Artigos Variados

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Missão Velha Cariri Cangaço 2015

Nessa aprazível cidade de Missão Velha, no meu Ceará querido e amado, fomos recebidos carinhosamente por esse povo hospitaleiro e amigo. Nesse pequeno documentário, registro a visita dos estudiosos do nordeste, envolvidos em pesquisas com suas histórias, conhecidos por fazerem parte de uma confraria chamada de CARIRI CANGAÇO.



terça-feira, 29 de setembro de 2015

Invasão a Lavras da Mangabeira-CE em 1910

Nesse itinerário de visitas guiadas, tivemos o formidável privilégio de ouvirmos o Professor e também confrade, ‎João Tavares Calixto Júnior, nos guiando pelo percurso da invasão feita por Quinco Vasques, a Lavras da Mangabeira-CE no ano de 1910 e juntamente com os participantes desse grandioso evento, efetuarmos uma verdadeira procissão histórica nas ruas dessa bonita e agradável cidade de Lavras da Mangabeira.



Por ocasião dessa visita também estivemos com o Prefeito dessa cidade que nos convidou para fazer uma visita à Prefeitura e nos recebeu em seu gabinete onde nos falou da saga de sua família.





segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Juazeiro do Padre Cícero

Estive recentemente em Juazeiro do Norte, terra do Padre Cícero, para um evento da Organização de Estudos Cariri Cangaço, onde foram abordados temas sobre os Coronéis do Sertão e Padre Cícero. Aproveitei e fiz esse pequeno documentário que dedico aos amigos.

domingo, 20 de setembro de 2015

Castigá o sertão


Imagine seu mininu

Ponha asa em seu juízo
Aprumodi escutá
Essa estora diferenti
Qui se deu no Ciará


Uma fera terrorizanti
Vêi andando para cá
Pr'essa terra donde Santo
Quiz rezar e quiz morá 


Juazêro, Juazêro
Padim Ciço é o sertão
O sertão é Padim Ciço
Qui recebeu o Lampião


Lampião ajuelhô
Abença meu Padim
Que seus pecados perdoô
Dizendo meu filhim
Cê agora é Capitão
E Deus por linha torta
Vai castigá o sertão
Qui de tanta mardade
Desdi a tenra idade               
O sol istrupiô
Os cardêro do dizerto
Coroado de vrumelho
Era o siná qui no sertão
A terra iria ficá um candiêro
Pois inté di noite ia esquentar
Era Lampião quando enfezado
Botava pra correr as pessoa
Que rezavo pru mode num morrê
E gritavo, Padim Ciço venha nos valê.

sábado, 19 de setembro de 2015

ALMAS DE LAMA E DE AÇO

Um dos mais importantes membros da Academia Brasileira de Letras, foi sem dúvida o cearense Gustavo Barroso. Escritor exímio, historiador do Brasil desde a invasão portuguesa, tem uma longa lista de criações, observando-se as variedades de gêneros que demonstra a sua grandeza intelectual, traz-nos uma contribuição valiosa para nossos dias que é a questão da violência que toda nossa sociedade atual sofre. 

Ao ler esse trecho de sua obra ALMAS DE LAMA E DE AÇO, encontramos sua crítica aos governos que combatem o banditismo e nos mostra a fria face da repressão, não como sendo a solução desses problemas, mas necessário.

Deixarei aos leitores que o próprio GUSTAVO BARROSO explique essa questão, que viveu e participou como membro atuante de governos. Apenas quando você amigo leitor, estiver lendo, procure transportar as palavras para serem aplicadas em nossos dias.

Abaixo, apenas um pedacinho de seus pensamentos:

Nossos governos ainda não olharam como deviam para a questão do cangaceirismo. Os governichos estaduais, entregues a inteligências estaduais, a homens incultos, politiqueiros, pretenciosos ou vis, na maioria não têm olhos capazes de encarar o fenômeno sob o seu verdadeiro aspecto. Alguns, fracos ou maus, ajudam-no a propagar-se, porque se apoiam nos protetores de cangaceiros, os chefes políticos do sertão. O Brasil já viu o próprio governo federal incitar dos bastidores a famosa revolução do Juazeiro, que levou as bordas do padre Cícero, do Cariri à capital do Ceará, determinando uma intervenção a posteriori do poder central. Dos políticos cearenses da agremiação partidária que isso interessava no momento fui o único que se manifestou contra esse crime. Fiz parte do governo que sucedeu a essa intervenção como Secretário do Interior, convidado pelo presidente Benjamim Barroso, alheio por sua vez ao movimento sedicioso.

Certas administrações fortes e bem intencionadas, mas de pouco saber, entendem que a repressão policial dá cabo dos cangaceiros e iludem-se com os bons resultados aparente e passageiro. Castigam alguns potentados locais que os protegem. Destroem sem núcleos. Perseguem seus bandos. Metem na cova ou na cadeia seus chefes. E no sertão tranquilo, durante algum tempo. Não se ouve mais falar num único bandoleiro. Parece que a raça se acabou para sempre. Nada menos verdadeiro. Esfriada aquela ação enérgica ou violenta, que dura pouco em razão da própria violência, o cangaceiro reaparece. 

Desde o período colonial do capitão-mor João Carlos de Oyenhausen e Crevenburgo, que os prendia pessoalmente e os remetia a ferros para o Limoeiro de Lisboa, no porão dos barcos, que o sertão atravessa épocas de pleno banditismo, em que os Antonios Silvinos e os Lampeões dão leis, e de calma superficial como a do governo de que participei. 

Entretanto, essa rotatividade de eras mansas e agitadas não fez, no correr dos séculos diminuir a extensão e intensidade das manifestações notórias do fenômeno. São a, mesmas hoje que ontem, com Jesuíno Brilhante, e outrora, com os Montes e Feitosas, guelfos e gibelinos duma politica pessoal e primitiva. Leia-se o depoimento de Henry Koster, no começo século XIX, manuseiem-se outros documentos mais antigos e mais modernos— verificar-se, que tenho inteira razão. Sendo o banditismo o resultado de uma energia bárbara e sem direção, não pôde ser vencido por outra energia bárbara e também sem direção. As polícias lançadas contra os cangaceiros são geralmente piores que eles e tais violências praticam que o sertanejo pacífico contra elas se revolta e prefere acoutar os criminosos que a desafiam. 

É necessário e urgente dar trabalho organizado às populações do interior nordestino, dar-lhes onde, como e em que empregar suas energias. Para isso saneie-se o sertão, captem-se as águas fugidias e irriguem-se as terras ferazes que a seca torna inúteis. O problema é antes de tudo, talvez, de natureza econômica. Desce-lhes comunicações, transportes, instrução e justiça, somente um conjunto dessa ordem acabará de vez com os cangaceiros, produtos de uma causalidade complexa que unicamente uma serie complexa de providências poderá extinguir. 
A boa distribuição da justiça é uma das principais delas. Em oitenta por cento dos casos, o bandido começou sua criminosa carreira por vindita. E esta só prolifera onde o homem sabe que não conta com a ação do policial e do magistrado e da honestidade da administração e a seriedade da justiça.

domingo, 13 de setembro de 2015

Entre juízes, posturas ideológicas são repudiadas pela comunidade jurídica e pela opinião pública, que vê nelas um risco à democracia

Ricardo Lewandowski


Judicatura e dever de recato


RICARDO LEWANDOWSKI
É antigo nos meios forenses o adágio segundo o qual juiz só fala nos autos. A circunspecção e discrição sempre foram consideradas qualidades intrínsecas dos bons magistrados, ao passo que a loquacidade e o exibicionismo eram –e continuam sendo– vistos com desconfiança, quando não objeto de franca repulsa por parte de colegas, advogados, membros do Ministério Público e jurisdicionados.
A verbosidade de integrantes do Poder Judiciário, fora dos lindes processuais, de há muito é tida como comportamento incompatível com a autocontenção e austeridade que a função exige.
O recato, a moderação e mesmo a modéstia são virtudes que a sociedade espera dessa categoria especial de servidores públicos aos quais atribuiu o grave múnus de decidir sobre a vida, a liberdade, o patrimônio e a reputação das pessoas, conferindo-lhes as prerrogativas constitucionais da vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos para que possam exercê-lo com total independência.
O Código de Ética da Magistratura, consubstanciado na Resolução 60, de 2008, do Conselho Nacional de Justiça, consigna, logo em seu artigo 1º, que os juízes devem portar-se com imparcialidade, cortesia, diligência, integridade, dignidade, honra, prudência e decoro.
A incontinência verbal pode configurar desde uma simples falta disciplinar até um ilícito criminal, apenada, em casos extremos, com a perda do cargo, sem prejuízo de outras sanções cabíveis.
A Lei Complementar nº 35, de 1979, estabelece, no artigo 36, inciso III, que não é licito aos juízes "manifestar, por qualquer meio de comunicação, opinião sobre processo pendente de julgamento, seu ou de outrem, ou juízo depreciativo sobre despachos, votos ou sentenças de órgãos judiciais, ressalvada a crítica nos autos ou em obras técnicas ou no exercício do magistério".
O prejulgamento de uma causa ou a manifestação extemporânea de inclinação subjetiva acerca de decisão futura, nos termos do artigo 135, V, do Código de Processo Civil, caracteriza a suspeição ou parcialidade do magistrado, que permitem afastá-lo da causa por demonstrar interesse no julgamento em favor de alguma das partes.
Por mais poder que detenham, os juízes não constituem agentes políticos, porquanto carecem do sopro legitimador do sufrágio popular. E, embora não sejam meros aplicadores mecânicos da lei, dada a ampla discricionariedade que possuem para interpretá-la, não lhes é dado inovar no ordenamento jurídico.
Tampouco é permitido que proponham alterações legislativas, sugiram medidas administrativas ou alvitrem mudanças nos costumes, salvo se o fizerem em sede estritamente acadêmica ou como integrantes de comissões técnicas.
Em países civilizados, dentre eles o Brasil, proíbe-se que exerçam atividades político-partidárias, as quais são reservadas àqueles eleitos pelo voto direto, secreto e universal e periódico. Essa vedação encontra-se no artigo 95, parágrafo único, inciso III, da Constituição.
Com isso, não só se impede sua filiação a partidos como também que expressem publicamente as respectivas preferências políticas. Tal interdição mostra-se ainda mais acertada porque os magistrados desempenham, ao par de suas relevantes atribuições, a delicada tarefa de arbitrar disputas eleitorais.
O protagonismo extramuros, criticável em qualquer circunstância, torna-se ainda mais nefasto quando tem o potencial de cercear direitos fundamentais, favorecer correntes políticas, provocar abalos na economia ou desestabilizar as instituições, ainda que inspirado na melhor das intenções.
Por isso, posturas extravagantes ou ideologicamente matizadas são repudiadas pela comunidade jurídica, bem assim pela opinião pública esclarecida, que enxerga nelas um grave risco à democracia.

sábado, 12 de setembro de 2015

'QUEDA DE DILMA SERIA FRACASSO DO PROJETO REPUBLICANO'


Jornalista e escritor Marcelo Rubens Paiva escreve em sua coluna deste sábado 12 que "muita gente festejará a queda de Dilma, como uma vitória da democracia. Mas deveria lamentar o nosso fracasso de projeto republicano"

"Dilma não é Jango. O primeiro foi deposto pela mira de canhões por um golpe de Estado. A segunda pode ser deposta por instituições democráticas que seu poder sustenta: ações do Tribunal Superior Eleitoral e do Tribunal de Contas da União, que justificariam um pedido de impeachment ao Congresso. Tropas e tanques, dispensados.

Poder Legislativo e Judiciário, com a implosão do Executivo, a destronariam. Sua baixa popularidade é uma aliada que cria rachas por todo lado. Num infeliz (ou bem calculado) comentário, Michel Temer, vice-presidente, lembra Francis Underwood, protagonista de House of Card, que colabora para enfraquecer a presidência. 

Dilma deve saber, porque até eu sei por conversas aqui e ali com fontes bem informadas e boêmias: Temer nega a intriga, mas passou agosto visitando empresas de comunicações e federações empresariais, apresentando suas credenciais; o PSDB já prometeu a primeira valsa; o segundo escalão do TCU, o técnico, ameaça um motim caso o primeiro escalão, o político, não condene as contas de Dilma, como manda a cartilha.

Gilmar Mendes, do STF e TSE, já partiu para a grosseria ao classificar o arquivamento do pedido de investigação da campanha de Dilma, do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, como “ridículo”, que “vai de infantil a pueril”. Janot voltou atrás e aceitou a denúncia.

O racha no Brasil de Jango era parte de um complô da guerra fria. A ameaça comunista, as Reformas de Base, que tocavam em pontos sensíveis do capitalismo, como reforma agrária e controle de remessa de lucros, a radicalização do discurso e motins de soldados e marinheiros uniram partidos da oposição, a Igreja, órgãos de imprensa, políticos populares e as Forças Armadas, que já tinham tentado um golpe anos antes, para impedir a posse de Juscelino.

Em pesquisa secreta do Ibope, feita na véspera do movimento militar de 1964 em três cidades paulistas de diferentes portes (São Paulo, Araraquara e Avaí), encomendada pela Federação do Comércio do Estado de São Paulo, diferentemente de Dilma, Jango tinha apoio popular: 45% consideravam seu governo ótimo ou bom, 24% regular, e 16% mau ou péssimo.
Noutra pesquisa de eleitores de oito capitais, feita em março de 64 pelo Ibope e também engavetada, descoberta recentemente em arquivo da Unicamp, 49,8% admitiam votar em Jango se ele pudesse se candidatar à reeleição, o que não era permitido pela Constituição em vigor.

Márcia Cavallari, diretora do Ibope, disse que os critérios aplicados na pesquisa da década de 60 são semelhantes às recentes, como a encomendada pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) e divulgada em julho, que apontou que a avaliação do governo Dilma é de apenas 9% como ótimo ou bom, 21% regular, e 68% ruim ou péssimo. 

Se Jango tinha 45% de aprovação, Dilma tem 9%. Mas a inflação de Jango era aterrorizante: chegou a 23% no primeiro trimestre de 1963, e a variação em 12 meses acelerou de 45,6% em dezembro de 1962 para 69,9% em março de 1963. 

A crise política e com o mercado externo e FMI detonou o Plano Trienal de Jango. A inflação fechou em 1963 encostando em 80%, bem pior que a de Dilma. Mas a taxa de crescimento do PIB era um pouco melhor: caiu de 6,6% em 1962 para 0,6% em 1963.

Jango e seu PTB foram depostos em horas, com o racha de base aliada, o PSD. Dilma e o PT vêm a base aliada rachar, mas sem a ameaça de intervenção militar e a menor possibilidade de um golpe de Estado, já que as instituições democráticas estão preservadas, oposição envolvida nos mesmos escândalos de corrupção, que provam a falência do sistema partidário e das regras políticas em vigor.
Um paradoxo interessante explica o Golpe de 1964. 

A popularidade de Jango teria sido decisiva para a sua deposição pela força, já que as frentes políticas adversárias não se sentiam encorajadas: em outra pesquisa engavetada pelo Ibope, 59% dos entrevistados eram a favor das medidas anunciadas em 13 de março de 64 no comício da Central do Brasil por Jango, as que desencadearam o golpe. 
Porém, os movimentos sociais pouco fizeram para impedir o desmantelamento do governo. Uma Greve Geral convocada pelas Centrais Sindicais e pela UNE em 1.º de abril atrapalhou mais do que ajudou.

Tropas marcharam sem encontrar resistência, o que surpreendeu o próprio governo deposto.
É impensável calcular como os movimentos sociais ligados ao PT e partidos de esquerda, movimentos sindicais, CUT, sem-teto e sem-terra, mercado externo, acionistas, EUA, FMI, ONU, OEA, Mercosul reagiriam no caso de um impeachment, sintoma da instabilidade da República brasileira, que raramente vê um presidente cumprir o prazo designado pelo voto.

Deodoro da Fonseca ficou dois anos e foi forçado a renunciar na Revolta da Armada, depois de destituir o Legislativo. Floriano e Afonso Pena, que morreu antes de completar o mandato, ficaram só três anos. Rodrigo Alves, como Tancredo Neves, morreu antes de tomar posse. 

Washington Luís foi deposto pela Revolução de 1930, e seu sucessor eleito, Júlio Prestes, não tomou posse. Dutra ficou cinco anos, como Sarney. Getúlio entrou para a história e deu um tiro no peito. Café Filho foi afastado por motivo de saúde e ficou um ano. Carlos Luz, seu sucessor, foi deposto, e JK assumiu antes. 
Jânio Quadros viu forças ocultas e renunciou dois anos depois de ter sido eleito. Jango foi deposto, Collor, impeachado. FHC era para ficar quatro anos, ficou oito. E Dilma... 

Cumpre a sina da maldição presidencial do nosso doente processo representativo. E já tentamos de tudo: mandato de quatro anos, de cinco, de quatro com reeleição, vice eleito de outra chapa, junta militar provisória, parlamentarismo (em dois plebiscitos rejeitados), até monarquia, ironicamente, o governo mais estável da nossa história.

Muita gente festejará a queda de Dilma, como uma vitória da democracia. Mas deveria lamentar o nosso fracasso de projeto republicano."

DITADURA - Novamente nunca!

A história está a disposição para se ver em que dá essa postura. Não precisamos ir ao exterior e lermos a história de outros países. Basta a nossa. Leiam sobre a perseguição, tortura e morte aos comunistas nos tempos da ditadura Vargas e da ditadura dos militares a partir de 1964. Todos sofremos. Bastava que um vizinho não gostasse do outro e o denunciasse como comunista. Agora a bola da vez são os petistas. A intolerância transforma o ser humano em um monstro e o faz perverso e mau. Na intolerância o ser humano despe-se de sua educação humanitária e mostra que não avançou espiritualmente (não se trata de religião essa colocação). Os grandes culpados são os que, sabendo como se manipula mentes atrasadas, fazem que pensem que o bom é mal e que o mal é bom e isso se dá por uma constante propaganda em meios noticiosos. Os culpados disso que está novamente acontecendo são os políticos ladrões que enfurecidos por não estarem mais no poder de fato, usam seu poder financeiro para tentarem barrar os avanços da sociedade que deseja viver em harmonia. FHC se mostra um anti-democrata poltrão que incita seu pelotão de marginais que estão sendo denunciados por falcatruas e ele próprio sendo o testa de ferro para a elite acostumada a mamar nos peitos da viúva (Governo Federal), que agora está casada e bem casada com homens e mulheres de bem e combatendo a corrupção inclusive em seu meio.

Vejam esse artigo:

Estudiosa do Bolsa Família denuncia agressão de vizinho anti-petista

Há mais de um ano, a família da socióloga Walquiria Leão Rego sofre perseguição por “votar no PT”. Hoje, segundo ela, sua filha quase foi atropelada. "A mídia criou um ambiente de ódio semelhante ao que fizeram no nazismo", disse ao GGN
Jornal GGN - Desde que a presidente Dilma Rousseff foi reeleita, o clima de terceiro turno em algumas capitais do País foi levado ao extremo. Ministros e ex-ministros foram e são hostilizados nas ruas; sedes do PT, atacadas, e militantes ou simpatizantes da legenda são humilhados, muitas vezes, sem reação. A socióloga Walquiria Leão Rego, autora do livro “Vozes do Bolsa Família”, dentre outros títulos, se encaixa nesta última categoria. Até que a segurança pessoal de sua filha foi colocada em risco e ela decidiu recorrer à polícia.
Na tarde desta sexta-feira (11), enquanto aguardava atendimento no 23º Distrito Policial de Perdizes, na capital paulista, Walquiria relatou ao GGN o drama que vive com frequência há mais de um ano, por causa de um morador do apartamento um andar abaixo ao seu, no bairro nobre de São Paulo - região onde ocorrem os famosos panelaços contra o governo.
Segundo a socióloga, o vizinho nunca escondeu sua aversão à gestão petista. Mas há algumas semanas, ele "deixou de se contentar em apenas bater panela” e partiu para a provocação. Nas últimas passagens de Dilma na televisão, “ele pegava um pedaço de pau e batia no teto, colocava a cabeça para fora da janela e gritava palavrões.”
No protesto agendado por grupos contrários à permanência de Dilma no poder, que ocorreu em 16 de agosto, o morador destemperado agrediu verbalmente o marido de Walquíria. “Ele (o vizinho) e sua mulher estavam aguardando o elevador, e quando meu marido saiu, passou a ser ofendido. Ele gritava que meu marido era corrupto, ladrão, e ‘Fora PT’. Tudo isso foi gravado pelas câmeras internas, mas o porteiro me informou que preciso de um técnico para recuperar as imagens, que não foram arquivadas.”
Segundo Walquiria, seu marido saiu do elevador e, na medida em que o vizinho continuava gritando, apenas respondeu: “O senhor me respeite, que eu não falo com o senhor.” E ouviu em retorno: “Eu não respeito petista, ladrão, corrupto.”
Após o episódio, a síndica do condomínio foi procurada. Walquiria ficou em dúvida sobre fazer um Boletim de Ocorrência, mas rapidamente foi dissuadida, “porque não ia pegar bem para o prédio envolver a polícia em briga de vizinhos.” Ela, então, tentou conversar com a esposa do agressor, “na expectativa dela dizer que ele tem problemas mentais que justificam aquela postura.” Mas a esposa não quis conversa.
Nesta sexta-feira (11), a filha de Walquiria, uma historiadora na casa dos 40, mãe de um menino, estacionava o carro próximo à portaria do prédio da mãe - conhecida pelo trabalho como pesquisadora da Unicamp e pelo livro do Bolsa Família - quando o vizinho anti-petista surgiu.
“Minha filha ficou olhando, pois já sabia como ele é e tinha medo dele. Ele não gostou e ficou perguntado ‘Tá olhando o quê? Tá olhando o quê, filha da puta?’, e fez gestos obscenos com o dedo da mão. Minha filha decidiu pegar o celular e disse para ele repetir o gesto, que ela iria gravar. Foi quando ele entrou no carro e deu ré, jogando o carro na direção dela. Ela chegou em casa me relatando isso aos prantos", disse Walquíria.
As imagens, mais uma vez, foram registradas pelas câmaras de segurança do condomínio. O relato do responsável pela portaria à socióloga dá conta de que "o vizinho acelerou tanto que se houvesse crianças no trajeto que ele fez para deixar o prédio, elas seriam atropeladas". "Ele (o porteiro) já presenciou tantas cenas desse vizinho que tenho certeza que deve estar com medo de dizer algo contra ele, agora”, comentou.
Walquiria, que ironicamente já deu muitas entrevistas abordando o preconceito e ataques sem fundamento a programas criados pelo PT para ajudar a parcela mais pobre da população, disse que depois da série de insultos à família e à investida perigosa do vizinho contra a filha, decidiu fazer um B.O. 
“Mas a gente vem para a delegacia com aquela cara que você pode imaginar, de petista que vai ouvir de delegado ou outro agente que foi bem feito, que a gente tem que sofrer mesmo. É o que acontece hoje. A mídia criou um ambiente de ódio semelhante ao que fizeram no nazismo. As pessoas estão fora de controle e acham que podem agredir ou até matar um petista sem que ninguém faça nada. E se ninguém do nosso lado fizer nada, é isso o que vai acontecer”, avaliou.
Ela ainda contou que o vizinho foi avisado sobre a iniciativa de Walquiria e se dirigiu à delegacia para justificar sua postura. "Ele disse que tem problemas com os barulhos que meus netos fazem no apartamento, o que é uma mentira, porque eu só tenho um, e ele sequer mora comigo."

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Vulpiano Cavalcanti de Araujo


Quando Dr. Vulpiano e sua esposa, Ângela, vinham à nossa casa em Fortaleza, era uma alegria para todos. Como gostávamos desse médico e amigo de meus pais. À medida que íamos crescendo ouvíamos as estórias contadas por nossa mãe sobre esse grande homem e a admiração crescia mais ainda. 


O carisma dele era grande demais e em sua presença sentíamos sua importância. Era um anjo em visita a terra para ajudar aos menos amparados e sua saúde. Como todo servo de Deus na terra, as forças demoníacas de uma ditadura o perseguiam pois era bom demais e isso eles não suportam em um democrata.

As estórias de perseguição sofrida por esse grande amigo, nos deixavam tristes. Era perseguido por ser comunista, por querer uma sociedade mais justa, por disseminar uma ideologia que até os dias de hoje alguns não compreendem, ou por fazerem parte da massa humana que não se importa com seu próximo ou por serem da mesma natureza de seus algozes.

Contava-nos nossa mãe, que ele era um médico que auxiliava aos pobres. Certa vez, operando um paciente, as forças repressoras da ditadura chegaram para prende-lo. Ele saiu calmamente da sala de cirurgia, e conversou com o comandante da patrulha para que tivessem apenas um pouco de paciência enquanto concluía a operação e fechava o paciente, para que esse sobrevivesse.

Ao ser levado para a prisão, o torturavam, batiam-lhe principalmente nas mãos para que não exercesse mais seu mister de cirurgião. O colocavam em cubículo minúsculo e ali dentro perpetravam torturas tais como colocar em sua cabeça um balde debaixo de uma torneira que pingava no flandre para faze-lo enlouquecer. 

Abaixo lhes mostro alguns artigos daqueles que admiravam esse grande médico, por sua postura política, pelo seu caráter e pelo seu humanitarismo. Era um guerreiro do tempo. Tinha nascido para ajudar as pessoas. Nunca foi homem rico, mesmo sendo um dos grandes cirurgiões de seu tempo.

Memória Viva com Vulpiano Cavalcanti [Dr. Vulpiano] nos conta mais:

Carlos Lyra – Dr. Vulpiano, desculpe a ingenuidade, mas numa cela em que não podia ficar em pé, ou deitado, você teve algum instante de tranquilidade, de apoio?

Dr. Vulpiano – Nenhum, nada. Aliás, tinha um pássaro canoro que, ao amanhecer do dia, me lembrava, pela harmonia de seu canto, três notas do segundo movimento de uma sonata de Beethoven. {Sonata 21, opus 53].


Salinas de Macau - RN (autor não identificado)
Dr. Vulpiano em Macau – Vulpiano Cavalcanti, médico vinha a Macau nas décadas de 40 e 50 curar enfermos e plantar sementes da democracia. Na entrevista que fizemos com o militante político Zé de Damiana [janeiro de 2010], ele narrou um fato da presença marcante desse brasileiro especial. Dr. Vulpiano não cobrava pelo atendimento médico. Ele ficava hospedado numa pensão na Praça da Conceição e dali saía para atender os doentes e para as reuniões com os trabalhadores. Uma noite, em reunião debatiam as condições precárias da vida dos trabalhadores em Macau quando vieram chamar Dr. Vulpiano para socorrer um homem que passava mal. O homem era um conhecido “dedo duro” que vivia denunciando os trabalhadores à polícia. Dr. Vulpiano ouviu o que os companheiros disseram sobre o homem e falou para todos no mais puro espírito cristão: – É nosso irmão e precisa de ajuda! E virando para Zé de Damiana o mais exaltado, disse-lhe: E você vai como meu assistente! Na casa do enfermo, este, depois da dor cessada, apelou que Dr. Vulpiano atendesse sua filha que sofria há muitos dias com o seio inflamado. Ela estava amamentando e sofria ela e sua filhinha recém nascida. Dr. Vulpiano prontamente atendeu a mulher, acabando com a dor e o seu sofrimento. Dias depois, ambos estavam curados. E os trabalhadores de Macau aprendiam mais um ensinamento com Dr. Vulpiano: a solidariedade. - de Claudio Guerra para o baú de Macau



A publicação foi da Editora Universitária – UFRN e Nossa Editora. Os que trabalharam na edição foram: Maria de Fátima Pacheco F. Negreiros que fez a composição; Carlos José Soares, a diagramação; Angela Carreras Simões, a montagem e Francisco Nivaldo Mendes a impressão. A entrevista – novembro de 1983 – foi para o jornalista Carlos Lyra. Um texto introdutório lavrado pelo jornalista Vicente Serejo em agosto de 1986, encerra com o parágrafo: A entrevista que os leitores terão a partir de agora é um documento. Construído pela sensibilidade de Carlos Lyra no ofício da indagação. E onde Vulpiano Cavalcanti, entregando-se por inteiro à sua verdade, ergue, palavra por palavra, a sua grande história, que ele conta olhando a História de frente, olhos nos olhos, frente à frente, com a certeza de sua inenarrável condição humana: a paixão de ter sido sempre o que é.




Vulpiano Cavalcânti: Um brasileiro nos mostra mais a a respeito desse grande homem:

Nascido em Fortaleza, no dia 15 de março de 1911, este mês completa 102 anos do seu nascimento. Seu nome: Vulpiano Cavalcânti de Araújo.

Homem de ideal socialista, formou-se em medicina no Rio de Janeiro, logo volta ao Ceará, atua como médico na cidade de Redenção. Naquele município começa sua atuação profissional, desde cedo dedicada ao atendimento de todas e todos, sem discriminação, marca de um profissional humanista, formado na base solidária.

Naquela época, já militante do Partido Comunista, enfrentou os velhos coronéis, denunciando a situação de exploração vivida pelo povo cearense, fruto da desigualdade social, uma sociedade marcada pela grande concentração de terras. O médico humanista vivencia as agruras do homem do campo nordestino.

Militante defensor de um mundo mais justo, pautou sua vida profissional na luta intransigente pelo direito de todos a uma saúde gratuita e de qualidade. Seus embates políticos no Ceará, o fará procurar outros lugares. Encontra então, a cidade de Mossoró, chega a cem terras Potiguares a convite do ex prefeito Duarte Filho.

Na capital do oeste potiguar Vulpiano Cavalcânti participa com Evaristo Nogueira, Joel Paulista, Antônio Tenório, Jonas Reginaldo Fernandes, Manoel Torquato, Chico Guilherme, José Moreira e Lourival Góis. Companheiros de ideais, atuam na organização do Partido Comunista, mesmo na clandestinidade.

Na terra de Santa Luzia sofreu sua primeira prisão no Rio Grande do Norte. Preso, foi transferido para Natal em um avião, durante toda a viagem sofreu diversas ameaças. Seu crime: atender bem seus pacientes. Médico-cirurgião, foi responsável por diversos casos bem-sucedidos registrados nos anais da medicina norte-riograndense.

Meu caro leitor, falar de Dr. Vulpiano é fazer uma referência ao médico, ao homem, ao militante social, aquele que não aceitou como natural as injustiças praticadas contra as camadas sofridas do povo brasileiro.

Em Memória Viva, Dr. Vulpiano relata um dos atos mais deploráveis praticados nas dependências de uma unidade militar. A Base Aérea de Natal, símbolo de combate as forças nazifascistas,  Natal cidade Trampolim da Vitória, teve sua história manchada pela dor e o sofrimento de um homem do bem.

O Dr. Vulpiano Cavalcânti, em seu relato ao jornalista Carlos Lyra, denuncia uma corja de covardes transvestidos de oficiais da aeronáutica.

Vejamos alguns trechos:

“Despido, fui espancado por eles a socos, pontapés e cassetetes de borracha. Tudo isso na presença do cel. Ferraz Koller, comandante da base. Foi a prisão mais dolorosa, mais torturada que passei”.

“Depois desse introito, fui jogado numa cela de quatro palmos de largura por sete palmos de altura, fechada a chapa de ferro [...] A maior ventilação que recebia era deitado, porque embaixo tinha algum ar nessa porta [...] Nessa prisão eu respirava, também, pelo teto, por um pequeno buraco, que servia para o tenente Câmara urinar, acertando sempre na minha face. Urina e fezes”.

É meu caro amigo leitor, estamos nos referindo a década de 1950, volto a repetir, em uma unidade militar nascida do esforço de guerra contra o autoritarismo. Natal conhecida por sua tradição na aviação aérea, tem infelizmente, a marca da insensatez praticada em nome de um poder que falava em liberdade do outro lado do Atlântico, enquanto  do lado de cá dos trópicos muitos eram torturados nos cárceres da Base Aérea de Natal.

A sociedade Potiguar, a sociedade Brasileira, tem o direito à verdade. Esperemos que saiam das trevas as violações dos Direitos Humanos praticados por aqueles que deveriam defender as garantias constitucionais dos cidadãos brasileiros.

Que a Comissão da Verdade resgate a história de Dr. Vulpiano: um brasileiro!


Dr. Vulpiano
Capistrano: O centenário de um bravo comunista artigo de Antonio Capistrano que foi reitor da UERN nos brinda com mais memórias sobre esse grande Brasileiro:

Vulpiano Cavalcanti de Araujo ou simplesmente, Doutor Vulpiano, um bravo comunista, nasceu na capital cearense no dia 15 de março de 1911, portando, no dia 15 de março de 2011 completa 100 anos do seu nascimento.

Quem conheceu doutor Vulpiano sabe da extraordinária figura humana que ele era. Pontificou na atividade médica e na militância político. Foi um bravo comunista e um grande médico. Como a maioria dos comunistas era humanista por principio.

Doutor Vulpiano estudou medicina no Rio de Janeiro, onde se formou. No final dos anos 30, já formado e ligado ao PC, veio residir no Rio Grande do Norte, passando a clinicar nos sindicados operários em Mossoró, Macau e Areia Branca, onde marcou a sua presença como competente profissional da medicina, depois se fixou em Natal.

Tive o privilegio de conhecê-lo, de ir, diversas vezes, ao seu consultório na Avenida Rio Branco, no mesmo prédio onde funcionava a Casa Rio, pertinho da Livraria Universitária. Participei com ele de diversas reuniões do Partido. Lembro de uma dessas reuniões, em plena ditadura militar, 1971, saí de Natal em um Volks, fui encapuzado para não saber o caminho nem o local do encontro, questão de segurança, atitude comum na época. Muitos anos depois tomei conhecimento do local da reunião, foi em Ceará Mirim, em um sitio de Oswaldo Guedes, outra grande figura do PC.

Doutor Vulpiano era um homem alegre, espirituoso, brincalhão. Apesar de toda a perseguição sofrida e das medievais sessões de tortura a que foi submetido nas muitas prisões que sofreu, era um homem sem ressentimentos. Ele era maçom.

O professor Moacyr de Góes, amigo e companheiro de prisão de Vulpiano, no livro “Sem Paisagem: Memórias da Prisão” – Sebo Vermelho, 2004, pág. 76 - faz um belo relato sobre a figura de Vulpiano Cavalcanti. Peço permissão à professora Maria Conceição Pinto de Góes, viúva e companheira de luta de Moacyr de Góes, para transcrever-lo nesse singelo registro do centenário de nascimento desse bravo comunista e grande médico. Vamos ao relato de Moacyr de Góes:

Vulpiano

Na primeira semana de prisão aprendi que o Coletivo tinha um decano, um guia, uma mão que orientava. Não precisava haver eleição. A liderança emergia como flui um rio, natural como a mudança do vento, quando chegam as barras do dia.

Seu ânimo, de uma alegria de criança, colocava o astral lá em cima. Do seu conhecimento de História e do marxismo brotava uma tranqüilidade e transpirava segurança para ensinar sobre o papel que desempenhávamos naquela prisão.

Construíra a vida sem dissociar a prática da teoria. Pelo contrario: uma, retroalimentava a outra. Por isso, sua segurança. A experiência de uma dezenas de Cáceres anteriores (o crime, um só: ser comunista) fazia com que o seu gesto fosse sempre tranquilo. A palavra mansa não frouxa. Pelo contrário: dura como aço, sem fazer concessões, na hora precisa. Tudo, porém, num quadro de bondade humana. A solidariedade, como nunca vi superada.

Com ele aprendi a ver o papel do comunista na sociedade. Sem proselitismo, sem doutrinações, ele narrava a vida do Partido e também a sua vida: as duas coisas se confundiam, na maioria das vezes.

A alegria de viver não escondia na vulnerabilidade de sua vida na clandestinidade ou semiclandestinidade, como naqueles anos 60.

As torturas a que fora submetido não lhe marcaram a alma com ressentimentos. Ele era a antítese de Tibério. Seria um grande contraponto para a obra de Gregório Maranõn. As seqüelas eram físicas. Nos anos 50, levara meses fazendo tricô para voltar a articular os dedos e poder operar, novamente, nas cirurgias. Durante as sessões de tortura, na Base Aérea de Natal, a ordem era explícita: bate nos dedos, que esse comunista filho da puta não vai operar nunca mais.

Graças ao tricô e à força de vontade voltou à sala de cirurgia. Contava. Os olhos límpidos de um São Francisco. Encanecido pelo sofrimento. Nunca perdeu a alegria.

Conheci, também, a experiência do velho “Partidão”. Enquanto a AP não conseguia mandar um recado para fora do cárcere, porque não tinha quem recebesse a mensagem, entre os comunistas, caía a primeira linha e a segunda ocupava o lugar, depois, a terceira, etc. Para deixar o país, as rotas mais seguras eram as do PCB e da Igreja, a primeira com mais experiência, a segunda através de sua rede de instituições.

Voltando ao homem. Revejo-o em seus horários perfeitamente organizados: o tempo da leitura, o tempo da caminhada na cela, o tempo do lazer possível. Na época estudava a Lei da Relatividade de Einstein. Com seus gestos, quase invisíveis, o Coletivo se organizava.

Acompanhava-o na caminhada na cela. Conversávamos. Para passar mais tempo junto a ele, resolvi estudar taquigrafia, metodologia na qual ele era mestre. Ele marcou a hora, como se não tivéssemos horas de sobra: - A aula começa às 16 horas. Ah! Vulpiano Cavalcanti, quantas lições de vida me deste.

DOCUMENTOS DA DITADURA SOBRE DR. VULPIANO ENCONTRADOS POR MIM EM PESQUISAS A RESPEITO DE DR. VULPIANO.








Esse grande homem, admirado por todos que o conheceram, morreu em novembro de 1988, vítima de pneumonia.

Viveu tempo suficiente para ver seu partido legalizado em 1985 e promulgada a nova Constituição, na qual foram estabelecidas não só as liberdades políticas, como também garantias sociais que melhoraram a vida de milhões de brasileiros.

A liberdade é a condição necessária para a construção de um Brasil assentado nos valores da igualdade e da fraternidade, e nisso esse grande médico cearense, Dr. Vulpiano, contribuiu.

Antonio Capistrano: Aos velhos camaradas, até sempre.

Refletindo sobre os 86 anos de fundação do Partido Comunista do Brasil veio à memória, velhos e queridos camaradas que não estão mais entre nós. São operários, funcionários públicos, profissionais liberais e intelectuais que se doaram as lutas do nosso povo.

Pensei como prestar uma homenagem ao PCdoB nos seus 86 anos de existência, resolvi registrar alguns nomes que militaram nos seus quadros, nomes que tive o privilegio de conhecer e, com alguns manter fraternos laços de uma amizade galgada na afinidade de ideais, na visão marxista de um mundo justo e fraterno.  

Começo pela a figura admirável de Luiz Maranhão Filho. Iniciando a militância política, eu, acompanhado do mano Franklin Capistrano, vez por outra visitei o apartamento de Luiz, na Avenida Rio Branco, onde funcionava, também, o consultório de sua esposa. Ele, apesar de pessoa importante na cidade, advogado, professor, deputado estadual, irmão do prefeito Djalma Maranhão, era uma figura atenciosa.


Homem simples, comprometido com as suas idéias, habilidoso no trato com os diversos segmentos da sociedade. Defensor da aliança entre comunistas e cristãos, trabalhou, até ser preso e assassinado em 1972, para concretizar essa união. Aqui em Natal, Luiz fez de tudo, jornalismo, magistério, teatro, política, participava dos movimentos populares, sempre atendo aos acontecimentos, era uma figura muito preparada, um intelectual, formulador de idéias, respeitado no partido e na sociedade. Quem desejar conhecer, essa personalidade da vida política potiguar, recomendo o trabalho de Maria Conceição Pinto de Góes, “A aposta de Luiz Ignácio Maranhão Filho: cristão e comunistas na construção da utopia”, Editora Revan, 1999. É um belo livro, indispensável para quem desejar conhecer a historia e as idéias dessa figura que se transformou em um mártir das lutas do nosso povo.


Lourival de Góes, chamado pelos amigos de Companheiro, é outro comunista, que eu não poderia deixar de registrar. Entrou no partido nos anos cinqüenta, militou em outros estados, retornando a Mossoró nos anos setenta. É a partir daí que faço amizade com ele. Góes foi um dos melhores quadros do partido que eu conheci, com um conhecimento teórico e uma visão prática de fazer inveja a muitos doutores, eu gostava de conversar com ele, era uma verdadeira aula de marxismo. Ele muito pragmático, cumpridor dos deveres partidário, uma decisão do partido era para ser cumprida. O advogado e professor David de Medeiros Leite, organizou uma coletânea com artigos de amigos de Lourival de Góes, com o titulo “Companheiro Góes, 10 anos de saudades”, é um excelente trabalho sobre essa formidável figura humana. Lourival de Góes merece todas as homenagens dos seus amigos, merece ser sempre lembrando.


Zé de Rosa, ou Zé Moreira, personagem emblemática do movimento sindical e das lutas operarias no Rio Grande do Norte. Trabalhador da construção civil ufanava-se de ter a carteira de Nº 2 do seu sindicato, foi o segundo a filiar-se no Sindicato da Construção Civil de Mossoró. Moreira, no inicio dos anos sessenta, viajou pelo Leste Europeu, esteve em Moscou. Orgulhava-se do que viu, gostava de contar histórias dessa viagem. Lutou pelo socialismo até o fim da vida. Eu sempre conversava com ele, nos domingos à tarde ele gostava de passa na minha casa. Era um bom papo, história das lutas populares, história dos velhos militantes, história do seu querido Partido, historia de sua viagem a União Soviética. Moreira, com o golpe militar de 1964, foi preso, continuo firme com as suas idéias, nunca abandonou o partido, militou por mais de sessenta anos, morreu comunista, certo da justeza da sua luta. A professora Brasília Ferreira tem um trabalho sobre as lutas operárias na região salineira que trás um depoimento dessa grande comunista em Mossoró. Quem quiser conhecer mais sobre ele, essa é uma boa fonte.


Chico Guilherme, homem que marcou época nas lutas dos operários das salinas na região de Mossoró, foi um dos organizadores do Sindicado do Garrancho, presidente do Sindicato dos Salineiros, liderança forte e carismática dos trabalhadores das salinas. Comunista de primeira linha. Muito procurado por estudantes e pesquisadores das lutas operárias e sociais do Brasil para prestar o seu depoimento, contar a sua história. Seu Chico é citado no livro “Memórias do Cárcere” de Graciliano Ramos, como um dos seus companheiros de prisão na Ilha Grande. A Uern concedeu-lhe o titulo de Doutor Honoris Causas, uma merecida homenagem a um velho combatente comunista que soube honrar as suas idéias até o último dia da sua longa e bela vida, exemplo de luta e amor ao próximo. O livro “Sindicato do Garrancho” de Brasília Ferreira é uma boa fonte para quem quer conhecer mais e melhor esse velho e bom camarada.


Vivaldo Dantas, um industrial comunista. Quantas reuniões eu participei em sua residência! Inúmeras. Canário, Moreira, Góes, Pretextato, Joel Paulista, Zé Gago, João Batista Xavier, Gonzaga Chimbinho, Alberto, Hermano Paiva, Gileno Guanabara, Afrânio, Paulo Linhares e outros que a memória no momento não lembra. Vivaldo era um homem disposto, sempre pronto a servir as ordens do partido, época do centralismo democrático, ordens vindas de cima, não se discuti, cumprisse. Contam que Vivaldo instigava os seus operários a fazerem greve, quem não fizesse levava um relar do patrão. Era uma figura, com a crise do socialismo nos anos oitenta filiou-se ao PT.


Álirio Guerra, dirigente comunista falecido prematuramente em um desastre automobilístico em plena atividade do Partido, construía o PCdoB juntamente com outro saudoso camarada morto no mesmo trágico acidente, Glênio Sá. Não tive o privilegio de conhecer-los mais de perto, conhecia ambos, mas, sem aquela amizade que pudesse estreitar as nossas afinidades ideológicas, são dois nomes que engrandecem a galeria dos comunistas potiguares e que merecem sempre serem lembrados. 


N
ão podia deixar de registrar, nessa simples homenagem, a família Reginaldo, fundadores em Mossoró do PCdoB. Em especial, registrar os nomes de Raimundo, Francisca, Jonas e Lauro Reginaldo baluartes na construção do Partido Comunista, na terra do sal e do petróleo. Eles foram os fundadores do PCdoB em Mossoró, fato ocorrido no final dos anos 20, do século passado. A família Reginaldo merece um estudo completo pela participação na luta da classe trabalhadora, principalmente, na criação do PCdoB, inclusive, um dos seus membros, Lauro Reginaldo (Bangu), chegando a direção nacional do Partido.

Outro nome que faço questão de citar é a do gráfico areia-branquense, Francisco Meneleu, responsável pela impressão, durante o levante comunista de 1935, do jornal revolucionário, “A Liberdade”. Meneleu faleceu recentemente. A última vez que estive com ele foi no lançamento do livro de outra grande figura das lutas libertárias do PCdoB, Meri Medeiros, fato ocorrido no Solar Bela Vista. Nesse evento conversei bastante com ele, figura simpática, orgulhoso da sua vida e das suas lutas. Meneleu, como o poeta Pablo Neruda, comunista como ele, podia dizer, confesso que vivi. O meu amigo e velho comunista, Rubens Coelho, no seu excelente trabalho “Precedentes e verdades históricas” – Coleção Mossoroense, 2005 – dedica a Francisco Meneleu um capitulo com o titulo “Francisco Meneleu, o tipógrafo da Revolução”. Esse trabalho de Rubens Coelho é uma excelente fonte de consulta sobre o que a história oficial não conta. Merece ser lido por todos os professores de história e pela nossa juventude. 

 
Finalizo esse pequeno registro, citando o nome do Doutor Vulpiano Cavalcanti figura humana, extraordinária. Médico cearense, que veio morar no Rio Grande do Norte no fim da década de trinta. Primeiro, se estabeleceu entre Mossoró e Areia Branca, depois fixou residência em Natal, onde viveu até o fim da sua vida. Era dirigente estadual do Partido.  Ao lado de Luiz Maranhão participou de todas as lutas travadas sob o comando dos comunistas ou apoiada pelo partido após a segunda guerra até a sua morte. Preso diversas vezes, Dr. Vulpiano era um exemplo de dignidade, tive a honra de conhecê-lo e participar, em plena ditadura militar, de reuniões clandestinas do partido ao seu lado. Quando fui deputado estadual (91/94) apresentei dois títulos de cidadania norte-rio-grandense, todos pós-morte, um para poetisa Zila Mamede e, o outro para Doutor Vulpiano, entregues aos seus familiares em uma bela e emocionante sessão solene no Plenário da Assembléia Legislativa do nosso Estado. Vulpiano era maçom, médico-cirurgião, comunista militante. Figura lendária na sua atividade médica como também no movimento comunista do Rio Grande do Norte. Vulpiano merece uma bela e profunda biografia, estamos devendo as novas gerações essa história, ele não pode e nem deve fica no esquecimento, a sua vida serve como exemplo para a nosso juventude. O amigo Gileno Guanabara, companheiro do Partidão, me disse que estava preparando a biografia de Vulpiano. Ele merece ser lembrado, merece um boa biografia.


Através desses velhos comunistas que sempre estarão presentes na memória das lutas populares, faço a minha homenagem a o bravo e aguerrido Partido Comunista do Brasil nesses 86 anos de sua gloriosa existência. Aos velhos camaradas, até sempre.



Professor Antonio Capistrano – ex-reitor da UERN e membro do PCdoB - RN - 25 de março de 2008.

http://www.vermelho.org.br/rn/noticia/32606-104

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

FRANCISCO MENELEU - O Guerreiro do Tempo

Ao ser preso juntamente Com vários companheiros, foram recebidos por um "Corredor Polonês" onde a soldadesca brandia os famosos sabres "Rabo de Galo" e batiam com sadismo nos presos que corriam em direção ao "tintureiro" que os aguardava no fim da fila, para leva-los à Escola de Artífices de Natal, capital do Rio Grande do Norte.

Foi assim que começava aos 18 anos o jovem Francisco Meneleu, gráfico que participara da impressão do "A Liberdade", o jornal que divulgou o ideário do Levante Comunista de 23 de novembro de 1935, sua odisseia nas masmorras da ditadura Vargas. Na data era 27 de novembro 1935, foi preso na modesta pensão em que residia e junto com ele, agora na cadeia, centenas de revolucionários civis e militares. 

Ao ser transferido para a cadeia pública de Mossoró, ali nos Paredões, continuou a desenvolver trabalhos de conscientização para si e para os que ali estavam com ele, revolucionários também. O trabalho continuava, era uma pequena célula organizada que deu outra feição pelo modelo operário de organização que passou a ter naquele local. O movimento organizado por ele dentro desta prisão gerou inclusive empregos para detentos comuns.

Tinha o respeito dos companheiros que ali estavam, bem como dos administradores do presídio. 

Esse livro de memórias lembra-me rascunhos seus que passou a mim, onde iniciava com a frase: 

"Hoje eu acordei revoltado e com vontade de falar!" 

Falava das injustiças dos homens. Mas também falava dos companheiros com boas lembranças e lembrava as lutas pela liberdade; lembrava os momentos em que encarcerado passou a conhecer e a ter respeito pelos que estavam à frente do ideário do Levante Comunista; lembrar e falar para ninguém esquecer desses Revolucionários Potiguares que já caíram vencidos pelo tempo. Lembrar também que teria de continuar com coragem para resistir. 

Hoje, aos 88 anos, está resistindo contra mais esse, carrasco que o quer levar às masmorras do hades

Francisco Meneleu, um guerreiro do tempo. Faz-me lembrar um "Hilander" Só resta um. Sim, só Ele vivo, dos que participaram no Rio Grande do Norte da Revolução Comunista de 1935.

A Ele dedico respeito, consideração e amor. 
                                                     
Raul Meneleu 

Tive o privilégio de somar meu nome ao do autor em ato de entrega total, como filho amado por ele e o fiz em 19 de março de 2006, dia de São José, data em que nasci e recebi o nome Raul, em memória de um grande amigo seu chamado Raul Caldas. 


Nessa orelha de livro resumi minha admiração por esse grande homem que veio a falecer em 18 de janeiro de 2008 na cidade de Fortaleza, capital do Ceará.