Nasci em Augusto Severo (hoje Campo Grande) no Rio Grande do Norte, mais
me considero mossoroense, porque quando eu tinha de Três para Quatro anos meus
pais resolveram vir morar em Mossoró. Lembro-me muito bem quando chegamos nesta
cidade e fomos morar em uma rua que não sabia por que a chamavam de RUA DOS
FREIRES e ficava ao lado da Igreja Coração de Jesus.
Depois vim, a saber, o porquê. Nessa rua moravam muitas pessoas de uma só
família. Todos os Freire, como o Sr. José Freire, Chico Freire (pai de
Freirinho), o Sr. Pabiolino Freire, Sr. Massionilo Freire (pai de Vicente
Freire), dona Maria Delfina Freire (casada com um dos Freire, sendo os pais de
Lídio Freire), essa era razão, aquela rua ser chamada Rua dos Freires.
Ali chegamos de Augusto Severo (Campo Grande). Meu pai alugou uma casinha
por 10.000 reis por mês e a senhora que nos alugou a casa chamava-se Isabel Gorda
(seu apelido). Passamos pouco tempo nessa rua, porque meu pai como carpinteiro
e marceneiro, foi trabalhar para a Prefeitura, cujo Prefeito nessa época era o
Dr. Rafael Fernandes Filho, que já conhecia o meu pai por ele ter sido um dos
voluntários do senhor seu pai o Dr. Rafael Fernandes, para as fileiras daqueles
que iriam lutar contra o bando de Lampião em Mossoró, só que meu pai não estava
inscrito nessas fileiras, porque ficou como guarda da casa da Dona Ná Oliveira
, que era muito grande e estava sem proteção.
O Prefeito Rafael Filho solicitou a meu pai para fazer umas carteiras de um
Grupo Escolar. A Prefeitura havia comprado o grande sobrado de Hemetério Leite
e não estava ainda em condições de reformá-lo e o prefeito convidou meu pai
para morar e se instalar com a família nesse sobrado. Ficamos morando ali sem
pagar nada e morando por mais ou menos uns três anos e meio.
O sobrado dava para a Rua Dr. Almeida Castro e lembro bem das casas da
vizinhança. Uma era a casa de dona Elisa que era mãe do Prof. Chico Assis, e de
Antônio de Pádua e Ponciana e ficava de frente para a Praça Antônio Joaquim. A
outra casa era do Sr. Massilon, pai de Luzanira, moça muito bonita e que tinha
um defeito físico nos pés que eram voltados um para dentro, que se fosse hoje
teria solução em ajeitar por cirurgia. Essa casa também ficava de frente para a
praça.
Em frente ao sobradão morava o Sr. Terto Leite, pai de Xixico Leite e de
Vicente Leite. Também morava em frente, o Sr. Chico Bessa com sua grande família.
Bessinha, a mais velha que era professora, Edite, esposa do Prof. Raimundo
Nonato, Cacilda, Milza, Giselda, Professor José Bessa, Professor Luiz Bessa e
Orlando o mais novo dos rapazes, e se não me engano, Bernadete sendo a mais
nova.
Nesse sobrado, meu pai montou uma pequena oficina e trabalhava dia e
noite. E assim fui crescendo já tomando conhecimento que o sacrifício dos meus
pais era grande para criar os filhos. Meu pai era um homem trabalhador, um
grande mestre de obras maravilhosas e então foi ficando cada vez mais conhecido
em Mossoró. Seus trabalhos eram artesanais, feitos à mão, como SANTUÁRIOS,
CAMAS, CRISTALEIRAS, PORTAS DE CASAS, IMAGENS DE SANTOS, tudo trabalhado e
esculpido a mão, com perfeição de um artista que era. Por fazer muitas
esculturas de santos meu pai ficou conhecido em Mossoró por CHICO SANTEIRO.
Muitos dos móveis bonitos que ele fez, talvez ainda existam em residências de Mossoró.
Também confeccionou objetos tristes como caixões de defuntos, pois nesse tempo
não existia ainda casas funerárias e foi ele que começou a fazer esses ataúdes
de diversos modelos, até os de luxo, para pessoas com poder aquisitivo melhor.
Com o tempo o Sr. Vicente Canuto colocou em Mossoró uma Casa Funerária.
Depois de morarmos uns três e meio anos naquele sobrado, o nosso
Prefeito, se não me engano, o Padre MOTA, resolveu fazer uma reforma naquele sobrado
que passou a ser a Prefeitura da cidade. Assim partimos para outra morada.
UMA OFICINA E RESIDÊNCIA A BEIRA DO RIO
Essa residência e oficina ficavam em uma rua, logo antes da ponte e era chamado
naquele tempo de Rua do Sr. Manoel Leonardo, pai de Manoel Leonardo Filho,
Afonso Leonardo e José Leonardo, Era um senhor idoso e tinha uma grande
mercearia. A residência desta família ficava do outro lado do rio. Vizinho à
mercearia era a oficina do meu pai.
A casa tinha duas salas enormes, na parte de trás um banheiro, cozinha, o
compartimento ao lado servia como quarto e ali ficamos. Já éramos cinco filhos,
eu como a segunda (eu tinha mais ou menos seis anos) tomava conta das crianças
mais novas enquanto a minha mãe ajudava meu pai como também preparava a comida.
Ainda muito criança, eu tinha uns seis anos e o meu irmão Bolívar oito
anos. Como toda criança brincávamos pela calçada. Ali era bem agradável, pois
era de frente para o nascente. Era lindo à noite com a lua levando sua beleza
pelas águas do rio e até hoje deve ser assim, porque a criação de Deus não
muda, é fiel e certa... Bem, meus pais vez após vez trabalhavam até mais tarde
da noite empalhando cadeiras (à luz do carbureto).
Muitas cousas eu não esqueço, eu era muito mimada pelo meu pai. Aconteceu
sempre que pela madrugada, um cachorro grande e preto começava a latir na beira
do rio e eu me apavorava e corria para o meu pai e ficava ali na cama encolhida
entre meu pai e minha mãe, que não gostava muito, meu pai amoroso como sempre
me prometeu saber quem era o dono do animal e porque ele latia assim, ele soube
que o motivo era que o cachorro latia para os caranguejos que saia e se
escondiam na lama do rio. Meu pai falou com o dono do cachorro e explicou para
ele que as crianças estavam assustadas com os latidos do animal e não dormiam e
o rapaz educadamente não trouxe mais o cachorro e foi um alívio para nós
crianças.
Voltando a falar da mercearia do Sr. Manoel Leonardo, homem bom, tinha
muitos filhos, pessoa calma e educada, sua mercearia bem sortida servia para
todos que moravam naquelas redondezas. Por ser uma mercearia bem sortida ela
era contratada pelos trabalhadores da estrada e ali vinham comprar algumas
coisas. Esses homens trabalhavam nos açudes, nas estradas e sempre aos sábados
vinham para receber seus minguados salários e fazerem o pagamento do que
compravam na mercearia.
Em um sábado destes estava eu e meu irmão Bolívar sentados no batente da
nossa casa quando aconteceu um episódio triste , ouvimos uma discursão , eram
rapazes novos discutindo com o mestre da obra , como se eles não estivessem
satisfeitos com o pagamento feito e ali estava a cavalo o tal chefe, e tudo diz
que ele se exaltou e quando os rapazes deram de marcha o chefe sacou de uma
arma e atirou nos dois rapazes os matando, um deles era pai de duas crianças e
o outro era noivo ; com pouco tempo a esposa e a noiva chegaram e foi aquele
clamor . Tanto eu como meu irmão ficamos impressionados com tamanha violência,
meu pai tratou de tirar a oficina daquele local e se instalou em um ponto por
traz da Tipografia do Sr. José Vasconcelos. Com a oficina ali, meu pai tratou
de separar oficina e morada para a família. Alugou uma casa por 35.000 reis do Senhor
Mota pai de Padre Mota, o qual era nosso vizinho e meus pais amavam e
respeitavam aquele querido padre.
Moramos por muito tempo naquele endereço, eu já estava com 10 anos e
assim foi chegando a minha adolescência, comecei a ver as coisas belas da
mocidade como menina pobre que era, recebendo muito amor de meus pais e irmãos,
sentindo a alegria de uma adolescência com muita simplicidade, acreditando que
a jovialidade encobre muitas lembranças de sacrifícios.
Minha mãe teve muitos filhos. O primeiro chamava-se Bolívar, eu a
segunda, depois os gêmeos Alcides e Alcindo, veio Antônio, Isolina, Conceição,
Madalena, Bernadete, Maria do Carmo, Salete e Francisco. Bolívar, eu, Alcides,
Alcindo e Antônio, nascemos em Augusto Severo (Campo Grande), os outros
nasceram em Mossoró.
ORIGEM DOS MEUS PAIS
Meu pai chamava-se FRANCISCO DE ASSIS MASCARENHAS FILHO, filho de
Francisco de Assis Mascarenhas e Rosa Verbolina de Carvalho. Minha mãe
chamava-se MARIA ALBERTINA JÁCOME, filha do Coronel Benvenuto Jácome e Isolina
Maria da Câmara Jácome. Meu avô por parte de pai era pequeno fazendeiro no
interior de Augusto Severo (Campo Grande) RN.
Chico Santeiro |
O pai da minha mãe era advogado rábula, todos os anos ele tinha que viajar
para Natal a fim de levar as causas para o juiz assinar. Minha mãe nos contava
que meu avô ia até Angicos-RN, a cavalo, de lá tomava o trem para Natal-RN, no
dia que ali marcava a volta a minha avó mandava um rapaz, criado por eles,
levando para Angicos dois cavalos a fim de pegar meu avô de volta.
Voltando à casa que morávamos que era vizinha a do Padre Mota, tenho muitas
lembranças para contar. Meu pai não era político, na oficina dele entrava
pessoas de partidos políticos, nesse tempo só existia dois, o Partido Popular e
o Partido Liberal, depois que veio a Aliança Libertadora. Conversava-se muito
sobre política, mas meu pai só fazia ouvir, todos deveriam saber que meu se
mantinha calado porque precisava de todos para trabalhar e manter sua família,
só que todos nós em casa sabíamos que meu pai e minha mãe não poderiam negar os
votos deles à família Rosado, a consideração que eles tinham a Dona. Isaura
Rosado, viúva do farmacêutico Dr. Rosado, era fundamental para aquela mulher
maravilhosa. Até hoje não esqueço e com grande gratidão tudo que ela fez pelos
meus pais.
Lembro-me que uma das vezes que minha mãe ficou acamada, os filhos ainda
bem crianças, minha mãe nem se levantava e todos os dias esperávamos que meu
pai chegasse da oficina para fazer nosso alimento, mas para minha mãe não
faltava, porque todos os dias pela manhã e ao meio-dia, dona Isaura Rosado,
mandava sua secretária, dona Julia, trazer o alimento necessário para minha
mãe, como bolo, torradas, leite, canjica, etc., todos os dias variando o
almoço.
Dona Isaura Rosado, as filhas, os filhos, todos, chamavam minha mãe de
Comadre Albertina e Compadre Chíco. Quando era época de frutas não faltava na
nossa casa, tudo de conformidade com a safra. Até hoje temos gratidão por essa
inesquecível família ROSADO.
UMAS FIGURAS INESQUECÍVEIS (minhas tias por
parte de pai)
Minhas tias por parte de meu pai eram quatro, tia Chiquinha, tia Antônia,
tia Maria e tia Tereza. Todas gostavam muito de conversar, lembro-me muito
delas na Fazenda chamada Boa Sorte perto de Augusto Severo (Campo Grande); meus
avós eu não os conheci; no inverno minha mãe gostava de ir para a Fazenda, era
tempo de fartura, milho verde, feijão verde, as vacas davam muito leite nessa
época, queijos, canjicas, pamonhas.
Minhas tias (coitadas) trabalhavam muito depois que os velhos se foram
(faleceram), meu pai já era casado e o meu tio Vicente era um boa vida (não
queria nada). Meu pai falava muito que tinha mais dois irmãos e que por causa
da dureza de meu avô em não querer que os filhos casassem (ele era contra o
casamento) os rapazes fizeram seus farnéis e se foram pelo mundo afora e até
hoje não sabemos deles.
Quando meu pai casou, o velho passou mais de um ano sem abençoa-lo, fez
isso só quando estava perto de morrer. Minhas tias (coitadas) quando passavam
rapazes pela Fazenda e que faziam os Correios ou então cambonheiros (espécie de
mascates), elas não eram nem para sair das camarinhas (assim chamavam os
quartos da casa) e assim as coitadas foram ficando idosas sem casar sendo assim
chamadas de "moças velhas".
O velho quando morreu deixou uma boa Fazenda, com gados, cabras, etc.,
mas elas não tinham quem administrasse a Fazenda. Minha mãe com pena delas deu
um dos filhos gêmeos Alcindo para que o criasse e até hoje ainda sinto muito
pelo que minha mãe fez em separar os gêmeos Alcides e Alcindo.
O meu irmão que foi criado por elas não teve estudo e era muito criança,
não dava para administrar a Fazenda, mas era um garoto trabalhador. E assim as
minhas tias morreram de tanto trabalhar e quem sabe de tanto sofrimento e
solidão.
MINHAS AMIGAS
NANI COSTA era jovem, dedicou-se a costuras finas. MARIA DO CARMO filha
do meu padrinho Rubira, nós a chamávamos carinhosamente de "Umpamo".
Como nós ríamos de tudo! Sem piadas maldosas, tudo era muito engraçado (coisas
de jovens), nesse tempo por tudo se achava graça, (as pessoas tinham menos
problemas).
O meu padrinho Rubira comprou um rádio e foi uma novidade para as amigas,
pois existiam poucos rádios em Mossoró. Ali todas as noites a sala ficava cheia
de pessoas, o rádio em uma mesinha com uma toalha bem bordada bem bonitinha e
assim todos ficavam ao arredor da mesa, olhando para o rádio, ouvindo as
músicas da época, como as de Orlando Silva, Silvio Caldas, Aracy de Almeida e
nós ficávamos a rir das músicas, principalmente uma que Aracy de Almeida
cantava que dizia "Ai, aí meu Deus, tenha pena de mim" era muito
engraçado para nós jovens. Paulo Gracindo com sua voz grave e bonita anunciando
programas, como o "Contador de Histórias" e a "A Hora da
Saudade" e etc.
Muitas vezes eu e Maria do Carmo esperávamos um programa mais prolongado
para sairmos de mansinho e dar uma voltinha no Jardim, que hoje chamam de
Passeio Público, nome tão grosseiro, para o que era um nome tão bonito
"JARDIM". Nesse Passeio Público tinha uma amplificadora da Prefeitura onde os rapazes enviavam
mensagens musicais para "um alguém", e esse "alguém" já
sabia que era para ela. Vicente Celestino cantando Patativa, O Ébrio, Gilca e
muitas outras. Às nove horas da noite já era para uma moça de família está em
casa, quinze para as nove da noite já era para está a caminho de casa.
Aos domingos era dia de ir para a missa, só que nossas mães nos separavam
quando estávamos na igreja, porque eu e Maria do Carmo fazíamos muitas versões
das palavras do Padre que celebrava a missa em latim e só dava para rir, não
entendíamos nada de latim e essa separação era como castigo para nós.
As retretas na Praça Vigário Antônio Joaquim com a banda de música da
Prefeitura, às quintas-feiras, e na Praça da Liberdade aos sábados. Nessas
praças nos reuníamos, Corália, Rosália, Albertina do Sr. Manoelito, Haien
(mossoroense, filha de ingleses) e Maria Elisa, todas jovens de 11 e 12 anos.
Gostávamos de conversar e ter amizade com pessoas de mais idade e assim
nasceu uma grande amizade que até hoje guardo com muitas saudades e ao
lembrar-me dela a emoção toma conta do meu coração, minha querida professora
Maria Silvia de Vasconcelos, minha doce Masylvia.
MASYLVIA, romancista, poetiza e professora. Quando saímos da casa vizinha
a de Padre Mota e na mesma Rua 30 de Setembro fomos morar ao lado do Sr. José
de Vasconcelos, Dona Sinhá, os pais de Masylvia, que foi a minha primeira
professora no Grupo Escolar 30 de Setembro, no 1° e 2° ano primário.
Com ela, todos os dias eu a acompanhava até o Grupo e ali esperava para
voltar na sua companhia. Masylvia para mim era meu "anjo da guarda"
como dizia os mais antigos, era alegre, sincera e creio, tive nela um espelho. Lembro-me,
tinha 10 anos quando Masylvia foi passear no Rio de Janeiro, em suas férias,
ela e uma amiga, Josélia, filha de Pedro Leite. Fiquei feliz, torcendo para que
ela fosse e se divertisse bastante trazendo muitas novidades para me contar.
Tudo que sentia por ela era com todo carinho e gratidão, porque como
adolescente ela me dava atenção, conversava comigo, me cativava com sua
simpatia, com seus conselhos amorosos como de uma mãe para a filha e assim
quando ela viajou para o Rio de Janeiro, senti muitas saudades.
Quando Masylvia chegou de viagem, contou-me muitas novidades, mostrou-me
fotografias, ela vestida em agasalhos lindos, vestidos, chapéus, sombrinhas
bonitas e com tudo isso eu me sentia feliz como se fosse eu!
SELMA — era irmã de Masylvia, eu gostava de Selma, de seus repentes, suas
brincadeiras. Francisquinho, irmão de Masylvia, foi meu compadre, padrinho de
uma das minhas filhas (lvanise). Lembro-me bem que sempre ia a casa deles e um
dia chegando, Francisquinho, rapazinho ainda, disse-me "meus parabéns
Maria de Lourdes, nasceu mais um irmãozinho, um menino na sua casa e já abriu
os olhos?" e Dona Sinhá, sua mãe, naquela calma foi dizendo: "Meu
filho, você está pensando que gente é como gato? Que só abre os olhos com sete
dias?" Hoje dou boas gargalhadas quando me lembro disso.
ODE A MOSSORÓ
Mossoró, para mim tu és inesquecível. Em sonho te comparo a um jardim,
com seus canteiros cheios de flores, rosas como se fossem adolescentes
desabrochando para a mocidade.
Rua 30 de Setembro, alameda da saudade. Praça da Redenção, cantinho do
meu coração. Praça Vigário Antônio Joaquim, como se dizia, Praça da Matriz.
Crianças, jovens casais de namorados. Lembro-me daquelas músicas tocadas
que vinham pela amplificadora da Prefeitura. Voa minha linda borboleta, voa a
procura de ilusões.
Ainda em botões as flores recebiam o carinho dos jovens saltitando de
alegria, onde existia carinho, onde existia inocência e respeito por todos,
jovens e idosos.
Grupo Escolar 30 de Setembro, Colégio Imaculada Conceição, Colégio Diocesano
Santa Luzia, tudo era um elo de alegria e felicidade e lembro-me do respeito
que tínhamos pelas nossas queridas professoras Maria Sylvia, Sergina Leão e
Elisa Guimarães.
EU E MENELEU
Era festa de fim de ano em Mossoró. Passeávamos sempre, minhas amigas e
eu, no Jardim da Cidade (também chamado Passeio Público), onde retretas e
bandas da cidade tocavam músicas lindas, dentre elas valsas, dobrados,
marchinhas.
E os jovens demonstravam alegria e os casais momentos de felicidade. Assim
era minha cidade: terra que sempre amei, terra de recordações, das amizades de
meus pais, de minhas amigas, de minhas professoras, do Grupo Escolar 30 de
Setembro, de nossa casa na Rua 30 de setembro, enfim, de lugares e momentos que
só recordações nos trazem.
Foi numa noite como essa que conheci Meneleu. Tinha eu 15 anos
incompletos e ele 21. Aquele encontro me fez sentir uma forte emoção, nunca
antes sentida, que para mim era novidade. Tal reação foi correspondida, pois
ele quis falar comigo logo que me conheceu. Senti-me atraída por ele. Minha
idade talvez lhe tenha revelado uma certa ingenuidade que, decerto, não impediu
o início de nosso namoro.
Meus pais começaram a tomar conhecimento do que se passava, e não estavam
dispostos a aprovar tal relacionamento, pois me consideravam ainda uma criança.
Entretanto, soube que nossos pais se conheciam e eram amigos, inclusive na
mesma profissão, logo, não foi difícil continuarmos namorando, pois o
consentimento partiu do fato de que eles se calaram diante da situação.
Concluímos que quem cala consente.
Depois de namorarmos oito meses, chegou o dia da verdade. Meneleu
recebera a notícia de que ia passar seis anos e seis meses na prisão. Nada pude
compreender diante de tamanha revelação, mas contou-me ele toda a verdade, em
relação ao que lhe tinha acontecido em 1935, em Natal.
Fiquei perplexa com o que me contara e não podia avaliar o que poderia
acontecer nos dias que se seguiriam. Tentou advertir-me em relação ao nosso
namoro, propondo um rompimento imediato, pois, segundo ele, eu deveria entender
que ainda era muito jovem e não poderia, assim, perder a mocidade.
Entretanto, depois de várias reflexões, não aceitei desistir de nosso
relacionamento. Tudo começou a ficar triste, pois, como temia; meus pais
pediam-me que desistisse de continuar namorando Meneleu. Minhas amigas
começaram a se afastar de mim, influenciadas, mesmo, pelos próprios pais. No
entender dessas pessoas, Meneleu era um indivíduo perigoso, pois diziam que era
comunista.
Os amigos de meus pais procuravam também influenciá-los, para que eles
interferissem em minha conduta que, segundo eles, eu era menor de idade de
idade e não poderia fazer uma escolha de tamanha importância. Acusavam-me,
ainda, de fazer meus pais sofrerem com aquela "loucura", expressão
usada por eles.
Passavam-se os dias, quando meu sofrimento e de meus pais foi amenizado
por um convite especial de uma pessoa muito importante na cidade. Tratava-se do
Doutor Raul Caldas, diretor de uma grande firma onde trabalhava Meneleu.
Por ter grande influência junto às autoridades do lugar, Doutor Raul
Caldas conseguira, na época, o adiamento da prisão de Meneleu. Entretanto,
chegou um dia em que a vontade política dos que estavam no poder falou mais
alto, consequentemente, Meneleu foi recolhido à prisão, juntando-se a outros
presos políticos que já se encontravam na Cadeia Pública de Mossoró.
Estávamos no mês de novembro, e mais precisamente, ao meio-dia, recebi o
primeiro bilhete de Meneleu que dizia: "Estou preso. B Meneleu". Um
sentimento de tristeza invadiu meu coração, tornando aquele dia um dos mais
difíceis para mim. Não gosto mesmo de pensar quanta infelicidade envolveu-me,
dando-me uma sensação de mudez e de morte. Contava eu apenas 15 anos e oito
meses de idade. Para uma adolescente sem conhecimento e sem experiência na
vida, era momentos de extrema revolta e sofrimento sem mesmo idealizar o que
poderia estar a me esperar aquela "loucura", expressão usada por
eles.
Passavam-se os dias, quando meu sofrimento e de meus pais foi amenizado
por um convite especial de uma pessoa muito importante na cidade. Tratava-se do
Doutor Raul Caldas, diretor de uma grande firma onde trabalhava Meneleu. Por
ter grande influência junto às autoridades do lugar, Doutor Raul Caldas conseguira,
na época, o adiamento da prisão de Meneleu. Entretanto, chegou um dia em que a
vontade política dos que estavam no poder falou mais alto, consequentemente,
Meneleu foi recolhido à prisão, juntando-se a outros presos políticos que já se
encontravam na Cadeia Pública de Mossoró.
Estávamos no mês de novembro, e mais precisamente, ao meio-dia, recebi o
primeiro bilhete de Meneleu que dizia: "Estou preso. B Meneleu". Um
sentimento de tristeza invadiu meu coração, tornando aquele dia um dos mais
difíceis para mim. Não gosto mesmo de pensar quanta infelicidade envolveu-me,
dando-me uma sensação de mudez e de morte.
Contava eu apenas 15 anos e oito meses de idade. Para uma adolescente sem
conhecimento e sem experiência na vida, eram momentos de extrema revolta e
sofrimento sem mesmo idealizar o que poderia estar a me esperar. Passados oito
dias, conheci uma pessoa que tinha acesso à cadeia e que me perguntou se eu
gostaria de ver Meneleu. Naturalmente, aceitei sem titubear, ao mesmo tempo em
que pensei na reação dos meus pais, já que os mesmos àquela altura já se
sentiam quase certos da ausência de Meneleu em minha vida.
Não voltei atrás! Aceitei, assim, ser levada por aquela pessoa,
juntamente com uma amiga, para vê-lo na cadeia. Foi um reencontro tão triste
que, ainda hoje, me pesa na lembrança. Meneleu, por sua vez, diferentemente de
mim, que chorava e me sentia como um pedaço de nada pegou minha mão e disse em
tom de brincadeira: "Como é? Está resolvida a morar no porão?" Não
pude responder à pergunta. Só chorava.
Passamos 30 minutos naquele estado de mudez. Infelizmente, era hora de
voltar. Ao chegar em casa, deitei-me como estava vestida. Parecia anestesiada.
Adormeci na minha tristeza e levantei-me apenas no dia seguinte. Meu corpo era
como uma folha morta. A alegria de viver já não mais existia para mim. E como a
folha morta, ia sendo empurrada pelo vento, pelos dias, pelo tempo, enfim,
contando nele as horas e os minutos.
Fui tomando conhecimento, aos poucos, do que era a vida para aqueles
presos políticos. Soube que as autoridades ofereceram-lhes o andar superior da
cadeia onde elas próprias também permaneciam. Entretanto, os presos preferiram
ficar no andar térreo, embora separados dos presos comuns, porque sentiam sua
privacidade mais preservada. Meneleu e alguns outros começaram a sentir falta
de uma ocupação, quer manual ou intelectual, e solicitaram providências para
que eles pudessem produzir algo manualmente.
Foi consentida uma espécie de tamancaria, pois àquela época estavam em
moda os tamancos de Carmem Miranda, assim como uma malaria. Assim, os presos
poderiam ocupar o tempo a produzir algo que pudesse reduzir o ócio, bem como
conseguir uma melhor alimentação. Foi dessa maneira que Meneleu conseguiu
atrair a amizade e o respeito de todos que ali estavam, do mais humilde ao mais
poderoso.
Tal respeito, inclusive, era muito importante para mim, pois em minhas
visitas, as quartas, sextas e domingos, me sentia mais segura, muito embora
minha apreensão fosse mais em função da liberdade que meus pais me davam apenas
aos domingos, sem que soubessem de minhas visitas nos outros dias que citei.
Já bem familiarizada com tudo isto, passei a ser conhecida como a noiva
de Meneleu, já não tendo mais tanta dificuldade para entrar e sair. Durante uma
das visitas, logo que cheguei, solicitando licença para entrar e como sempre
não havia resistência por parte da guarda, entrava naturalmente, quando, de
repente, fui barrada por uma baioneta, dizendo-me o soldado da guarda que os
presos estavam incomunicáveis, por decisões que haviam chegado do Rio de
Janeiro.
Nesse ínterim, os presos amigos de Meneleu, vendo aquela cena agressiva,
chamaram-no imediatamente, que acompanhado por todos os amigos, empurrou o
soldado da guarda ao mesmo tempo em que me puxava para dentro do pátio,
desafiando-o a me tirar de lá. Iniciou-se, assim, uma pequena rebelião que
atraiu as autoridades que ali trabalhavam.
Estes, por sua vez, pediram para que Meneleu mantivesse a calma.
Retiraram o soldado agressor que foi logo substituído. A situação deixou-me
apreensiva e com medo. Trouxera-me, na ocasião, um copo d'água, para que eu
recuperasse a calma, para, em seguida, por solicitação do tenente, voltar para
minha casa. Ao chegar de volta à minha casa, não sabia o que fazer, com quem
desabafar minha situação, pois sabia que não obteria apoio. Passava, assim,
outro dia, tendo que esperar o dia seguinte, para continuar esperando os
acontecimentos.
Um dia, porém, para facilitar a situação e, por amizade, Dr. Raul Caldas,
ainda diretor da Empresa de Óleo do Brasil, onde trabalhara anteriormente
Meneleu, resolvera intervir para que ele não perdesse o emprego. Solicitou às
autoridades para que ele voltasse a trabalhar na empresa, em seu escritório.
Meneleu saía, assim, da cadeia de manhã e, à tarde, por volta das cinco
horas, retornava. Não demorou por muito tempo esse período, pois alguém, não se
soubera quem, denunciara junto ao Tribunal de Justiça essa regalia que havia
sido dispensada pelo Dr. Raul Caldas.
Alguns meses mais tarde, Meneleu foi transferido para Natal, e ao falar
comigo sobre essa transferência dissera-me que seria nossa separação, ou então,
conforme me perguntara, deveríamos casar-nos. Meneleu foi incentivado por um
grande amigo e compadre, também preso político, Hemetério Canuto, que nos
ofereceu a residência de seus pais, em Natal, para que após nosso casamento, eu
pudesse ficar aí hospedada.
Meneleu pediu licença ao tenente, chefe de Polícia, cujo nome não me
recordo, para que consentisse em nosso casamento, embora que, para tanto,
sabíamos que enfrentaríamos várias dificuldades, como o consentimento de meus
pais.
Meu pai alegava que eu era menor de idade de idade, não sendo possível
realizar nossa união. Àquela época, o bispo de Mossoró, Dom Jaime Câmara, nosso
parente, era muito conhecido da família. Foi, pois, possível a Bolívar, meu
irmão mais velho, que havia sido seminarista, comunicar-lhe o que estava se
passando.
Dom Jaime solicitou, assim, a presença de meu pai, aconselhando-o,
energicamente, para que o mesmo consentisse em casar-me com Meneleu. Um
conselho do Bispo da Arquidiocese era como uma ordem. Foi, então, que aos 03 de
junho de 1941, numa quarta-feira, Padre Mota abençoou nossa união.
Partimos, no dia seguinte para Natal, sob uma onda de comentários da
população, pois viajamos escoltados, em cena jamais vista em uma cidade pequena
como àquela época. Tomamos o transporte para Angicos, para aí pernoitarmos e
seguirmos na quinta-feira para Natal.
Entretanto, Meneleu, sem me consultar, gratificou um cabo que nos
acompanhava, para que pudéssemos ficar em Angicos até o final da semana. Pagou,
então, as diárias da pensão, e só viajamos para Natal na segunda-feira, no trem
da manhã.
Chegamos a Natal à tarde. Fomos acolhidos carinhosamente pela família do
Sr. Miguel Canuto. Tivemos que enfrentar, novamente, a separação, e assim mais
sofrimento.
Meneleu teve que ser recolhido novamente, ficando eu com a bondosa
família, no Alecrim, e Meneleu em Petrópolis. Ia vê-lo duas vezes por semana.
Assim, passavam-se os dias e eu, na minha solidão, fui ficando doente,
debilitada, mal sabendo, diante da minha ingenuidade e inexperiência, que
estava grávida.
Com essa certeza, pois, a família Canuto comunicou a Meneleu o que estava
ocorrendo, aconselhando-me a voltar para Mossoró para que fosse cuidada pelos
meus pais. Meneleu consentiu. Voltei abalada com a separação e com uma viagem
tão sofrida, de caminhão misto, pela Serra Corá.
Ao chegar a Mossoró não me continha de tanta fraqueza. Meus pais
procuraram logo um médico, Dr. João Marcelino, que confirmara minha gravidez e
confirmava que meu estado físico e psicológico não permitiria talvez a
continuidade da gravidez.
Tinha ele razão, pois ao chegar ao quarto mês da gestação tive que
hospitalizar-me, perdendo, assim, meu filho, bem como, quase perdi minha vida.
Após um mês de hospitalizada, Meneleu achou que eu estava demorando a voltar e,
nessa certeza, desesperou-se e pediu consentimento junto ao Ministério da
Justiça para ficar comigo, no que não foi atendido.
Passamos mais um ano separados. Ele, em Natal, e eu em Mossoró, firme e
decidida a esperar por ele. Finalmente, chegou o dia em que ele voltou a Mossoró
e, novamente, na cadeia, continuou com seus trabalhos artesanais, para que
pudesse arrecadar algum dinheiro para nós.
Conseguiu, assim, alugar uma pequena casa, vizinha a seus pais, e lá fui
morar. A escolta conduzia-o à nossa casa duas vezes por semana, de manhã, e à
tarde, os soldados vinham buscá-lo. Aos domingos, eu ia visitá-lo na cadeia,
achando até que era melhor para nós, pois nos reuníamos com todas as visitas
dos presos que aí estavam.
Nesse tempo, pois, fiquei novamente grávida. Dessa vez, com mais tranquilidade.
Nasceu, assim, minha primeira filha, Maria das Virgens, que hoje se chama
Dayse, em 23 dezembro de 1942.
Em setembro de 1943, finalmente, Meneleu foi libertado, terminando, assim,
aquela odisseia de sofrimentos. Eu já estava grávida da minha segunda filha,
Ivahy, que nasceu no dia 19 de dezembro daquele ano.
Após sua saída da cadeia, Meneleu foi convidado pelo Coronel Saboinha a
trabalhar na Estrada de Ferro de Mossoró. Confiante em sua capacidade de
trabalho, o Coronel colocou-o para trabalhar juntamente com o engenheiro
arquiteto Dr. Pedro Ciarlini, e aí deixou grandes marcas de seu trabalho, como
plantas de casas da cidade de Mossoró, e até mesmo esquemas hidráulicos de
residências que, até hoje, foram realizados por ele.
Não poderia deixar de citar, nesses meus escritos, a grande amizade que
ficou de um casal que conhecemos: Vulpiano Cavalcante, médico, e sua esposa Ângela.
Moravam em Areia Branca e vinham passar fins de semana em Mossoró,
hospedando-se em nossa casa.
Era nesses fins de semana que Vulpiano ajudava a população, no Hospital,
com consultas, prescrições e, até mesmo, cirurgias, não apenas dos mais
necessitados, mas até mesmo de pessoas de posse. Vulpiano tinha ideal comunista
e, muitas vezes, ia preso.
Em uma dessas prisões, fora levado para Natal, enquanto sua esposa,
Ângela, ficara conosco, grávida, e já no último mês de gestação. A acompanhei a
Natal, juntamente com uma amiga do casal para contratar um advogado para
libertar Vulpiano.
Estávamos de volta para Areia Branca, quando a senhora amiga dos dois
resolveu passar um telegrama para Areia Branca, avisando da chegada de Vulpiano
nos seguintes termos: Vulpiano solto. Prepare massa.
Foi o suficiente para que, em Areia Branca, os militares tomassem
conhecimento do telegrama. Os idealizadores do motim foram presos e deveriam
ser ouvidos pelo delegado. Um dos presos estava, ainda com o telegrama em suas
mãos, quando, de repente, um outro preso, um estivador chamado Josué, foi
rápido, tomou o telegrama nas mãos, amassou-o e colocando-o na boca, mastigou-o
e engoliu o referido papel. Assim, não existia mais prova de que o tal
telegrama existia, ficando considerada uma estória descabida. Foram todos
soltos, inclusive o marido da tal senhora que enviara o telegrama.
A vida em Mossoró já começava a se tornar difícil para nós que já
estávamos com quatro filhos. Vulpiano já tinha sido libertado e morava em
Fortaleza. Aconselhou Meneleu a vir morar nessa cidade, ajudando-o com um
emprego, como tipógrafo, no jornal O Democrata.
Viemos, assim, para Fortaleza, com nossas quatro filhas: Maria das
Virgens (nossa Dayse), Ivahy, Ivanova e Isolina. Trouxemos, para nosso sustento,
algumas pequenas máquinas de fabricar carimbos. Meneleu passou pouco tempo no
jornal, pois decidira trabalhar com o material que trouxe, fabricando carimbos
para uma livraria chamada Livraria Alaor.
Aí, as encomendas de carimbos das lojas de Fortaleza eram repassadas para
que Meneleu os fabricasse. Os proprietários da Livraria Alaor tornaram-se
nossos grandes amigos e compadres.Ficamos, depois, muito saudosos em Fortaleza, pois nossos amigos Vulpiano e Ângela decidiram ir morar em Natal. Mas, os anos foram passando e nossa família foi crescendo. Ao nascer nosso primeiro filho, em Fortaleza, fizemos uma homenagem ao Dr. Raul Caldas, o chamando de Raul Meneleu.
Os outros foram chegando quase que de ano em ano: Ivanize, Francisco Meneleu Filho, Ivanira, Ivanilda, Maria Albertina, Antônio Caetano Neto e José Meneleu.
Aquelas pequenas máquinas de carimbos foram suficientes para educarmos nossos filhos. Meneleu trabalhou muito para que assim fosse conseguindo expandir sua pequena fábrica de carimbos e comprando máquinas que produziam etiquetas de nylon e de tecidos.
Aqui fomos e somos felizes. Nossos filhos foram criados com amor, dedicação e responsabilidade. Na adolescência dos mais velhos, passamos por anos muito perigosos a partir do ano de 1964, em relação à política, com os militares no poder. Nós tínhamos um exemplo de injustiça dentro do nosso lar. Não queríamos, pois, que nossos filhos também passassem por aquele sofrimento.
Conseguimos orienta-los comedidamente. Sem vergonha e sem medo de um passado que só orgulho traz a todos eles. Um pai forte e trabalhador e uma mãe que procurou com todas as forças estar sempre ao seu lado.