O Batismo de fogo de Zé Saturnino foi na fazenda Favela. O major Teófanes nomeou Zé Saturnino ao posto de segundo-sargento e lhe deu instruções de combate. Este recebeu o comando de uma volante de 100 soldados e auxiliado pelo anspeçada, nome que se dava antigamente ao posto militar acima de soldado e subordinado ao cabo, a Manoel Neto, meteu-se nas caatingas a procura de Lampião.
Zé Saturnino |
Manoel Neto |
Zé Saturnino e Manoel Neto, passando por Santa Maria (atual Tupanaci), no dia 10 de novembro de 1926, teve noticia que Lampião acabava de sair dali e que tinha dançado a noite toda.
Seguindo a pista deixada pelos cangaceiros, a tropa passou por Campos Bons, Cachoeira, Exu e Arapuá, indo pernoitar na fazenda Icó. No dia 11 de novembro de 1926, antes do raiar do sol, a volante reiniciou a marcha. Como havia uns rastros em direção à fazenda Favela, de Antonio Novaes, os comandantes resolveram ir para a mesma a fim de se informar se havia noticia dos cangaceiros.
A Fazenda Favela, que visitei no dia 13 de outubro de 2017 acompanhando a comitiva do Cariri Cangaço, fica a poucos quilômetros da cidade de Floresta-PE.
Lá chegando Zé Saturnino postou-se com uma parte da volante dentro de uma capineira, por trás da parede do açude em frente a casa-grande, e Manoel Neto seguiu com os outros homens para a outra casa que ficava no alto.
Bateu na porta. De dentro, uma voz perguntou:
— Quem tá ai?
— Aqui é Mané Neto!
— Apois quem tá aqui é Antonho Ferrera!!!
(alguns pesquisadores divergem dessa informação pois colheram dados que Antônio Ferreira. irmão de Lampião, estava com ele, na antiga sede da fazenda.)
E de repente a porta e janela se escancararam, e dos vãos abertos choveram balas em cima da tropa. Os soldados, por não esperarem uma reação daquela ordem, ficaram atarantados, e foram alvo fácil para os cangaceiros. Manoel Neto colou-se na parede, sem saber o que fazer, vendo seus comandados serem abatidos impiedosamente.
Lampiao estava dormindo em outra casa com uma parte do grupo e ao escutar o tiroteio veio dar retaguarda a outra parte do bando, barrando a fuga dos soldados que corriam naquela direcão. Melhor sorte não teve Zé Saturnino, que ficara entocado no capinzal, não sabendo que justamente alí estava acampado o grupo de Sabino Gomes — quando os homens de Zé Saturnino correram para socorrer os companheiros, toparam de frente com os cabras de Sabino, e em face disso fugiram. Vejam as explicações nesse documentário:
O grupo de Sabino investiu então contra os soldados que ainda lutavam no terreiro da casa, e estes, atacados de todos os lados, debandaram em absoluta desordem. Muitos feridos, sabendo que se ficassem ali seriam sangrados pelos cangaceiros, juntaram as últimas forças e também correram, encorajados pelo valente Manoel Neto, que saiu carregando um ferido nos ombros e arrastando outro pelo braço, repetindo isso três ou quatro vezes.
Quando os dois comandantes se encontraram, abraçaram-se, sem ter o que dizer, escutando os gritos dos companheiros sendo sangrados. A sua volta só se viam uns 20 soldados. Pensaram que o resto tinha morrido. Ficaram felizes quando souberam que a maior parte havia fugido.
Morreram na fazenda Favela seis soldados: Antonio Freire Panta, Gaudêncio Pereira da Silva, Francisco Pereira, Joao Gregório Neto, Agripe Lopes dos Santos e Cicero Petronilo da Silva. Feridos, quase todos. Entre os cangaceiros, apenas um morreu e cinco receberam ferimentos.
Por conta dessa emboscada que sofreram, o Capitão Muniz de Farias jogou toda a culpa em cima de Manoel Neto, mas mesmo assim, por conta de sua valentia, Manoel Neto foi promovido a cabo mas Zé Saturnino perdeu o comando da volante e incorporou-se na volante de Euclides Flor. Corn o tempo, voltou a chefiar pequenos grupos. Quando em 1928 Lampião se transferiu para a Bahia, Zé Saturnino acompanhou a volante de Euclides em três incursões pelas terras baianas. Em 1° de junho de 1931, desligou-se da policia. Explicou suas razoes:
— Se Lampião vorta para Pernambuco, brigo cum ele, mais nun vou largá mia fazenda e mia famia par andá fazeno papé de besta na Bahia, cumo quem procura uma aguia num paiero!
Em parte desse texto, o autor do livro Lampião, Raposa das Caatingas, nos ajuda a ver como essa batalha que ficou conhecida por "Fogo da Favela" - mas indico também outro livro, editado recentemente, chamado As Cruzes do Cangaço, onde os autores, em nossa visita nos relataram no local, O Fogo da Favela.
Observações:
- Mesmo o que está escrito acima e as informações faladas nos vídeos, nesse encontro do Cariri Cangaço 2017 em Floresta - PE. não invalida essa história.