Artigos Variados

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Um cabra incapaz de abandonar um amigo

Cangaceiro Mariano
Enciclopédia do cangaço
A MORTE DE MARIANO NOS ERMOS DO CANGALEIXO 

A volante do sargento Zé Rufino era sediada na Serra Negra, na divisa da Bahia com Sergipe. Quando não estavam nos matos caçando cangaceiros, os soldados matavam o tempo perambulando pelo povoado, jogando baralho e sinuca, fumando e bebendo. 

No dia 25 de outubro de 1936, Zé Rufino encontrava-se na Serra Negra quando foi informado de que a cidade sergipana de Porto da Folha estava prestes a ser invadida por cangaceiros de Lampião. Sem perda de tempo, o comandante pôs a tropa na estrada. Não seguiu, contudo, o roteiro natural, que seria por Monte Alegre — viajou no sentido de Carira, a fim de iludir a vigilância dos coiteiros, pois se fosse por Monte Alegre com certeza alguém correria na frente a fim de avisar aos bandidos. 

A viagem foi feita a pé. Na fazenda Venturosa, antes do povoado Cipó-de-Leite, os soldados mudaram de rumo e entraram em Sergipe, rompendo pelas Aningas, Cumbuqueiro, Serrinha e Baixa Limpa, e à noite, estropiados e famintos, chegaram à Boca da Mata, como era conhecida a atual cidade de Nossa Senhora da Glória. Era um domingo. A maioria dos moradores já estava dormindo. Quando se ouviu o rebuliço da tropa, pensou-se que era Lampião. Começou a correria. Zé Rufino tranquilizou todos: era uma força da Bahia, não tivessem receio. 

A pretexto de colher informações, Zé Rufino passou dois dias na Boca da Mata, sem, contudo, dar pistas do seu destino. Na quarta-feira, dia 28, a volante pegou o caminho de Feira Nova, mas, antes da fazenda Quixaba, dobrou à esquerda, pela estrada de São Mateus, indo pernoitar na fazenda Malhadas, onde recebeu uma noticia desalentadora: acabara de passar por ali a volante sergipana de Zé Luís. Para Zé Rufino isso significava o fim da surpresa por ele planejada, pois os cangaceiros com certeza já estavam sabendo que havia polícia na área. Mas, por outro lado, como os cangaceiros não tinham medo da polícia de Sergipe, era até bom que eles pensassem que por ali só havia aquela força sergipana. 

No dia 29, os homens da volante passaram por um riacho seco, em cujo leito se encontravam a intervalos pequenos poços de água, onde nadavam piabas e outros peixes pequenos. João Doutor foi ver se pegava umas piabas. Zé Rufino caçoou dele: 

— Dexa de bestera, Doutô, sordado foi feito foi pra pescá cangacero! 

João Doutor e Bentevi seguiam na frente e terminaram distanciando-se dos outros. Depois de subirem uma ladeira, pararam à sombra de uma quixabeira, a fim de esperar pelos companheiros, já que o sol começava a esquentar. Numa vereda que passava pela quixabeira, notaram que havia rastros de pessoas. Quando o rastejador chegou, mostraram a ele. 

— Os rasto é de hoje, desta madrugada — assegurou o experiente Gervásio. 

Deixaram então a estrada e seguiram pela vereda, Gervásio na frente. Logo adiante, chegaram a um tanque e, misteriosamente, os rastros sumiram. Era como se as pessoas que chegaram até ali simplesmente tivessem se encantado. O soldado Capão, não se sabe se por brincadeira ou a sério, opinou: 

— Eu acho qui os cangacero tão é dento desse tanque... 

Gervásio, João Doutor e Capão destacaram-se do grupo e foram ver se no outro lado do tanque havia rastros. Avistaram então um garoto de uns 12 anos de idade que carregava alguma coisa enrolada num pano. Perguntaram o que é que ele ia levando, e o garoto, meio nervoso, respondeu que era comida para uns trabalhadores na roça. 

Desconfiando, Capão desembainhou o punhal e segurou o menino, ameaçando: — Oi aqui, seu pestinha, eu vou lhe matá se você nun conta a verdade... O garoto manteve-se filme, dizendo que a comida era para uns trabalhadores de seu pai. Gervásio, sabendo que Capão era meio doido, puxou o garoto para si e falou: 

— Nóis sabe qui o seu pai é amigo dos bandido. Seu pai tá cum eles agora, nun tá? É pur isso qui você nun qué falá? 

— Eu já diche qui nun sei nada de bandido, tô levano cumida é pra uns trabaiadô. 

João Doutor perdeu a paciência: 

— Se qué falá, fale, e seu pai nun morre, mais se nun qué fala, seu pai vai morrê junto cum os bandido! 

— Nun sei nada de bandido — repetiu o garoto. 

Nesse instante, viram Bentevi e Alípio no paredão do tanque fazendo gestos para que todos se reunissem. Pelo jeito, tinham descoberto alguma coisa. Gervásio levou o garoto a Zé Rufino e expôs as suspeitas de que ele estava levando comida para os cangaceiros. Zé Rufino não mostrou interesse imediato pelo menino, pois Bentevi e Alípio tinham encontrado os rastros. Apenas perguntou ao menino como era o nome daquele lugar. 

— Cangalexo — respondeu o garoto. 

— Cangalexo? Municipo de onde? 

— Sei não sinhô... 

— E de quem é esta fazenda? 

— Do meu pai. 

— Eu proguntei o nome! — agastou-se o comandante. 

— Chamam ele de João do Pão... 

Zé Rufino pensou um pouco e disse: 

— Vamo vê os rasto. Isso aqui ou é Gararu ou é Porto da Foia. E tragam esse muleque. 

Os rastros partiam de umas pedras atrás do paredão do tanque. As pegadas eram nítidas, recentes, e encaminhavam-se para uma zona de vegetação densa, com muita macambira e xiquexique. Os homens seguiam atentos. Zé Rufino tinha certeza de que os rastros eram mesmo de bandidos, pois trabalhadores andam em caminhos que levam a roças, só quem procura mata cerrada é bandido e caçador, mas caçador não caminha tentando esconder os rastros. 

O comandante dividiu a volante em três grupos. Mandou que Valdemar, Jovino, Juazeiro, Capão e Paulo de Tavinha seguissem pelo lado direito. Pelo outro lado foram Zé Monteiro, Hercílio, João Venâncio e João Redondo. Pelo centro seguiu o restante da volante, inclusive Zé Rufino, o rastejador e o cabo Miguel. Zé Rufino mandou que Doutor, João Pereira, Zé Martins e Bentevi fossem na frente. Os homens movimentavam-se em silêncio, pisando de leve na folhagem, cautelosamente, certos de que estavam próximos do coito dos bandidos. E não se enganaram. Logo, ouviram ruídos. 

Os soldados aproximaram-se, agachados por trás das macambiras, comunicando-se por gestos. Adiante, sob uma árvore, avistaram quatro cangaceiros que estavam jogando baralho, sentados num lajedo. Os soldados pararam um pouco, esperando Zé Rufino, que tinha ficado para trás. O comandante é quem deveria ordenar o ataque.(1589)

Mariano escolhera aquele local com todo cuidado, pois sua mulher, Rosinha, estava em avançado estado de gravidez. Naquele momento, ele e Rosinha estavam descansando numa barraca à sombra de um umbuzeiro, enquanto ouviam, a certa distância, as discussões e xingamentos dos companheiros com seus trapacentos jogos de cartas. Instantes atrás, Zabelê exaltara-se, pois estava perdendo todas as partidas, queria até rasgar o baralho, mas os outros não deixaram. Porém agora os cabras estavam mais calmos. 

Os que estavam jogando eram Pai Véio, Lavandeira, Zabelê e o coiteiro João do Pão. O cangaceiro Criança estava peruando o jogo, de pé, filmando. Depois chegou Quixabeira, que estivera andando pelos matos. Reclamando do calor, Quixabeira tirou o chapéu de couro e ficou abanando-se com ele. Criança jogou o toco do cigarro fora e dirigiu-se à tenda de Mariano. Não sabiam eles que se encontravam sob a mira dos fuzis de quatro soldados da volante do tenente Zé Rufino, postados atrás de umas touceiras de macambira, tão próximos que podiam ouvir as suas conversas. 

O soldado Bentevi encarregou-se de matar Criança e Quixabeira, os que estavam de pé, enquanto que Doutor, João Pereira e Zé Martins se concentraram nos que estavam jogando. Quando fizeram sinal para Zé Rufino, apontando para além das macambiras, o comandante levantou o polegar, autorizando o ataque. Os soldados atiraram a um só tempo, abatendo logo dois cabras, mas os outros, de forma inexplicável, saltaram como se fossem impulsionados por molas e embrenharam-se no mato, sem sequer esquecer as armas, pois no mesmo instante já estavam respondendo aos tiros da volante, gritando, xingando, ameaçando. 

Os outros soldados, ao ouvirem os disparos, correram na direção dos tiros. Zé Rufino e Miguel gritavam ordens, orientando-os para o cerco aos bandidos. Rosinha estava grávida, não podia correr, e Mariano não a abandonaria naquela situação extrema. Era um cabra incapaz de abandonar um amigo, quanto mais a sua companheira. Que todos fugissem, menos ele. Mandou que ela se entocasse atrás de uma touceira de macambiras, enquanto ele, protegido por um pé de imburana, sustentava o fogo a fim de conter o avanço da volante. 

Em instantes, toda a área ao redor da imburana ficou ofuscada com a fumaça do seu fuzil. Miguel e Artur rodearam pelo mato. orientando-se pela fumaça que envolvia o pé de imburana, e foram postar-se do outro lado. Mariano percebeu a manobra e compreendeu que ia ser cercado. Ainda dava para fugir. Não sabia se os companheiros estavam mortos ou se tinham fugido. 

Mas Rosinha estava ali, não podia abandoná-la — um cabra do Pajeú é homem até à morte. Prosseguiu atirando, ora na direção do grosso da volante, ora nos soldados que se postaram à suas costas. Sem poder enxergar direito, devido ao fumaceiro, Miguel e Artur atiravam na direção do tronco da imburana. Se havia alguém ali, não tinha como escapar. Como estava muito próxima, Rosinha viu quando o corpo de Mariano foi sacudido por um balaço que lhe espatifou a coxa esquerda. 

Então ela, desesperada, saiu correndo no meio da fumaça, gritando pelos companheiros, e por sorte encontrou-os. — Pelo amô de Deus, socorram Mariano! Ele tá findo! Ele tá atrais daquele pé de imburana! Os cangaceiros foram rastejando até o local onde Mariano se encontrava, acharam o corpo, estava vivo, tossindo, sufocado pela fumaça, mas consciente, mandando que fugissem: — Me larguem, fujam, levem Rosinha, ela pricisa sarvá meu fio!... 

Dois cangaceiros agarraram o corpo e saíram correndo com ele pelo mato, enquanto os outros davam cobertura. Porém os soldados perceberam o que estava acontecendo e se puseram em seu encalço. Mariano ordenava aos companheiros: 

— Me larga! Me larga! Me largal... Fujam!... Levem Rosinha, ela pricisa sarvá meu fio!... Me larga! Me largal... 

Como os companheiros não o obedeciam, ele puxou a pistola e ameaçou: 

— Ou me larga, ou eu mato voceis! 

Os companheiros fugiram, levando Rosinha, ora correndo, ora praticamente arrastada. Sozinho, sem nenhuma esperança de salvação, mas sem perder a bravura, Mariano aguardou a aproximação da volante atirando com a pistola até acabar a munição. Os soldados, percebendo que o cangaceiro não tinha mais balas, cercaram-no e esperaram a chegada de Zé Rufino. O comandante chegou ofegante, pisou no corpo do cangaceiro e perguntou: — Cuma é o seu nome, cabra? 

1589 Coordenadas do local do ataque, onde há uns lajedos, a 300 metros do tanque do Carifi: 10° 01' 40.80" S, 37° 19' 31.10" W. João do Pão era um fazendeiro de posses consideráveis — sal fazenda, na margem direita do Rio Capivara, no município de Gararu, a uma légua do povoado São Mateus, tinha mais de 2.000 tarefas. Entrevista do autor com José dos Santos (Zeck de Salu) no Cangaleixo, no dia 3.1.2010. 

Mariano não respondeu. Apenas mordia os lábios, de dor ou de raiva. Zé Rufino deu um chute nas costelas do cangaceiro, e insistiu: 

— Eu tou proguntano cuma é o seu nome, seu disgraçado! 

Bentevi considerou: — Eu acho que esse aí ou é Mariano ou é Anjo Roque... 

Então Zé Rufino se lembrou de que num combate em 1934 Mariano tinha recebido um ferimento na perna. Mandou que rasgassem a calça do bandido. Quando rasgaram o tecido, lá estava o ferimento, acima do joelho — ferimento recebido na fazenda Nica, quando a polícia prendeu sua primeira mulher, Otília. A alegria de Zé Rufino e seus comandados foi demais.

— E Mariano! — exclamou Zé Rufino. 

E ordenou: — Paulo de Tavinha, mate o cabra! Mais tenha coidado cum a cabeça, qui eu priciso dela! 

Paulo de Tavinha sacou o parabelo, aproximou-se do ferido e descarregou a arma: 8 tiros. Mariano arfou, estrebuchou-se, mas continuava vivo. Paulo de Tavinha recarregou o parabelo e despejou de novo no corpo do cabra todas as 8 balas... mas não conseguia matar o homem, que fixava o algoz com olhar desafiador. 

Bentevi perdeu a paciência — desembainhou o facão, agarrou a cabeça do bandido pelos cabelos e com dois golpes separou-a do corpo. Zé Rufino acocorou-se, a fim de recolher os pertences do defunto. Primeiro pegou a pistola. Os bolsos e os bornais continham dinheiro, peças de ouro, inclusive muitos anéis e alianças. Num dos bolsos da calça, encontrou um relógio. O comandante olhou a hora. Comentou: 

— Curioso isso... é 10 hora e 10 minuto, e nóis tamo im outubro, qui é o meis 10... O ano é 1936. Dexe vê: 1 mais 9 é iguá a 10... 10, nove fora, 1; 1 mais 3 é iguá a 4; e 4 mais 6 é iguá a 10... E tudo 10... Qui dia é hoje do meis? 

— Hoje é 29 — informou o cabo Miguel Bezerra. 
— E 29, nove fora, 2! 

O comandante reagiu: 

— Cala essa boca, seu burro! Qué atrapaiá mias conta? 

Satisfeito com a agudeza de sua inteligência, Zé Rufino enfiou o relógio na algibeira e ordenou: — Vamo procurá os outo morto! Voltando ao ponto do início do combate, onde os cangaceiros estavam jogando cartas, encontraram dois corpos. Saberiam depois que um era o cangaceiro Pavão e o outro era o coiteiro João do Pão — o pai do garoto que encontraram no caminho. 

Zé Rufino aproximou-se e, ao notar que os bolsos dos mortos estavam revirados para fora, berrou, furioso: 

— Tem ladrão aqui! Eu só quiria sabê quem foi o cachorro qui já feis a limpal... Peguem as arma e as cartuchera do cabra! 

Enquanto os soldados vasculhavam a área à procura de outros mortos, ouviram-se uns tiros. Todos correram para ver o que estava acontecendo, e avistaram Alípio e Miguel deitados no chão, atirando em direção a uma moita, de onde também vinham tiros. Os soldados cercaram o atirador solitário. 

Encontraram um cangaceiro já baleado, e então Alípio deu o tiro de misericórdia, acertando um balaço em sua cabeça. Acabava de ser morto o cangaceiro Pai Véio. Zé Rufino fez uma verificação superficial nos bolsos e bornais do morto, e foi condescendente: 

— Pra nun dizê qui eu sou fominha, desse aí podem pegá o qui quisere... 

Os soldados voaram em cima do morto, cada um arrancando para si o que interessava ou era possível. Geralmente os cangaceiros levavam consigo tudo o que possuíam — dinheiro, joias, relógios. O momento mais esperado pelos homens das volantes era aquele — a hora do saque. Zé Rufino presenciava tudo, para evitar brigas, e também por interesse, pois se fosse encontrado algo especial ele faria prevalecer a sua autoridade, reivindicando-o para si. Na confusão, o garoto fugiu. (1590)

No início da tarde, a volante de Zé Rufino entrou triunfante em Porto da Folha, exibindo as cabeças dos cangaceiros. O comandante mandou reunir o povo na frente da Igreja de Nossa Senhora da Conceição e ordenou que fizessem uma festa. As cabeças ficaram expostas na prefeitura. O mais aliviado era o comerciante Zé Brechinha, que tinha recebido um bilhete de Mariano solicitando cinco contos de réis. 

Zé Rufino resolveu levar as cabeças para Jeremoabo. Ao passar por Pão de Açúcar, elas foram fotografadas por João Damasceno Lisboa. Até então, aquele era o maior feito de Zé Rufmo. Mariano não era um cangaceiro qualquer. Ele acabava de pegar um dos maiorais da história do cangaço. 

1590 Os autores não se entendem quanto à data da morte de Mariano. Frederico Bezerra Maciel diz que teria sido em 27.10.1936: ob. cit., v. IV, p. 216. Felipe de Castro, em Derrocada do Cangaço no Nordeste, indica duas datas: 29.10.1936 (p. 65, no município de "Caruaru") e 10.9.1936 (p. 221). Frederico Pernambucano de Mello, cm Guerreiros do Sol, diz que teria sido no dia 10.10.1936 (p. 240-241), porém na legenda das fotos das cabeças ele registra 29.10.1936 (p. 3921393). Iaperi Araújo aponta o dia 25.10.1936: A Cabeça do Rei, p. 201-202. Já segundo Hilário Lucetti e Magérbio de Lucena, teria sido no dia 26.10.1937 (um ano depois): ob. cit., p. 141/143. Alcino Alves Costa dá a entender que teria sido em 10.10.1937: Lampião Além da Versão, p. 321/328. José Anderson Nascimento situa o fato no início de outubro de 1937 (por volta do dia 2): ob. cit., p. 262/268. Também Antonio Amaury Corrêa de Araújo registrou a morte de Mariano em 1937: Gente de Lampião — Sila e Zé Sereno, p. 140. Joaquim Góis não cita a data: ob. cit., p. 1911200.A data correta é 29.10.1936, conforme telegrama passado pelo sargento José Rufino para o capitão João Facó, chefe de polícia da Bahia, transmitido de Porto da Folha, no dia 29, às 15 horas, no qual afirma: "... consegui hoje 10 horas tirotear com grupo de bandidos de Mariano. Foram mortos os seguintes bandidos: Mariano, Pai Velho e Zepelim." A íntegra do telegrama foi publicada nos jornais Diário de Noticias (Salvador), de 31.10.1936, p. 1, e O Imparcial (Salvador), de 31.10.1936, p. 8. O jornal O Estado de Sergipe (Aracaju), de 30.10.1936, p. 1, informa que as cabeças chegaram a Porto da Folha "às 10h de ontem". Esse mesmo jornal, na edição do dia 1°.11.1936, p. 1, cita o dia 20, porém mais adiante corrige: dia 29. O fato é mencionado ainda na edição do dia 10.11.1936, p. 1. O fato foi noticiado também no Correio de Aracaju, de 27 e 30.10.1936. Pensou-se inicialmente que os mortos seriam Mariano, Pai Véio e Zepelim, porém depois se descobriu que em vez de Zepelim quem morreu foi Pavão (Zepelim viria a morrer a 22.4.1937 na fazenda Arara, na região de Poço Redondo, então município de Porto da Folha). Quanto a Pai Véio (Moitintia), cumpre não confundi-lo com outros homônimos, a exemplo daquele também conhecido como Velho Faustino (pai de Arvoredo), que já havia morrido — morreu na Casa de Detenção de Salvador. Nertan Macedo afirma erroneamente que um dos mortos se chamava Devoção: Lampião — Capitão Virgulino Ferreira da Silva, p. 199. O erro foi repetido por Joaquim Góis (Lampião — o Ultimo Cangaceiro, p. 199) e Rodrigues de Carvalho (Lampião e a Sociologia do Cangaço, p. 215). 

Mariano Laurindo Granja estava com Lampião havia 12 anos, desde fugira para a Bahia, em 1928. Descendia de família de certo destaque, mas poucos o chamavam assim, só os íntimos, pois ele não gostava do apeli Era um cangaceiro comunicativo, sereno, bem-humorado, onde estava inesgotável de piadas. Tocava sanfona. E era sobretudo leal aos amigos. (1591)

Viera com ele de Pernambuco, quando o bando de Afogados da Ingazeira. Seu apelido era Cabeção, fazia todo mundo dar gargalhadas com o seu repertório inesgotável de piadas. Tocava sanfona e era sobretudo leal aos amigos.

As cabeças de Mariano, Pai Veio e Pavão (de início, Pavão foi identificado erroneamente como Zepelim) 



1591 Rodrigues de Carvalho, ob. cit., p. 211-212. Hilário Lucetti e 1v1agérbio de Lucena, ob. cit., p. 137/139. Frederico Pernambucano de Mello, Guerreiros do Sol, p. 240.:241. 

FONTE: Livro LAMPIÃO: RAPOSA DAS CAATINGAS pag. 513 sob o tema A morte de Mariano nos ermos do Cangaleixo