Reminiscências de Maria Bonita
Por Raul Meneleu
E mesmo assim ainda paira dúvidas para alguns, aquele acontecimento da fuzilaria do Angico onde ela e Lampião, com mais nove companheiros foram mortos pelas volantes comandadas pelo tenente João Bezerra.
O título desse artigo diz bem com
a imagem lembrada do passado dela, pois o que se conserva na memória são
lembranças vagas ou incompletas fornecidas por parentes e escassas fontes da Igreja
Católica, material este carcomido por traças e descasos de conservação.
Infelizmente as autoridades religiosas não conservaram a tais, não por má fé,
mas por talvez faltarem a tais uma consciência histórica por não enxergarem o
futuro, talvez por não perceberem tais documentos como história de sua própria
igreja, paróquia e rebanho.
Os escritores da Saga Cangaço foram ao campo, investindo seus recursos de tempo e dinheiro do próprio bolso pois faltavam-lhes patrocínios de entidades de cultura, tanto as particulares como as governamentais, como aliás aconteceu na história do homem sobre a face da terra, sendo que apenas poucos destes pesquisadores foram amparados oficialmente. Imaginem agora no nosso Brasil onde a cultura sempre foi posta em patamar inferior.
Centremos então nossa atenção
para o nicho esquecido por muitos mas lembrado por poucos: A História de Maria Bonita.
Iniciemos com o histórico de
pesquisadores que debruçaram sobre o assunto.
Em livro mais recente temos o do pesquisador Voldi de Moura Ribeiro, que trata do nascimento de Maria Bonita.
Na página 79 sob o título "UMA ANÁLISE ACERCA DO DIA 08 DE MARÇO DE 1911" data defendida sem comprovação documental por alguns escritores, Voldi analisa em síntese crítica, os registros de tais, que a partir do ano de 1997 passaram a defender esta data, isto sem comprovação documental e que simplesmente se basearam em relatos verbais familiares que também não foram comprovados.
Antes as datas defendidas por
autores mais antigos, variava de ano, desde 1906 a 1912.
Na análise crítica da tabela da pg 79 Voldi apenas indica os
autores e as obras referenciadas estão explícitas nas pgs 70-79 (tópico 10).
Voldi traz o resultado de sua
pesquisa com documentos comprobatórios encontrados nas Paróquias de Santo
Antônio da Glória e São João Batista de Jeremoabo, em sua busca, juntamente com
o Pesquisador, Teólogo e Comunicador Social, Padre Celso Anunciação. Em
conversa de mais de uma hora por telefone, entrevistei o autor dias 26 e 28 de
julho de 2020, que me informou está sendo elaborada uma segunda edição, ampliada.
Estive com Voldi em diversos
encontros do Cariri Cangaço, onde ele compartilhava comigo o assunto e ano
passado estivemos em Juazeiro do Norte, onde o autor entregou-me em mão sua
obra com uma dedicatória amável que agradeço imensamente. Nesta obra, ele traz
fotografias de tais documentos, onde não pode existir mais dúvidas de data de
nascimento de Maria Bonita. Abaixo exponho as fotos e procuro fazer
argumentações extra-livro.
Transcrição do trecho da página: "Aos sete dias do mês de setembro de mil
nove centos e dez, baptisei solenemente a Maria, nascida a desessete de janeiro de mil nove centos e dez filha natural de Maria
Joaquina da Conceição. Foram padrinhos Agripino Gomes Baptista e Maria Joaquina
da Conceição. E para constar fiz este assento que me assigno.
Vigário
Euthymio José de Carvalho”
Que dúvida pode persistir se a
evidência maior é o Batistério de Maria? E por que duvidar de um atestado de
Batismo (conforme foto abaixo) emitida pela Paróquia de São João Batista e
assinada pelo Pároco e Padre José Ramos Neves?
Alguém pode dizer: Por que os pesquisadores de renome não encontraram esse Batistério da mulher mais famosa do cangaço?
Respondo com um talvez: Talvez porque
faltou-lhe um amparo maior que o Pesquisador Voldi Moura obteve, ao aliar-se
com um Pesquisador entendido no assunto religioso dos batismos da Igreja
Católica e conhecedor dos meandros e aceito por seus pares de religião, onde
pode escarafunchar as documentações que estavam por assim dizer, aguardando o
momento propício para ser revelada ao público. O escolhido e abençoado foi
Voldi Moura Ribeiro.
Mas vamos além e foquemos nas
demais documentações que nunca tinham sido acessadas por pesquisadores mais
afamados. Temos o Batistério de uma das irmãs de Maria Bonita, que se chamava
Antônia.
O nome completo de Antônia era Antonia Maria da Conceição. (foto abaixo)
Essa certidão de Batismo traz também apenas o primeiro nome, como era o costume da época, pois o batizando automaticamente levaria o nome dos pais. Vejam que esta certidão traz o nome do pai. A de Maria Bonita não. Por certo o pai não estava presente ou Maria Bonita “poderia” ser filha de outro homem. Mas vou deixar essa tese para em outra ocasião dissertar sobre ela.
Em vista desse “achado” os
próximos livros que forem escritos sobre o assunto com certeza irão trazer essa
data de 17 de janeiro de 1910 mesmo que não queiram dar o crédito ao autor da
descoberta, Sr. Voldi Moura Ribeiro.
Na internet existem diversos blogs e páginas com a data não comprovada de 8 de março, seguindo escritores que não pesquisaram e basearam suas afirmativas pelos livros lidos. Coincidentemente o Dia Internacional da Mulher é 8 de março. Claro que gostaríamos de ter essa data internacional como sendo a do nascimento de Maria Bonita, mas infelizmente não é.
Frederico Pernambucano de Melo,
historiador e membro da Academia Pernambucana de Letras, veio a reconhecer a
descoberta de Voldi Moura, quando em palestra no Museu do Estado de Pernambuco,
Recife, em 14 de dezembro de 2011, transcrita no próprio livro LAMPIÃO E O
NASCIMENTO DE MARIA BONITA quando disse:
“... o Brasil, a quem a história
acendeu uma vela no dia 8 de marco útimo, julgando assinalar os cem anos de seu
nascimento. Acendeu por engano, ao que se constata no momento, a data festejada
parecendo não ser a verdadeira.
No vazio de registro escrito, que persistiu até meses atrás, esse 8 de março teria prosperado com base no testemunho de parentes, fonte reconhecidamente precária quando se trata de datas. Para não falar do caráter confuso e pouco explicado desse testemunho. Contra o qual se insurge agora o resultado de levantamento feito há pouco no arquivo da Diocese de Jeremoabo, Bahia, pelo sociólogo Voldi Ribeiro, auxiliado pelo padre Celso Anunciação, que deu como resultado a descoberta do batistério da cangaceira-mor. Documento que a torna mais velha em pouco mais de um ano, vez que nascida aos 17 de janeiro de 1910, ao que reza o papel da sacristia amarelecido pelo tempo. Teria morrido, assim, com 28 anos e seis meses de idade, naquele 28 de julho de 1938, para os que apreciam as exatidões. E conseguido negar um pouquinho de idade para o marido famoso, como toda mulher que se preza...”
Não sabemos como o grandioso
pesquisador Antônio Amaury Correia de Araújo veio a obter essa data refutada de
8 de março, mas se corrige ao referenciar a descoberta do Sociólogo Voldi Moura,
quando em seu livro “Lampião - As Mulheres e o Cangaço” segunda edição, de
2012, página 162 faz constar uma devida correção:
"Maria veio ao mundo em 8 de
março de 1911*
*Data invalidada após o amigo
pesquisador Voldi de Moura Ribeiro, haver encontrado uma carta enviada por mim em
16 de março de 1971, buscando informações sobre documentos de Maria Bonita.
Essa carta foi encontrada por Voldi em 22 de agosta de 2011. ”
Reconhece então o nobre Escritor e Pesquisador, a declaração de Certidão de Nascimento feita pelo Padre José Ramos Neves em que atesta o nascimento de Maria Bonita em 17 de janeiro de 2010. (veja foto acima)
Na enciclopédia Wikipedia no link abaixo
( https://pt.wikipedia.org/wiki/Maria_Bonita),
encontramos ainda a falsa data de 8 de março de 1911 onde foi posta uma pequena
nota que pode ser aberta ao teclar nesse um [1] que diz: “Segundo o Antônio
Amaury, a certidão de batismo em nome de Maria Bonita não pode ser localizada.
Maria deve ter nascido por volta do ano de 1908 (ARAÚJO 1984, fls. 168) e creio
que os administradores da página, já deveriam ter mudado a data para 17 de
janeiro de 1910 o ano de seu nascimento.
Aqui encerro minhas considerações a respeito da data de nascimento de Maria Bonita.