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sexta-feira, 12 de agosto de 2022

Grimório do Cangaço.

Estava eu em São Salvador na Bahia, visitando alguns sebos1 na região do Pelourinho2 em busca de livros raros da literatura do cangaço, quando uma pessoa chegou-se a mim e falando num sussurro disse-me que sabia onde existia um livro muito raro sobre o cangaço e que eu por certo nem sabia que existia assim como a maioria dos amantes da saga.
Me afastei um pouco daquele indivíduo lúgubre que me falava por sussurros, achando muito suspeito pois sabia da fama daquela localidade na cidade. Claro que fiquei curioso e perguntei-lhe onde seria que encontraria tal livro e qual o título do mesmo. Ele vendo meu receio quanto à pessoa dele foi saindo andando rápido e dizendo que eu o seguisse até um pouco à frente.
Minha curiosidade foi tamanha que mesmo com receio o segui até mais na frente, onde ele tinha parado. Ele respondeu que teria de ter cuidado pois iria revelar um grande segredo que estava escondido a muito tempo. E aguardei que me dissesse o nome do livro. Ele sussurrando falou tão baixo que tive de ter coragem para chegar mais perto dele para ouvir suas palavras ditas com grande dificuldade, o livro disse ele chama-se Grimório do Cangaço.
Fiquei estupefato pois nunca tinha ouvido falar de tal livro. Perguntei-lhe onde o encontraria e ele me disse que poderia me levar ao Sebo mas tinha um porém: eu deveria encontrar com ele, sozinho, ao meio dia seguinte na ladeira da Misericórdia n13  e perguntou-me se eu sabia onde ficava.
Fiquei atarantado com aquela proposta que vi ser um tremendo golpe e ele como se lesse meus pensamentos disse-me:
  • Chefia... não é golpe! Acontece que nem o proprietário e nem ninguém sabe, a não ser eu, onde está esse livro. E outra, fui mandado ao senhor, pois o ex-cangaceiro que me mandou, disse-me que o amigo é pessoa de mente aberta.
Eu depois de avaliar aquela situação disse que sabia onde era a ladeira e que estaria lá ao meio dia. Mas que ele me dissesse quem foi o ex-cangaceiro que tinha lhe dado essa missão.  E ele prontamente me disse que tinha sido um, chamado de Virgilino e perguntou-me se o conhecia da literatura. Mentalmente repassei as páginas dos dois livros dicionários que existem da história do cangaço, dos autores Renato Bandeira e Bismarck Martins de Oliveira e não encontrei esse cangaceiro. Cos diachos! O impropério veio sem querer e pensei: homi será que foi a alma de Virgolino? E esse homem escutou Virgilino? E arrematei comigo: Ora, que besteira estou pensando!

A Ladeira da Misericórdia
Pois bem amigos, dia seguinte eu estava no local indicado. Local isolado, sem vivalma na inteira ladeira me causava receio de um assalto. E pra f⁹alar a verdade, era fantasmagórico também.  Mas felizmente na hora marcada vi o sujeito chegar. Parecia que ao andar, não tocava no chão. Vinha de maneira sobrenatural, flutuando em minha direção. Senti um calafrio e fiquei deveras com tanto receio que palpitações ficaram insuportáveis em meu peito, parecendo que meu coração iria pular para fora de meu corpo.
  • Boa tarde amigo! Disse o sujeito.
  • Boa tarde senhor! Disse eu.

E estávamos os dois em frente ao número 13 da Ladeira da Misericórdia. O local não denotava que era um comércio de livros usados. Achei aquilo tudo muito estranho.  Mas ele disse: vamos entrar. E empurrando a porta esta abriu com um enorme rugido de dobradiças enferrujadas pelo tempo. Fomos entrando e na grande sala da frente vi de imediato que não tinha nada dentro.  Ele continuou a andar para uma porta lateral da sala e eu com muito receio indo atrás dele. O corredor era longo e estreito e à nossa direita, no final do corredor tinha outra entrada para outra sala. Quando entramos vi no centro dela uma enorme escada de madeira em estilo antigo. Subimos e no andar superior descortinou uma belíssima biblioteca que de imediato me veio a lembrança de estar numa antiga livraria da cidade do Porto, em Portugal, por nome de Lelo, que tive o prazer de conhecer.
Fiquei pasmo por essas lembranças que como um passe de mágica, passei a visualizar a livraria naque local. Olhei pra cima e vi no teto uma pintura lindíssima com imagens santas.
O local era mágico e impressionante. Um burburinho de vozes se misturava à música de um realejo tocado por um  bruxo cigano que eu tinha visto próximo da entrada da livraria.

1 - Livraria de livros usados
2 - Local da cidade alta onde na época da escravidão os negros recebiam castigos.
IDEIAS SOBRENATURAIS
Agora, alimentem-se. Bebam tudo. Saciem-se.
Até enxergarem o que nós já conseguimos ver de tão mágico e incrível nestas terras secas e escuras.

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