Em seu livro CORISCO, A SOMBRA DE LAMPIÃO, o autor Sérgio Augusto Dantas na página 203 da primeira edição, tece comentários a respeito da simbiose existente entre os cangaceiros e os campesinos, que unidos naquela vida em comum, ligados por algum motivo, tecem uma teia de convivência íntima enfrentando a polícia, cada um a seu modo. Cangaceiros combatendo na bala e os coiteiros com informações de pistas falsas sobre o paradeiro dos bandidos.
Que motivos tinham os sertanejos para auxiliarem aqueles mesmo opressores travestidos de cangaceiros, que infestavam o sertão nordestino e que até então os governos mesmo combatendo-os, não conseguiam vence-los?
(1) "Em relatório dirigido ao Secretário do Interior de
Alagoas, O coronel José Lucena de Albuquerque Maranhão
- comandante do Segundo Batalhão de Policia do Estado
não esconde sua revolta com parte da população sertaneja.
E, ao relacionar esta com os bandoleiros, o oficial aponta:
"naturalmente eles estão nos coitos, bem acompanhados,
recebendo o que lhes enviam os nossos sertanejos que, de
modo algum, prestam auxilio à força".
E complementa, desapontado: "nossas volantes estão trabalhando com a esperança única das casualidades,
pois do nosso povo nada espero mais, e me compadeço da
miséria em que vivem mergulhados." (Diário Oficial de
Alagoas, agosto de 1937)."
Por que o sertanejo nordestino preferia proteger os cangaceiros? Para encontrar a resposta vamos aos dias atuais.
Vamos ver a ação da polícia nos dias de hoje:
Em seu artigo no UOL, o jornalista Carlos Madeiro diz que a população que vive em favelas no Rio de Janeiro teme mais a presença da polícia que a de traficantes no local onde moram. Essa é uma das conclusões da "Pesquisa Internacional sobre Homens e Equidade de Gênero".
O medo da polícia nessas comunidades também é superior ao de milícias. Por que?
Tatiana Moura, diretora executiva do Instituto Promundo e coordenadora da pesquisa, acredita que o alto índice de medo da polícia explicitado na pesquisa é "natural" pelo contexto em que vivem essas comunidades.
"Atribuímos isso à presença violenta da polícia ao longo das décadas nas comunidades. A verdade é triste, porque a presença do Estado ao longo da história tem sido mais violenta que pacífica. É uma força da autoridade, que entra muitas vezes para lançar medo, e é responsável por grande parte do homicídios", afirmou.
Eis aí a resposta!
Vejam esse artigo AQUI e reparem na violência impetrada.
E vejam também AQUI os efeitos nefastos.
O mesmo se dava com os sertanejos nordestinos onde os cangaceiros atuavam. Eles eram "mais bem" tratados por eles que pela polícia.
No morro nos dias de hoje, a população mesmo sabendo quem são os bandidos, não os denunciam. Preferem viver alheios pois convivem juntos e lógico que emudecem, para não sofrerem violência dos bandidos, assim como os sertanejos do tempo do cangaço. Moram juntos porém em casas separadas.
No passado, os sertanejos viviam o mesmo paradigma e por conta dessa violência, amuavam-se e mesmo temendo os cangaceiros, preferiam conviver em paz com eles, pois com a polícia, a violência vinha dobrada.
Com esse artigo, quero dizer que a população para mudar essa forma de agir, tem que vivenciar uma polícia respeitadora de seus direitos. Por serem pobres, não significa que não são cidadãos, que notando da parte da polícia, um trabalho firme e combativo aos bandidos, feitos conforme a lei e os preceitos legais, ela cooperará.
(1) CORISCO, A SOMBRA DE LAMPIÃO § 4 e 5