibida para estudantes e curiosos. E só foi submetida a um exame necrológico quatro dias depois do degolamento em Angico.
O autor da única autópsia feita na cabeça, José Lages Filho, do IML de Maceió, registrou que o estado em que a recebeu - em decomposição, quatro dias após ser decepada, e com um tiro que atravessou o crânio- impediu que ele fizesse "um estudo acurado".
Por isso, ele só sugeriu no laudo que ela pertencesse a Lampião. Lages Filho escreveu: "Em resumo, embora presentes alguns estigmas físicos na cabeça de Lampião (...), faltam deformações e outros sinais aos quais tanta importância emprestava caracterização do criminoso nato". A Fundação Joaquim Nabuco tem cópia do laudo.
Mas o fato mais estranho, que assustou até familiares de Lampião, foi o irmão do cangaceiro, Ezequiel, ter reaparecido vivo em 1984 na cidade de Juazeiro (CE).
A história registrava que ele, que também era cangaceiro, havia sido morto em 1926, numa emboscada.
Ezequiel usava o nome de Francisco e só revelou sua identidade ao buscar em Serra Talhada (PE) documentos para aposentar-se.
Personagens remanescentes do cangaço foram taxativos ao afirmar que só um irmão verdadeiro de Lampião saberia responder questões que ele respondeu.
Ezequiel contou à época (ele morreu em 1987) que em 1926 desistiu de continuar no banditismo.
Negociou com o Rei do Cangaço e, quando houve uma morte no bando, o irmão, Lampião, fez com que as roupas fossem trocadas entre o cangaceiro morto e Ezequiel, que ganhou dinheiro suficiente para fugir e mudar de vida.
Segundo o relato, foi feito um enterro simulado. A prática de simulação de enterros foi uma constante no bando de Lampião. "Ninguém sabia o nome verdadeiro de ninguém. Todo mundo só tinha apelidos", disse o ex-cangaceiro Candeeiro. Esse recurso era usado para dar a impressão de que o bando era invencível e nunca perdia homens nos confrontos.
(WF)


Versão impressa  ISSN 0004-282X Versão on-line  ISSN 1678-4227
Arq. Neuro-Psiquiatr. vol.77 no.1 São Paulo jan. 2019

NOTA HISTÓRICA
Lampião, Lages, Lombroso: a autópsia do bandido rei do sertão brasileiro
Lampião, Lages, Lombroso: uma autópsia do Rei do Cangaço
Laura Minc Baumfeld André 3 
1 Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Medicina, Departamento de Neurologia, Rio de Janeiro RJ, Brasil
2 Sinapse Neurologia e Reabilitação, Rio de Janeiro RJ, Brasil3 Promotor do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro RJ, Brasilhttps://blogger.googleusercontent.com/img/proxy/AVvXsEgJI80ngLd23-btmNg9BdjMqjz3WXa4_jy-XJ_MZgz_h027DduUlH6Sml_sKdo_O8c3Pd-_zq7sWilAtG2N_B8ijl8y-JZzUUg4e0Rc3_jUNUcJCfhzsr2wloo61UgosP3U8w=

Lampião, o mais famoso líder brasileiro de bandidos, foi morto e decapitado durante uma emboscada em 1938. O médico legista da polícia de Alagoas, Dr. José Lages Filho, fez uma autópsia da cabeça. Fortemente tendencioso às idéias antropológicas do famoso psiquiatra e criminalista italiano Cesare Lombroso, o exame encontrou apenas algumas das chamadas características criminosas congênitas. A doutrina Lombroso e uma série de teorias relacionadas influenciou fortemente raciocínio médico e política na primeira metade do 20 º século. Estudos genéticos e neurocientíficos modernos ainda estão procurando as possíveis raízes biológicas do mau comportamento e da criminalidade.
Palavras-chave:  Autópsia; comportamento criminoso; Medicina forense; Antropologia Forense; História; século 20
Lampião foi o líder cangaceiro mais famoso do Brasil. Foi morto e decapitado após emboscada em 1938. O Dr. José Lages Filho, médico legal da polícia de Alagoas, executou uma autópsia parcial, restrita à cabeça. O exame focalizou a busca de traços físicos característicos do chamado crime nato, de acordo com uma teoria antropológica criminosa desenvolvida pelo psiquiatra italiano Cesare Lombroso. A doutrina de Lombroso e outras com ela relacionadas influencia fortemente o raciocínio médico e político na primeira metade do século 20. Seus ecos ainda hoje são perceptíveis em estudos genéticos e neurocientíficos contemporâneos, que são mostrados como bases biológicas de desvios comportamentais e de criminalidade.
Palavras-chave:  Autópsia; comportamento criminoso; Medicina Legal; Antropologia Forense; História; Século XX
“Nunca mais há acendê
O tal Lampião falado .
Na capitá do Estado
Sua cabeça se vê
Para o governo conhecê
Sua terrive feição
E dizê: este é o dragão
Forte, cru e valente.
Contudo mandei minha gente
E apagado o Lampião ”.
Manuel Neném
Virgulino Ferreira da Silva (1898-1938) - mais conhecido como Lampião - era o líder mais notório de uma forma de banditismo conhecido no Brasil como cangaço , que era endêmica no sertão Nordeste na primeira metade do 20 º século.
Seu grupo fora da lei devastou aldeias nas décadas de 1920 e 1930. Os governos regionais e centrais fizeram muitas tentativas de dizimar suas tropas e finalmente conseguiram decapitá-lo ao amanhecer de 28 de julho de 1938 - em Angicos, Sergipe. A emboscada resultou na morte de 11 bandidos (incluindo duas mulheres) e um soldado. Mais de 20 outros bandidos escaparam 1 . O apelido Lampião, que em inglês significa “lanterna” ou “lâmpada de óleo”, foi adquirido porque ele podia disparar um rifle de ação com alavanca tão rápido que, à noite, parecia que ele estava segurando uma lâmpada 1 .
Lampião, sua companheira de vida Maria Bonita (Maria Gomes de Oliveira) e todos os outros que foram capturados foram decapitados (três deles ainda vivos) e suas cabeças exibidas em várias aldeias ( Figura 1 ) durante o transporte para Maceió (Estado de Alagoas), onde foi realizada autópsia limitada.


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Figura 1  Os chefes de Lampião e outros 10 bandidos exibidos em Piranhas, Alagoas. A cabeça de Lampião está na primeira fila e a de Maria Bonita logo acima. Fotógrafo desconhecido - CASTRO, José, em: Ciclo do Cangaço, Memórias da Bahia, vol. 4, Empresa Baiana de Jornalismo, Salvador, 2002, Domínio público, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=3586224  

MÉTODOS
Pesquisamos o relatório original da autópsia, documentos e parentes do médico responsável pela autópsia. O presente texto analisa esses resultados e discute a influência da criminologia antropológica na época.

RESULTADOS
A autópsia foi realizada em 31 de julho de 1938, durante a noite, pelo Dr. José Lages Filho (1910-1997). Lages, formado em 1931 na Faculdade de Medicina da Bahia, era médico legista desde 1935 ( Figura 2 A). Posteriormente, foi um dos fundadores da Faculdade de Medicina de Alagoas, em 1950, e tornou-se seu primeiro professor de Medicina Legal 2 .
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Figura 2  Médicos José Lages Filho e Cesare Lombroso. A. Dr. Lages (lado direito da foto) com Dr. Ezechias da Rocha, médico clínico associado da Santa Casa de Maceió, onde foi examinado o chefe de Lampião, e Melchiades da Rocha, jornalista que documentou toda a história de a morte do criminoso. https://i2.wp.com/www.historiadealagoas.com.br/wp-content/uploads/2015/06/Professor-Ezechias-da-Rocha-chefe-da-Cl%C3%ADnica-da-Santa- Casa-jornalista-Melchiades-da-Rochae-Dr.-Lages-Filho.jpg B. O criminologista positivista italiano, Dr. Cesare Lombroso, nascido como Ezechia Marco Lombroso (1835-1909). Fotógrafo desconhecido - reproduzido em “Rassenkunde des jüdischen Volkes” por Hans FK Günther 1929, JF Lehmanns Verlag, Munique. Domínio público,https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=2770466  

A cabeça de Lampião, embora já bastante danificada por quatro dias de conservação inadequada de conhaque e sal, foi a única que ainda permitiu o exame 1 . A caixa 1 mostra a descrição da autópsia.
Na autópsia de Lampião, José Lages Filho só conseguiu encontrar microdontia, assimetria acentuada da orelha e abóbada palatina oval como traços inatos que ele considerou relevantes para caracterizar a natureza criminosa do fora da lei de acordo com os critérios desenvolvidos e divulgados pelo psiquiatra italiano Cesare Lombroso (1835- 1909).

DISCUSSÃO
A decapitação de criminosos e inimigos políticos, e mostra de sua cabeça como uma espécie de troféu, não era incomum no Brasil durante a 18 ª , 19 ª e início dos anos 20 th séculos, pelo menos na região Nordeste 1 , 3 . Corisco, um dos tenentes de Lampião, decapitou, enquanto ainda estavam vivos, seis membros da família do informante da polícia considerados responsáveis ​​pela emboscada mortal do chefe e os enviou ao policial que o comandava 1 .
Relatório de autópsia do Dr. José Lages Filho (tradução dos autores) 1 . A autópsia da cabeça ocorreu apenas em 31 de julho de 1938, quatro dias após a morte do bandido. A cabeça de Lampião já estava em más condições, pois havia sido transportada em um barril de querosene cheio de água, aguardente ( cachaça ) e sal, e exibida ao público em muitas aldeias durante esse período. O foco na classificação antropológica e nas características sugestivas de tendências degeneradas de acordo com a doutrina antropométrica criminal de Lombroso é aparente.
“No Serviço Médico-Legal do Estado de Alagoas, o chefe do célebre bandido Lampião, que durante 20 anos foi o terror do sertão nordestino, foi admitido às 22:00 de 31 de julho de 1938. Infelizmente, o O estado em que chegou ao necrotério não permite um estudo detalhado e meticuloso à luz da antropometria e da anatomia criminais, pois Virgulino Ferreira foi atingido por um projétil de arma de fogo que atravessava seu crânio, saindo da região occipital, atingindo vários ossos, como o osso mandibular no nível de sua porção média, ossos frontal, parietal direito, temporal e base direito, que foram reduzidos a múltiplos fragmentos. No entanto, após cuidadosa reconstituição da cabeça, podemos traçar o perfil antropológico da seguinte forma: pele marrom-amarela, que a classifica como pertencente ao grupo dos “Xantodermas brasileiros”, de acordo com o sistema de classificação de Roquette-Pinto; - testa fugaz; - cabelos tipo lissotric, pretos, lisos e longos, dispostos em uma trança pendente; - barba e bigode, com cabelos lisos, pretos e escamosos; dolicocefálico, contrastando com os outros indivíduos de sua etnia, o braquicefálico em geral. O perímetro cefálico é igual a 57 centímetros. O diâmetro ântero-posterior máximo atinge 150 milímetros. Índice cefálico 75. Face de tamanho relativamente pequeno, sendo impressionante à primeira observação, as dimensões do pequeno osso mandibular, com os ramos horizontais formando um ângulo reto no encontro dos ramos ascendentes correspondentes. Assim, a face total ( - barba e bigode, com cabelos lisos, pretos e escamosos; dolicocefálico, contrastando com os outros indivíduos de sua etnia, o braquicefálico em geral. O perímetro cefálico é igual a 57 centímetros. O diâmetro ântero-posterior máximo atinge 150 milímetros. Índice cefálico 75. Face de tamanho relativamente pequeno, sendo impressionante à primeira observação, as dimensões do pequeno osso mandibular, com os ramos horizontais formando um ângulo reto no encontro dos ramos ascendentes correspondentes. Assim, a face total ( - barba e bigode, com cabelos lisos, pretos e escamosos; dolicocefálico, contrastando com os outros indivíduos de sua etnia, o braquicefálico em geral. O perímetro cefálico é igual a 57 centímetros. O diâmetro ântero-posterior máximo atinge 150 milímetros. Índice cefálico 75. Face de tamanho relativamente pequeno, sendo impressionante à primeira observação, as dimensões do pequeno osso mandibular, com os ramos horizontais formando um ângulo reto no encontro dos ramos ascendentes correspondentes. Assim, a face total ( sendo impressionante à primeira observação, as dimensões do pequeno osso mandibular, com os ramos horizontais formando um ângulo reto no encontro dos ramos ascendentes correspondentes. Assim, a face total ( sendo impressionante à primeira observação, as dimensões do pequeno osso mandibular, com os ramos horizontais formando um ângulo reto no encontro dos ramos ascendentes correspondentes. Assim, a face total (O comprimento do rosto ) é de 170 mm, o comprimento total da face ( face ) 130 mm, o rosto simples ( face) comprimento 85 mm, diâmetro bizigomático da face transversal máxima de 160 mm e índice facial de Broca 53.12. Quanto ao nariz, reto, romboide e com ápice espesso, com a impressão de óculos mantidos no dorso, possui altura máxima de 37 milímetros. O índice nasal transversal é 74. Uma mesorrina franca. Lábios finos, a largura da boca medindo 37 mm. Abóbada palatina ogival. Dentes pequenos, inclusive no grupo microdontia. Orelhas assimétricas com uma desigualdade manifesta no desenvolvimento de partes semelhantes - a orelha de Blainville. O comprimento da orelha direita atinge 65 milímetros. A largura da orelha direita é de 40 milímetros. O comprimento da orelha esquerda é de 53 milímetros. Índice de orelha de Topinard, levando em consideração as dimensões da orelha direita, 165. Existe uma pigmentação arredondada escura na região masseterica direita da face, medindo três milímetros de diâmetro, um nevo congênito. O olho direito tem um leucoma, tingindo toda a córnea. Em resumo, embora alguns estigmas físicos estejam presentes na cabeça de Lampião, não encontramos um paralelo rigoroso entre os caracteres somáticos da degeneração revelados por este exemplo de um criminoso célebre. Assim, observamos como índices físicos de degeneração apenas as anomalias das orelhas, denunciadas por uma assimetria chocante, abóbada palatina oval e microdontia. Faltavam as deformidades cranianas, o prognatismo da mandíbula e outros sinais aos quais Lombroso emprestava tanto na caracterização do criminoso nato. Não obstante,
- (s.) Dr. José Lages Filho, Médico Forense Policial ”.
Análises frenológicas pós-morte de bandidos também não eram inéditas. Por exemplo, a Dra. Nina Rodrigues (1862-1906), Professora de Medicina Legal da Faculdade de Medicina da Bahia e defensora do positivismo naturalista e da Escola Lombrosiana, realizou autópsias em alguns bandidos 4 , 5 . Ele também examinou o chefe de Antônio Conselheiro (1830-1897), o líder mestiço da chamada Guerra de Canudos, cujo corpo foi retirado da sepultura duas semanas após seu enterro. Curiosamente, Rodrigues considerou a cabeça normal (não foram encontradas anomalias degeneradas) 4 , 5 .
Conforme declarado por Lages, a autópsia limitada foi uma tentativa de determinar se a cabeça e o rosto de Lampião exibiam os traços característicos de criminosos inatos ( reo nato, na terminologia de Ferri), conforme descrito por Cesare Lombroso. Esse influente psiquiatra ( Figura 2 B) foi pioneiro em Psiquiatria Forense e pai, juntamente com Raffaele Garofalo (18511934) e Enrico Ferri (1856-1929), da doutrina conhecida como Antropologia Criminal. Essa era uma metodologia empiricamente baseada em criminosos. Contradizia a visão metafísica então dominante da criminalidade e classificou os criminosos em diferentes grupos, incluindo criminosos inatos, ocasionais e apaixonados, epiléticos criminais e imbecis morais .. Com base em estudos de autópsia realizados em hospitais, asilos e penitenciárias, Lombroso concluiu, por exemplo, que a fossa occipital de criminosos italianos famosos, como o ladrão calabrês Villela, estava mais próxima dos primatas superiores do que dos humanos.
Segundo Lombroso, aspectos considerados típicos do caráter criminoso ( estigmas ) representavam uma espécie de atavismo - regressão ou degeneração para um tipo humano mais primitivo - que poderia, por exemplo, ser causado por epilepsia, uma condição do sistema nervoso que levou à sua degeneração 6 , 7 . Essas características incluíam características antropométricas e frenológicas / fisionômicas, como comprimento de braços e pernas, assimetria facial e inchaços no calvário, mas também marcas físicas, como tatuagens e características psicológicas, que hoje em dia provavelmente seriam consideradas indicativas de transtornos de personalidade ( Quadro 2 ).

Traços físicos característicos de criminosos inatos de acordo com Cesare Lombroso 6 , 7 . Algumas dessas características indicaram propensão a crimes específicos, incluindo estupro, assassinato etc. Também foram avaliadas características fisiológicas (por exemplo, sensibilidade reduzida à dor) e características psicológicas (vaidade, infantilidade etc.).

·         Altura anormalmente alta
·         Cabeça pequena, mas rosto grande
·         Solavancos na cabeça, na parte de trás da cabeça e ao redor da orelha
·         Rugas na testa e no rosto
·         Testa inclinada
·         Cavidades grandes do seio ou face acidentada
·         Orelhas grandes e salientes
·         Barba escassa e queda de cabelo
·         Sobrancelhas grossas, tendendo a encontrar-se através do nariz
·         Nariz bicudo (para cima ou para baixo) ou nariz achatado
·         Queixo saliente
·         Maçãs do rosto altas
·         Incisivos poderosos, dentes anormais
·         Lábios finos (e outras características femininas encontradas em estupradores)
·         Cabelos desgrenhados
·         Pescoço fino
·         Braços longos
·         Tatuagens no corpo, especialmente nas costas e nos órgãos genitais
·         Canhoto
·         Olhar indescritível (em ladrões)
·         Olhar firme e vitrificado (em assassinos)
·         Em mulheres criminosas, masculinidade nos traços faciais e na voz, excesso de pêlos no corpo, verrugas, mamilos pequenos ou muito grandes

O trabalho mais influente de Lombroso - L'uomo delinquente - foi publicado em 1876 6 e logo foi traduzido para vários idiomas. Seu sistema - inspirado no positivismo - foi amplamente adotado na Europa e em outros países, inclusive no Brasil.
A doutrina lombrosiana era, no entanto, cheia de preconceitos - contra mulheres, canhotos, profissionais do sexo etc. Obviamente, a maioria dos epiléticos nunca comete nenhum crime. Além disso, a maioria das tribos primitivas ( selvagens segundo Lombroso) tem baixas taxas de criminalidade; e indivíduos normais podem exibir qualquer um dos estigmas . As teorias de Lombroso foram baseadas em observações clínicas e em um grande número de medidas antropométricas post-mortem, mas foram desafiadas por análises estatísticas posteriores. Isso foi usado para criticar a abordagem de Lombroso e fortalecer uma visão oposta da criminalidade que enfatizava a importância dos determinantes da sociedade 8 . Essa nova abordagem acabou substituindo a visão de Lombroso, especialmente após a Segunda Guerra Mundial.
Lombroso não negou que fatores exógenos pudessem influenciar as atitudes humanas. Eventualmente, ele passou a reconhecer a complexa interação entre predisposição constitucional e fatores sociais / precipitantes que levam à criminalidade, mas ele achava que essas últimas influências agiam apenas como desencadeadores dos fatores endógenos 7 .
Mais tarde, Lombroso estudou mediunidade e passou a acreditar no espiritualismo. Sua filha Gina Ferrero sugeriu, no entanto, que esse último interesse poderia estar relacionado ao aparecimento gradual de demência - “aterosclerose” 9 .
Como afirma Lages Filho, muitos sinais físicos de degeneração lombrosiana (prognatismo, deformidades cranianas etc.) estavam ausentes em Lampião. Apesar disso, afirmou que os dados anatômicos e antropométricos sugeriam uma apreciação da "natureza delinqüente" do famoso criminoso. Isso destaca o quanto as idéias de Lombroso eram valiosas na época.
Várias doutrinas relacionadas coexistiram ou seguiram a antropologia criminal, incluindo frenologia, darwinismo social e eugenia. Essas teorias influenciaram fortemente a medicina e a política durante a primeira metade do século XX , mas acabaram perdendo força, principalmente após a Segunda Guerra Mundial. Apesar disso, os princípios gerais por trás dessas idéias de alguma forma sobrevivem hoje. Os médicos ainda estão buscando traços biológicos subjacentes à predisposição ao mau comportamento e ao crime, adicionando frequentemente argumentos genéticos e neurocientíficos ao campo controverso 10 . O júri das teorias do determinismo biológico, no entanto, ainda está de fora.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à Sra. Solange Berard Lages Chalita por destacar as principais realizações de seu pai, Dr. José Lages Filho, em uma entrevista amigável; e ao Dr. Sérgio Telles Ribeiro Filho pela edição em inglês.

REFERÊNCIAS
1. Rocha M. Bandoleiros das Catingas. Rio de Janeiro: Francisco Alves; 1988. [  Links  ]
2. Canuto A. Faculdade de Medicina de Alagoas: história de luta e esperança. Maceió: UFAL; 2006. [  Links  ]
3. Tenório DA. A tragédia do populismo: o impeachment de Muniz Falcão. 2nd ed. Maceió: Edufal; 2007. Raïzes do conflito: uma violência política em Alagoas; p. 85-110. [  Links  ]
4. Mello FP. Guerreiros do Sol: violência e banditismo no Nordeste do Brasil. 5a ed. São Paulo: A Girafa; 2004. [  Links  ]
5. Rodrigues RN. Como coletividades anormaes. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; 1939. A loucura das multidões; p. 50-77. [  Links  ]
6. Lombroso C. L'uomo delinquente: estudo em rapporto all'antropologia, ala medicina legal e ala disciplina carcerária. Bolonha: Il Mulino; 2011. [  Links  ]
7. Shecaira, SS. Criminologia. 5a ed. São Paulo: Revista dos Tribunais; 2008. O nascimento da criminologia; 97-104. [  Links  ]
8. Goring C. O condenado inglês: um estudo estatístico. Londres: HMSO; 1913 [citado em 12 abr.2018]. Disponível em: https://archive.org/stream/englishconvictst00goriuoft/englishconvictst00goriuoft_djvu.txt [  Links  ]
McCabe J. (1920). Homens científicos e espiritualismo: análise de um cético. Idade de vida. 1920 [citado em 8 de maio de 2018]. 12 de junho; 652-7 Disponível em: http://www.unz.com/print/LivingAge-1920jun12-00652 [  Links  ]
10. Raine A. A anatomia da violência: as raízes biológicas do crime. Nova York, Livros Vintage; 2014. [  Links  ]
Recebido: 21 de maio de 2018; Revisado: 18 de julho de 2018; Aceito: 16 de agosto de 2018
Correspondência: Charles André; Rua Visconde de Pirajá, 414 / sala 821; 22410-002 Rio de Janeiro RJ, Brasil; Correio eletrónico : dr.charles.andre@gmail.com
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