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quarta-feira, 23 de novembro de 2016

A PELEJA DE SEU SETE CONTRA O GENERAL

O jornalista e professor Luiz Antônio Simas conta-nos uma historia a respeito da Entidade Seu 7 da Lira, que encorporava na médium Cassilda de Assis e que abaixo, os amigos poderão ver algumas imagens em forma de documentário, trabalho do Núcleo de Estudos da Tenda de Umbanda Filhos da Vovó Rita sobre a ilustre médium e sacerdote de Umbanda que dedicou uma vida ao Seu 7 da Lira. 


O professor Simas nos diz: Conheço poucos fuzuês brasileiros que se comparem ao que acontecia, na década de 1970, em Santíssimo, pertinho de Bangu. Em um galpão transformado em terreiro de umbanda, a médium Cacilda de Assis recebia Seu Sete da Lira, um exu fuzarqueiro e sedutor. 

Os pontos eram tocados em ritmo de samba, ao som de tambores, pandeiros, chocalhos, cavaquinho e acordeão. Seu Sete, ao lado de dois mil médiuns e de multidões de clientes, aparecia em grande estilo, de cartola, capa, colete, garrafa de marafo na mão e o escambau. Dava passes, cuspia cachaça em todo mundo e atendia o povão, artistas e autoridades.

O sucesso foi tanto que Seu Sete baixou, ao vivo, nos programas do Chacrinha, na TV Globo, e de Flávio Cavalcanti, na TV Tupi. O jornal O Estado de São Paulo (03/09/1971) noticiou o babado da seguinte maneira: “A disputada mãe-de-santo Dona Cacilda de Assis transformou os estúdios da Globo e da Tupi em verdadeiros terreiros de macumba. Embora as apresentações diferissem, o espetáculo em si foi o mesmo: os umbandistas de 'Seu Sete' invadiram o palco (baianas, cantores, pessoas bem vestidas) num tumulto indescritível.”

Os leitores imaginem o furdunço: Chacrinha e Flávio Cavalacanti entrevistavam Seu Sete da Lira enquanto a curimba comia solta. Consta que câmeras, assistentes de palco, chacretes e mulheres da plateia recebiam entidades e davam passes via satélite.

Resultado da brincadeira: Os homens do regime militar interferiram no babado, a Globo e a Tupi tiveram que assinar um acordo de auto-censura e os milicos baixaram um decreto de censura prévia aos programas ao vivo. Criou-se um órgão federal controlador da umbanda e o governo abriu uma sindicância que culminou com o fechamento do terreiro e o fim da carreira de Dona Cacilda, sob acusação de exploração da crendice popular e propaganda do charlatanismo.

Correu à boca miúda que o verdadeiro motivo da cassação do exu teria sido outro. A primeira-dama do país, Cyla Médici, teria rodado na canjira e recebido Seu Sete enquanto assistia ao programa do Chacrinha, chegando a pedir cachaça e dar consultas para os empregados da residência oficial do governo. 

Acho, por tudo isso, que os estudiosos da ditadura deveriam incluir o Rei da Lira na lista dos cassados. A dupla dinâmica Seu Sete e Abelardo Chacrinha  foi demais para os sisudos censores e os carrancudos militares. Nem a esquerda, com seus materialismos importados da Europa, entendeu.  O Brasil, todavia, desafiador em suas subversões pela festa, estava inteirinho ali.

Contadas por Luiz Antônio Simas

segunda-feira, 31 de março de 2014
A PELEJA DE SEU SETE CONTRA O GENERAL
Texto publicado originalmente no jornal O Dia, de 30/03/2014)