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terça-feira, 3 de maio de 2016

O massacre de Caldeirão de Santa Cruz do Deserto

Uma comunidade religiosa, liderada por um “beato” é brutalmente massacrada.

Isso como acontece até os dias de hoje, quando a situação dos pobres vem a ter uma melhoria. Os "donos do poder" têm medo de perder suas fortunas amealhadas com o "mais valia" dos pobres, ou seja, sua mão de obra, seu trabalho, seu suor que irriga suas fortunas.



Beato Lourenço e o jornalista Hildebrando Spinola 

Foi uma luta pouco conhecida, que ocorreu no sertão do Ceará: uma comunidade sertaneja, formada por camponeses que partilhavam o trabalho e os produtos da terra, foi encarada como uma ameaça pelas oligarquias; a repressão militar contra ela envolveu, pela primeira vez, o uso de aviação militar no Brasil.

No Nordeste a economia se baseava na agricultura e o homem do campo via no latifúndio explorador o seu único meio de sobrevivência, marcado por secas e o trabalhador rural sem opção, ofertava mão-de-obra barata que o empobrecia e enriquecia cada vez mais o seu patrão. A única saída dessa situação era entregar-se a fé proclamada pelo messianismo religioso com a esperança de dias melhores ou ao cangaço. É nesse cenário de miséria e pobreza que surgem figuras messiânicas como Antônio Conselheiro e José Lourenço.

No caso dessa comunidade religiosa, que assim como Canudos, incomodou os coronéis da região, que exigiram providências do governo Getúlio Vargas. Havia o medo que o beato José Lourenço se transformasse em um novo Antônio Conselheiro. O Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, localizada no município de Crato, Cariri Cearense era uma comunidade – que chegou a ter mais de duas mil pessoas – liderada pelo beato José Lourenço, descendente de negros alforriados e discípulo de Padre Cícero, que ousou desafiar o poder dos latifundiários. 

Ele propôs um sistema de trabalho coletivo e divisão dos lucros para a compra de remédios e querosene, que alimentava as lamparinas em um tempo em que ainda não havia luz elétrica. Além disso, acolhia os flagelados da seca de 1932, que assolou o Nordeste.

Os jornais - sempre eles -, iniciaram uma campanha de denúncias contra a comunidade, acusando-os de profanos e fanáticos. 


Em 1936, o Caldeirão foi invadido pelas tropas do tenente José Góis de Campos Barros que, com muita violência e excesso, expulsaram todos os moradores, saquearam e destruíram o sítio.


José Lourenço conseguiu fugir, se refugiando na Serra do Araripe com outros camponeses.

José Lourenço 
Severino Tavares, membro da comunidade, foi preso, mas jurou vingança. Dito e feito: quando saiu da prisão, juntou alguns ex-moradores do Caldeirão e atacou as tropas comandadas pelo capitão José Bezerra. Isso foi o estopim para o conflito. Em 1937, tropas de todo o estado foram enviadas para a serra do Araripe e até aviões foram usados para bombardear a Serra. O número de mortos é estimado entre 700 a 1000 camponeses.


José Lourenço conseguiu escapar do bombardeio e, após muitas negociações, voltou para o Caldeirão. Mas não ficou muito tempo, os padres salesianos o expulsaram e ele foi morar em Exu, Pernambuco, onde faleceu em 1946, vítima da peste bubônica.


O documentário O Caldeirão de Santa Cruz do Deserto (1985, 96 minutos), de Rosemberg Cariry, conta a história a partir de depoimentos dos remanescentes e dos símbolos da cultura popular.


O massacre do Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, que o Brasil - O Brasil elitista, não viu.


Comunidade religiosa liderada pelo beato José Lourenço, dividia produção e lucros. Foram acusados de comunistas, e massacrados pelas forças militares em 1937.


A comunidade religiosa do Caldeirão, liderada pelo beato José Lourenço, descendente de negros alforriados e discípulo de Padre Cícero, ousou desafiar o poder do latifúndio e propor uma sociedade mais justa e humanitária, mas foi brutalmente reprimida pelas forças do estado. O Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, no município de Crato, Cariri Cearense, era composto por milhares de camponeses e romeiros que vivam na comunidade, trabalhavam coletivamente e dividiam o lucro com a compra de remédios e querosene.

Ela chegou a ter mais de mil moradores e recebeu flagelados da seca de 1932 que assolou o nordeste.

Foram bombardeados pelas forças do Governo Federal e da Polícia Militar do Ceará e enterrados em vala comum. O episódio pode ter sido o maior massacre da história brasileira, com mais de mil mortos.

Hoje, oitenta anos depois, os corpos dos romeiros ainda não foram encontrados e não existe um documento oficial que registre o acontecimento. O exército nega o massacre.

Em 2008, a ONG cearense SOS Direitos Humanos entrou com um pedido na justiça pedindo a procura, identificação, enterro digno e indenização dos descendentes dos mortos no Caldeirão.

A ação foi arquivada, mas a ONG pediu novas buscas à Justiça. Sempre a justiça também. Lenta e abusiva, deixando sempre para traz feridas abertas, que demoram a curar.