Artigos Variados

terça-feira, 25 de dezembro de 2018

Comentários ao livro Apagando o Lampião

Mesmo com as críticas contundentes dos amigos pesquisadores, autores de livros e documentaristas, a Frederico Pernambucano de Mello sobre a questão de quem matou Lampião, não podemos desmerecer os esforços deste grande pesquisador conhecido por todos nós.

Quando você começa a ler o livro não quer parar, porque as frases borbulhantes da mente maravilhosa deste Grande Professor, soam como música aos nossos ouvidos.

Por exemplo, quando chegamos à página 15, ele mostra que existem escritos valiosos da maioria dos escritores, mas que deixam em aberto boa parte do complexo de causas, sociais, econômicas, políticas e até tecnológicas que construíram para o grande desfecho de 1938 na grota do Angico.

Isso me lembrou nosso famoso escritor Sergipano Alcino Costa, que em um dos seus livros, mostra os mistérios que aconteceram neste desfecho, onde foi morto o cangaceiro mais famoso da história desta Saga Nordestina.

Mostra-nos Frederico Pernambucano de Mello, que escrever sobre Lampião, sobre todos os fatos que envolveram o rei dos cangaceiros, torna-se em determinados momentos, nos assuntos específicos, uma armadilha para o pesquisador. E diz " que cada tópico do episódio que cor o mundo afora se abre em armadilha para o pesquisador a ponto de nos trazer à mente verso com que outro repentista extraordinário, Pinto do Monteiro, converteu para si mesmo na imagem do perigo, fazendo uso de cores sertanejas quando improvisou:

Eu sou um pé de Cardeiro
Na beirada do Riacho,
Com um Arapuá por cima
E um rolo de cobra embaixo,
Mangangá se arranchando:
Só vem a mim quem for macho!

Com isso o autor prestigia aqueles escritos mais importantes que foram feitos por outros. Ele diz textualmente "O quadro é preciso nas tintas. Reproduzi-lo aqui vale por homenagem deliberada do autor deste livro, àqueles que se debruçaram sobre o tema com a coragem de enfrenta-lhe a complexidade, arrostando paixões que se inflamam a cada ano decorrido do acontecimento. Paixões que, longe de arrefecer, parecem cristalizar-se em desafio permanente, convertendo o tema em Campo Minado.
A despeito do comentário, tivemos o cuidado de não fazer tábua rasa de nenhuma destas fontes escritas, do que dá prova a bibliografia ao final. A todas analisamos demoradamente. Demora de anos. As obras que chegaram ao "cardeiro" e as que deste sequer se aproximaram."

E para concluir apenas a parte inicial do livro, antevendo a querela mais importante, ele diz: "Não nos surpreendem as dificuldades enfrentadas por seus autores. Afinal, debruçaram-se sobre um mito em vida, que a morte não fez senão ampliar. Dos mais completos exemplos do processo psicológico de sublimação de perfil humano que o Brasil pode ver em sua história, esse de Lampião."

Depois posto outros comentários, se não me der preguiça, pois só escrevo quando dá vontade. Mas... o "cardeiro" (para um bom entendedor uma palavra basta) enfrenta sem temor defender sua tese com argumentos. E doa em quem doer!

sábado, 1 de dezembro de 2018

Os Vagalumes de Maria Bonita


Na história do Cangaço precisamos ter cuidados em fazermos afirmativas, pois as contradições que muitas vezes, senão em maioria, nunca foram propositais.

Destaco o depoimento da cangaceira Sila, quando, contando que na noite anterior do fatídico dia da morte de Lampião e Maria Bonita, junto com mais nove cangaceiros, estava sentada em uma pedra, conversando com Maria e que viu lampejos que ela achava que poderiam ser fachos de lanternas, mas que fora dissuadida por Maria Bonita, que lhe dissera que eram apenas luzes dos vagalumes. Ela então talvez convencida naquela ocasião, que realmente eram lâmpadas de vagalumes, não ficou preocupada e nem disse isso ao seu companheiro Zé Sereno quando chegou em sua barraca. No depoimento ela diz que após o acontecido,  lembrando dessa conversa, esta lhe marcou a mente, que eram soldados fazendo o cerco ao Angico. Mas pergunto: que hora era  aquela da conversa, se o ataque se deu cedinho pela manhã e temos testemunhos de soldados, que disseram que às 3 horas da manhã, não tinham ainda atravessado o Rio São Francisco?

A mente humana pode ser convencida por algum fato lembrado, mas que necessariamente tal fato não se deu.
Boa parte das lembranças do ser humano é falsa. Jamais aconteceu. Não passa de mentiras inventadas pelo cérebro, fizem os psicólogos.

Parte das lembranças é pura imaginação. Isso porque a memória não é um registro da realidade – é uma interpretação construída pela mente. O nosso cérebro inventa o mundo, das cores que a gente vê às experiências que a gente vive. E edita essas informações antes de gravá-las.

Boa parte das lembranças é falsa. Jamais aconteceu. Não passa de mentiras inventadas pelo cérebro. Lembrar é imaginar, e imaginar é distorcer.
Em uma reportagem de Gisela Blanco e Bruno Garattoni publicado na revista Super Interessante de julho de 2018, reportando sobre isso, mostra que essas lembranças sempre afloravam no consultório de algum psicólogo, depois de sessões de terapia com técnicas de hipnose e regressão e se descobriu muitos casos de falsas memórias, que haviam sido acidentalmente induzidas por psicólogos durante sessões de hipnose. É aquela história que de tanto se falar se acredita.

"É uma interpretação construída pela mente. O nosso cérebro inventa o mundo, das cores que a gente vê às experiências que a gente vive. E edita essas informações antes de gravá-las, explica o psicólogo cognitivo Martin Conway, da Universidade de Leeds. Cientistas da Universidade Harvard pediram a voluntários que se lembrassem de uma festa em que tinham estado. Em seguida, eles deviam imaginar uma festa que ainda não havia acontecido. Os pesquisadores monitoraram as cobaias durante todo o experimento e descobriram que, nos dois exercícios, sua atividade cerebral foi praticamente a mesma. Ou seja: os mecanismos que usamos para acessar nossas memórias são os mesmos que usamos para imaginar as coisas. Uma pessoa pode ter lembranças erradas ao ler o que está gravado corretamente na sua memória,

Vocês podem até se lembrar do principal, mas todo o resto será distorcido – com direito a várias informações criadas pelo cérebro. Já que a memória e a imaginação usam os mesmos mecanismos, a mente não vê problema em dar uma inventadinha para completar as lacunas.

Essa tendência é tão forte que a Justiça possui artifícios para se defender disso, e ver se os relatos de testemunhas estão contaminados pela imaginação. Além de propor situações que não aconteceram (como no caso do americano Paul Ingram), os interrogadores evitam perguntas indutivas (“ele estava usando um boné, certo?”) ou que envolvam raciocínio negativo (“isso não está certo, né?”), pois elas acabam levando o cérebro a distorcer as memórias. Mas não há uma maneira de determinar, cientificamente, se uma lembrança é real. Nem mesmo o detector de mentiras consegue desmascarar falsas memórias, e por um motivo simples. Sabe aquela máxima que diz: uma coisa não é mentira quando você acredita nela? Pois é.

Apesar de tudo isso, é difícil imaginar uma sociedade que não acreditasse na memória das pessoas. Não existiria verdade nem realidade coletiva, pois cada indivíduo viveria isolado em seu próprio mundo de lembranças. “A crença na memória é fundamental para várias instituições da sociedade, como a Justiça e as escolas”, afirma Schacter. Ainda bem. Pois, no futuro, nossas memórias serão totalmente diferentes."

Então amigos, não era porque Sila estava mentido. Ela e Maria Bonita realmente conversaram naquela pedra e a lembrança que Sila teve quando algum tempo depois, alguns dias depois ou talvez meses, quando ela lembrou ficou gravado em sua mente que aquelas luzes de lanternas eram dos Soldados. Mas não poderia ser pois, a que horas elas estavam conversando em cima daquelas pedras? Era 3 horas da manhã? Eu duvido que isso se deu nessas horas entre 3 e 4 da manhã! Provavelmente deveria ser, essa conversa, antes de 22h.

Mas aí já entra da minha parte essa interrogação. Mas sinceramente acho muito difícil que essa conversa tenha se dado as 3 horas ou 4 horas da manhã pois os soldados ainda estavam atravessando o rio.

RAUL MENELEU
30 de novembro 2018

Créditos
Foto de Sila: print screen Prog. do Jô
Fotos: Benjamim Abraão
Documentário: Aderbal Nogueira

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

O Passarinho Encantado

♡ Vovô Raul para sua netinha Alícia 

Alicia você já ouviu a história do Passarinho Encantado que voou para o quintal da vovó Quinhaflor? 
Pois eu vou lhe contar: 

Certa feita, vovó Quinhaflor ao regar a horta para que as plantinhas crescessem, pois as plantinhas só podem crescer se tiver chuva, se não tiver, a pessoa tem que molhar as plantinhas. As flores, as rosas, as plantas do quintal, a horta de onde ela plantou tomate, chuchu, beterraba, cenoura, couve, coentro, pimenta e cebolinha; todas essas plantinhas que ela usa na cozinha quando vai fazer o almoço. Pois bem ao olhar para o cajueiro, vovó Quinhaflor viu um passarinho todo colorido. Ele tinha penas vermelhas, amarelas, verdes, brancas, azuis e lilás. Ele era um arco-íris muito lindo! A vovó Quinhaflor, como você sabe, conversa com os animais, ela entende a linguagem dos animais. Ela sabe falar passarinhês, que é a língua dos passarinhos, assim como ela sabe falar a língua dos gatos, a língua dos cachorros, a língua dos Papagaios e também aprendeu a falar a língua dos passarinhos, quando ela e o vovô Raul estiveram no Parque Nacional de Sete Cidades, no Estado do Piaui, onde tem muitas árvores e cachoeiras. O Curso foi no hotel Fazenda da cidade de Piracuruca, onde o Rei dos Pássaros, o Professor Uirapuru, ensinou o Passarinhês. 

Voltando ao lindo passarinho, Vovó Quinhaflor disse para o passarinho, claro que em Passarinhês: Passarinho lindo... de onde você vem meu amigo? Fique à vontade aqui no meu quintal. Aqui nós temos frutas, temos Acerolas, Cajus, Pitangas, Romãs, bananas, mamãos, Goiabas, Mangas, diversos tipos de frutas para que você possa fazer uma boa refeição! E o passarinho respondeu para vovó Quinhaflor 

▪ziu piu ziu tchi piu piu piu piu... 

Que vovó Quinhaflor entendeu perfeitamente o que ele estava dizendo. Traduzindo da linguagem dos passarinhos, ele disse: Minha boa senhora, eu estou vindo de um reino muito distante. Nesse reino, uma bruxa muito malvada, me transformou num passarinho e eu fui obrigado a fugir de meu reino, porque ela queria me colocar numa gaiola de ouro e eu não aceitei e por isso eu voei para longe.

A vovó Quinhaflor disse para ele: Bonito e nobre passarinho, aqui você está encontrando esse pedacinho de terra, da qual eu e o vovô Raul, cuidamos dele, plantando, arrumando as árvores, cuidando delas, para que os passarinhos aqui na cidade possam ter um local onde possam vir e se deleitarem, para comer um pouco de frutas deliciosas, desse quintal. Nos visitam diversos passarinhos. Vêm aqui e falam conosco. Brincam e voam entre as árvores. Agora, você tem que ter cuidado com os Niquinhos. Você sabe o que é niquinho? São aqueles macaquinho pequenininhos e eles gostam de ir para os ninhos dos passarinhos, para comer os ovinhos, muitas vezes ele atacam até os passarinhos. Então tem que ter cuidado porque eles estão aqui também, pois nos visitam para comerem  bananas que eu coloco para eles. Então fique à vontade.

▪Mas me diga uma coisa... como é que se faz para quebrar esse Encanto? Esse feitiço que essa feiticeira fez com você? E ele respondeu: 

▪Nobre senhora, para quebrar esse Encanto tenho que encontrar uma menininha muito linda e que seja estudiosa, seja ajudadora de seu papai e de sua mãe. Deve chegar perto de mim e com o dedinho dobrado, pedir para que eu venha pousar em seu dedinho e carinhosamente me dar um beijo. Só dessa forma quebra o feitiço daquela Feiticeira má que está querendo dominar o meu reino.

E a vovó quinhaflor disse para o passarinho: 

▪Pois então se é só isso, meu lindo passarinho, tenho uma netinha muito bonita, muito linda, que se chama Alícia. Tenho certeza que se eu pedir, ela virá com todo prazer, aqui no quintal, para ver você e dar um beijo bem carinhoso, para que você possa se libertar desse feitiço!

E o passarinho agradeceu a vovó Quinhaflor, disse que iria aguardar e ficou morando no quintal da vovó e do vovô Raul. Certo dia, depois que vovó Quinhaflor falou com sua netinha Alícia, marcaram um domingo de manhã. 
Quando chegou no domingo, o Sol e o céu azul estavam 
muito bonitos, para que Alícia viesse no quintal e ver o passarinho. O papai e a mamãe de Alicia vieram juntos também, para ver aquele lindo passarinho.  Alicia muito alegre chegou na casa do vovô e da vovó e foi
entrando correndo lá para o quintal, para ver aquele passarinho tão bonito e tão famoso que vovó tinha falado pra ela. Quando Alícia avistou o passarinho ficou radiante de alegria. Olhando para ele, achando-o  muito bonito, ela nunca tinha visto outro igual e esticando o dedinho, disse: 

▪Venha passarinho, pousa aqui no meu dedinho, para que eu possa lhe beijar! 

E o passarinho veio majestoso, voando na direção de Alicia  e pousou no dedinho dela. Alicia carinhosamente deu um beijinho bem suave no bico do passarinho e o passarinho de repente se transformou num lindo Príncipe!

E o Príncipe graças a Alícia se viu livre para voltar ao seu reino para cuidar de seus súditos. Mas antes disso, abriu uma sacola muito bonita que ele usava e dela retirou uma linda coroa de Princesa e coroou Alícia como sendo a futura Princesa de seu Reino Mágico.

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

O Gatinho Amarelo

♡ Vovô Raul para sua netinha Laura
O Gatinho de cor, que se chama Amarelo. 

Gatinho Amarelo 
Ele mora na casa do vovô Raul e da vovó Quinha. A casa, tem um grande quintal onde Amarelo brinca. Ele tem muitos amiguinhos para brincar. Tem o gatinho Guilherme, a gatinha Rosinha o gato Alemão, o gatinho Junior e a mãe do Junior, a Mimosa. Tem também a gatinha Pérola, o gato Valiant, e as gatinhas Lili e Lia de Carol.

Pois bem, certo dia apareceu na porta da casa, uma gatinha linda, com pelos pretos. Ela estava com três filhotinhos. A vovó Quinha perguntou para a gatinha, depois de dar bom dia pra ela:

▪De onde você vem linda gatinha?

E ela respondeu na linguagem dos gatos: miau, miau, miau!
Gatinha Lili

Como a Vovó Quinha entende a linguagem dos gatos, ouviu o que ela estava dizendo. Ela havia sido abandonada pelos seus donos, que eram pessoas más, que moravam lá do outro lado da cidade, em um bairro bem distante.

Então a Vovó Quinha abriu o portão e deixou a gatinha entrar com seus três lindos filhotinhos. A linda gatinha disse para a Vovó Quinha, que estava com fome. E a Vovó preparou leite e serviu à gatinha e seus três filhotes, que beberam e sentiram-se mais aliviados.

O primeiro gato da casa, a vir receber a gatinha e seus três filhotes foi o Amarelo. Ele cumprimentou a gatinha e ronronou para os três lindos gatinhos e disse:

▪miau, miau, miau 

Traduzindo da língua dos gatos:

▪Como se chama linda dama?
▪E seus três filhotinhos como se chamam?

Gatinha Nina

E a gatinha respondeu: 

▪miau, miau, miau.

É a Vovó Quinha entendeu o que ela estava falando. Ela disse para o gato Amarelo, que, quando um gato é abandonado por seus donos, ficam sem nome e um novo nome é dado por aqueles que os acolhem.
Gatinho Tom

A Vovó Quinha olhando para o gato Amarelo, perguntou-lhe se ele queria cuidar daquela gatinha e seus três lindos gatinhos. Amarelo todo contente, sorrindo disse: 

▪miau!

Que traduzindo, foi SIM.

Então Vovô Quinha escolheu o nome para a gatinha, que passou a ser chamada de Lili e os três filhotinhos ficaram com os nomes de Tom, Mateus e Nina.
O gato Amarelo ficou cuidando da gatinha e seus três  filhotes, que cresceram bonitos e saudáveis.

Gatinho Mateus

Amarelo cuidou muito bem daquela família ensinou os gatinhos como se tornarem bons gatos, mostrando para eles tudo que sabia sobre ser gato. Hoje já são bem grandinhos. Amarelo, já idoso como o Vovô e a Vovó, continua a ter cuidado com eles. É eles hoje são uma linda família.



O Que Aprendemos com essa estorinha?

▪Sermos amorosos com os ANIMAIS.
▪Sermos pessoas hospitaleiras.
▪Cuidarmos bem de nossos animais, não maltrata-los.
▪Não abandonarmos nossos animais.

domingo, 11 de novembro de 2018

NAZARÉ DO PICO e sua gente.

Essa é uma história que as populações, o povo das cidades por onde eles passaram, ou por suas redondezas, nunca deveriam esquecer. Tem que ser estudada nas escolas das vilas e cidades em sua grade curricular de História.

Considero essa, como mais importante que a história do descobrimento do Brasil, sem querer desmerecer a tal. Foram homens que combateram o banditismo, com grande garra e sem perspectivas de ganho material. O fizeram para protegerem suas famílias, o que foi extensivo a todas as famílias sertanejas. Lampião e seu bando entre outros cangaceiros, eram perversos e não respeitavam as famílias. Prestava serviços escusos para os coronéis fazendeiros assim como abertamente quando era de interesse amedrontar a população indefesa.

Se estudamos essa fase da história do sertão,  o cangaço,  não é porque gostamos de bandidos e sim para termos o entendimento que houveram pessoas no seio da sociedade que entregaram até mesmo suas vidas para combaterem a tais. Entre estes, estavam os Nazarenos. Chamados assim por terem fundado e residido na cidadezinha de Nazaré, distrito do município de Floresta, Estado de Pernambuco.

Há 101 anos atrás nascia essa cidadezinha como uma pequena Vila onde começava a sua história tivemos no ano passado 2017 as comemorações do Centenário desta cidadezinha que no ano de 1923 era apenas um Arraial de 40 casas formando uma pequena e única rua, ficando numa extremidade a igreja e na outra a barbearia de Manoel flor e a casa do Professor Domingos Soriano Lopes Ferraz que tinha sido quem tivera a ideia no ano de 1917 de fundar esse Arraial. 

Ficava em sua fazenda chamada algodões e foi ele mesmo quem marcou o alinhamento das casas, convidou amigos para virem morar no Arraial que estava construindo e muita gente aceitou o convite, para fugirem dos riscos da guerra  entre os Pereira e Carvalho. Também ficariam mais protegidos dos assaltos dos jagunços de Cassimiro Honório e de outros desordeiros.

Dentre os fundadores de Nazaré, o homem de maior posse, era Antônio Gomes Jurubeba conhecido como seu Gomes. Ele era dono da fazenda Genipapo. Estive nessa Fazenda Genipapo onde nos reunimos em confraria com os amigos do Cariri Cangaço, para fazermos uma homenagem a esse grande homem, um dos guerreiros nazarenos e de seus familiares que lutaram contra Lampião e seus cangaceiros. Fiz um vídeo que indico para os amigos assistirem como foi essa programação, (https://youtu.be/lpP8mvfjAqw).

O grande acontecimento no Arraial de Nazaré, era a feira livre às quartas-feiras. Uma vez por mês o Vigário de Vila Bela vinha Celebrar missa, batizados, celebrar casamentos. Ele chegava sempre na terça-feira e se hospedava na casa de Antônio Gomes Jurubeba e na quarta-feira depois da da missa ele voltava para Vila Bela. 

Nesse pequeno povoado foi onde aconteceram muitas desavenças entre Lampião e os seus moradores, seus residentes, inclusive um dos mais famosos dos casos que  se deu, foi o casamento de Maria Licor, que era prima de Lampião, filha de Dona Joaninha Ferreira. Lampião queria assistir ao casamento. Lampião já era desafeto dos Nazarenos, tinha uma certa fama de bandoleiro e todos esperavam que ele viesse para o casamento da prima. Para verem um relato desse casamento, temos o do Padre Frederico Bezerra Maciel, que pode ser visto aqui (https://meneleu.blogspot.com/2014/10/o-casamento-de-licor-prima-de-lampiao.html).

As histórias contadas pelos descendentes desses bravos Nazarenos são muitas. Os amigos podem ter acesso a vários livros e documentários. Indico para vocês o vídeo feito pelo amigo Aderbal Nogueira, aqui => (https://youtu.be/3RLjKEDn-nM) e aqui =>(https://youtu.be/CEGA9VsNu78) onde ele entrevista o Senhor João Gomes de Lira, tenente reformado da PM de Pernambuco, que conta como foi o início da intriga entre Lampião e os Nazarenos.



A Formiguinha Alícia


♡ Vovô Raul para sua netinha Alícia

No Reino das Formigas, morava uma formiguinha chamada Alícia. Era muito estudiosa e trabalhadora. Gostava muito de ajudar seu papai e sua mamãe. O papai e a mamãe formiga levantavam bem cedinho para irem  trabalhar. Também a formiguinha Alícia acordava bem cedinho para ir para a escola.

Certo dia a formiguinha ao chegar na sua escola, viu outra formiguinha sua colega, chorando porque tinha perdido seu anel que era de ouro e pedras preciosas. Você sabe o que são pedras preciosas? Pode dizer o nome de algumas?

A Formiguinha disse pra sua amiguinha que não chorasse pois iria ajuda-la a procurar o anel. A Formiguinha, sua coleguinha, ficou de repente alegre e parou de chorar. Quando foi na hora do recreio (Você sabe o que é recreio na escola?) Pois bem, quando tocou a sirene do recreio, (Você sabe o que é sirene?) as duas formiguinhas foram procurar o anel. Iam juntas uma atrás da outra como fazem as formigas. Olhavam para um lado, olhavam para o outro, paravam, olhavam nos matinhos com muito cuidado, pois nesses matinhos costumam ter cobras e escorpiões. ( Você sabe o que são cobras e escorpiões?)

Então as duas chegaram perto de umas pedrinhas e Alícia viu um brilho bem bonito e foi até onde estava esse brilho. Adivinhe o que ela achou? Sim! Achou o anel de sua amiguinha e com um grande sorriso no rosto, lhe entregou o anel achado. Sua amiguinha formiga gritava de alegria e agradeceu muito à formiguinha Alícia. 

A Formiguinha Alícia também ficou muito alegre por ter ajudado sua amiguinha.
A sirene tocou para avisar a todas as formiguinhas que tinha terminado o recreio e todas voltaram para suas salas de aulas.

O que você aprendeu nessa historinha? 
Nessa historinha, nós aprendemos seis  coisas:

▪Aprendemos o que é recreio.
▪Aprendemos o que é sirene.
▪Aprendemos o que são pedras preciosas.
▪Aprendemos que precisamos sempre estar dispostos a ajudar os outros!
▪Aprendemos também que devemos sempre devolver, quando encontramos objetos que não nos pertencem, que os outros perderam!
▪Aprendemos que temos de ter cuidado com cobras e escorpiões escondidos nos matinhos e nas pedras.

Muito bem! Você cada vez aprende mais!


sábado, 10 de novembro de 2018

O Sol dorme e acorda bem cedinho

♡ Vovô Raul para sua netinha Alícia

Todo dia, todos nós temos que ir dormir não é mesmo? Quem você acha que deve dormir também?

O coelhinho da Páscoa também tem de dormir,  os niquinhos do quintal do vovô e da vóvó têm que também  dormirem, até mesmo os pássaros têm que dormir, o papagaio da casa do vovô, os gatinhos e os cachorrinhos Bartô e  Júly lá na sua casa.

Quem você ainda acha que tem de dormir?
Isso mesmo, parabéns... Você está muito sabida(o)!

Mas tem uma grande estrela de quinta grandeza no céu que também vai começar a dormir. Você sabe qual? Não? Pense bem! Vou dar uma dica pra você saber quem é:

▪Essa estrela todo dia acorda bem cedinho,
▪Seus raios começam esquentar,
▪Os passarinhos começam a voar,
▪As flores começam a abrir,
▪As crianças começam também a acordar, comerem e aprontarem-se para irem para a escola.
▪O papai e a mamãe vão trabalhar.
▪E na hora do meio dia essa estrela está sobre nossas cabeças. Lá no alto.

Já descobriu que estrela é essa?

Sim! Muito bem! É o Sol!

Já notou, quando está perto de escurecer, ele vai bem devagarinho se esconder lá no final da terra? Ele está indo dormir. 

Como você acha que ele dorme?

Será que ele também tem uma caminha, um lençolzinho, um travesseirinho? 

Será que Papai do Céu também dá um beijinho nele e diz boa noite pra ele?

Vou contar uma coisa pra você. Posso contar? 

O Sol quando vai dormir e nós também,  ele acorda mais cedo que nós. 

Ele acorda bem cedinho lá no outro lado da terra, lá no outro lado do mundo. O outro lado da Terra é onde está o Japão, onde está a China... e os chinesinhos acordam. Também nessa hora acordam os japonesinhos. Também se aprontam para ir para a escola, também o papai e a mamãe deles vão trabalhar e quando chega meio dia lá, que aqui para nós é meia-noite e nós estamos dormindo, então ele, o Sol, está sobre a cabeça deles. Então o período, o tempo, que o sol vai dormir aqui, ele acorda bem cedinho lá do outro lado do mundo! Não é interessante?

Então... me diga agora, o que você aprendeu com essa historinha?

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Lampião, o tira febres



Tem uma história bastante interessante que se deu nas terras de Missão Velha no Ceará e que nos é contada pelo amigo João Bosco André, memorialista e escritor, em seu livro (vide fotos), sobre o senhor Miguel Pinto, antigo morador do sítio tuncas, no ano de 1927. Certa feita Lampião chegou no sítio com seus cangaceiros com bastante fome e começaram a comer o mel dos cortiços que tinha em frente à casa e Lampião quando foi chegando viu aquilo, brigou com os seus cabras e perguntou ao fazendeiro quanto era aquele prejuízo, o senhor Amâncio Alves que era o dono da propriedade disse que não era nada e que não custava nada, mandou preparar um almoço para servir para Lampião, que agradeceu. Disse que sua passagem por ali, por aquelas terras, tinha um propósito de ir à casa do senhor Zezé Tavares, seu amigo, no sítio Caiçara e como não conhecia a região pediu que alguém lhe mostrasse o caminho.  Pediu ao Senhor Amâncio Alves que ficasse com seu animal e emprestasse outro para ele. Feito o arranjo, o morador do sítio, o senhor Miguel pinto, foi escalado para levar Lampião. Seguiram viagem e no mesmo sítio Tunga, mas na frente, tinha a casa de Lino Tavares, que se encontrava no alpendre e os cangaceiros perguntaram para ele se tinha alguma coisa para comer. A resposta foi que não tinha nada para oferecer aos cangaceiros. Esses ante a resposta, invadiram a casa e foram para cozinha, onde se encontrava a mulher do sr. Lino fazendo um pão de milho, o famoso cuscuz. Já tinha feijão pronto e aí os cangaceiros comeram o feijão com o pão de milho  e depois saíram quebrando as panelas, voltando para o alpendre e ameaçando matarem todos. Foi quando se aproximou Lampião que sempre se mantinha na retaguarda e mandou que o grupo seguisse viagem.

 Dentro dessa história,  Zé Lino, filho do Lino Tavares, se encontrava no ventre materno quando a sua casa foi invadida pelos cangaceiros. Ele nasceu no ano de 1927 dois meses após o acontecido da invasão da casa, ele nasceu e só veio a falar com 7 anos inclusive sua mãe tinha dado para ele beber água de chocalho porque conta-se a história que quem bebe água de chocalho fala muito e ele disse ao amigo Bosco André, que foi preciso tomar água de chocalho e era por isso que até hoje ele falava muito.

Voltando à Lampião, ao chegar no sítio da Caiçara,  do amigo Zezé Tavares, esse não se encontrava em casa mas a sua mulher, dona Lídia Cavalcante, os recebeu e mandou  matar uma ovelha para fazer a comida para bando, colocou numa mesa muito grande, farinha, queijo e rapadura para os homens que vinham muito famintos. Lampião agradeceu a boa acolhida por parte da senhora e virando-se para Miguel Pinto, disse-lhe que podia voltar, levando o animal emprestado do seu sogro e que o agradecesse. Miguel Pinto aliviado criou Alma Nova pois pensava até que seria morto, e apressado e ganhou a estrada. 

 Depois que que Miguel Pinto deixou a propriedade de Zezé Tavares, após percorrer uns 2 Km foi seguido por um cangaceiro que o interpelou e disse que o capitão desejava que ele voltasse. Deixou o animal amarrados na estrada e voltou pensando que seria morto por Lampião.  Quando chegou lá, Lampião perguntou para ele se ele usava camisa de manga comprida ou curta (lembrei da história do que se conta, quando Lampião perguntou para um sertanejo, se ele pitava, donde o sertanejo lhe disse: sim sinhô, mas se o sinhô  quiser eu paro agorinha!) então ele disse que usava camisa de manga comprida e foi aí que Lampião ordenou os seus cangaceiros que entregasse a Miguel Pinto dois cortes de tecido para fazer duas roupas, calça e camisa, da mais nobre mescla da época. Foi um presente que Lampião deu para ele, pelo trabalho de lhe guiar até o sítio Caiçara.

O capitão quando saiu da fazenda de Zezé Tavares, foi direto para ir para Ipueiras, Aurora, onde foi se encontrar foi arquitetado o plano para invadir a cidade de Mossoró no Rio Grande do Norte.

Miguel Pinto contando essa história disse que ao ser abordado por um cangaceiro de Lampião a pedido de seu sogro em sua casa lá nas Tuncas para ensinar o caminho, se encontrava com uma febre danada de muito alta, mas ao receber a ordem para guiar os cangaceiros, o medo foi tão grande que a febre cessou na mesma hora.

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Padre Cícero e Padre Felix - o acerto.

Muito interessante a história que nos é contada pelo autor do livro "Documentos para a História de Missão Velha", nosso amigo historiador, memorialista, escritor João Bosco André, que nos fala sobre o Padre Félix Aurélio Arnaud Formiga que foi Vigário de Missão Velha durante 47 anos, que abrange de 28 de dezembro de 1855 a 28 de fevereiro de 1902 quando faleceu.

Esse Vigário foi muito querido na cidade de Missão Velha, trabalhando para os mais pobres e para a comunidade em geral. No tempo da grande seca de 1877 o amigo Bosco André nos conta que em suas pesquisas encontrou uma referência de um auxílio dado pelo referido Padre Félix a uma senhora que chegou em sua casa com seus filhos, todos com fome, chorando e o padre olhando para para essa senhora e para os seus filhos e vendo que não tinha mais dinheiro nenhum para ajudar, desamarra sua rede retirando-a do armador entregando para aquela senhora e dizendo que ela fosse no comércio tentar vender aquela rede e comprasse comida. Quando essa senhora chegando na casa comercial do Senhor Aurélio Zabulon, comerciante naquela cidade, sua esposa, senhora Rosinha Parente, comprou a rede. Reconheceu que aquela rede era do Padre Félix Aurélio e depois de adquirida, entregou novamente ao padre. 
O Padre Félix teve grande participação em ajudar os doentes de cólera morbus que veio a abater-se sobre a cidade de Missão Velha. Fazendo papel de enfermeiro tentando ajudar de todas as formas aqueles que padeciam sobre essa perigosa doença, transmitida no menor contato que se tivesse, chegou ao ponto em que os cadáveres eram tantos que não tinha mais pessoas para carregar para o cemitério e o próprio Padre em carros de boi ia passando e amontoando os cadáveres para levar para o cemitério porque não tinha mais pessoas para fazer isso e no relato os carros de bois levavam de 15 a 20 corpos, transportados pelo próprio Vigário Félix.
Ainda nos conta o escritor Bosco André que Padre Félix integrou a comissão de sindicância enviada a Barbalha pelo segundo Bispo do Ceará Dom José Joaquim Vieira, para investigar os fatos que foram envolvidos o Padre Cícero e a Beata Maria de Araújo no famoso milagre de Juazeiro em que a hóstia transformou-se em sangue por diversas vezes quando recebida pela citada beata.
Sobre o Padre Félix também o autor do referido livro nos conta que um sobrinho do padre, o Senhor Pedro Juscelino de Aquino por ocasião das comemorações do primeiro Centenário da Conferência do Sagrado Coração de Jesus da Sociedade de São Vicente de Paulo de Missão Velha, no ano de 1986 contou uma história que foi testemunhada por diversas autoridades do município inclusive autoridades eclesiásticas sobre a morte do Padre Félix. Quando ele estava agonizante caiu uma forte chuva, era inverno e choveu por toda a noite e o Alferes Cândido da Cunha Camelo, sabedor de um trato feito entre o Padre Félix e o Padre Cícero que era um assistir o outro durante a morte, mandou que fosse selados dois animais para que ele mesmo fosse comunicar ao Padre Cícero em Juazeiro, da gravidade do Padre Félix, ante o compromisso entre os dois, Padre Félix e Padre Cícero, de um assistir a morte do outro. Chegando o senhor Cândido à margem do rio Missão Velha este já se encontrava caudaloso, com um grande volume d'água e mesmo assim ele conseguiu a duras penas atravessá-lo em uma pequena embarcação improvisada pelos sertanejos chamada couche. Ao chegar à outra margem do rio, mais precisamente no sítio Camelos, ali já se encontrava o Padre Cícero, sendo abordado pelo Alferes Cândido Camelo, da enfermidade do seu colega Padre Félix, este disse-lhes: "Compadre Cândido o Padre Félix faleceu a poucos instantes!" Notem que o Padre Cícero estava do outro lado do rio Missão Velha à cerca de três Km da Igreja Matriz o local onde o Padre Félix se encontrava e já sabia que o velho colega havia falecido. E atravessaram então o rio e ao chegarem, o Padre Cícero e o Alferes Cândido à sacristia da igreja, lá se encontrava uma grande multidão em grande comoção, pelo falecimento do querido Vigário, que tinha acontecido há poucos instantes. O Padre Cícero ao se aproximar do corpo do colega já sem vida, disse, porém pausadamente, com o sentimento da perda: "Félix! Félix! Nós não tínhamos um compromisso de um assistir a morte do outro? Aquele que morresse primeiro? Estou aqui!" disse o Padre Cícero e neste instante o Padre Félix abrindo os olhos caíram duas lágrimas e voltou a fechar os olhos para não mais abrir-los. Foi quando nesse instante o povo acorreu às ruas dizendo que o Padre Cícero havia envivencido o Padre Félix, ressuscitado seu querido amigo.

Após esse episódio e tudo consumado, foram providenciadas as exéquias do ilustre Vigário de Missão Velha e o Padre Cícero na cidade até o sepultamento do colega, que ocorreu no final da tarde do mesmo dia 28 de fevereiro de 1902. Tamanha amizade entre os dois Levitas que o Padre Félix firmou Testamento contemplando o seu colega de Juazeiro quando afirmava que por sua morte alguns bens remanescentes que porventura houvesse seriam entregues ao colega Padre Cícero Romão Batista, bem assim como um Bilhete de Loteria que fora ganhador e que o seu produto seria revertido em favor do Padre Cícero do Juazeiro.

Estive recentemente com o amigo João Bosco André na cidade de São José do Belmonte, em encontro de pesquisadores, historiadores e escritores das Sagas do Nordeste, o famoso Cariri Cangaço, onde visitamos muitos locais históricos da vida de Lampião e das grandes querelas entre os Carvalho e Pereira, nesse caldal incrível de histórias, inclusive a da Pedra Bonita, local que Ariano Suassuna imortalizou como Pedra do Reino. Conversamos muito pois nos hospedamos na Fazenda Alto do Guerra, pertecente à dona Olímpia Novaes. Muitas histórias e causos revividos. O amigo Bosco é uma fonte inesgotável delas.

Um sono de dois minutos

Dizem os ribeirinhos do Velho Chico, que tem uma hora que ele para para dormir. Dorme apenas dois minutos. O Professor, escritor e memorialista Luiz Antonio Simas em seu livro
"Pedrinhas miudinhas: ensaios sobre ruas, aldeias e terrenos" nos fala de sua alma que... "Nos dois minutos de sono do rio, os peixes se aquietam, as cobras perdem a peçonha e a mãe d´água se levanta para pentear os cabelos nas canoas. Os que morreram afogados saem do fundo das águas em direção às estrelas. Esse sono do rio não deve ser, de maneira alguma, interrompido, sob pena de endoidecer quem despertou as águas."

E prossegue dizendo que anda matutando,  como sujeito alumbrado que é  pelas brasilidades caboclas – a respeito do que os ribeirinhos ensinam sobre o descanso do rio e conclui que vez por outra é mesmo necessário adormecer no tempo e sossegar como as águas.

Tem razão o Professor! Ando pensando em também parar por dois minutos. De preferência nessa linda e hospitaleira cidade alagoana, fronteira com o meu Sergipe. Banhada pelas águas desse belo rio.

E ele, não o rio, prossegue, banhando as margens mentais de todos que o escutam, dizendo: "Por isso é preciso, vez por outra, adormecer feito o rio ao abandono das horas, se aluar em águas paradas e abandonar os desatinos da felicidade (o brinquedo que não tem). O sono do São Francisco, o desapego dos peixes e o silêncio das cachoeiras me fazem crer que a expectativa da felicidade, da forma como a sociedade de consumo lida com ela, é das coisas mais brutais que existem. O sujeito acha que tem que ser bem sucedido no amor, no trabalho e nas relações pessoais. Precisa viajar pelo menos duas vezes por ano, trocar de carro de quando em vez, não pode ficar doente e não pode conceber a morte. Acontece que não é assim que o rio segue seu curso e descansa no fim do dia.

Como ninguém é capaz de atingir essa tal felicidade de shopping center que é vendida por aí, formamos aos montes um bando de depressivos, uns sujeitos infantilizados que não conseguem lidar com o fracasso e se entopem de remédios para dormir, acordar, trabalhar, trepar… Parece paradoxal, mas é isso mesmo: a expectativa da felicidade é uma fonte poderosa de angústias e depressões.

Que os caboclos do Brasil, portanto, me iluminem para que eu respeite o sono do rio, o repouso dos peixes e o voo dos afogados. Que o país imaginado, e em mim recolhido, me ensine a viver na síncopa, no drible, na dobra do tambor, na oração dos romeiros, na dança lenta de Oxalufã, nas delicadezas do Reizado, nas rodas de cirandas, nas oferendas do Divino, na suavidade dos sons."

O Professor cita um poema,

A lição do sono do rio

Meia-noite o rio dorme
Mais ou menos dois minutos
Pra nós é um tempo curto
Pra Uiara é um tempo enorme
(Uiara. Paulo César Pinheiro)

Então meus amigos... pensem nisso. Procurem também parar por dois minutos.

https://youtu.be/hF5Gj-e1CV8

Halloween e a Festa dos Santos Reis



São duas frases usadas nessas duas festas que são solicitações daqueles que se chegam às  portas para receberem algo de seus moradores. Apenas uma solicitação é feita de forma exclamativa e outra em forma interrogativa. Mas as duas, mesmo de formas diferente são solicitativas.

Na festa dos Santos Reis os brincantes com instrumentos de som, violões, cavaquinhos, pandeiros, etc. em visitas às famílias da redondeza onde moram, são surpreendidos pela algazarra alegre onde os visitantes vestidos a caráter entoam uma canção popular com os seguintes dizeres:

"Aqui estou em vossa porta em figuras de raposa em figuras de raposa, nós queremos alguma coisa!"

E no Halloween, crianças vestidas como bruxas e duendes ou outras figuras monstruosas, vão às casas de suas vizinhanças solicitarem guloseimas e graciosamente de forma ameaçadora dizem:

"Gostosura ou travessura?"

Nas duas festas, bastantes populares principalmente no nordeste brasileiro e a outra nos EUA mas já chegando por aqui, as pessoas se divertem em festas e alegrias.

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

LAMPIÃO, Justiça abandonada por falta de justiça

Justiça abandonada por falta de justiça
Por Raul Meneleu


Manuel Neto, certa vez, foi encontrado por Gérson Maranhão perambulando pelos areais do Moxotó, acompanhado apenas de três homens armados.

  • Voce não tem medo de andar assim com tão pouca gente? Perguntou-lhe Gérson.
  • Não respondeu ele. Nada tenho a perder na vida. Não quero mesmo viver. Só quero é morrer e o mesmo pensam os três que me acompanham. Ninguém de nós quer viver, mas só morrer.

O mesmo dizia o sargento Moisés, do povoado Bezerros, então pertencente ao município de Salgueiro (hoje Verdejante). Tornou-se ele, por questão de vingança,
grande perseguidor de Lamplão: "Meu desejo não é viver, mas morrer" dizia ele.

Também o sargento Lero (Aureliano de Sousa Nogueira), de Nazaré e perseguidor de Lampião: "Os nazarenos não tinham outro jeito, ou se acabar nas unhas de Lampião ou se acabar brigando com Lampião."

O que Lampião fez para esses valentes policiais lhe devotarem tanto ódio e perseguição? E por que reservei o nome desse artigo como "Justiça abandonada por falta de justiça"? se todos nós sabemos que Lampião era um facínora covarde e fez muita miséria por onde passava nos sertões nordestinos? Existiu algum momento dele ter uma vida social de honestidade e exemplo de cidadão pacato e cumpridor das leis?

Para seus cabras Lampião era um idolo. Tinha a força de um mito. Para isso contribuía sua conquistadora personalidade, excepcional inteligência, espirito de
liderança irresistivel, genialidade guerrilheira, profundo misticismo religioso e outros carismas notáveis. Além disso o modo como dirigia o grupo: rigorosa moral, exemplo de honestidade, espírito de justiça, energia de autoridade, alegria e fraternidade. Dai por que nunca faltaram cabras que o seguisse e verdadeiras feras humanas, sendo de todos eles senhor absoluto, da vida e da morte. E para se explicar por que ele dominava dessa forma podemos ver algumas de suas decisões:

  • por motivo de traição, matou Mourão...
  • por razão de falta de respeito moral, matou Cacheado, matou Sabiá...
  • Quando viu que não havia mais jeito de cura, matou outro Sabiá, o cabra que tinha sido baleado no combate de Mata Grande, e que vinha sendo conduzido numa rede, por léguas e mais léguas, por vários dias na direção do Navio.
  • Lampião condoía-se da pobreza. Segundo se conta, quando era almocreve, fazia questão de não deixar passar, sem sua ajuda, um esmoler ou necessitado.
  • No cangaço exercia a prática de enfermeiro, dentista (extrações à ponta da faca!) e parteiro.
  • Por toda parte favorecia os pobres, quer como produto dos saques, quer com dinheiro.

Tanto assim que os cantadores nas feiras,  o exaltavam pela justiça que exercia com eqüidade.

Mas o mundo inteiro ficaria abismado diante de suas legendárias gestas dilacerantes, hora agindo com loucura vingativa, hora com pendores de honestidade e bondade, se bem que essa última afirmativa fosse infinitivamente inferior em quantidade de atos em relação à primeira. Mas sabemos que os cantadores de feira focavam mais suas estórias nos predicados de homem revoltado pelas injustiças a ele acometidas e seus feitos mitológicos e quixotescos. Se bem que entrava também o medo de falar mal do cangaceiro. Sabe lá se teriam um encontro com ele nas estradas e caminhos?

Virgulino Ferreira da Silva, Lampião, celebraria em famosa poesia, para agregar mais ainda a construção de um mito, suas palavras de protesto em forma de endechas, sua grande decisão de viver do outro lado da lei. E isso era bastante compreensível pelo sertanejo pobre, que constantemente era empurrado para o paredão das injustiças que eram submetidos naquele caldeirão cultural onde o direito pendia para os afortunados:

"Por minha infelicidade
Entrei nesta triste vida
Não gosto nem de contar
A minha história sentida
A desgraça enche o meu rosto
Em minha alma entra o desgosto
Meu peito é uma ferida.

Aí peguei nas armas
Para a vida defender
Perseguido, aperriado,
Vi que era feio correr,
Vi a desgraça no meu rosto
Então senti-me disposto
Matar para não morrer".'

Foi um alvoroço geral quando os cantores cordelistas levaram essas palavras de Virgolino Ferreira, entoadas num choro sentido, pela escolha que o ídolo fizera, praticamente por imposição de uma casta dominante, que não aceitara por inveja, esse rapazinho de inteligência fora do comum e que sobressaía-se nos eventos sociais, onde as mocinhas o olhavam admiradas por sua postura de corpo e inteligência. Era poeta, músico, ótimo como domador de cavalos, bom vaqueiro, excelente artífice do couro, bom negociante, excelente almocreve, fino e educado, religioso e respeitador. Essa era a imagem lembrada por todos que o conheciam que o conheceram antes de entrar para o cangaço.

Sim amigos, os cantadores de feira eram os portadores das palavras do povo que em reconhecimento proclamavam Lampião com o epíteto de "Santo":

"O Santo Lampião,
Era um homem bem devoto
Só andava pelo voto
Do Padre Cirço Romão
O Santo Lampião
Era um home bem querido
Ele era protegido
Do Padre Cirço Romão
Quando o pai dele foi morto
Depois é que não sabia
O Santo disse um dia
Precisamos nos vingá.
Lampião é inteligente
Que o povo bem já se vê
o Santo adivinhou
Até o dia de morrê."

Sim amigos, esse era o mundo injustiçado e abandonado em que viviam os deserdados em sua pobreza infinita, onde os meninos e meninas acordavam com olhos remelentos e pregados, como se fosse providência divina para não enxergarem a pobreza em que viviam, onde até mesmo a água para desgrudarem as pálpebras era difícil.

Era o mundo pesado caindo nas costas daquele povo sofrido e injustiçado, onde para fazer justiça, a força das armas eram o revide para ofensas de toda sorte; injúrias, traições, pagamento de dividas e de salários, etc., eram resolvidos pela força e o crime de homicídio era avaliado
naquele sertão de "deus dará" pela balança dos malfeitos cometidos. Era a justiça do povo.

Num mundo abandonado como aquele do sertão, absolutamente carente de justiça, Lampião iria aparecer, como um enviado quase hierático, reconhecido e consagrado pelo povo, para fazer justiça: ofensas de donzelas, resoluções de casamento, pagamento de dividas e de salários, etc, eram resolvidos por Lampião por onde  passava e que fazia questão de ser sempre justa, pois era
definitiva, aceita por todos sem discussão.  Conta-se que até mesmo crimes de homicídio anteriormente tão freqüentes, rarearam, porque Lampião seria chamado como juiz. Os rapazes pensavam duas vezes em mexer com uma moça donzela.

Um fato para ilustrar, colhido nos carrascais secos de Custódia, pelo padre Frederico Bezerra Maciel, conterrâneo de Lampião, onde este assunto surgira espontâneo e forte, pois ainda menino, fixou-se, não porém, como obsessão ou mesmo preocupação, mas como estudo pois era admirável e lhe despertara perguntas - "Quem é este homem para ser tão perseguido?” Perguntas como essa voejavam de sua mente e se misturavam ao apito nervoso dos trens que via, bufantes, fumacentos e poeirentos, transportando tropas volantes, ao toque estridente de cornetas,“ em demanda do sertão” o campo de batalha da Guerra de Lampião, onde recolhi dados para esse artigo; sua sextologia LAMPIÃO,  SEU TEMPO E SEU REINADO:
  • Seu Capitão e meu Padim, vim aquí pru mode tão dizendo que foi eu que buli com a moça, mas não foi eu não.
  • Me diga, zé Júlio, fale a verdade, você é meu afilhado. Só dou proteção dentro do direito e da justiça.
  • Juro meu Padim e Capitão, a moça já tava bulida.

Lampião depois de se inteirar rigorosamente, através de testemunhas, do caso e da inculpabilidade do afilhado, pune por ele, sentenciando peremptoriamente ao pai:

  • Trate de casar sua filha com outro. E não toque em Zé Júlilo, que não deve nada à honra dela.

E José Tiago da Silva, vulgo Zé Júlio, livrou-se de um casamento forçado à ponta de faca. Mais tarde, mudou-se ele para Belo Jardim onde se casou com D. Coleta Cirino. Matutão jeitoso e bom, tornou-se industrial de laticínios e fazendeiro, além de gostar de politica, chegando a ser prefeito municipal.

Lamplão tornou-se nome internacional e manchete 
obrigatória nos maiores jornais do mundo, "New York Times"; "Paris Match" e em Buenos Aires o "La Nación"
Não admira que a Enciclopéia Britânica, na sua edição brasileira BARSA, Ihe tenha dedicado verbete especial e na internet, pesquisa do portal Google, com milhares e milhares de páginas sobre ele, onde numa barafunda de histórias e estórias contam e inventam casos dele.

O poeta popular João Martins de Ataide, no folheto de sua autoria "Os projetos de Lampião", põe na boca de Lampião a seguinte sextilha:

"Muita gente no Brasil
Tem grande ódio de mim,
Outros julgam que eu nasci,
Somente para ser ruim,
Alguém está enganado,
Eu vivo nisto obrigado,
Mas nunca fui mau assim".


Então meus amigos, cheguei a conclusão que ninguém nasce ruim. Lampião foi levado àquela vida por fatos poderosos que talvez possa até ter tido inversão se tivesse sido assistido pela justiça dos homens. Mas, sabemos que esta é falha pois como diz, é a justiça dos homens! Agregado a isso, tem a questão do ego humano, o orgulho exacerbado das partes contribuindo para o crescimento da raiva e da dor. Além disso tem o mal uso das autoridades, de um poder que achavam ser ilimitado. E quem poderia ser contra? 

Vemos assim que até certa época da vida de Virgolino Ferreira, podemos dizer que era a de um rapaz comum, com seus almejos normais, dentro dos limites impostos a todos, pela imposição de uma sociedade imaginada, onde prevalecesse as regras independente do dinheiro e poder. Mas nunca foi igualitária, até os dias de hoje, mas houve melhorias. Mas isso não absolve Lampião. Poderá até absolver Virgolino. Mas nunca poderá absolver Lampião, pois sua conduta mesmo enaltecida em eventos humanísticos que são poucos, abate-se sobre ele a mão pesada da Justiça por sua vida de crimes e violência.