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terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Lampião, Corisco e os Nazarenos

No ano de 1931 Lampião já usava sua mais contundente forma de estratégia para deixar seus inimigos em confusão, a divisão do bando, comandados por homens traquejados na luta de guerrilha e que eram a nata do cangaço junto com ele; Corisco, Mariano, Zé Baiano e Labareda.

Lampião está cada vez mais belicoso e destrói em vingança muitas fazendas do coronel Petronilo de Alcântara Reis, - aquele que recebera o cangaceiro em suas terras, de ‘olho interesseiro’ no dinheiro que trazia - por conta da traição que este lhe fizera, quando para justificar-se do coito que dera aos cangaceiros perante as autoridades baianas, sugeriu que o governo da Bahia voltasse a permitir as volantes nazarenas - que o mesmo tinha proibido de entrar em território baiano, por causa da forma de agir quando agredia e torturava os sertanejos procurando pistas de Lampião.

Diante desses ataques e mortes, os grandes fazendeiros fazem pressão e o governo baiano atende o pleito e permite a volta das tropas do Estado de Pernambuco. A primeira volante a entrar em território baiano é comandada pelo tenente Manoel de Souza Neto com seu sargento David Jurubeba, e formada por jovens guerreiros; inicia-se a caçada ao Rei dos Cangaceiros, desta feita, por homens comprometidos em juramentos de vingança pelos malfeitos praticados por Lampião, às famílias nazarenas, aliados ao espírito de justiça.

Ávidos para encontrar e destruir Lampião, a volante cruza o rio São Francisco e inicia sua missão penetrando nas terras devolutas do Raso da Catarina, onde até os mais calejados sertanejos tinham receio de entrar, e no dia seis de setembro de 1931, a pequena força já dá combate aos grupos de Lampião e Corisco na fazenda Aroeira, não muito distante da atual cidade de Paulo Afonso.

Em seu livro CORISCO A Sombra de Lampião*, o autor Sérgio Augusto de S. Dantas conta que entrevistou um dos participantes desse embate, João Gomes de Lira, que recordava bem esse dia, quando em entrevista lhe disse:

"A tropa da qual eu fazia parte estava arranchada na Aroeira, descansando da longa viagem. Ninguém percebeu quando lampião se aproximou e ficou com alguns homens por trás de uma cerca da fazenda. Em dado momento, David Jurubeba se dirigiu a umas fruteiras que tinha ali por perto. Quando David chegou perto das árvores, e começou a olhar se tinha frutos, Lampião já estava deitado no chão, preparado para atirar".

Inicia-se o embate, e só mesmo a sorte do sargento David Jurubeba faz que o tiro não o atinja, pois Lampião era exímio de pontaria.
Não deve ter sido um combate prolongado, Lampião estava apenas com o subgrupo de Corisco e como era de costume, quando notava que estava em desvantagem, sumia e deixavam seus combatentes atirando a esmo. 

Nisso Corisco em sua fuga, aproxima-se de onde o tenente Manoel Neto encontrava-se, mais abaixo do local do embate e não percebe de imediato sua presença. Um soldado ver e logo atrás atira e dá início a um segundo combate. Após os primeiros disparos, as provocações de costume:

- Estou brigando com quem? Grita Corisco.

- Com a volante do tenente Manoel Neto. E quem é você, cabra de peia? - indaga o oficial.

- Sou Corisco, bando de macaco safado. Se prepare para correr, tenente filho de uma puta!

Por certo a resposta a esse impropério não ficou de graça.

Identificados os contendores, a briga continua. O tenente atira e avança, enquanto o cangaceiro responde aos disparos, a curta distância.

Corisco como era de seu feitio, grita, insulta, com agilidade dá pulos para os lados e gira em torno de si mesmo. Era mesmo um demônio que assustava aqueles que não estavam preparados para a luta. Em pouco o silêncio se instala. A tropa pernambucana fica brigando sozinha. Corisco, como do nada, desaparece em meio à caatinga.


Era mesmo a sombra de Lampião.

* Fonte do texto