Artigos Variados

terça-feira, 17 de maio de 2016

VISÕES ALÉM DA IMAGINAÇÃO


O popular seriado Além da Imaginação manteve telespectadores fiéis durante muitos anos (e ainda mantém, em suas reapresentações) ao colocar os heróis dos episódios em circunstâncias obviamente perigosas - um acidente fatal, uma doença terminal, um aprisionamento na dobra do tempo - das quais eles miraculosamente saíam incólu­mes porque ocorria alguma alteração de destino. Na maior parte das vezes, o milagre era o trabalho de uma pessoa, aparentemente comum, que provava seus poderes extraordinários - um "anjo", se você desejar.

Mas a fascinação do espectador era o Além da Imaginação; no fi­nal, depois de tudo, quando o herói do episódio - e com ele o es­pectador - ficava incerto sobre o que acontecera. Teria sido o peri­go apenas imaginário? Teria sido apenas um sonho - e assim o "milagre" que resolvera o final inevitável não teria sido milagre; o "anjo" também não teria sido anjo; a dobra de tempo não o levara a outra dimensão, pois nada acontecera, na realidade...

Em alguns episódios, entretanto, a surpresa do herói e do teles­pectador recebia um impacto final que tomava o programa digno de seu nome. No fim, quando o herói e o telespectador estão quase certos de que ele imaginou tudo, ou foi um sonho, ou um truque de sua mente consciente, uma história que não aconteceu no mundo real, entra em cena um objeto. Algumas vezes, durante o episódio, o herói apanhava, ou ganhava, um pequeno objeto que era colocado no bolso sem pensar, ou um anel colocado no dedo, ou um talismã usado como colar. Como todos os outros aspectos da história imagi­nária e irreal, o objeto teria de ser "não-existente". Quando o prota­gonista e o espectador estão convencidos de que tudo se passou apenas na imaginação, o herói descobre o objeto em seu bolso ou o anel no dedo - uma realidade que sobrou da fantasia. Assim, Rod Serling nos mostrava que entre a realidade e a não-realidade, entre o racional e o irracional, havíamos passado Além da Imaginação.

Quatro mil anos atrás, um rei sumério encontrou-se Além da Imaginação, como no seriado, e registrou sua experiência em dois cilindros de argila (agora expostos no Museu do Louvre, em Paris).

O nome do rei era Gudéia, e ele reinou na cidade suméria de Lagash por volta de 2100 a.C. Lagash era o "centro de culto" de Ninurta, o filho principal de Enlil, que vivia com sua esposa, Bau, no recinto sagrado da cidade, chamado Girsu - de onde veio seu epíteto local, NIN.GIRSU, "Senhor de Girsu". Por volta dessa épo­ca, devido a uma intensificação da luta pela supremacia na Terra que colocava Marduk, o primogênito de Enki, contra o clã de Enlil, Ninurta/Ningirsu obteve a permissão do pai para construir um novo templo no Girsu - um templo tão magnífico que expressasse o di­reito de Ninurta à supremacia. Da forma como aconteceu, o plano de Ninurta era construir na Mesopotâmia um templo incomum, que imitasse a pirâmide de Gizé por um lado e, por outro, em sua enor­me plataforma, que tivesse círculos de pedra que servissem como um sofisticado observatório astronômico. A necessidade de encon­trar um devoto fiel e confiável para realizar tais planos grandiosos e seguir inteligentemente os projetos dos Arquitetos Divinos serviu como histórico para os eventos mais tarde registrados por Gudéia.

A série de acontecimentos iniciou-se com um sonho que Gudéia teve certa noite; foi uma visão de Encontros Divinos tão vívida que transportou o rei Além da Imaginação; quando Gudéia acordou, um objeto que ele vira apenas no sonho encontrava-se agora fisicamente em seu colo. De alguma forma, a fronteira entre realidade e irrealidade ha­via sido atravessada.

Perplexo com o ocorrido, Gudéia pediu e recebeu permissão para procurar o conselho do oráculo da deusa Nanshe em sua "Casa de Resolver-Destinos", localizada em outra cidade. Gudéia chegou ao local de barco e ofereceu preces e sacrifícios, a fim de que ela resol­vesse o enigma da visão no sonho. Gudéia contou-lhe o que aconte­cera (lemos isso na coluna IV do cilindro" A", nos versos 14-20, con­forme transcrito por Ira M. Price, em "As Inscrições dos Grandes Cilindros A e B de Gudéia".

No sonho (eu vi) um homem brilhante, 
refulgindo como o Céu
- grande no Céu, grande na Terra -,
que, por seu chapéu, 
era um Dingir (deus).
Ao seu lado estava o divino Pássaro da Tempestade; 
como uma tempestade devoradora sob seus pés,
dois leões se abaixavam, à direita e à esquerda. 
Ele me mandou construir seu templo.

Seguiu-se uma premonição celestial, cujo significado ele contou à deusa que interpretava sonhos, pois não entendia: o sol sobre Kishar (o planeta Júpiter) foi visto subitamente no horizonte. Uma mulher então apareceu e entregou a Gudéia instruções celestes (coluna IV, versos 23-26):

Uma mulher ­-
Quem era? Quem não era?
A imagem da estrutura de um templo
ela carregava na cabeça ­-
em sua mão ela segurava um buril sagrado;
a tábua da estrela favorável do céu ela trazia.

Enquanto a “mulher” consultava a tábua estelar, um terceiro ser divino apareceu (seguimos a coluna V, versos 2-10), era um homem:

Um segundo homem apareceu, ele tinha o
ar de um herói dotado de força.
Uma estela de lápis-Iazúli ele segurava na mão.
O projeto de um templo ele desenhou ali.
Colocou à minha frente uma cesta divina;
sobre ela colocou um molde puro de tijolos;
o tijolo do destino encontrava-se em seu interior.
Um grande vaso estava perante mim;
sobre ele estava gravado o pássaro Tibu, 
que irradia um brilho dia e noite.
Um jumento se abaixava à minha direita.

O texto sugere que todos esses objetos de alguma forma se ma­terializaram durante o sonho, mas em relação a um deles não havia dúvida que passara da dimensão do sonho para a realidade física; quando Gudéia acordou, encontrou a estela de lápis-lazúli em seu colo, com o projeto do templo rabiscado em cima. Ele comemorou o milagre em uma de suas estátuas. A estátua mostra tanto a estela quanto o Buril Divino com o qual o projeto fora esboçado. Estudos modernos sugerem que, de forma engenhosa, as marcas nas margens são escalas para construir os sete estágios do templo com apenas um desenho.

Os outros objetos, que também podem ser materializados, são conhecidos por intermédio de vários achados arqueológicos. Ou­tros reis sumérios representaram a si mesmos com a “sagrada cesta divina” que o rei carregava para iniciar a sagrada construção; moldes de tijolos e tijolos com uma afirmação de "destino" foram encontrados; e um vaso de prata que ostentava a imagem do pássaro Tibu de Ninurta foi encontrado entre as ruínas da Girsu de Lagash.

Repetindo um por um os detalhes da visão-sonho da forma nar­rada por Gudéia, a deusa do oráculo continuou, dizendo ao rei o que significava. O primeiro deus a aparecer, disse ela, era Ninurta/Ningirsu anunciando a Gudéia que ele fora escolhido para cons­truir o novo templo: "Ele ordenou que construas o novo templo". O nome seria E.NINNU - "Casa dos Cinqüenta", para significar que Ninurta possuía o direito de reivindicar junto a Enlil o posto de 50, e assim seria o único abaixo de Anu, cujo número era 60.

A visão da aurora zodiacal de Júpiter "é o deus Ningishzidda", e tinha a intenção de mostrar ao rei o ponto exato nos céus para onde os observatórios do templo deviam ser orientados, indicando precisamente o local em que o Sol irá nascer no dia de Ano-Novo. A mulher que apareceu na visão carregando na cabeça a imagem da estrutura de um templo era a deusa Nisaba; com seu buril numa das mãos e o mapa celeste na outra, "ela o instruiu para construir o tem­plo de acordo com o Planeta Sagrado". E o segundo homem, expli­cou Nanshe, era o deus Nindub; "a ti os projetos do templo ele entregou" .
Ela também explicou a Gudéia o significado dos outros objetos que ele vira. A cesta significava o papel de Gudéia na construção; o molde e o "tijolo do destino" indicavam o tamanho e a forma dos tijolos a serem usados, moldados em argila; o pássaro Tibu, que "bri­lha muito dia e noite", significava que, devido à construção, "não haverá bom sono para ti". Se isso não foi o suficiente para empa­nar a alegria de Gudéia para a tarefa sagrada, a interpretação do simbolismo do jumento de carga deveria ser, pois significava que, como uma besta de carga, Gudéia deveria trabalhar pesado na cons­trução do templo...

De volta a Lagash, Gudéia considerou as palavras da deusa e examinou a estela divina que se materializara em seu colo. Quanto mais ele pensava a respeito das instruções, mais ele ficava espanta­do, sobretudo em relação à orientação astronômica e aos prazos. Procurou compreender os segredos da construção do templo indo ao templo existente "todos os dias, e de novo à hora de dormir". Ainda perplexo, entrou no Santo dos Santos do templo e pediu a "Ningirsu, filho de Enlil", para orientação adicional: "Meu coração permanece ignorante, o significado está tão longe de mim quanto o meio do oceano; como o meio do céu está distante de mim".

Pediu um segundo sonho e o recebeu. No que os estudiosos cha­mam de segundo sonho de Gudéia, a posição do rei e a da divinda­de encontrada parecem ser cruciais. O texto (coluna IX, versos 5-6) relata que, "pela segunda vez, prostrado, o deus assumiu sua posi­ção". O termo sumério usado, NAD.A, significa mais do que "dei­tar-se no chão, deitar-se esticado", isto é, "prostrado". Traz também um elemento de não enxergar por ter o rosto voltado para baixo, de uma forma que assegure que ele não irá olhar para a divindade. Por outro lado, o deus precisava posicionar-se próximo à cabeça de Gudéia. Se Gudéia adormecesse, ou estivesse em transe, o deus real­mente falaria com ele? Ou a posição próxima à cabeça tinha a intenção de facilitar algum outro método metafísico de comunicação? O texto não deixa claro esse ponto; não afirma que Gudéia recebeu promessas de constante ajuda divina, sobretudo por parte do deus Ningishzidda. A ajuda dessa divindade, a quem indicamos como o deus egípcio Tot, parecia especialmente importante para o deus Ninurta/Ningirsu, como seria a homenagem que Magan (Egito) e Meluhha (Etiópia) prestariam a Ninurta, uma vez que seu novo tem­plo proclamasse seu posto de 50, "os cinqüenta nomes de Domínio concedidos por Anu". Por isso, explicou ele a Gudéia, o templo de­veria chamar-se EN.NINNU - "Casa dos Cinqüenta". Prometeu a Gudéia que o novo templo não iria apenas glorificar a divindade, mas traria também fama e prosperidade para toda a Suméria e Lagash em especial.

A divindade, então, explicou a Gudéia vários detalhes da estru­tura do templo, incluindo o projeto dos locais especiais para acomodar o Divino Pássaro Negro e a Arma Suprema; a Gigunu para o casal divino; uma câmara de oráculo e um lugar para a reunião dos deuses. Detalhes dos utensílios e mobílias também foram dados. Então o deus assegurou a Gudéia que, "para a construção do meu templo, vou dar a você um sinal; minha ordem vai ensinar a você um sinal do planeta celeste".

A construção, disse ele a Gudéia, deve iniciar-se no "dia da lua nova". Aquela lua nova em particular irá tornar-se conhecida do rei por um presságio divino - um sinal nos céus. O dia vai começar com ventos e grandes chuvas; por volta do anoitecer, a mão do deus aparecerá nos céus; irá conter uma chama "que vai tornar a noite tão clara quanto o dia":

À noite uma luz irá brilhar; 
vai fazer com que os campos fiquem 
muito iluminados, como se pelo sol. 

Ouvindo tudo aquilo, "Gudéia compreendeu o plano favorá­vel, um plano que era a mensagem clara de seu sonho / visão". "Ago­ra, ele se tomara sábio e compreendia muita coisa." Depois de apresentar oferendas e orações aos" Anunnaki de Lagash, Gudéia, o fiel pastor, lançou-se ao trabalho com alegria". Sem perder tempo, ele começou a "purificar a cidade", depois "lançou impostos sobre a terra". Tais impostos eram pagáveis em bens - bois, jumentos, madeira e cobre. Ele reuniu materiais de construção de origem próxima e distante, organizou um grupo de trabalho. Como Nanshe havia previsto, trabalhou como um Jumento de Carga e "um bom sono não veio até ele".

Com tudo pronto, chegou o momento de começar a fabricar os tijolos. Eram feitos de argila, segundo o molde e a amostra que apa­recera na mão de Gudéia em sua primeira visão/sonho. Lemos na coluna XIX, verso 19, que Gudéia "trouxe o tijolo, colocou-o no tem­plo". Podemos deduzir dessa afirmação que Gudéia tinha o tijolo (e, por inferência, o molde necessário) em sua posse física; o tijolo e o molde eram, portanto, dois objetos a mais (além da estela de lápis-lazúli) que atravessaram a fronteira Além da Imaginação.

Em seguida Gudéia contemplou "a planta esboçada do templo". Mas, "ao contrário da deusa Nisaba, que sempre compreendia o sig­nificado das dimensões", Gudéia ficou intrigado. Novamente pre­cisou de conselhos divinos adicionais; mais uma vez lançou mão do método que utilizara antes - mas apenas depois de obter, por meio de adivinhação, um "vá em frente". O método que ele usou para a adivinhação envolvia a "passagem de águas tranqüilas por semen­tes" e determinava o curso de ação pelo aparecimento de sementes molhadas. "Gudéia examinou os presságios, e seus presságios fo­ram favoráveis."

Então Gudéia baixou sua cabeça, 
prostrou a si mesmo. 
A visão-comando emergiu: 
li A construção da Casa do teu Senhor, 
a Eninnu, irás completar - ­ 
de sua fundação até o topo, 
que se eleva na direção do céu". 

Embora os estudiosos considerem esse episódio" o terceiro so­nho de Gudéia", a terminologia do texto é diferente de forma signi­ficativa. Mesmo nas ocasiões anteriores, o termo traduzido "sonho", MAMUZU, é mais parecido com a palavra Mahazeh, semita/hebraica, que é mais bem traduzida como "uma visão". Aqui, pela terceira vez, o termo empregado é DUG MUNATAE - uma "ordem-visão que emerge". Dessa vez, na "ordem-visão" a seu pedido, Gudéia viu o começo da construção do templo de seu Senhor. Em frente aos próprios olhos, o processo de construção da Eninnu, "de sua fundação até o topo, que se ergue na direção do céu", estava tomando forma. A visão de uma demonstração simulada de todo o processo, da base para cima, "chamou sua atenção". O que era necessário fazer final­mente se tomou claro; e "com alegria ele se lançou à tarefa".

Como o trabalho depois continuou, como Gudéia foi ajudado por um grupo de Arquitetos Divinos e deuses e deusas da astrono­mia para orientar o templo e erigir seus observatórios, como e quando as exigências do calendário foram resolvidas, e a cerimônia que inau­gurou o novo templo, tudo é narrado no cilindro" A" e no cilindro "B" do rei sumério. Lidamos com esse assunto dos registros em O Começo do Tempo.

Uma estela que aparece em sonho e depois se materializa com efeitos poderosos nas condições de vigília desempenha um papel­chave na história de um "Jó" babilônico, um sofredor justo. O texto, intitulado Ludlul Bel Nemeqi ("Louvarei o Senhor da Sabedoria"), depois de sua abertura, conta a história de Shubshi, um homem jus­to que lamenta seu infortúnio, tendo sido esquecido por seu deus, "cortado" de sua deusa protetora, abandonado por seus amigos. Ele perde a casa, suas posses, e - pior que tudo - a saúde. Pergunta-se "por quê?", contrata adivinhos e "intérpretes de sonhos" para descobrir as razões pelas quais sofre, chama exorcistas para "aplacar a ira divina". Porém nada parece funcionar ou ajudar. "Estou perple­xo com essas coisas", escreve ele. Debilitado, tossindo, mancando, com terríveis dores de cabeça, ele está pronto para morrer; mas assim que atinge as profundezas do sofrimento e do desespero, a salvação vem numa série de sonhos.

No primeiro sonho, ele vê "um jovem notável, de mente excepcional, de corpo esplêndido, vestido com roupas novas. Quando acorda, ele vê, de fato, o jovem "vestido em esplendor, trajado com vestes impressionantes". A ação e o diálogo que se seguem no curso do sonho que se tomou realidade estão perdidos por danos à estela.

No segundo sonho, um "notável Lavado" apareceu, "segurando em sua mão um pedaço de madeira de tamargueira purificado­ra". A aparição recitava "encantamentos restauradores da vida" e derramou "águas purificadoras" sobre o sofredor.

O terceiro sonho foi ainda mais impressionante, já que continha um "sonho dentro do sonho". Uma "jovem notável, de compleição brilhante", uma deusa, com certeza, apareceu. Ela falou ao "Já" babilônico. "Não tema, eu vou... num sonho, livrar você de seu esta­do miserável". Assim, nesse sonho, o sofredor sonhou que estava vendo em sonho "um jovem barbado usando um chapéu, um exorcista" :

Ele carregava uma estela. 
"Marduk me mandou" (disse ele), 
"Para Shubshi, o Justo, 
das mãos puras de Marduk 
eu trouxe para ti bem estar." 

Quando acordou, Shubshi encontrou a estela que aparecera a ele no sonho dentro do sonho. A fronteira Além da Imaginação fora atravessada, o metafísico se tomou físico. A estela abriga escrita cuneiforme, e Shubshi lê: "nas horas de vigília, ele vê a mensa­gem". Consegue força suficiente para "mostrar ao meu povo a estela favorável".

Miraculosamente, "a doença terminou rápido", A febre cedeu. A dor de cabeça foi" carregada", o Demônio foi banido para seu domínio; os arrepios foram" escorraçados até ornar", os "olhos enevoados" clarearam, a dor de dentes sumiu - a lista dos sofrimentos que desapareceram quando a misteriosa/milagrosa estela apareceu continua, levando até a frase-chave: "Quem, a não ser Marduk, poderia ter restaurado a vida do moribundo?".

A história termina com uma descrição das oferendas, sacrifícios e libações por parte do herói da história em honra de Marduk e sua esposa Sarpanit, enquanto o ex-sofredor caminha para o grande zigurate/templo, através dos doze portões do território sagrado.

Registros antigos incluem circunstâncias adicionais Além da Ima­ginação, em que os objetos - ou ações - que são parte da dimen­são do sonho/visão, aparecem na realidade da vigília. Embora a falta de evidências pictóricas claras, no caso da estela com a planta do templo, os outros relatos sugerem que o fenômeno, apesar de raro, não foi único para Gudéia. Mesmo ali, quando o próprio Gudéia não os segura para que a posteridade os veja, sabemos, pelo texto, que ao menos dois objetos adicionais - o molde e o Tijolo do Desti­no - também se materializaram na dimensão real.

Objetos físicos e ações que transcendem as fronteiras são também encontrados nos sonhos de Gilgamesh. O "trabalho manual de Anu", que desceu dos céus, é narrado na Estela I, conforme foi visto no sonho; porém, quando o episódio se repete na Estela II da Epo­péia de Gilgamesh, o sonho se toma uma visão de acontecimentos verdadeiros. Gilgamesh luta para extrair a parte interna do artefato, e, quando consegue, leva-o à sua mãe e o deposita a seus pés.

Mais tarde, na ocasião em que Gilgamesh e Enkidu acampam no sopé da Montanha dos Cedro, Gilgamesh adormece, tem três sonhos e a cada vez uma ação sonhada - um chamado, um toque - é transformada em ação no mundo real, que o acorda. O chama­do parece tão real que ele suspeita ter sido Enkidu o autor, porém depois que o companheiro nega firmemente chamar Gilgamesh ou encostar nele, o rei compreende que foi o deus em seus sonhos que o tocara tão realisticamente que sua carne pareceu amortecida. E, finalmente, houve o sonho/visão do lançamento do foguete – um "sonho" no qual Gilgamesh enxerga um objeto como jamais vira antes, um lançamento que ninguém em Uruk jamais observara (pois lá não havia nem Espaçoporto nem Local de Aterrissagem). Ele não terminou segurando o objeto na mão depois que a visão se dissipou; mas ainda podemos ver a representação na moeda de Biblos.
Os sonhos-visões de Daniel, um cativo judeu na Corte de Nabu­codonosor (rei da Babilônia no século VI a.C.), contêm ainda mais paralelos diretos aos aspectos físicos dos encontros tipo Além da Imaginação de Gilgamesh e Gudéia. Ao descrever um de seus Encontros Divinos às margens do Tigre (Livro de Daniel, capítulo 10), ele escreveu:

Ergui meus olhos e contemplei, 
vi um homem solitário vestido em linho, 
cujas ilhargas estavam cingidas com ouro de Ofir. 
Seu corpo brilhava como topázio, 
e seu rosto, como o raio, 
seus olhos flamejavam como tochas, 
seus braços e pés eram da cor de bronze, 
e sua voz, retumbante.

"Só eu conseguia ver a aparição", escreveu Daniel; mas embora os outros que estavam com ele não pudessem ver, sentiram uma presença terrível e correram para esconder-se. Ele também sentiu­-se imobilizado, capaz apenas de escutar a voz divina; mas:

Assim que escutei a voz de suas palavras, 
caí adormecido com o rosto para baixo, 
meu rosto tocando o chão. 

Essa posição era similar àquela descrita por Gudéia; em seguida fica a similaridade com o acordar que intrigou Gilgamesh quando em seus sonhos experimentou um toque físico e ouviu a voz de "um deus". Ao prosseguir em sua narrativa, Daniel escreveu que ador­meceu com o rosto para baixo.

De repente, uma mão tocou-me 
e puxou-me para cima, apoiado 
em meus joelhos e na palma de minhas mãos. 

A pessoa divina, então, revelou a Daniel que ele veria o futuro. Impressionado, com o rosto ainda para baixo, Daniel não conseguia falar. Mas a pessoa - "da aparição dos filhos do Homem" - tocou os lábios de Daniel, e Daniel foi capaz de falar. Quando ele se desculpou por sua fraqueza, a pessoa divina o tocou outra vez, e Daniel "reconquistou sua força". Tudo aconteceu enquanto Daniel era tomado por um sono semelhante a um transe. Mais memorável do que os sonhos-visões de Daniel foi o incidente Além da Imaginação do Manuscrito-na-Parede. Aconteceu no reinado do sucessor de Nabucodonosor, na Babilônia, Bel-shar-utzur ("Senhor, preserve o Príncipe"), a quem a Bíblia chama de Baltasar, por volta de 540 a.C. Conforme relatado no Livro de DanieI, Baltasar ofereceu um grande banquete para mil de seus nobres e estava festejando e bebendo vinho - uma cena conhecida por várias representações assírias e babilônicas de banquetes reais. Bêbado, ele ordenou que trouxessem os recipientes de ouro e prata que Nabucodonosor apanhara no Templo, em Jerusalém, a fim de que "ele e seus nobres, suas concubinas e cortesãs pudessem beber neles. Então foram trazidos os recipientes de ouro e prata do santuário da Casa de Deus, em Jerusalém; o rei e seus nobres, suas concubinas e cortesãs beberam deles; beberam vinho e louvaram os deuses de ouro e prata, de bronze e ferro e de madeira e pedra". A alegria dos pagãos e a profanação dos objetos sagrados do templo de Iavé pros¬seguia, mas:

De repente,
apareceram os dedos de uma
mão humana que escrevia, d
efronte do candelabro,
na superfície da parede da sala do rei;
e o rei via os movimentos das juntas dos
dedos da mão que escrevia.
A visão de uma mão humana - flutuando sozinha, desligada do braço e do corpo - era desconcertante; o inesperado da aparição apenas aumentou a sensação de presságio. "A mente do rei encheu-se de terror, seu semblante tomou-se pálido, cada membro do corpo dele ficou flácido e seus joelhos batiam um contra o outro." Ele deve ter percebido que a profanação dos recipientes do templo de Iavé provo¬cara um Encontro Divino com conseqüências imprevisíveis.

Gritou que os videntes e adivinhos da Babilônia entrassem. Dirigindo-se aos "homens sábios da Babilônia", ele anunciou que a pessoa que conseguisse ler a escrita e interpretar o significado da aparição seria recompensada e elevada para o terceiro posto em poder de seu reino. Porém ninguém conseguiu interpretar a visão ou ler a escrita. "Baltasar estava pálido e assustado, e seus nobres, perplexos."

Nesse cenário de medo e desespero, entrou a rainha; quando ela ouviu o que acontecera, lembrou que o sábio Daniel era conhecido por sua habilidade de compreender e interpretar sonhos e mensagens divinas. Então Daniel foi chamado e ficou sabendo da recompensa prometida. Recusou a recompensa, mas concordou em interpretar a visão. A essa altura, a mão que escrevera havia desaparecido, porém a escrita permanecia na parede. Confirmando que o mau agouro era o resultado da profanação dos vasos do Templo consagrado ao Altíssimo, ao Senhor do Céu, Daniel explicou a escrita e seu significado:

Por isso é que ele mandou os dedos dessa mão
que escreveram na parede.
Esta é, pois, a escritura que ali está disposta:
MANE, TEKEL, FARES.
E aqui está a interpretação das palavras:
MANE: Deus contou os dias do teu reinado
e lhe pôs termo.
TEKEL: Tu foste pesado na balança e achou-se que
tinhas menos do peso.
FARES: O teu reinado se dividiu
e foi dado aos medos e aos persas.

Baltasar manteve sua promessa e ordenou que Daniel fosse envolto em púrpura e honrado com uma corrente de ouro ao redor do pescoço, e o proclamou o terceiro do reino. Porém "naquela mesma noite foi morto Baltasar, rei dos caldeus. E Dario dos medos lhe sucedeu no reino" (Daniel 5, 30-31). A mensagem Além da Imaginação foi cumprida.

As mensagens/sonhos Além da Imaginação de Gudéia, pelas quais ele recebera instruções divinas e projetos para a construção do templo Eninnu em Lagash, foram depois repetidas, de forma similar, mais de um milênio depois, em comunicações divinas similares em relação ao templo de Iavé, em Jerusalém.

Seguindo as detalhadas instruções fornecidas por Iavé para Moisés no Sinai, os Filhos de Israel construíram para o Senhor um Mishkan literalmente, "Residência" - portátil, para o deserto do Sinai; seu mais importante componente era a Ohel Moed ("Tenda da Aliança") em ruja parte mais sagrada havia a Arca da Aliança, que continha as Tábuas da Lei e estava protegida pelos Querubins. Depois da chegada a Canaã, a Arca ficou temporariamente alojada em seu principal local de adoração, aguardando sua instalação permanente na "Casa de Iavé", em Jerusalém. Por volta de 1000 a.C., Davi sucedeu a Saul como rei de Israel. Depois de tomar Jerusalém sua capital, a ambição e a esperança do rei Davi era a construção do Templo, em cujo Santo dos Santos a Arca da Aliança poderia finalmente repousar num lugar sagrado desde tempos imemoriais. Porém a comunicação divina - sobretudo por meio de sonhos - tinha outros desejos.

Conforme o registro bíblico narra, Davi partilhou sua intenção de construir o Templo com o profeta Natã, que lhe deu sua bênção. Contudo "passou-se, naquela mesma noite, que a palavra de Iavé chegou a Natã, instruindo-o a dizer ao rei Davi que por haver se envolvido em guerras e em derramamento de sangue, seria seu filho, em lugar do próprio Davi, que iria construir o templo".

Como o profeta Natã recebera a comunicação "naquela mesma noite" é explicado ao final da história (Samuel II, 7:17). "Segundo todas estas palavras, e conforme toda esta visão, assim falou Natã a Davi." Não se tratou de um simples sonho, mas de uma epifania; não de um Chalom ("sonho"), e sim de uma Hizzayon ("visão"), na qual não apenas as palavras são escutadas, mas o interlocutor apenas "avistado", conforme fora explicado por Iavé ao irmão e à irmã de Moisés no acampamento do Sinai.

Então o rei Davi foi "e sentou-se perante Iavé", em frente à Arca da Aliança. Ele aceitou a decisão do Senhor, porém desejou certificar-se das duas partes - que não construiria o Templo, mas que seu filho construiria. Sentado em frente à Arca, como Moisés se comunicara com o Senhor, Davi repetiu as palavras do profeta. A Bíblia não relata a resposta do Senhor; mas na expressão" sentado perante Iavé" pode estar a chave para compreender o quebra-cabeça - a misteriosa origem dos projetos do Templo. Lemos em Crônicas I, no capítulo 28, que à medida que Davi sente que o final de seus dias se aproxima, ele reúne os líderes e anciãos de Israel e lhes conta a decisão de Iavé em relação ao Templo. Anuncia que seu sucessor será Salomão, "Davi entrega a Salomão, seu filho, o Tavnit" do Templo, com todas as suas partes e câmaras "o Tavnit de tudo o que ele tivera pelo Espírito".
A palavra hebraica Tavnit é geralmente traduzida como "padrão", termo que sugere ser um projeto, um plano arquitetônico. Porém o termo bíblico implica, com maior precisão, um "modelo construído", em vez de um Tokhit ("projeto" em hebraico). Devia tratar-se de um modelo físico suficientemente pequeno para ser entregue das mãos de Davi para as de Salomão - algo que em nossos dias chamamos de “maquete em escala".

Achados arqueológicos na Mesopotâmia e no Egito provam que tais modelos não eram desconhecidos no antigo Oriente Médio; podemos ilustrar o fato mostrando alguns dos objetos descobertos na Mesopotâmia, assim como numerosos egípcios. Em alguns selos cilíndricos sumérios a representação de um templo-torre é mostrada na mesma proporção dos humanos e personagens na cena; é o caso do sacerdote representado decorando um modelo de templo. Presumiu-se que as estruturas tenham sido traçadas não apenas para que se encaixassem no espaço existente; a descoberta de modelos reais de argila de templos e santuários - em paralelo com as referências bíblicas ao Tavnit - sugere que talvez na Mesopotâmia os reis tivessem visto modelos em escala dos templos e santuários que receberam a incumbência de construir.

O termo Tavnit aparece antes, na Bíblia, ligado à construção da Casa Portátil de Iavé durante o Êxodo. Foi quando Moisés subiu o Sinai para falar com o Senhor, ficando lá quarenta dias e quarenta noites, que "Iavé falou a Moisés" sobre o Mishkan (um termo que geralmente é traduzido como Tabernáculo, mas literalmente significa "Residência"). Depois de listar uma variedade de materiais necessários para a construção - a serem obtidos dos israelitas como doações, não como taxação imposta por Gudéia -, Iavé mostrou a Moisés um Tavnit da residência e um Tavnit dos instrumentos, dizendo (Êxodo, 25: 8-9):

E me farão um santuário,
e morarei entre eles.
Como tudo aquilo que Eu te mostro –
o Tavnit do Mishkan e
o Tavnit de todos os seus objetos -, assim fareis.

As medidas arquitetônicas e as instruções para fazer a Arca da Aliança com seus dois Querubins, a Cortina, a Mesa ritual, todos os utensílios e a Menorá seguiam-se; as instruções só foram interrompidas para um aviso, Ele levantará o Tabernáculo de acordo com o Tavnit que te foi mostrado no monte", após o que as instruções arquiteturais continuam (utilizando dois capítulos adicionais no Livro do Êxodo). Moisés, portanto, viu modelos - presumivelmente em escala - de tudo que precisava ser feito. As narrativas bíblicas das instruções para o Mishkan do Sinai, para o Templo em Jerusalém, para os vários utensílios, instrumentos rituais e acessórios, eram tão detalhadas que os modernos estudiosos e artistas não tiveram problema em representá-los.

A narrativa do capítulo 28 de Crônicas I sobre os materiais e instruções passadas do rei Davi a Salomão para a construção do Templo usa o termo Tavnit quatro vezes, sem deixar dúvida a respeito da existência de uma maquete. Após a quarta e última menção, Davi contou a Salomão que o Tavnit, com todos os seus detalhes, foi literalmente dado a ele por Iavé, acompanhado de instruções escritas:

Tudo isso,
escrito pela mão Dele,
Iavé me fez entender
todos os trabalhos do Tavnit.

Tudo isso, segundo a Bíblia, foi dado a Davi "pelo Espírito" enquanto ele "sentava perante Iavé", em frente à Arca da Aliança (em sua localização temporária). Como o "Espírito" passou a Davi as instruções, incluindo os escritos pelas mãos de Iavé e o Tavnit tão detalhado, permanece um mistério - um Encontro Divino que se encaixa no tipo Além da Imaginação.

O Templo que Salomão veio a construir foi destruído em 587 a.C. pelo rei Nabucodonosor, que levou a maior parte dos líderes e nobres judeus para o exílio na Babilônia. Entre eles estava Ezequiel; quando o Senhor acreditou que chegara a hora de reconstruir o Tem¬plo, o Espírito Divino - o "Espírito dos Elohim" - desceu sobre Ezequiel, que começou a profetizar. Suas experiências pertencem verdadeiramente à zona indefinida de Além da Imaginação.

E isso aconteceu no trigésimo ano,
no quarto mês, no quinto dia,
estando eu no meio dos cativos junto ao rio Cobar,
se abriram os céus,
e tive Visões Divinas.
Assim inicia-se o bíblico Livro de Ezequiel. Seus 48 capítulos estão repletos de visões e Encontros Divinos; a abertura inicial, que fala de uma Carruagem Divina, é um dos mais memoráveis registros de observação de Ovni na Antiguidade.

A detalhada descrição técnica da Carruagem e a maneira como podia se mover em qualquer direção, assim como para cima e para baixo, tem intrigado gerações de estudiosos da Bíblia, desde tempos antigos até nossos dias, e tomou-se parte do folclore místico da Cabala Judaica, cujo estudo limitava-se apenas a alguns Iniciados. (Em anos recentes, a interpretação técnica de Joseph Blumrich, um ex-engenheiro da NASA, em As Espaçonaves de Ezequiel, teve aceitação favorável. Uma antiga representação chinesa de uma Carruagem Voadora atesta a amplitude da consciência do fenômeno na Antiguidade, em todas as partes do mundo.)
No interior da Carruagem, Ezequiel podia ver vagamente, sentado sobre o que parecia ser um trono, "a semelhança de um homem" no interior de um brilho ou halo fortíssimo; e enquanto Ezequiel caía sobre seu rosto, escutou uma voz falando. Então ele viu "uma mão estendida" em sua direção, e a mão segurava um pergaminho escrito. "E foi desenrolado à minha frente, e eis que estava coberto de escrita na frente e no verso."

A visão da mão representando a divindade lembra o Escrito na Parede visto por Baltasar; e nas inscrições de Gudéia estava escrito que para sinalizar a data correta para o início da construção do tem¬plo, a mão de um deus segurando uma tocha apareceria no céu. A esse respeito, uma placa de bronze do século 11 na catedral de Hildsheim (Alemanha) mostra Caim e Abel fazendo suas oferendas a Deus, sendo o Senhor representado apenas pela mão divina sain¬do das nuvens; uma visão bastante inspirada.

A palavra "sonho" não aparece no Livro de Ezequiel nenhuma vez; em lugar disso o profeta usa o termo "visão". "Os céus se abriram e eu tive Visões Divinas", afirma Ezequiel no primeiro parágrafo de seu livro. As palavras usadas no hebraico são "visões dos Elohim", relatando o DIN.GIR dos textos sumérios. O termo retém uma certa ambigüidade quanto à natureza da "visão" - a visão verdadeira de uma cena ou uma imagem mental induzida, criada de alguma forma, apenas para o olho da mente. O que é certo é que de tempos em tempos a realidade se intromete nessas visões - uma voz verdadeira, um objeto físico, a mão visível. Nisso, as visões de Ezequiel o levaram para Além da Imaginação.

Entre os vários Encontros Divinos que moveram Ezequiel ao longo de seu caminho profético, mais de uma vez ocorreram instâncias em que o irreal inclui uma realidade que, por sua vez, se torna irreal. Temos os elementos do sonho inicial de Gudéia, no qual seres divinos lhe mostram planos de um templo e seguram instrumentos de arquitetura que terminam fisicamente na posse do rei.

"Foi no sexto ano, no sexto mês, no quinto dia", relata Ezequiel no capítulo 8. "Enquanto eu estava sentado em minha casa, e os anciãos de Judá estavam sentados perante mim, a mão do Senhor Iavé aconteceu sobre mim":

E eu olhei para cima e contemplei uma aparição
semelhante a um homem
Da cintura para baixo, a aparência era de fogo,
e da cintura para cima, a aparência era brilhante,
como uma cortina de eletricidade.

A escolha das palavras aqui revela a própria incerteza do profeta em relação à natureza de sua visão - realidade ou irrealidade. Ele chama o que vê de "aparição", o ser que ele enxerga é apenas "semelhante" a um homem. Estaria a imagem envolta em fogo e brilho, ou seria ela feita de fogo e brilho? Seria real ou imaginada? Qualquer das alternativas escolhidas permitia que agisse fisicamente:

E adiantou-se a forma de uma mão,
segurou-me por um cacho em minha cabeça.
E o espírito me carregou
entre a terra e o céu
e me levou a Jerusalém -
em visões de Elohim -,
à entrada do portão interno que fica ao norte.

A narrativa descreve então o que Ezequiel viu em Jerusalém (incluindo as mulheres chorando por Dumuzi-Tamuz). E quando as instruções proféticas se completaram, e a Carruagem Divina" ergueu-se da cidade e pousou sobre o monte que fica a leste da cidade",

O Espírito me carregou e me trouxe à
Caldéia, ao local do exílio.
(Foi) uma Visão do Espírito dos Elohim.
Então, a visão que eu vira
foi afastada de mim.

O texto bíblico ressalta mais de uma vez que a jornada aérea foi uma Visão Divina, uma "Visão do Espírito dos Elohim". Ainda assim, claramente se trata da descrição de uma visita física a Jerusalém, discussões com seus residentes e até" colocação de uma marca nas testas" dos justos que deveriam ser poupados da carnificina prevista para a destruição final da cidade. (O capítulo 33 recorda a chegada de um refugiado de Jerusalém no décimo segundo ano do primeiro exílio, informando, aos que estavam na Babilônia, que a profecia relacionada a Jerusalém se cumprira.)
Catorze anos depois, no vigésimo quinto ano do primeiro exílio, no Dia de Ano-Novo, "a mão de Iavé apareceu" a Ezequiel mais uma vez e levou-o a Jerusalém. "Em Visão de Elohim ele me levou à terra de Israel e me colocou numa montanha muito alta, ao lado da qual havia o modelo de uma cidade, ao sul".

E quando ele me levou lá, contemplai...
Havia um homem cuja aparência era aquela do cobre.
Ele segurava uma corda de linho em sua mão
e um bastão de medir;
e estava em pé ao portão.

(Uma corda de medir e um bastão foram representados na época dos sumérios como objetos sagrados entregues por um Arquiteto Divino a um rei escolhido para construir um templo.
Esse Medidor Divino instruiu Ezequiel a prestar atenção a tudo que escutasse e visse, sobretudo as medidas, para que as pudesse transmitir acuradamente ao exilados. Assim que as instruções foram dadas, a imagem em frente a Ezequiel mudou. De repente, a cena de um homem distante se transformou na de um muro cercando uma casa grande - como se, em termos de nossos tempos, uma câmara passasse a utilizar uma teleobjetiva. Nessa aproximação, Ezequiel conseguiu enxergar o "homem com a medida" começando a medir a casa.
Dessa cena no exterior da casa, do muro circundante, Ezequiel agora enxergava o medidor caminhando e medindo; enquanto isso ocorria, a cena - como se uma câmara de televisão estivesse seguindo o homem - continuava mudando; em vez de enxergar imagens exteriores, Ezequiel via imagens das partes internas da casa ¬pátios, quartos, capelas. De um exame da arquitetura geral, a percepção mudou para os detalhes da construção e pontos de decoração. Tomou-se evidente para Ezequiel que ele via o futuro, o Templo reconstruído, com o Santo dos Santos e os utensílios sagrados, os aposentos dos sacerdotes e o lugar dos Querubins.
O relato dessa descrição, que toma três capítulos longos do Livro de Ezequiel, é tão detalhado e preciso que construtores modernos não tiveram problema em desenhar a planta do Templo.
À medida que a visão de uma cena ia se sucedendo à outra, numa simulação melhor do que a mais avançada técnica de "Realidade Virtual", ainda em desenvolvimento no século 20, Ezequiel foi levado - há mais de 2500 anos - para dentro da visão. Como se fosse fisicamente, ele foi levado ao portão leste no complexo do Templo; lá testemunhou a "Glória do Deus de Israel", entrando pelo portão leste, numa "visão como a visão vista antes" em duas outras ocasiões.

E o Espírito me ergueu
e me levou ao pátio interno;
e eu contemplei a Glória de Iavé
enchendo o Templo.

Então Ezequiel escutou uma voz dirigindo-se a ele do interior do Templo. Não era o "homem" a quem vira antes, com a corda e o bastão de medir, pois o homem estava a seu lado. A voz do interior do Templo anunciou que seria ali que o Trono Divino seria colocado e onde os pés do Senhor tocariam o solo. Por fim, Ezequiel foi instruído para relatar à Casa de Israel tudo o que vira e ouvira, e lhes passasse as medidas, para que o Novo Templo pudesse ser construído adequadamente.
O Livro de Ezequiel, então, termina com instruções extensas para os serviços sagrados no futuro Templo. Menciona que Ezequiel foi "trazido de volta" para ver a Glória de Iavé através do portão norte. Presumivelmente, foi então que ele retomou de sua Visão Divina; porém o Livro de Ezequiel não afirma isso.

Antigos Hologramas. Realidade Virtual?
Quando Gudéia recebia as instruções arquitetônicas para o templo a ser construído, viu uma "ordem-visão que emergia", na qual ele enxergou o templo tomando forma desde os alicerces até ser completado, estágio por estágio - um acontecimento de mais de 4000 anos que agora pode ser conseguido por simulações no computador.
Ezequiel não foi apenas transportado miraculosamente (duas vezes) da Mesopotâmia até a Terra de Israel. Na segunda vez, ele viu o que em termos modernos chamaríamos de tecnologia de "Realidade Virtual", cena a cena, detalhes de alguma coisa que ainda não existia - o Templo futuro: a Casa de lavé que seria construída de acordo com detalhes arquitetônicos revelados a Ezequiel nessa visão Além da Imaginação. Como teria acontecido?
No início, Ezequiel chamou a visão de Tavnit, um termo usado anteriormente na Bíblia, em conexão com a Residência e o Templo. Porém, se aqueles eram apenas modelos em escala, o que foi visto por Ezequiel tinha de ser um modelo "em tamanho real da construção", pois o Medidor Divino estava na verdade tomando medidas reais, com um padrão que devia ter seis cúbitos, anotando uma cifra de 60 cúbitos aqui, uma altura de 25 cúbitos ali. O que Ezequiel via seria baseado numa "Realidade Virtual" ou em tecnologia holográfica? Teria ele visto simulações em computador ou estava enxergando um Templo verdadeiro em algum outro lugar por meio de holografia?
Visitantes de museus científicos geralmente ficam fascinados por holografias nas quais dois raios projetam imagens que se combinam para que vejamos uma imagem tridimensional flutuando no ar. Técnicas desenvolvidas no final de 1993 (Physical Review Letters, dezembro de 1993) podem originar hologramas a grande distância, que aparecem apenas com o auxílio de um único raio laser focalizado num cristal. Teriam esses tipos de tecnologia, sem dúvida mais avançadas, sido usados para permitir que Ezequiel visse, visitasse e até entrasse no "modelo construído" que estaria em outro lugar - talvez tão longe quanto a América do Sul?

Fonte: Cap. 9 - Encontros Divinos - Zecharia Sitchin