Artigos Variados

terça-feira, 11 de outubro de 2016

LAMPIÃO e o cordão de ouro da Baronesa de Água Branca

   
Quando Lampião estava regressando do assalto em Água Branca, onde invadiu e roubou algumas jóias e da Baronesa Joanna Vieira de Sandes¹entrou ele, de surpresa no pequeno povoado de Nazaré, em Pernambuco. Era a primeira vez que o fazia desde a sua saída para Alagoas em outubro de 1919. Os cangaceiros não molestaram ninguém pois vinham eufóricos pelos resultados obtidos no roubo de Água Branca.² 

Levaria a fama na vida e depois de morto, de ter efetuado um dos mais espetaculares roubos, quando invadiu o casarão que tive a oportunidade de conhecer e visitar, veja aqui imagens inéditas dessa visita, juntamente com minha esposa, por ocasião do Primeiro Encontro Cariri Cangaço nessa bonita e hospitaleira cidade. 

Mas não é sobre essa visita que quero trazer o amigo leitor para as portas do Casarão da Água Branca, e nem sobre essa visita inesperada de Lampião à pequenina Nazaré, inclusive com uma crítica da autora à respeito da tolerância que os nazarenos, incluindo Manuel Flor, tiveram por conta dessa ocasião, pois o leitor poderá ler em meu artigo Os dois lados do cangaço: o pitoresco e o agressivo .

A atenção que quero lhes trazer é sobre uma entrevista que fiz, por ocasião dessa nossa visita ao Casarão do Barão de Água Branca, (imagens inéditas do interior da mansão) Joaquim Antonio de Siqueira Torres³. O herdeiro proprietário desse patrimônio da história aguabranquense, alagoana e brasileira, senhor Inácio Loiola, descendente do Barão de Água Branca, afirmou que Lampião não tinha levado o cordão de ouro mais famoso desse assalto, juntamente com o crucifixo

Relatou-nos que Lampião levou a culpa, não da invasão e assalto que fez à Baronesa Joanna, que por certo lhe rendera frutos, quando invadiu sua mansão, mas  não de ter especificamente surrupiado tão valiosa joia, e que tal estava hoje nas mãos de uma pessoa que ele conhece. Por ocasião da invasão, tal cordão de ouro e medalhão, fora escondido por uma das pessoas cuidadora da idosa baronesa e que estava presente na ocasião do assalto, e que o escondera e tinha ficado com o mesmo, pondo a culpa no famigerado bandido.


Com essa declaração, o herdeiro do Barão de Água Branca faz uma colocação até hoje não levada em consideração pelos autores que focaram suas pesquisas nesse assalto. Até então, tudo que eu tinha lido, sempre mostrou Lampião como responsável pelo afano de tão famosa joia. Essa fotografia de Maria Bonita, com diversos cordões de ouro e medalhas, não apresenta tal crucifixo. O assalto ao casarão se deu em 1922 e depois de 8 anos, foi que Lampião conheceu Maria Bonita. Quase que impossível Lampião ou Maria ter esse crucifixo. Ponto para o descendente de Joaquim Antonio de Siqueira Torres, o Barão de Águia Branca.


O CASARÃO pede socorro 


Brasão da Família
Sua manutenção é urgente. Existe a Lei municipal nº 447/71 de 18 de abril de 2001, que dispõe sobre o Tombamento Municipal do Centro Histórico, Seus Entornos, Seus Monumentos Históricos e Ecológicos, publicada e registrada na Secretaria Municipal de Administração e Finanças da Prefeitura Municipal de Água Branca.

O Artigo 3º desta Lei diz que os bens do patrimônio público e particular situados nos limites da área tombada, ficam sujeitos, no pertinente a seu uso gozo, às normas que dispõe sua manutenção e preservação do patrimônio Histórico e Artístico estabelecidas nas legislações Estadual e Federal especificadas, bem como a preservação da Lei municipal nº 388/96 de 15 de agosto de 1996.


O artigo 4º desta lei diz que os Projetos de restauração e reforma de edificações considerados de valor histórico e artísticos, bem como os daqueles não classificados, observarão as diretrizes estabelecidas nesta Lei. Precisa-se aplicar a lei no que refere-se à manutenção e seus custos. Por não poderem mais sustentar a manutenção os proprietários estão vendendo o patrimônio por falta de ajuda para mante-lo. 

ACERVO ESPALHADO

Encontramos muitas peças em leilões, e quantas mais foram vendidas, espalhando-se o acervo de móveis, prataria, louças, etc. 



Livro "Louça da Aristocracia no Brasil"
autoria de 
Jenny Dreyfus
Em 13 de dezembro de 2004 houve um leilão, da Casa Dutra Leilões, onde foi exposto o seguinte objeto que fazia parte do acervo do Barão de Águia Branca, Barão de Água Branca. 

"Prato de porcelana sem marca, aba delimitada com friso azul entre filetes dourados; no centro da caldeira a legenda Barão de Água Branca sob coroa de Visconde em azul, pertencente a Joaquim Antônio Siqueira Torres; 23 cm de diâmetro. Apresenta fios de cabelo na aba. França, séc. XIX. 
Reproduzido à página 234 do livro Louça da Aristocracia no Brasil, por Jenny Dreyfus."

Outra peça leiloada:

Barão de Água Branca
Prato de porcelana sem marca; borda com friso azul entre filete dourado; ao centro a legenda Barão de Água Branca sob coroa de Visconde, pertencente a Joaquim Antonio de Siqueira Torres; 18,5 cm de diâmetro. Apresenta bicado na borda. França, séc. XIX.

Reproduzido à página 234 do livro Louça da Aristocracia no Brasil por Jenny Dreyfus.


Quanto ao Crucifixo que pertenceu à baronesa de Água Branca, hoje encontra-se em coleção privada, fechado a sete chaves, escondido do público, assim como as demais peças históricas do Casarão da Água Branca. 

Recentemente encontrei a seguinte notícia a respeito do crucifixo: "Em ouro maciço 22 quilates. Esta magnifica peça, segundo o Dr Orlins Santana de Oliveira Membro do Instituto Histórico da Bahia, Membro do Instituto Genealógico da Bahia, estava à venda em 2005 em Salvador. Foi vendido para fora do Estado por 12 mil reais. Um comerciante deve ter levado. Fiquei muito sentido pela perda do acervo do cangaço. Na época não tinha recursos para adquirir o mesmo. Salvador era o local mais perto para as volantes revenderem os achados. E tudo vinha pela via ferroviária." - Hoje faz parte de uma coleção particular conforme livro "Estrelas de Couro" de Frederico Pernambucano de Mello.

Vejam Sítio Histórico de Água Branca será tombado pelo patrimônio estadual


1 - Joanna Vieira de Sandes, 1ª Baronesa de Água Branca
Data de nascimento: 30 Dezembro 1830
Local de nascimento: Água Branca, AL, Brasil 
Falecimento: 27 Dezembro 1923
Família imediata:
Filha de Antonio Vieira de Sandes e Luiza Vieira de Sandes 
Esposa de Joaquim Antonio de Siqueira Torres, Barão de Água Branca. 

2 - O Canto do Acauã pg 155 2ª Edição.

3 - Joaquim Antonio de Siqueira Torres, Barão de Água Branca
Data de nascimento: 08 de dezembro de 1808
Local de nascimento: Pesqueira, PE, Brasil 
Falecimento: 29 de janeiro de 1878 
Filho do capitão Teotônio Vitoriano Torres e de Gertrudes Maria da Trindade.


4 - Página da Prefeitura de Água Branca.